O dragão não queria abrir os olhos. Oh, não queria. Estava farto e sentia-se mais cansado ainda. Havia deixado pessoas para trás, estava ferido e tudo aquilo, só poderia ser um sonho. Impressionante talvez, mas só poderia ser um sonho. Mas ele abriu arriscando-se. E o que vira... lhe impressionara mais ainda. Um leão. O leão. O dragão apoiara-se nos cotovelos dos braços e levantou o peito e a cabeça para olhar melhor o leão que parecia possuir um mínimo sorriso nos cantos dos lábios. O dragão abaixou a cabeça evitando olhares e passou a pata pelo seu peito com suas garras, como se estivesse com coceiras irritantes ou querendo livrar-se daquela pele. O leão subira e descera sua pata esquerda e puxando-a levemente na areia, deixando a marca de suas escondidas garras. O dragão sentiu seu peito sendo arranhado e vira marcas compridas, finas e vermelhas ali. O leão puxara novamente sua pata. O dragão sentiu parte do seu braço também sendo arranhado. O leão puxara mais um pouco e as pernas do dragão também foram arranhadas. O leão abanou a cabeça, fazendo seus pelos movimentarem-se e fechou os olhos enquanto abria sua perigosa boca e rugia. Um rugido forte, mais forte que o vento. Tão forte que o dragão sentiu a areia ao seu redor sendo levantada do chão e dançando no ar ao seu redor, até que sentiu seu corpo subir e fechar os olhos como se fosse dormir depois de um dia calmo. A sensação que ele tivera, ele diria mais tarde. Não se sabe como, mas só se sabe que depois, Eustáquio Clarêncio Mísero caira adormecido no chão de folhas da Ilha de Ramandu.

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Enquanto um certo dragão voltava a ser menino, uma marinheira corria com dificuldade pelo chão escorregadia entre pingos de água sendo jorrados com o movimento do enorme animal em direção a um ser adormecido. Cristine se ajoelhara e respirando ofegante passava a mão pelo rosto de Edmundo como se tentasse limpar o rosto encharcado do rei.

--Majestade? Ma..ah, dane-se as formalidades!- ela murmurou para si mesma.- Edmundo? Edmundo?! Edmundo, por favor!

Ela disse levantando a franja do pequeno rei e sentindo lágrimas quentes em seus olhos. Ela o pegou pelos ombros e o sacudiu com força enquanto murmurava.

--Edmundo! Edmundo, acorde, pela juba do leão!- ela parou com os movimentos.- Ed...- ela sussurrou soltando com delicadeza o corpo do rei.

Ela engoliu a saliva com uma dor na garganta enquanto assistia o rosto do pequeno rei.

--Não pode ser...- ela murmurou.- Deveria ser eu, não você!

Ela abaixou a cabeça e apertou os olhos, pouco se importando com os gritos ao redor e os movimentos bruscos do barco. Sentiu algo mover-se em sua mão e abriu os olhos desanimada, até que viu uma mão segurar a sua. Ela arregalou os olhos percorrendo com os olhos o braço e chegando ao rosto do dono da mão. Ela nada disse quando viu os olhos dele abertos e um sorrisinho escondido nos lábios. Ele se sentara com dificuldade enquanto murmurava.

--Estou bem. Obrigada.

Ele sentira uma dor na bochecha enquanto seu rosto era virado para o outro lado. Passou a mão na bochecha esquerda sentindo-a arder com o tapa dela.

--Outro tapa?- ele indagou não muito surpreso.

--Isso é para aprender a não se arriscar demais e por ter abusado de minha boa vontade.- ela disse apontando o dedo para ele.

Ele revirou os olhos. Como se ela também não se arriscasse demais, ele pensou. Ela ia levantar-se, mas ele a deteu segurando-a pelo pulso esquerdo com sua mão direita e a puxando para baixo novamente até ficaram olhos com olhos.

--Só mereço broncas e acusações?- ele perguntou brincando, mas saira sedutoramente a frase.

