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Um barulho repetitivo foi ouvido do lado de fora da porta. Desfizeram o abraço e ela limpou o rastro da lágrima de sua bochecha com o polegar direito. Levantou-se e foi em direção a porta para abri-la.

–-O senhor?- ela perguntou endireitando a postura.

O lobo desceu da cama e foi para o lado da marinheira. Com uma careta, ele pode expressar que não gostava nem um pouco daquela companhia em frente a porta.

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–-Cristine- ele assentiu com a cabeça e dirigiu o olhar para o lobo-, Dark.- ele assentiu novamente a cabeça.

O lobo inspirou fundo, sentou-se e falou antes que a marinheira.

–-Capitão Drinian. Em que podemos ajuda-lo?- ele perguntou parecendo que seus olhos escureciam a cada palavra.

Dark não gostava de Drinian, Drinian não gostava de Dark. O lobo detestava o modo como o capitão tratava ele e a menina. Muitas vezes sendo rude com os dois e dando tarefas para fazer no barco sem motivo aparente. Não o culpava, afinal, tinha motivos para duvidar. Mas o rei também tinha e nem por isso os tratava com tanto...desprezo e não podia negar que havia uma parte em si, que o detestava fortemente. O capitão tinha medo. Principalmente do lobo. Ele desconfiava de muitas coisas, principalmente se os dois eram realmente fieis a Aslam e se não estavam tentando reerguer a Feiticeira e matar rei Caspian. Ele só tentava ser precavido, mas ás vezes exagerava. Sim, ele achava motivos sem sentido para tentar expulsar os dois da Marinha ou dar tarefas extras para ocupa-los e ter os olhos em cima.

–-Gostaria de falar com a marinheira.- ele disse olhando para o lobo.

O animal começou a rosnar baixinho, ameaçando abaixar a cabeça e postar-se em posição de ataque com os pelos da nuca eriçados. Cristine olhou pelo canto do olho o lobo e passou a mão na cabeça dele, acalmando-o.

–-Dark?

–-Hum?- ele murmurou.

–-Pode subir para o convés.

Ele mexeu a cabeça com rapidez, tirando a mão da menina de sua cabeça e olhando para ela com reprovação. Ele suspirou.

–-Está segura disso?

Ela sorriu de lado e assentiu com a cabeça. Parecia hesitante, mas andou com as patas lentamente e subiu para o convés seguido de dois olhares. A menina suspirou.

–-Muito bem. Entre.- ela disse dando passagem para o capitão.

O capitão murmurou um obrigada, entrou no pequeno cômodo e sentou-se a beirada da cama. Cristine pegou um saco de areia ao lado do baú e deixou aos pés da porta, deixando-a aberta. Sentou-se no baú e apoiou os cotovelos nos joelhos.

–-Espero que não se importe com a porta aberta.

–-Não. Tudo bem.- disse ele dando uma olhada e vendo que havia poucos marinheiros e ocupados com seus afazeres.

Apesar de ainda estar com a pose de capitão, ele parecia nervoso. Suspirou e olhou para a menina.

–-Queria lhe pedir...desculpas.

Cristine desconfiou e franziu as sobrancelhas, apesar de ainda se sentir bastante surpresa.

–-É verdade o que lhe digo. Errei muito com vocês, mas só estava tentando proteger Nárnia.- ela assentiu com a cabeça, fazendo com que ele prosseguisse.- Não queria a presença de Dark aqui, pois sei que ele não acreditaria. Até você deve estar duvidando, mas não sei se iremos sobreviver. Eu lhe devo minhas desculpas.

–-Mas então...o senhor confia em mim e em Dark?

Um silêncio se prosseguiu e Cristine achou que pôs tudo a perder. Os olhos dele estavam neutros.

–-Vossas majestades, os reis e rainha, confiam em vós. Não posso dizer que sim, eu confio extremamente, pois estaria mentindo a você e a mim mesmo. Mas... se eles confiam, acho que eu posso confiar. Ainda mais depois desta viagem que vocês demonstraram total fidelidade, assim como outras.- ele se levantou demonstrando que a conversa já estava no fim.

