Dusk (Sombrio)

Instinto


A escola e a vida humana eram indubitavelmente interessantes. Talvez isso se devesse ao fato de eu ter convivido tão pouco com humanos. Era interessante observá-los, em especial os adolescentes, presos em seus dramas colegiais, agindo como se tudo fosse de absoluta importância para suas vidas. Às vezes eu me sentia numa daquelas séries pop’s que assistia há uns dois anos atrás, quando criança.

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Sentia-me mais estranha e deslocada que o normal: meu corpo semi-adulto era regido da mesma forma que o deles, incluindo certas emoções causadas por hormônios, no entanto racionalmente, eu nunca estive no mesmo patamar. Entretanto isso ficava em uma ínfima parte de mim; geralmente era muito fácil me passar por humana, controlar minha força, minha rapidez, embora a atenção demasiada vinda de todos (admirada, dos rapazes, e hostil e intimidada, das garotas) fosse fastidioso; não que eu não gostasse da atenção dos garotos, embora por alguma razão inexplicável isso me fizesse sentir insegura, não que eu não conseguisse lidar com eles, era apenas um sentimento inquietante e indistinto.

As aulas eram fáceis, na verdade, depois do primeiro dia eu tive que ignorar algumas aulas, eu corrigi o professor de história sobre a guerra do sul e a presidência de Lincoln, ele não ficou muito satisfeito com minha veemência e convicção ao corrigi-lo. Isso causou um frisson nos alunos e certamente chamou atenção indesejavelmente. Não que nós já não tivéssemos chamado atenção antes com nossa chegada no meio do semestre; uma família inteira de jovens inumanamente bonitos e pálidos, em carros de luxo (embora fosse uma cidade relativamente grande, se comparada à anterior e houvesse um ou outro porche e Audi pele estacionamento).

Quando desci do carro, no primeiro dia, o vento que devia ser frio chegou ao meu rosto mais aquecido, pelo calor de tantos humanos dispersos no estacionamento, e trazia consigo o cheiro que inspirava desejo e dor, mas como sempre minha humanidade tratou de superar a sede, tornando a ardência um detalhe ao fundo de minha mente espaçosa. Os olhos que não estavam em nossos carros, estavam em nossos rostos. Era como brincar de tiro ao alvo; os olhos que eu encontrava se perdiam no chão no mesmo instante, intimidados, mas eu sabia que isso não ia durar muito, eu tinha o bastante de humanidade e meu cheiro vampiresco misturado a isso era mais um atrativo do que um repelente inconsciente para os humanos. Paramos todos nas traseiras dos veículos; a maioria de nós parecia bem entediada e logo seguimos para a secretária, para pegar horários e tudo isso.

Rose, Jazz e Emmett estavam no quarto ano, eram veteranos, e Bella, Alice, Edward e eu estávamos no terceiro, assim ainda tínhamos algum tempo por aqui de qualquer forma. A primeira aula que eu tive foi de francês, Alice estava comigo. Em seguida foi a fatídica de história, e eu estive sozinha. Depois segui ainda sozinha para o laboratório de química, onde para minha surpresa o professor já se encontrava embora eu não estivesse atrasada. Levei minha caderneta até ele, para que assinasse e ele murmurou docemente com o olhar familiar de admiração.

—Sente-se ao lado de Hannah, senhorita Cullen_ e apontou para o único lugar que parecia vazio, embora nem todos estivessem sentados ainda. _Ela será sua parceira no laboratório.

Eu sorri para o senhor cuja placa na mesa dizia: Mr. Robinson, e segui enquanto alguns olhavam e cochichavam e outros só olhavam. A menina na mesa dupla do laboratório vestia uma blusa preta e larga de uma banda de Rock e tinha o cabelo loiro e liso preso num coque descuidado, ela não elevou o olhar enquanto eu me sentava no banco alto e fixo ao chão. Hannah, como o professor havia dito, tinha o rosto muito bonito, seus olhos eram de um verde claro radiante, os lábios eram como os de um bebê, cheios e redondos, o nariz também era infantil, arredondado e pequeno, as maçãs do rosto proeminentes.

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—Meu nome é Renesmee Cullen_ falei, hesitante. Nós não devíamos chamar atenção desnecessária, mas não havia problema algum em ser educada com minha parceira de laboratório, afinal tínhamos de sustentar a fachada humana.

—O meu é Hannah Steele_ disse ela erguendo a mão por cima da mesa em cumprimento, no entanto de maneira fria. Eu me resignei e o professor iniciou a aula, e eu agradeci que ele não fez como o professor de Francês, me obrigando a me apresentar de pé diante da turma. Eu não tinha problemas em falar em público, ter genes vampiros era uma mão na roda quanto a esse tipo de coisa: dissimular, controlar a expressão... Mas era horrível que não disfarçassem ao falar de mim bem na minha frente, ou talvez não fosse tanto isso quanto ao fato de que eu podia ouvir tudo tão facilmente.

