Sinal Positivo

Capítulo XXII


Quando digito “olá” e sou respondida antes e dar enter na mensagem, sei que aquela conversa seria mais difícil do que qualquer outra.

“Oi.” –Não parecia alguém entusiasmado por falar comigo, com aquela saudade e aquele amor que ele e seu pai juravam sentir.

“Você está bem, Naruto?”

“Sim” –Respondeu imediatamente, como se já esperasse a pergunta e não quisesse prolongar a conversa. Em outro momento ele diria o que estava fazendo, que estava sentindo minha falta ou qualquer outra coisa para puxar assunto. Quando ele me perguntou como eu estava, juro que quis responder “grávida” só para ver se conseguiria arrancar alguma reação dele.

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“Estou um pouco cansada, fui no médico hoje de manhã.”

“Está doente?”

“Não.”

“Psicólogo. Entendo.” –E ficamos por pelo menos cinco minutos sem palavras. Sabia que eu deveria ser a pivô da conversa, se deixasse por conta do Naruto, nada fluiria. Ele transformou-se comigo de uma forma drástica, passou do conversador para o impassível. A última palavra não lhe pertence mais, muito menos a primeira. Eu o entendo, de verdade. Naruto possuía o direito de estar certo, mesmo estando errado, ele sempre teria a desculpa de não ter me abandonado e mentido como vantagem sobre mim.

“Precisamos conversar.” –Tomei fôlego, coragem, vergonha na cara e solicitei sua atenção. Ele visualizou a mensagem e não respondeu. Liguei a webcan e depois de um tempo ele aceitou o chamado e ligou a dele. Estava sem camisa, com a aparência cansada e os cabelos desgrenhados: lindo. Não pude conter o sorriso ao vê-lo. –Não temos nos falado esses dias... –Comentei ainda sorrindo ao fitar sua imagem. Como ele era lindo, por Deus! Como eu tinha sorte de tê-lo!

–Você nunca mais ficou online, não me dá seu telefone nem nada... Nem tinha como ir atrás. –O tom de voz diferente não lhe pertencia, era de um novo Naruto, um Naruto sério e objetivo. Quantos dias ficamos sem nos falar? Tudo bem que por webcan havia um tempinho, mas achava incrível uma pessoa mudar tanto seu jeito em questão de semanas.

Naruto havia levantado a guarda e eu sabia que era a responsável por isso.

–Naruto. –Comecei com a cabeça baixa, tentando organizar as coisas na minha cabeça. –O que está acontecendo? –Perguntei automaticamente, era isso que se passava pela minha cabeça. Se eu pensasse muito, acabaria dizendo algo mais ridículo. Ele pareceu confuso, então continuei. –Você me disse que precisaria pensar e... –Ele começou a balançar a cabeça para os lados de leve, suspirando impaciente. –acho que em todo esse tempo você teve tempo para pensar em muitas coisas. –Falei mais segura. –Assim como eu. –De fato, havia pensado muito em confessar meu estado e a conversa com Sasuke só me encorajou mais.

–No que tem pensado? –Perguntou encostado na cadeira, encarando o monitor com o lábio torcido. A luz da tela batia em seu rosto e refletia um tom de azul em sua pele que deixava seus olhos muito mais intensos do que já eram de costume.

–Não me disperse, Naruto... –Sorri sem graça. –Nós dois nos conhecemos muito bem para...

–Eu não conheço você. –Disse imutável e aquilo teve poder para me calar. –Eu sei o que você quer saber, Sakura.

–Então por que não me diz de uma vez? –Indaguei irritada. –Precisa me ver embaraçar-me toda nas palavras tentando buscar a forma mais ‘natural’ de saber se ainda há uma chance para nós? –Ele sorriu minimamente. –Porra, Naruto! Você faz essas coisas de propósito!