Cristine levantou-se junto e deixou o caminho aberto para que o capitão passasse. Drinian andou alguns passos até estar frente a frente com a menina.

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–-Espero que compreenda e aceite minhas desculpas algum dia.- disse ele levantando a mão para a menina.

Esta ficou alguns segundos imóvel observando a mão do capitão. Molhou os lábios e levantou a sua para apertar, como sinal de paz, a mão do capitão. Ele estava disposto a esquecer de toda a desconfiança e passado, se passassem pela ilha. Ainda que meio inseguro do que estava fazendo, não iria recuar agora. Os dois sempre se mostraram leais e corajosos, mesmo com Drinian por perto. Se tudo acabar certo, talvez seja um bom dia para recomeçar, ele pensou. Cristine ainda estava um pouco desconfiada, mas pelo aperto de mão, sentiu que era verdade e não teve como conter uma alegria em seu peito. Enfim sentia que tudo estava dando certo para ela e Dark. Ela só possuía um problema, mas este logo iria embora. E tudo ficará melhor, ela pensou com um sorriso nos lábios escondido. O capião soltou as mãos e saiu para o convés. Cristine suspirou e com o coração apertado, fechou a porta e subiu ao convés. Que Aslam nos proteja, ela pensou quando viu o escuro negro chegando mais perto.

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–-Não importa o que aconteça aqui. Cada alma em pé diante de mim mereceu seu lugar na tripulação do Peregrino da Alvorada. Juntos chegamos até aqui. Juntos enfrentamos perigos. Juntos vamos enfrentar outra vez. Então agora não é hora de cair na tentação do medo. Sejam fortes, não se rendam. Nosso mundo, nossa vida em Nárnia, depende disso. Pensem nas almas perdidas que viemos salvar. Pensem em Aslam. Pensem em Nárnia.

E este fora o pequeno discurso improvisado de Caspian. Ele sabia que todos os marinheiros estavam nervosos, ansiosos e com medo. Rezou para que as palavras surtissem algum efeito neles e ele mesmo, desejava que isso surtisse efeito nele mesmo. Desceu alguns degraus com poucas esperanças, até que ouviu alguém gritar puxando o coro.

–-Por Nárnia!- alguém gritou.

–-Por Nárnia!- todos gritaram.

Caspian levantou seu olhar e viu cada marinheiro com sua espada, com seu arco, com seu machado e seu tom de voz levantado. Viu Lúcia gritar junto com os outros marinheiros, viu Edmundo sorrindo como para encoraja-lo mais e viu Cristine comandando o coro. Não havia como não se sentir mais esperançoso com tudo aquilo. O grito dos marinheiros ecoou pela escuridão. Calaram-se quando perceberam que entraram na escuridão. Não sabia ao certo onde era o começo e onde era o fim. Quando olharam ao redor, tudo já estava negro. A única luz que conseguiam ver eram as lanternas localizadas na frente, no meio e no fim do barco. A névoa por ali, era mais densa e em maior quantidade. Ela andava com calma e serena pelo barco, passando entre os marinheiros adquirindo diferentes formas para cada um e chegando até mesmo na parte debaixo do convés. Uma névoa formou a aparência de uma mulher beirando em seus trinta anos, caminhando com um sorriso no rosto em direção a o marinheiro.

–-Elaine?- perguntou o marinheiro Rinse com um sorriso brotando.

Mas Elaine passou por ele normalmente e se desfazendo novamente em névoa. Deixando o marinheiro um pouco atordoado. A névoa começou a preencher os espaços vazios do barco.

–-Eu não enxergo nada.- disse Drinian para Caspian em um sussurro.- O nevoeiro é denso demais.- ele disse tentando ver por trás daquelas pequenas nuvens a sua frente.

Caspian sentiu-se estranho de repente, como se um frio percorresse todo seu corpo através da armadura. Uma névoa atrás dele tomava forma. Ele ouviu a voz que há tempos não ouvia e dizia o que ele mais temia.