Química foi fácil, não havia nada que eu não tivesse estudado com meu pai ou Carlisle, e, além disso, meu cérebro lidava muito bem com todo tipo de cálculo e lógica.

—Qual seu próximo horário?_ perguntei sem deixar de notar que ela era muito distante, enquanto guardávamos nosso material.

—Educação física... Olha. _ ela pausou e se virou de frente para mim_ Eu não sou o tipo que você vai querer ter como amiga. Pessoas como você sentam bem longe de mim na cafeteria, então não estrague sua vida social_ ela deu de ombros com um olhar resoluto e frio antes de sair na minha frente. Eu fiquei dando um segundo de dianteira a ela e me dando um segundo a mais pra entender. Ela disse que não seria minha amiga... Pessoas como eu?! Vida social?! Então saí pensando se seria correto pedir que Edward verificasse a razão disso.

Eu já alcançava a porta quando apesar dos vários adolescentes atrás e na frente de mim, percebi uma aproximação muito diretamente a minha direção, eu me virei no momento em que ele ia me tocar, tentando chamar minha atenção. O garoto alto, de pele clara sorriu, os olhos castanhos claros hesitando em quanto me olhava de perto, passando a mão nervosamente no cabelo castanho, o coração vacilante e todos os sintomas de quando os humanos estão intimidados de alguma forma.

—Sim?_ demandei e sua expressão se iluminou com algum tipo de entendimento.

—Meu nome é Luke_ ele ergueu a mão parecendo de repente muito animado. Ele vestia um casaco com o time da escola.

—O meu é Renesmee_ ele sorriu amplamente.

—Eu e uns amigos queremos saber se você quer almoçar conosco, sabe pode ser bem complicado achar lugar para comer,_ é claro que ele não estava falando de cadeiras, mas do mapeamento de status em todo o refeitório. _A gente pode te mostrar a escola_ ele falava de repente de forma confiante, o choque inicial se dissipando.

—Desculpe-me, acho que vou almoçar com meus irmãos, tenho certeza que algum deles já encontrou uma mesa._ pisquei para ele e saí, feliz que fosse fácil lidar com humanos.

No refeitório da escola minha família foi à primeira coisa que eu realmente vi, embora eles estivessem no canto mais distante do salão. Talvez porque parecia haver uma bolha de espaço em volta da mesa, os lugares mais próximos a mesa dos Cullen estavam vazios, e bastava me concentrar em um par de vozes na miríade que havia no lugar para saber que os novatos eram o assunto. Bella logo me viu e acenou para que eu fosse até eles, notei que Jasper e Emmett ainda não estavam conosco. Sentei e ela tratou logo de me empurrar uma bandeja com uma fatia de pizza e bolo de chocolate.

—Como foram suas aulas?_ Bella perguntou, Rose e Alice se debruçando sobre suas bandejas intocadas, mostrando interesse, Alice com uma expressão de desgosto nos lábios: ela odiava não poder me ver. Lancei-me numa explicação sobre a aula de história e o professor, elas riram e Edward sorriu para mim vendo em minha cabeça. Continuei com minha história enquanto me decidia pelo bolo.

Jazz e Emm se juntavam a nós quando meu pai sussurrou, sua era voz baixa e o tom surpreso: _ Riley.

—Riley?_ Jasper fez eco junto de minha mãe.

Segui o olhar de meu pai e ele encarava Hannah, ela estava no meio do refeitório encarando-o com uma expressão mista de pavor, fúria e confusão. Isso levou alguns segundos quando por fim ela virou-se e saiu pela porta que dava para uma espécie de pátio aberto, para os dias de sol, imagino.

—Ela teve os pais mortos por Riley_ murmurou Edward explicativamente. Todos ficaram imediatamente estáticos, e eu me debrucei milimetricamente sobre minha bandeja:

— Quem é Riley?_ demandei olhando meu pai diante de mim, do outro lado da mesa, e depois segui todos os olhares.

—Nós estamos no Canadá!_ disse Bella.

—Eles estavam em Seattle._ disse Edward.

—Porque ele a deixou viva?_ Jasper especulou.

—Quem é Riley?_ perguntei novamente.

—Não sei... Saciedade, talvez?!_ refletiu Emmett.

—Ela esteve cara a cara com ele, ela perceber a semelhança entre nós: bonitos e pálidos.

Eu suspirei exasperadamente.

—Riley_ começaram Bella e Rosalie, mas meu pai terminou:

—É quem recrutou os recém-criados para a vampira que queria vingança, Victória.

—Ah_ foi só o que eu falei. Era fácil esquecer que todos os humanos ali já haviam nascido há muito quando eu vim ao mundo. _ Ela é órfã, então?_ Edward parecia muito concentrado, mas me respondeu:

—Ela é emancipada, foi como conseguiu sair do orfanato aos 15 anos_ disse ele pensativo.

