Crônicas de Son Gohan

Tentando juntar os cacos


Tentando juntar os cacos



Já se passaram duas semanas, desde o massacre feito pelos androides. Chi Chi e Bulma já haviam feito as pazes. Gohan se sentia isolado, não tinha amigos. Sua mãe decidiu matriculá-lo num colégio, mas não achou um local próximo de casa. Decidiu então matriculá-lo num colégio da Capital do Oeste. O garoto via nisso uma possibilidade de esquecer um pouco a tragédia que tinha presenciado e à qual havia sobrevivido. Além disso, poderia fazer alguns novos amigos.


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- Chegamos, Gohan. – Bulma disse. – É aqui.


Parou o carro em frente a uma construção imponente e moderna. No letreiro, o nome do colégio: “Colégio West”.


Gohan desceu e foi até o portão. Despediu-se de Bulma e entrou. “Quem sabe, ele se sente melhor fazendo novos amigos.”, ela pensou.



*



- Esse é o Son Gohan, o novo colega de vocês. – disse a professora. – Pode se sentar ali, Gohan.


Ele se sentou entre um garoto de cabelos verdes e uma garota de cabelo rosa.


- Aquela é a sua mãe? – a garota perguntou.


- Não, ela não é a minha mãe.


- O que ela é? Alguma parente sua?


- Não, ela é amiga da minha mãe.


- Ah...


- Você é transferido? – o garoto de cabelo verde perguntou.


- Não, por quê?


- Porque neste colégio chegaram alguns alunos transferidos. – a menina disse.


- De onde? – Gohan ficou curioso.


- Daquela cidade que foi arrasada por duas grandes explosões... Você não viu nos noticiários?


Gohan quedou-se pensativo. Lembrou-se do momento em que estava travando o combate contra os andróides. E, principalmente, da hora em que usou o seu ki para gerar a redoma que protegeu tanto ele como Vegeta. Após as duas explosões, tudo em sua volta tinha ficado escuro e só foi acordar na casa de Bulma.


- Não, eu não vi... – ele respondeu hesitante – Só fiquei sabendo depois. Deve ter sido horrível.


- Que o diga Yakimo1!


- Quem é Yakimo?


- Ele! – a garota apontou o garoto de cabelo verde.


- Eu morava naquela cidade. – Yakimo disse.


- Mas ouvi dizer que ninguém sobreviveu! – Gohan disse.


- Na verdade, sobreviveu pouca gente. Mais ou menos umas vinte pessoas... Aqui no colégio, contando comigo, são cinco de lá. Foi muita sorte... Mas minha família não teve a mesma sorte...


Ao mencionar isso, Yakimo ficou cabisbaixo. Gohan fazia ideia de como ele se sentia.


- Ei, Yakimo! Será que vocês três podem prestar um pouco mais de atenção na matéria? – era a professora chamando a atenção. – Principalmente você e a Aisu2!


- Ah, me desculpa, Sra. Hana3. – a garota disse. – A culpa é minha, não do Yakimo!


- Está desculpada, Aisu. Agora você, Yakimo e Gohan vão prestar atenção na aula. No intervalo vocês podem conversar!



*



Tinha uma sensação estranha. Sentia o gelo percorrer-lhe a espinha, cada vez que a imagem dos androides vinha à sua mente. Mas sentia o ódio dominá-lo, quando se lembrava da humilhação que tinha sofrido nas mãos deles.


Estava em meio a um deserto, bem longe de casa. Queria se isolar de tudo e de todos, até poder sentir novamente confiança em si mesmo. Sua autoconfiança andava mal das pernas desde a derrota para aqueles “bonecos de lata”. Era uma das derrotas mais vergonhosas que já havia sofrido.


Aquela sensação estranha voltou a perturbá-lo. Sentia como se sua vida estivesse perto do fim. Por quê?


Fechou os olhos e se concentrou, a fim de ignorar a tal sensação. Transformou-se em Super Saiyajin. Começou a golpear os pedregulhos da área, como se fossem seus inimigos. Em cada golpe que desferia, despejava também a sua fúria, destruindo as formações rochosas do local.


Vegeta deu uma parada. Não adiantava descontar sua raiva em rochedos. Eles não ofereciam resistência, muito menos reação.


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A sensação estranha reapareceu. Afinal, o que era aquilo?


“- Esses androides mataram todos... Será que não tem ninguém que os derrote?”


Era a pergunta que Bulma havia feito há quinze dias. Depois disso, eles pareciam distantes um do outro. Aquele massacre havia afetado os dois. Bulma parecia desanimada e ele estava perturbado. Isso apenas fazia com que eles se afastassem cada vez mais. E o resultado, Vegeta já começava a sentir: estava, depois de muito tempo, acompanhado novamente pela solidão. Isso o incomodava.



*



- Ei, pirralho! Passa o lanche!


Yakimo começou a tremer. Já fazia um mês que havia sido transferido para o Colégio West e há um mês dois valentões pegavam o lanche dele. E isso era todo santo dia.


- T-Tá aqui...


Ninguém tinha coragem de dedurar a dupla da oitava série. Kyuri4 era o filho do diretor e Paina5 era o filho da segunda família mais rica da Capital do Oeste. Eles eram temidos pelos alunos das outras séries.


- Olha só, Paina! Que tal pegarmos o lanche do outro novato? – perguntou Kyuri, apontando Gohan.