–-Você é uma grande decepção para mim. Você se diz meu filho. Então aja como rei.- a voz do pai de Caspian disse, logo a névoa e a voz sumindo e deixando Caspian frustrado e nervoso.

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–-Edmundo...- disse uma voz fina e encantadora, como se estivesse cantando.- Venha comigo. Seja meu rei.

Edmundo arregalou os olhos vendo pela borda a Feiticeira Branca com sua aparência atraente de sempre. Ela se aproximou dizendo palavras tentadoras.

–-Eu deixo você governar.- ela disse com a voz macia.

–-Vai embora!- retrucou Edmundo firme.- Está morta!

–-Não pode me matar.- disse ela subindo as escadas com a voz mais fina.- Eu vou viver para sempre em sua mente, seu tolo!

–-Não!- ele gritou vendo ela desaparecer.

–-Edmundo?- disse outra voz.

Edmundo virou-se rapidamente, suspirou e apertou os olhos vendo que era Lúcia. Ela tinha o olhar preocupado para com seu irmão que tinha a pele pálida e gritava alguns segundos atrás sozinho.

–-Tudo bem?- ela perguntou mexendo a cabeça e mostrando para ele que todos os marinheiros também o olhavam.

–-Tudo.- ele disse engolindo em seco.

–-Talvez vossa majestade esteja ficando louca.- ele ouviu atrás de si.

Virou-se revirando os olhos e preparando-se mentalmente para outra guerra que viria a seguir.

–-Poupe-me de suas hipóteses Cristine.- ele disse saindo dali bufando para a borda do barco.

Cristine nada disse. Somente sorriu de lado e revirou os olhos. Aliviada ao ver que nada de ruim acontecera com o pequeno rei.

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Edmundo ouviu um barulho. Lúcia também. Ela se dirigiu para ao lado do irmão na borda do barco para descobrir o que era o tão curioso barulho.

–-Voltem!- nesse momento, todos os marinheiros estavam na borda tentando ver o dono da voz.- Se afastem!

–-Quem está aí?!- gritou Edmundo.

–-Não temos medo de você!- gritou Caspian.

Edmundo pensou por alguns segundos, dirigiu-se a sua bolsa no canto a algumas cordas e dali tirou a lanterna. Assim que a ligou, direcionou-a para o escuro em algumas pedras altas mostrando clareza enfim com sua luz.

–-Vão embora!- enfim encontraram o dono da voz.

–-Não vamos embora!- gritou Caspian em resposta.

Era um velho senhor. Bastante velho. Possuía a barba longa e suja, os cabelos amassados e as roupas rasgadas. Baixo, mas bastante magro. Como se há dias não comesse, ou mais tempo. Tinha uma espada em punho. Uma espada um tanto...familiar.

–-Caspian, a espada dele!- disse Edmundo percebendo o detalhe.

O velho abaixou a espada, com medo de que levassem a única coisa que seria capaz de defendê-lo.

–-Lorde Ruke*.- disse Caspian descendo as escadas.

O velho senhor andou por alguns passos até a beira da pedra, tentando fugir da luz.

–-Você não manda em mim!- gritou ele quando parou.

–-Não ataquem.- disse Caspian e assim, os arqueiros recuaram.- Vamos trazê-lo a borda, rápido.

Dito isso, dois marinheiros e um fauno pegaram algumas cordas com uma pequena âncora amarrada para lançar ao longe e ajudar o velho senhor a subir a bordo.

–-Atrás do senhor!- alguém gritou.

O velho senhor virou-se e foi levantado por duas grandes mãos que o levaram até o barco. Imagine o susto que você levaria se ao virar as costas fosse levantado por um dragão. Depois que o colocaram ao chão com cuidado, o velho senhor ajoelhou-se e colocou a espada em punho mandando olhares nervosos e assassinos para todos ao seu redor.

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–-Milorde, se acalme.- disse Caspian.

Os marinheiros se afastaram e um arqueiro estava a postos.

–-Longe demônios!- gritou novamente o velho.

