Patrulha Vermelha

1. Introdução


Estava nervosa como nunca estivera antes. Afinal, quem ela era para conseguir uma audiência particular com a presidente (quer dizer, não muito agora...) da maior empresa de tecnologia do mundo? E, nada mais, nada menos, que em sua humilderesidência no Centro da Cidade do Oeste?

Afinal, não era todos os dias que uma simples roboticista conseguia uma entrevista com Bulma Briefs, dona de todo o conglomerado da Corporação Cápsula. Perguntava-se: como chegara até ali? Pensando bem, era um caminho bem óbvio.

Estava desenvolvendo sua dissertação de Mestrado em Robótica na Universidade dessa mesma cidade onde a genialidade dos Briefs sempre habitara, desde antes de ser conhecida. Seu projeto de pesquisa, na realidade, mais parecia uma pesquisa histórica ou jornalística do que uma pesquisa em robótica, bem era verdade. Entretanto, sua dupla graduação a ajudava nisso. Antes de estudar Mecatrônica, estudara História. Amava as Ciências Humanas, mas sua grande paixão eram mesmo os números.

O que, claro, não a impedia de fazer uma pequena pesquisa de campo colhendo alguns testemunhos.

Ah, sim, mas, para que ela estava fazendo aquilo, mesmo?

Claro. Estava investigando o fim do que fora um dos maiores concorrentes da Corporação Cápsula, seus porquês, comos e ondes. Os documentos oficiais diziam que tal empresa simplesmente... Desaparecera. Evaporara da área da tecnologia e tornara-se uma simples produtora de filmes. Uma grande produtora, era verdade, com um dos filmes de maior bilheteria da história do Cinema contemporâneo, o filme sobre a vida de um dos maiores heróis de Satan City -- depois de Mr. Satan, claro --: o Grande Saiyaman.

Outro que havia desaparecido tão repetinamente quanto surgido.

Suas pesquisas a levaram a várias hipóteses sem sentido algum. Histórias de um menino de doze para treze anos que havia destruído o que seria uma base ilegal sob o nome da empresa (oi?); umas tais bolas do lagarto (ou algo assim) que eles buscavam em maneira paralela aos empreendimentos oficiais... Nada que realmentepudesse ser usado em sua dissertação.

Respirou fundo. Não que ela não acreditasse naquelas coisas, sua mãe lhe contado muitas aventuras que ela mesma havia vivido, e ela mesma sendo algo inexplicávelpara a Ciência... Lógico que não por conta do seu cabelo, que, devido a alguns problemas de bipolaridade, tinha doze cores.

Depois de muito ponderar, tocara a campainha. Quem a atenderia? O interfone? Uma secretária? Um robô? A senhor(it)a -- ninguém sabia o real estado civil dela -- Briefs em pessoa? O que aconteceria?

Uma moça de aproximadamente dezoito anos, muito parecida com a dona da Corporação Cápsula atendeu à porta com uma expressão não muito agradável. Ao avistar a moça mais alta -- era realmentealta, beirando a um metro e oitenta --, grunhiu em mau humor. A pesquisadora se perguntou se aquele grunhido poderia ser humano. Sorrindo, resolvera tentar estabelecer contato com a garota sem ser mordida, mas foi interrompida pela voz de total irritação acompanhada pelo ódio nos olhos azuis:

-- Você deve ser a pesquisadora que veio entrevistar a mamãe. Entre. Não se sinta bem-vinda. Não pense que abrirei a porta para você e...

-- BRA BRIEFS! Quer fazer o favor de pararde assustar a pobre moça? Ela está fazendo um trabalho importante e...

Os olhos se encontraram. Azuis acinzentados esbarraram nos azuis-céu, e um frio percorreu a espinha da cientista. “Não... Não poderia ser ela...”

-- E o quê, mãe? Se você e o papai não tivessem surtado ontem teríamos quem abrisse a...

-- BRA BRIEFS, FORA DAQUI!! SE VOCÊ QUISER VER A LUZ DO SEU hoiSMART MAIS UMA VEZ, É MELHOR SAIR! AGORA!

Bra correu. Sabia que sua mãe era assutadora quando resolvia ser.

-- Descul... Melhor, não desculpe, guarde rancor mesmo, ela anda precisando de alguém que lhe enfie umas bolachas. Prazer, sou Bulma Briefs.

E estendeu a mão. A menina ainda se mantinha retraída, não conseguindo acreditar que aquela mão era, realmente, a mão de uma das maiores inventoras de seu tempo. Olhou para a mão estendida. “Vish, tá meio enrugada. Melhor só apertar e não comentar nada”, pensou. Apertou a mão e resolveu se apresentar.

-- Dinner.

Omitiu seu sobrenome sem saber por quê.

Bulma ainda estava estupefata. Quão parecido um ser humano poderia ser com alguém que ela conhece?

-- A... senhora não parou de me olhar... E... Estou ficando constrangida. Há alguma coisa em que posso ajudá-la? Se meus cabelos te incomodarem, eu trouxe uma peruca!