Ela sorriu de canto, apesar de ter sentido o corpo esquentar mesmo com a pele úmida. Em um instinto escondido dela, o puxara pelo colarinho até a ponta dos narizes se tocarem, o que ele não esperava. Mas ficara satisfeito.

--Sim...- ela murmurou.

Ele fechou os olhos e pretendia passar um braço pela cintura dela, mas sentira a madeira bater-se contra suas costas violentamente. Abriu os olhos e a viu em pé tirando a espada da bainha.

--Mas não agora.- ela completou.- Apenas sobreviva. Ainda temos muito o que conversar-. Ela disse indo para o corpo da serpente e cravando sua espada ali causando mais um grito do animal marinho.

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A serpente soltou-se do barco enquanto este ia para trás por conta do forte movimento das águas. Caspian ajudou Edmundo a levantar-se. Alguma coisa tremeu dentro da serpente, desde a cauda até embaixo de sua cabeça, alguma coisa brilhou por baixo de sua pele. A serpente tombou a cabeça para trás e sua pele da frente abriu-se em duas partes, revelando muitos, muitos e muitos bracinhos sem mãos pequenas e mexendo-se nervosamente. Mais gritos dos marinheiros, Edmundo sentiu a boca tremer, mais gotas de água sendo espalhadas por todos os cantos do barco e seu rosto, seus pés pareciam ter ficado presos e ele não se movera, mesmo com a serpente indo para cima dele. Imagine você de frente para seu maior medo e se sentindo totalmente indefeso. Assustador, eu creio. Antes que a serpente atacasse, Caspian percebeu que esta fitava Edmundo com a boca aberta e as presas preparadas, mas ele fora rápido e empurrara Edmundo para longe enquanto a serpente mordia a madeira do chão. Ás vezes duas pessoas podem brigar e se desentender, mas se a amizade é verdadeira, ela sempre irá permanecer. Os dois estavam ao chão, mas Caspian fora rápido, virou-se para seu lado direito e pegou uma espada perdida por ali e cortou um dos braços da serpente. Esta levantou-se do barco sentindo novamente dor. Caspian ofegava e viu o braço da serpente parecendo queimar-se, sumindo aos poucos, até ficar como fumaça.

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--Dá pra matar.- ele murmurou.

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Eustáquio Clarêncio Mísero abriu os olhos ainda com a cabeça entra as folhas. Levantou a cabeça ainda um pouco confuso mas com a visão perfeita! As folhas caíram de seu rosto quando ele se levantou com o apoio das mãos. Olhou ao seu redor completamente confuso com o lugar, até que percebeu que estava na Ilha de Ramandu. Olhou ao redor a procura do leão, desaparecera. Olhou ao redor sem rumo, tocou em si mesmo para ver se não era mais um sonho. A dor e a incomodação haviam passado. Virou o rosto para trás e levantou-se para pegar a espada embaixo de uma raiz e sobre um degrau. Pegou com cuidado pelo cabo, a levantou vendo seu reflexo na limpa lâmina e a luz desta sendo refletida no rosto do menino.

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A serpente ainda gritava de dor até bater com a boca no mastro e então passar a mordê-lo por algum motivo que no momento, ninguém quis saber. Só pensavam em como deter a serpente antes que ela estragasse seu meio de ajudar a navegar pelas árvores. A serpente continuava a mastigar, talvez percebendo que aquilo era importante para suas presas e puxando para o lado com força, balançando o barco.

--Temos que nos aproximar.- disse Edmundo levantando-se.

--Todos ao convés principal!- gritou Drinian dando as ordens.

--Preparar arpões!- gritou Caspian.

Mesmo que sem muitas explicações, as cabeças dos três pareciam funcionar perfeitamente juntas. A serpente puxava mais e mais o mastro e o barco parecia ir para o lado cada vez mais. Edmundo respirou fundo e preparou-se, correu com passos firmes e pulou segurando uma corda, balançando-se até voltar e subir por outras cordas ligadas da borda até o mastro com facilidade.