—Sinto- me horrível por isso_ murmurou Bella ao meu lado.

Pelo resto do almoço eles falaram sobre Hannah e o tal Riley... Eu fiquei impressionada com a coincidência de termos vindo justo para a escola onde estuda a garota que teve os pais mortos pelo vampiro que recrutou um exército de vampiros para distrais minha família enquanto matava minha mãe. Essa história todo certamente daria um bom livro... Como Bella eu também senti uma pontinha irracional de culpa, afinal, eu é quem tinha menos a ver com isso, sequer havia nascido ainda. Mas pensando por outro lado não era assim tanta coincidência: quantas pessoas não foram afetadas direta ou indiretamente pelo “serial killer” de Seattle há seis anos? Quem não teve um ente morto/transformado serviu de alimentos para os recém transformados... Balancei a cabeça dispersando os pensamentos nada agradáveis. O restante das aulas seguiu tranquilamente, sendo a última com minha mãe.

Depois do dia que pareceu longo demais fiquei feliz em encontrar Nahuel em casa, quando eu saí pela manhã ele estava dormindo e não havíamos conversado muito na noite anterior, já era tarde quando cheguei de Seattle e minha mãe me mandou direto para a cama, eu estive muito agitada apesar de cansada e meu pai veio me fazer companhia, cantarolando minha canção de ninar.



— Uma corrida?_ Nahuel ofereceu.

Corremos apenas por correr e paramos na mesma escarpa da montanha em que fomos antes do fim de semana para caçar... Olhando o mas e o longe o centro comercial eu avancei e me sente numa pedra. Nahuel me seguindo, mas permaneceu de pé.

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—Você está triste_ murmurou.

—Não sei se é tristeza... Estou pensando em como nosso mundo afeta o mundo humano tão cruelmente.

—Por que esse pensamento?

Então lhe contei sobre Hannah e a descoberta de hoje.

—É a lei da vida, Renesmee. Como somos feitos.

Fitei-o um tanto chocada

—Não me olhe assim, criança. É claro que se pode mudar... Mas você sabe como são as mudanças para nossa espécie, permanentes. Nem todos têm força o bastante, não é fácil reprimir os instintos, principalmente quando eles são a única coisa que se conhece._ e eu entendi a critica e mais uma vez me sinto como a pobre menina rica, eu tinha consciência que a facilidade em dominar a sede era em parte por minha humanidade e em parte porque assim me foi ensinado desde sempre; mas recordando o sabor de sangue humano eu entendia também que era muito fácil se perder no instinto de se saciar. E então Nahuel suspira e dessa vez ele parece triste. Levanto-me e dou quatro passos até ele. Toquei seu ombro, e ele me olha com ar de quem perde.

— Eu não quis ofender você_ não queria fazê-lo se sentir culpado pelo século e meio de matança nem frustrá-lo caso ele não estivesse se saindo bem em caçar animais.

—Não ofendeu_ disse ele afagando minha mão em seu ombro, o outro braço envolvendo minha cintura. Continuei a encará-lo sem entender a razão de seu mal estar repentino. _Só estou pensando nas mudanças permanentes._ disse de forma resoluta. Ergui as sobrancelhas de forma inquisitiva.

—Você acha que para nós as mudanças também são absolutamente permanentes como com vampiros puros?_ perguntei ainda afagando seu ombro, Nahuel ainda me segurando de perto.

—Não sei se permanentes, mas creio que tão intensas quanto_ sua voz era um sussurro, mas os olhar de teca mais intenso do que eu já havia visto em seus olhos._ Gostaria que estivesse a sua altura, criança._ e seu olhar tornou-se mais suave.

—À altura?_ murmurei, nos fitávamos nos olhos. E eu senti a tensão no braço que envolvia minha cintura.

E eu vi a decisão se formar incisiva nos olhos dele, ele se inclinou suavemente em direção ao meu rosto e me beijou. Eu não pensei em nada específico, nem que era errado tão pouco que era certo, apenas deixei fluir. Os lábios se moveram de forma casta nos meus, era engraçado como parecíamos nos encaixar: mesma consistência mesma temperatura... Sua mão que antes segurava minha mão estava em meu rosto carinhosamente, os lábios ainda moviam-se abrindo caminho nos meus. E então selando os lábios nos meus, vez após vez, ele abriu os olhos e se afastou um passo, me soltando.

—Espero não ter ofendido_ sussurrou e sorriu.

—Não ofendeu_ respondi sinceramente.

—Eu estou de partida_ disse-me.

—Mas já? Porque tão cedo?_ falei, e minhas palavras nada tinham a ver com o beijo. Eu gostava de ter alguém como eu por perto.

—Huilen não gosta de ficar sozinha.

—Traga-a da próxima vez.

—Sim, você não vem?_ apontou para trás de si, na direção de casa.

—Não, ainda não.

—Até mais._ disse Nahuel. Eu sorri.

Até... pensei.