HAHAHAHAHAHA, riu, internamente, Bulma. Como se a cordo cabelo de alguém fosse incomodar uma mulher cujo pai e filho mais velho tinham cabelos lilases(claro. De vez em quando o cabelo de Trunks pendia para o violeta, mas isso se devia aos genes do seu pai extraterrestre) e que ela mesma tinha cabelo azul. Claro que um cabelo com essas duas cores mais dez a deixaria atordoada.

Só que não.

-- Ah, por favor, não se incomode! -- disse, Bulma, apressada -- É que... você lembra uma pessoa que conheço.

Dinner apenas sorriu.

-- Sua carta dizia que você está fazendo uma pesquisa sobre o encerramento das atividades da Patrulha Vermelha* como empresa de tecnologia e entender quais motivos levaram à modificação do ramo de atuação da empresa, certo?

Dinner se surpreendeu. Bulma realmentehavia lido aquele enfadonho projeto de trinta páginas que ela havia escrito na empolgação de ter descoberto o que queria fazer, arranjado um orientador e, de quebra, ter passado na prova? Limitou-se apenas a assentir levemente com a cabeça, imendando um “sim” como extensão da resposta.

-- E você me procurou porque acha que houve uma grande disputa de tecnologias e que por ventura a Corporação Cápsula ganhou a corrida, causando uma quebra na concorrente...

Bulma suspirou. Teria de pará-la antes que fosse tarde demais.

-- Olha. Eu sei o quão frustrante é quando nossas hipóteses não se confirmam... Você está certa. Essa corrida aconteceu... Mas muito antes da Patrulha Vermelha quebrar. Muito antes mesmo. Nem éramos grandes ainda... Estávamos começando. Até hoje não sabemos como nos sobressaímos nessa... Talvez tenham sido as cápsulas hói-pói, mas não tenho certeza. O que posso afirmar a você é que a quebra foi causada por outracoisa. Não vou entrar em detalhes, mas vou deixar-lhe um conselho: pare com essa pesquisa.

Dinner iria interrompê-la, mas Bulma fez com que ela não se pronunciasse.

-- Você ainda é jovem, pode mudar o foco e sua linha de pesquisa. As condições da desativação desse departamento da Patrulha Vermelha são nebulosas.

Isso Dinner já havia percebido.

-- E irão te levar a resultados inconclusivos, ridiculamente sem sentido e inusáveis em sua pesquisa.

Isso Dinner tambémjá havia percebido.

-- Eu mesma já tentei descobrir o que os levou à falência -- mentira. Bulma sabia o que os levara à falência, aliás, sabia o nome, sobrenome, nome do cônjuge, dos dependentes e dos agregados. Caralho, ela havia auxiliado no parto de um dos dependentes da causa da falência! Sabia também, e com muita amargura, as consequências daquela falência. MAS VAMO FALAR DE COISA BOA! VAMO FALAR DE SALVAR ESSA MENINA DA MORTE! -- e não levantei nada de concreto. Você provavelmente irá chegar às mesmas conclusões. Posso te ajudar entregando o meu material de pesquisa sobre a Patrulha, mas... Não creio que irá ajudar em alguma coisa ou que seja algo novo para você. Pois, se veio me procurar... Acho que já está ciente de todas as coisas que eu disse...

Uau! Não é que ela era inteligente, mesmo?

Dinner resolvera olhar as pesquisas da mulher, mas não conseguiu nada que realmente a fizesse avançar no que havia pesquisado. Agradeceu, imensamente, à preocupação da... não ousaria dizer senhora, em alertá-la dos problemas que sua pesquisa teria, mas não pensava em desistir. Não com todo o mistério que a herdeira (quer dizer, né, dona) da Corporação Cápsula tinha dado ao teor de sua pesquisa.

Continuaria.

Porque o bom pesquisador nunca parava diante das adversidades.

*~*~*~*

Respirou fundo. Tirou os óculos. Lavou o rosto.

Como deixara aquilo acontecer?

Claro, ele não tinha obrigação -- melhor, não tinha o direito--, de olhar projetos de pesquisa que não eram da linha dele, ou projetos de titulação que não fossem de sua orientação, mas também não poderia ter deixado aquilopassar.

Descobrir o motivo da falência da Patrulha Vermelha? Que ideia estúpida era aquela?

Precisava parar aquela moça. Ou ela se meteria em problemas sérios...

Respirou fundo mais uma vez; ainda tinha uma viagem de cerca de trinta minutos de voo para fazer e estava cansado. Pelo menos jantaria na casa de sua mãe esta noite...
É. Poucas coisas poderiam acalmá-lo mais que a culinária exótica de sua mãe.

*~*~*~*

-- COMO ASSIM INVESTIGANDO?!

-- É uma pesquisadora, aparentemente. Conversou com Bulma Briefs dia desses, queria saber sobre nosso passado. Posso dizer que pode ser perigosa.

-- Perigosa ou não, descobrindo nosso passado, pode descobrir nossos planos para o futuro. E realmente não queremos isso. Queremos?

O homem mais alto negou com a cabeça.

-- Sabe, como já imaginava que essa poderia ser sua reação, ordenei que ela seja prontamente capturada e/ou eliminada.

O homem mais baixo o olhou, visivelmente surpreso.

E não era que ele era mais inteligente que ele, mesmo?

*~*~*~*

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