–Claro! –Riu. –Quero achar o seu senso de humor perdido. –Respondeu. –Eu também percebi suas mudanças, Sakura. –Eu? Sakura? Mudei? Só se foi essa raiz ridícula de quase um palmo de comprimento entregando a verdadeira cor do meu cabelo. Talvez minhas bochechas mais rosadas pelo sol que faz aqui, o rosto mais gordo, não sei. –Você está sempre tensa e parece assustada. –Estava com o rosto sereno, exatamente quando ficava quando refletia. –Você vai achar meu comentários de mal gosto, mas às vezes fico com receio de dizer algo a mais e você surtar! –Soltou uma risadinha e eu compartilhei de seu divertimento. –Espero que esteja realmente bem aí. –Sorriu. Olhei para o monitor por uns instantes, eu fitava sua imagem e ele a minha. Abaixei a cabeça e sorri de canto. Estava brincando com a pulseira em meu braço, pensando que o grande momento havia chegado.

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–As coisas não estão bem desde que sai daí, Naruto. –Comecei num tom sério, ainda sustentando um tímido sorriso no rosto, que não sabia se era de vergonha ou nervosismo pelo o que eu diria. Ele fez uma careta e eu prossegui. –Eu não fui honesta com você. –O sorriso sumiu. Ele desencostou da cadeira e olhou para o monitor com confusão.

–Sobre o que você não foi honesta, Sakura? –Sua voz era fria. Okay, eu sabia que a conversa seria difícil, mas achei que Naruto poderia ser mais afável. Eu nem havia contado e ele já travara o maxilar e olhava atentamente para minha imagem, provavelmente filtrando qualquer traço de mentira em meu olhar assustado.

–Sobre a razão pela qual nos mudamos daí. –Respondi tentando erguer o queixo e não parecer tão culpada. Ele deu uma risada sem graça, lançando o tronco para o lado.

–Mas disso eu não tinha dúvidas! Eu não sou assim tão idiota, apresar de todo o apelo emocional, dava para ver que tinha uma coisa a mais que você não queria me contar, e algo me diz que é algo mais a ver com você do que com preblemas com seus pais. –Aquela revelação me tirou o chão. Ele já desconfiava de mim, da verdade que eu havia imputado. –O que eu não entendo é a necessidade disso. –Balançou a cabeça para os lados. –As coisas que eu sei de você são graves. Eu te aceitei independente do que você fazia e do que tinha. Agora, acho que posso também ser honesto e dizer que todas as coisas que você fazia me tiravam do sério. –Abri a boca para falar, mas ele continuou, me interrompendo. –Entendo que você tem um diagnóstico, mas isso não muda o fato de que era egoísmo. As pessoas sofriam ao ver seus braços, Sakura... Eu sofria com isso. –Seu semblante concordava com suas palavras. –Não creio que exista um segredo mais grave do que você ser uma suicida. Se eu aceitei isso, posso aceitar qualquer coisa.

Quando ele disse isso eu olhei para o lado e ri, já sentindo o nariz e os olhos me incomodarem. Ele perguntou por que da risada, mas logo eu não consegui segurar e abaixei a cabeça pressionando o canto dos olhos com os dedos. Ele só podia estar de brincadeira! Ele estava falando aquilo para que eu dissesse o que tinha escondido por todo esse tempo.

–Como você pode dizer uma coisa dessa, Naruto? –Não escondi mais as lágrimas. Naruto perguntou por que eu estava chorando, mas eu ignorei, continuei. –Como pode falar assim, leviano, sem considerar o peso que qualquer coisa possa ter para você?

–Apenas disse que você pode me dizer qualquer coisa. O imperdoável eu já perdoei.

–Para você é um crime querer tirar minhas vida, ou no mínimo, me mutilar? Naruto, você me conheceu assim. O que te levou a pensar que depois de você tudo mudaria? –Senti no fundo do meu coração algo me dizendo que fui ácida. Eu estava blefando, as coisas haviam mudado depois de Naruto, mas ele não precisava me ver admitindo isso. –Achou que sua presença ia me prender à vida? –Agitou os cabelos pela imagem do webcan, impaciente. –Minha doença não tem cura, Naruto!

