Narração normal

- Não foi ela. Ela é inofensiva. As outras pessoas é que são más com ela. O mundo é cruel, vocês não entendem?

- Entendemos o suficiente para saber que as pessoas que parecem inofensivas às vezes tem o pior veneno... talvez até mais que você. – Tikara respondeu, sem muita paciência.

- Agora respire fundo, contenha sua exaltação e explique o que você quis dizer com “as outras pessoas são más com ela.” Quanto mais cedo terminarmos isso, mais cedo estaremos livres um do outro que é o que você quer – falou Miruku

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- Não quis parecer grosseira. Aliás, sentem-se – Sabrina respirou fundo – Eu sou só uma irmã super-protetora. Ela sofria bullying desde que saiu do Ensino Fundamental... Não entendo o por que, ela era linda, querem ver uma foto? – foi até a gaveta, pegou algumas fotos e entregou uma a eles.

Miruku continuou com a expressão normal, enquanto Tikara arqueou as sobrancelhas e fez uma careta.

- Eu também não imagino o por quê.

- Tikara, se o sarcasmo óbvio na sua voz fosse gelo, teríamos morrido congelados nesse momento.

Por sorte, Sabrina pareceu não entender e guardou a foto.

- Enfim, ela começou a sofrer muito bullying... Chegava em casa chorando, ou se não um pouco abatida, quase toda semana - pegou as outras fotos – Essa foi uma fotografia tirada na escola...

- Esses são os colegas de classe dela? – Tikara perguntou em tom despreocupado

- Se “colegas de classe” significa traíras e pestes na fase da puberdade, sim – respondeu, com certo rancor.

- Esse é...? – Tikara apontou o garoto que estava no meio de várias garotas.

- O Lucas em questão... Jamais suportei esse garoto. A cada vez que eu ia na escola eu tinha que dar uma “prensa” nele. A Gabrielle viu não sei o que nele. Acho que uma vez pra pagar de bonito na frente de outras meninas da escola ele defendeu ela ou algo assim. A coitadinha praticamente pirou e ficou perdida. Esse moleque era daquele tipinho que todas as garotinhas do final do segundo ensino fundamental dariam toda sua maquiagem e frescurices pra ficar, embora eu o ache horrível.

Miruku se aproximou mais da foto e observou.

- O vocalista do Linkin Park é melhor que isso – e se recostou de novo no sofá.

- O Chester ou o Mike?

- Chester ‘u’ Chester me lembra Natal, que me lembra feriado, que me lembra nossas retardices de fim de ano, que me lembra eu chutando a porta do camarim do Chester, que me lembra nome de comida, que me lembra Natal, que me lembr-

Miruku parou pra encarar Sabrina que a olhava como se tivesse encontrado um tatu falante.

- Do que vocês tão falando?

- De Chester, que me lembra a vez em que- levantou uma cotovelada do Tikara

- Foca nas perguntas?

- Foca? – a garota bateu palmas, colocou uma bala em cima do nariz, jogou pra cima, pegou com a boca e bateu palmas de novo. Tikara e Sabrina se encararam.

- Enfim.. a senhorita costumava ir na escola da sua irmã?

- Inúmeras vezes.

- Pra que?

- Pra tirar satisfação com as crianças que implicavam com ela.

- Lembra se algum deles se chamava Marcos?

- E eu lá vou saber? Mas se for o que eu pensei, era o pior deles. Já quebrei um braço dele uma vez e se pudesse teria quebrado muito mais que apenas um.

- Só se fosse o outro, por que ninguém tem três braços – ressaltou Miruku.

- Ahn... ótimo, se lembra de já ter visto essa garota antes? – Tikara entregou a foto da 4ª vítima.

Após alguns segundos estudando a foto, sacudiu a cabeça negativamente.

- Essa é Stephanie Klein, uma das vítimas.

- Bem... e este? – Miruku puxou uma foto de um dos bolsos. Era a da 6ª vítima, cinco anos antes de seu assassinato.

Sabrina travou por um bom tempo.

- Não.. nunca vi na vida...

Miruku a olhou dentro dos olhos. O azul esverdeado ganhava um tom que ia passando do claro para o escuro, escuro para o claro, e quase refletia nos de Sabrina.

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- Não viu mesmo? Tem absoluta certeza?

- Estou dizendo que não.

- Ok... já teve algum namorado?

- Isso lá é da conta de vocês?

- Agora é – sussurrou Miruku, ainda a encarando. – Quer ser a responsável pela morte de uma dezena de pessoas, srta. Sabrina?

- Eu já estou cooperando o máximo que posso.

- Algo me diz que você pode ajudar mais do que já está ajudando. O que não é grande coisa, aliás. – resmungou no final, desviando o olhar dos olhos firmes da outra e pregando-os no teto enquanto soprava uma mecha da franja de volta pra testa e longe dos olhos.

- Você já viu essa garota alguma vez? – Tikara perguntou, voltando à foto da turma da escola onde Gabrielle, Vitória e Lucas haviam estudado e apontando uma garota do lado de Vitória que se parecia um pouco com ela.

- Não lembro. Deve ser a prima da Vitória. Não sei.

- Ok, como é sua irmã atualmente? – perguntou Miruku, mudando o esquema. – Se você mentir eu vou saber.

Sabrina suspirou.

- Eu a descreveria como uma pessoa que superou tudo o que passou.... admiro isso, apesar das marcas que nunca irão embora, ela se esforça ao máximo pra melhorar. Passou a usar lentes de contato, vai à academia, pratica exercícios, estuda mais e cuida bem de si mesma, vive passando os fins-de-semana fora. Está de bem com a vida, eu diria. O único problema é que mesmo agora, ela nunca tem um amigo ou alguém que a apóie. Acho que eu sou tudo que resta à ela... Me arrependo de ter me mudado. Isso é perturbador.

- Sim. Quanto menos pessoas que cuidem de nós, maiores as chances de fazermos besteiras enormes. – Miruku soltou as palavras despreocupadamente.

- O que quis dizer com isso?

- O que quiser interpretar. Está se sentindo culpada por algo?

- Já entendi o que está insinuando. Olhem, desculpem-me por qualquer coisa mas estou começando a ficar um pouco nervosa. Sinto muito. Sou hipertensa. – respirou fundo. – Tenho que proteger minha irmã. Não podem falar assim dela. Vocês por acaso estão brincando comigo?

- Claro senhorita, acha realmente que viajaríamos milhares de quilômetros até a América do Sul, nos acostumando com clima, cultura, linguagem e vários outros fatores, pra brincar com você, enquanto poderíamos estar fazendo coisas melhores? – Tikara interferiu.

- Pra falar a verdade não. Mas eu amo minha irmã. Ela é a melhor pessoa que já conheci.

- Muitas pessoas amam muitas outras pessoas. – Miruku assentiu, compreensiva, enquanto tentava especular sobre onde terminavam as qualidades e começavam os defeitos de cada um. – Já terminamos por aqui hoje, Tikara. Obrigada, Sabrina-san. Nos perdoe por qualquer coisa que possa tenha vindo incomodar você, mas é nosso trabalho. – completou, sem sentir muito de verdade.

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- Os investigadores vieram mesmo. Mas eu sou a única pessoa que pode fazer isso pro mim, não é mesmo? – o(a) culpado(a) de todos os crimes sorriu.