–-Calma milorde, não viemos ferir o senhor. Eu sou seu rei.- disse Caspian acalmando os ânimos do velho.- Caspian.

O velho parou e respirou por alguns segundos. Virou-se com os olhos mais arregalados ainda e andou de joelhos até seu rei.

–-Milorde!- ele disse colocando dois dedos no rosto de Caspian, para ver se era real. Levantou-se mais calmo, mas ainda com a voz nervosa dizendo.- Não devia ter vindo. Não há como sair daqui.- disse ele virando-se para os marinheiros e gritando ordens.- Rápido, virem o barco antes que seja tarde demais!

–-Já temos a espada. Vamos!- concordou Edmundo.

–-Deem meia volta.- disse Caspian.

Caspian deu as ordens para Drinian que subiu rapidamente, Caspian não pode subir pois o velho virou-se novamente mais nervoso ainda.

–-Não pensem! Não deixem que saibam de seus medos, ou vão se transformar!- gritou ele para que todos ouvissem.

Edmundo apertou os olhos e respirou fundo.

–-Essa não.- ele murmurou mais para si mesmo do que para os outros.

Engoliu em seco, Lúcia reparou no irmão.

–-Em que foi que você pensou afinal?- perguntou ela preocupada.

Edmundo abriu os olhos aparentando estar nervoso e ficando mais pálido do que já estava.

–-Me desculpa!- ele disse, não só para Lúcia, como para todos, percebendo que colocou todos em risco.

Ele andou até a borda novamente olhando o calmo mar esperando alguma coisa mover-se o acontecer. Foi quando ele viu uma pedra ao longe mover-se e descer para mais fundo da água.

–-Serpentes marinhas? Ora francamente.- ele ouviu ao seu lado um murmúrio.

Virou-se ainda em estado de choque e não mudou quando viu Cristine ao seu lado.

–-O que foi?

–-Não havia algo pior para pensar vossa majestade?- ela disse em ironia.

Ela podia dizer aquilo sem formalidades. Ele não se importaria e ela sabia disso. Mas era um costume, mas naquela frase só piorou a situação. Edmundo apertou a borda com as mãos e disse com raiva e o mesmo sarcasmo na voz.

–-Oh, desculpe-me se tenho medos. Afinal, não sou uma pedra ou alguma máquina!

–-Mas pensei que seu medo fosse mais...pavoroso.- ela disse ainda olhando para a água.

Por que ela estava fazendo aquilo? Ora, nem ela mesma sabia. Talvez porque aquela fosse a última vez que ia vê-lo ou ouvi-lo? Ou talvez por estar ferida orgulhosamente sem motivos exatos? Ou por estar fazendo aquilo para chamar a atenção? Infantil? Com certeza, mas ela não tinha mais controle. Ele estava nervoso demais, como ela pode brincar e uma situação dessas?, ele pensou.

–-O que quer dizer? Fala como se enfrentar uma serpente fosse fácil.- ele estava de frente para ela agora, e ela de frente para ele agora.

–-Eu não disse que era fácil enfrentar uma serpente.- disse ela aproximando-se mais.

–-Mas falou como se fosse.- disse ele mais próximo ainda.

Agora, com os rostos frente a frente, um respirando mais rápido que o outro, os olhares suspensos novamente como a primeira vez tão próximos. Alguns marinheiros não prestavam atenção, mais preocupados com o perigo ao redor, outros assistiam como uma deliciosa novela, Lúcia estava mais concentrada na menininha ao seu lado, apesar de olhar para os dois com reprovação, Caspian nada disse. Apenas ignorou. Antes que ela fosse falar mais alguma coisa, algo bateu com força no barco, fazendo-o mover-se de um lado para o outro, assim como os marinheiros que foram todos ao chão e ela que caiu em cima dele por descuido e ele, por instinto, passou os braços em sua cintura antes dos dois caírem ao chão. Não se olharam, apesar de querer fazê-lo. Ao contrário, quando o barco parou, levantaram-se rapidamente esquecendo de continuar a discussão e preparando-se tanto fisicamente quanto mentalmente para enfrentar seus maiores medos.

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