–Tem sim! –Disse pouco abalado. Minhas palavras agrediram mais a minha consciência do que a dele. –Duvido que quando alguém que você ama muito te largar por causa disso se você não vai parar de se cortar para que esse alguém volte. –Eu tentava argumentar, mas ele era melhor nesse quesito. –Se eu dissesse agora que se você se cortar mais uma vez eu terminaria definitivamente com você, o que faria? –Perguntou com a sobrancelha arqueada, convencido. –Agora deixe seu orgulho de lado, Sakura. Eu sei que você gosta de mim e você sabe que meu sentimento é recíproco, a prova disso é você aqui, me chamando, clamando pela minha atenção. –Eu estava mais od que perdida, nervosa, assustada, impressionada e mais outros conjuntos de reações que fazia meu coração bater ocmo um barco a vapor. Ele não falava mais como Naruto-Namorado, era Naruto-Amigo-Sincero-Até-Demais. –A prova do meu sentimento é eu estar finalmente sendo sincero com você sobre esse assunto.

–Você não era antes? –Ele negou. –Então você mentia?

–Não, eu conservava a aparências, como ocorre em todo relacionamento.

–Conservava as aparências? –Ri. –Esse é seu jeito de me dizer que era falso? –Ele suspirou e esfregou o rosto. Estava ficando nervoso, tipo, bantante irritado.

–Sou seu primeiro namorado, certo? –Sasori, meu primo canalha, contava como namorado? Acho que não. –Quanto tempo ficamos juntos?

–Dois, três meses...

–Esta é a fasa das aparências. Somos o que somos, mas forçamos uma coisinha a mais ou a menos na nossa personalidade e costumes. O nosso caso foi o seguinte: eu segurei a barra para ir com calma, era esse meu plano, mas você se entregou para mim como um louco pulando de uma ponte. Introduziu-me na sua vida sem restrições, tanto que logo no início descobri tudo o que você tinha e parte das coisas do seu passado. Eu poderia ter terminado porque apesar de gostar muito de você, eu não estava, e confesso que ainda não estou pronto para lidar com algo tão forte. Você é muito intensa... Conversei com meu pai e ele me iluminou, me direcionou e eu pude ver que estava sendo medroso, um covarde. Não poderia te abandonar naquele hospital com a carne dos braços toda fatiada... –Riu em desprezo da situação. –E o que eu já sentia por você se fortaleceu. Estamos aqui. Às vezes me pergunto o que estamos fazendo, o que estávamos fazendo, o que faremos... Estou tão perdido quanto você, Sakura. Confessou de acomodando de novo. –A cada conversa, eu não sei o que esperar. –Disse com certa tristeza na voz. –Eu aceito seu problema, eu aceito sua distância e aceito seus segredos, só peço que se tem algo a dizer que me diz respeito, me diga, seja honesta, seja namorada. Não somos estranhos.

Ficamos calados por pelo menos uns cinco minutos. Refletia sobre suas palavras e sabia que aquela conversa ia ficar gravada na minha mente, tiraria meu sono, minha fome, minha concentração nas aulas e por fim minha paz. Entretanto, eu sabia, era necessária, já estava na hora.

Enchi meu pulmão de ar e fitei sua imagem. Quando ia começar a contar a história, desde a festa do Dia das Bruxas à terrível notícia da minha gravidez, tudo se escureceu, com exceção das luzes da minha árvore de Natal. Elas eram a bateria. O quarto era mergulhado na luz azul e na escuridão de três em três segundos, a cada vez que as luzes se acendiam e apagavam. Fitei o monitor desligado, onde costumava ter a imagem de Naruto me olhando interrogativo, agora só restava o negro da tela.

Devia ser o Satanás interferindo na minha boa vontade de ser verdadeira e ir para o Céu.

Olhei para o restante do campo, as casas distantes entre os pastos e quintais de hortas tinham suas luzes amareladas transbordando das janelas. A queda de energia havia sido só aqui?

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Saia do meu quarto para perguntar à mamãe. Saindo do quarto lembrei que ela e Mikoto ainda não haviam chegado, só havia Sasuke e eu. Desconfiada, desci cautelosamente as escadas à procura dele.

–Acho um saco essa sua forma de interpretar tudo ao pé da letra. –Se revelou com um cigarro na boca e um lampião elétrico na mão livre.

–Não pode fumar aqui. –Disse raivosa. Ele deu os ombros indo para a varanda. –Sabe por que apagou tudo? –Perguntei impaciente. Algo dentro de mim implorava para que o que eu estava pensando não fosse real.

–Sei. –Disse com a voz anasalada por conta do cigarro em sua boca. Ele tragou rapidamente e disse: Fui eu que desliguei.