Sublimes Sonhos

Primacia


Parecia ter passado minutos, mas a escuridão da noite anunciava que já se passaram horas, e a possível preocupação da minha mãe com o meu desaparecimento começou a me perturbar.

"Acho que devo voltar pra casa, Pedro." Disse querendo me calar no mesmo instante.

"Você não vai!" Ordenou, a impossição de sua voz apenas assenti. Seu rosto estampava uma genuina tristeza.

"E posso saber o porquê?" Perguntei.

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"Você não faz idéia de quem é, não é?" Disse se escondendo na penúmbra de uma àrvore.

Aquela conversa me levou a um lado misterioso onde tive medo de pisar.

"Pedro!?" Comentei confusa.

"Hannah..." Ouvi-lo dizer meu nome me causou arrepios "...Zhaã não morreu subitamente..." Pedro parecia ser um grande admirador de Zhaã "...Ela morreu porque alguém nos céus permitira." A sua voz carregava rastros de dor.

"Pedro o que aconteceu com Zhaã pode não ser comum de onde vem, mas aqui é super normal. Às vezes não confiar em deus é a única opção que nos resta. Se só o que é justo acontecesse crianças não morreriam de câncer a todo tempo." Disse da maneira mais eufemista que pude.

"Você não entende. Não estou falando sobre confiar ou não na justiça divina. Mas excepcionalmente de Zhaã. Excepcionamente de você.

Eu tinha muitas perguntas para fazer e as respostas não vinham rapidamente, eu estava de frente para um lindo homem com um lindo olhar, e com ele eu sonhava quatro noites anteriores. E saber que ele não era feito da mesma carne que eu e todos os humanos , me causava medo da paixão que sentia por ele. E se nessa história ele fosse o vilão.

"Pedro eu não faço ideia de quem seja, mas com certeza não é alguém que pode me dizer o que fazer..." Falei como se saísse da hipnose "...A sua história aí sobre Zhaã não me parece muito relevante, já que 42 d.C ... Meu deus, Pedro. As pessoas morrem. Simplismente morrem." Disse aumentando o tom de voz com certa caltela e dando as costas.

"Creio que achará relevante quando o que aconteceu com Zhãã acontecer com você." Disse Pedro com a voz Afiada como uma navalha.

"O que esta dizendo?" Seus olhos me fitaram a alma, me lembrei da paixão que sentia naquele olhar e meu coração perdeu o ritmo.

"Eu não quero que seja assim. Apenas me ouça. Não diga nada, por favor me ouça..."Implorou e com a sua voz de deus fui obrigada a assentir "...Zhaã não era apenas mais uma pessoa. Ela era especial em todos os sentidos..." Senti ciúmes de Zhaã "...E tudo o que Zhaã fazia era especial de sua maneira. Imagine uma pessoa abençoada, ungida, cheia de virtudes em um tempo de trevas..." Fiquei pensativa, fazendo o que pedro ordenara "...Em quem você pensou?"

"Não sei...Talvez, Jesus Cristo." Falei quase sussurrando como se me envergonhasse de tal pensamento.

"Sim. O filho de deus."

Pedro deu alguns passos no rio e se sentou em uma pedra localizada na Margem, me localizou o seguindo e me sentando ao seu lado, assim que me acomodei continuou.

"O-chamavam de filho de Davi, príncipe da paz, o extraordinário cordeiro de deus. E tudo isso Jesus realmente é. O leão se vestiu de ovelha, usou coroa de espinhos e sofreu morte humilhante de cruz para salvar todos da humanidade. Para salvar os que o crucificaram..." Estar perto de seu ombro me fez querer descansar a cabeça, mas não fui capaz de tanto atrevimento "...Até então Jesus fora o primeiro e o único a ter a alma tão pura e viver segundo deus deseja que vivamos, mas aí Zhaã nasceu." Pedro fitava as águas correrem.

Ouvir o nome de Zhaã me fez lembrar da urgência daqueles fatos.

"Eu ainda não entendi, o que Zhaã tem em comum com Jesus?" Perguntei."

"Tudo. O mesmo amor pela vida, a mesma capacidade de sofrer pelos outros. Almas sinônimas. Talvez Zhaã não tivesse a santidade de Jesus, mas vivia tão próxima aquilo que Jesus era, vivia tão próxima de deus e tão longe dos homens que se tornou um perigo." Disse Pedro sentindo medo das próprias palavras.

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"E pra quem Zhaã se tornou um perigo?" Perguntei esperando uma resposta imediata.

"Feche os olhos" Mandou Pedro enquanto se levantava da pedra.

Pus as mãos sobre os olhos e me assegurei de que nada enxergasse, tive medo de que ele sumisse sem me responder e ainda temia que tudo isso fosse um sonho bem real. Ouvi de novo o mesmo som que ouvi mais cedo quando o desconhecido me tocara pela primeira vez, o ar parado sendo movido depressa.

"Abra." Ele falou com caltela.

Senti meus olhos se arregalarem com aquela imagem, um ardor tomou conta da minha reação de desespero, me deixando imóvel. A água corria lenta na altura de seus joelhos, Pedro estava acanhado exibindo um peitoral másculo e um abdomem desenhado perfeitamente em contraste com seus olhos severos e doces. Grandes assas semelhantes as de um falcão contornavam seu corpo escultural; penas brancas manchadas ou encardidas de preto estavam mal-tratadas e pareciam não fazer parte daquele conjunto de perfeições.

"O que é você?" Perguntei com o coração latejando forte, os lábios tremulos, e o desejando mais ainda.

"Um anjo." Confessou para si, deixando uma lágrima cheia de dor despencar de um de seus olhos.

Me contraí, franzindo a testa , tentando aceitar como normal aquilo que estava presenciando.

"Você é..." As palavras não saíram da minha boca. "...Pedro ainda não estou entendendo nada." Balançava a cabeça com força tentando repelir os pensamentos.

"Eu sou uma anjo..." Fechou os olhos como se negasse essas palavras "...Aonde vivo, nos céus mais próximo da Terra, há leis, regras, sentimentos, famílias e outras coisas semelhantes as terrestres. Samantha, uma anja caridosa, era a guardiã de Zhaã."

"Anjos da guarda." Comentei e Pedro assentiu enquanto Rex relinchava na outra margem do rio.

"Mas Samantha não tinha trabalho algum, Zhaã não brigava com outras garotas da tribo pois seu espirito era apaziguador, não desobedecia, ou corria perigos. Não praticava mau para sofrer consequências disso. Isso começou a incomodar Samantha que logo informou ao conselho celestial sobre o pouquíssimo trabalho que tinha com Zhaã. Foi quando perceberão o perigo que Zhaã se tornaria. Não poderia existir..."

"Alma sinônima de deus." Continuei mostrando que aprestava atenção e pela primeira vez não pensei nas assas de pedro ou na sua forte presença que preenche o cenário.

"...Exatamente isso Hannah, após Jesus diversos outros homens e mulheres nasceram e viveram segundo o coração de deus, mas os anjos mataram a todos para garantir que a raça humana sempre fosse inferior. Zhaã fora a primacia, a alma sublime, capaz de dar perfeição a humanidade, mas ela foi sentenciada a morte pelo amor que carregava no coração..." Deu uma longa pausa e disse "...E a próxima é você."