--O que ele acha que vai fazer?- comentou Cristine para Dark enquanto amarrava uma corda no arpão e os olhos no pequeno rei.

--Algo para ajudar-nos, de preferência.- disse ele com os olhos presos no que a menina fazia.

--Mas...é perigoso demais! Ele está louco?

--Se ele é louco- o lobo disse chamando a atenção da menina e ele continuando com o olhar no que a menina fazia-, não faço a mínima ideia do que tu sejas então.- ele disse rindo abafadamente no final.

Ela apertou os lábios fazendo uma careta e dera um tapa na cabeça do lobo.

--Lobo estúpido.- ela murmurou enquanto ele tornava a rir novamente.

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Eustáquio Clarêncio Mísero lembrava-se vagamente de ter ouvido algo de pousar as sete facas de carne na mesa do leão falante, ou fora ele que pensara? Não importava. Mesmo com os pés descalços e pisando sem saber em que, ele correu procurando por uma ponte. Pois se lembrava bem das palavras de Ripchip após eles terem voltado da Ilha e terem falado com algum velho chamado Ramandu e sua filha. Pulou sobre um muro e percebeu achar a tal ponte. Continuou correndo sobre a ponte pouco se importando em que ele pisava.

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--Prontos?- gritou Caspian.

Todos os marinheiros estavam do lado oposto do barco de onde a serpente estava, posicionados lado a lado com seus arpões preparados. Todos responderam prontamente a pergunta de Caspian. Este, permitiu que jogassem as armas e assim fizeram, todos penetrando com força a pele sensível e gosmenta da serpente. Esta soltou o mastro, sentiu pontadas fortes em toda parte descoberta de sua pele grossa e sentiu algo escorrer pelas feridas. Sangue. Nenhum dos marinheiros consegue se lembrar da cor ou da textura, era muito escuro para ver e o momento era tenso demais para prestar atenção em detalhes. A serpente se movia com mais força provocando a água, o barco mexendo-se sem controle, os marinheiros segurando com força as cordas a comando do rei enquanto esperavam o sinal do rei Edmundo.

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Eustáquio Clarêncio Mísero continuou correndo o quanto podia que suas pernas permitiam. Afinal, ainda estava um pouco sonso por não ter mais asas e sim pernas. Chegou até uma abertura de uma árvore e entrou sem parar e observar, pois tenho certeza que ele o faria se pudesse. Quando chegou mais perto a espada começou a brilhar assim como as outras e a tremer, o que fez ele ficar um pouco apreensivo e andar com o passo mais calmo. Afinal, o que pode se esperar de um mundo mágico de faz de conta?

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Edmundo subiu fazendo esforço com os pés e com a mão que segurava um cabo que ligava com outras cordas. Subiu e assistiu a horrível visão de seu maior medo, tão perto de si e continuando a dançar com seu grito desastroso.

--Por que não jogou o arpão?- perguntou o lobo a menina que parecia assistir tudo com muita atenção.

Ela deu de ombros.

--Posso precisa-lo mais tarde.- ela disse sem olha-lo.

O lobo revirou os olhos e foi para perto de um fauno que tinha dificuldades de segurar a corda por conta da perna machucada.

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As espadas tremiam e tomavam uma coloração azul a cada passo de Eustáquio Clarêncio Mísero a espada em sua mão parecia querer sair e juntar-se as outras.

--Puxem!- incentivou Caspian para os outros marinheiros.

Os marinheiros puxaram com força e a serpente, ainda perturbada pela dor e sonsa, fora para onde eles a puxaram, batendo contra o mastro e derrubando Edmundo. Por sorte ou rapidez, este segurara em uma corda e tomou o equilíbrio rapidamente.

Eustáquio enfim decidiu colocar a espada na mesa junto com as outras, mas uma maldita névoa verde, fora mais rápida e o puxara para trás atrasando a salvação de todos.

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