- Boa ideia, cara!


Eles abordaram Gohan.


- Ô fedelho! – disse Paina. – Passa o lanche pra cá ou eu te dou uma surra!


O garoto não se sentiu intimidado. Aliás, nem se mexeu. Mas Yakimo tremia feito vara verde.


- Dá o lanche pra ele, Gohan! – o amigo disse.


- Isso mesmo, Gohan... – Kyuri disse zombeteiro. – Faça o que o seu amigo disse! Seja bonzinho e dê o seu lanche pra gente...


- Não! – Gohan retrucou.


- Vai negar assim? Nós não aceitamos um não como resposta!


- Mas a minha resposta continua sendo não!


- Tá zoando da minha cara, é?!


- Não! Eu só quero ficar com o meu lanche!


- Você sabe com quem tá mexendo? Sou o filho do diretor deste colégio e meu amigo Paina é filho da segunda família mais rica da Capital do Oeste!


Gohan não se alterou. Mas temia ter que usar a força pra se livrar da dupla. Pensou um pouco e disse:


- E daí? Eu sou amigo dos donos da Corporação Cápsula! Quem me traz pro colégio é a Bulma, a filha do casal mais rico da cidade!


- O QUÊ?!? – os dois, surpresos, perguntaram ao mesmo tempo.


Yakimo e Aisu começaram a se divertir com a situação criada. Paina e Kyuri se ajoelharam diante de Gohan e começaram a reverenciá-lo.


- Por favor, perdoa a gente, e não vamos mais incomodar ninguém! – Paina implorou.


Gohan ficou surpreso e bastante constrangido. Mas era bem melhor do que ser obrigado a usar a força e chamar a atenção.


- Prometem? – perguntou.


- Sim, prometemos! – os dois disseram em uníssono.


E assim eles devolveram o lanche de Yakimo e de mais cinco vítimas.


- Nossa, pensei que você iria desafiar aqueles dois, Gohan! – disse Aisu.


- E eu pensei que você iria apanhar deles! – disse Yakimo.


Gohan deu uma risada.


- Puxa, pensei que eles iriam rir da minha cara!


- Mas é a verdade! – disse a garota.


O pequeno saiyajin riu, com a mão atrás da cabeça. No colégio, esquecia um pouco a solidão ao conviver com seus novos amigos. Estava recuperando a sua habilidade de sorrir.



*



Aterrissou no pátio de trás da casa. Estava cansado e bastante aborrecido. Entrou e foi direto à sua sala de treinamento. Trancou a porta por dentro e se sentou no chão. Respirou fundo, mas sentiu um forte calafrio.


Outra vez aquela sensação estranha.


Era como se fosse um aviso que batia sempre na mesma tecla. Pressentia o seu fim. Tinha visões horríveis de seu corpo ferido e inconsciente, jogado em meio a escombros de sua própria casa. À sua frente, estavam os androides, de braços cruzados e sorridentes.


“Malditos!”, dizia mentalmente, com as mãos na cabeça. “Isso não vai acontecer! Não vou permitir que isso aconteça!”


Sentia-se atormentado pela visão. Suava muito e estava trêmulo. Seria medo? Pavor? Por que sentia isso? Não deveria ter medo, não poderia agir como um inseto covarde. Era o príncipe dos saiyajins, e ele, o príncipe, não deveria ficar borrando as calças de medo.


Pelo contrário, deveria recuperar a confiança em si mesmo. Mas não seria tão fácil, depois de levar uma surra como aquela.


“EU sou o guerreiro mais poderoso de todos!”


“Sou o guerreiro mais poderoso que existe!”


“Eu não preciso da sua ajuda e não preciso que ninguém salve a minha vida!”


Onde estava aquele guerreiro orgulhoso? Onde estava aquele imponente príncipe dos saiyajins? Onde estava o “grande” Vegeta? Tinha sido reduzido a um sujeito medíocre que, nos últimos dias, se via assombrado pela luta desastrosa que tivera contra os androides Nº 17 e Nº 18.


“Não posso ficar assim! Não posso agir como um verme covarde! Não sou um verme qualquer, não sou um inseto inútil!”


Levantou-se e transformou-se em Super Saiyajin. Encheu os pulmões e bradou:


- ANDROIDES MALDITOS! EU NÃO VOU PERDOAR VOCÊS POR ESSA HUMILHAÇÃO! EU SOU VEGETA, O PRÍNCIPE DOS SAIYAJINS, O GUERREIRO MAIS FORTE DO UNIVERSO!!! NÃO SOU UM COVARDE!!!


Mas, mesmo assim, se sentia sozinho. Bulma continuava distante dele. E a sensação estranha de que poderia morrer a qualquer instante havia voltado. Sentia um vazio enorme em seu coração, mas não sabia o motivo.



1 Yakimo: vem do japonês “yakiimo”, que é o mesmo que “batata assada”.


2 Aisu: vem de “aisukuri-mu”, que é “sorvete”, em japonês.


3 Hana: “flor”, em japonês.


4 Kyuri: “pepino” em japonês.


5 Paina: vem de “painappuru”, que tem origem no inglês “pineapple”, e em português é “abacaxi”. Lê-se “Páina”.


Obs.: Coloquei esses dois últimos nomes, porque, pra nós, “abacaxi” e “pepino” significam “encrenca”. Apropriado, não?