Lua de Sangue

Capítulo 35


Quando alguém bateu à porta, deu um salto com ar culpado e fechou o expositor.


Não reconheceu os rostos. O homem e a mulher ficaram do lado de fora a observá-la, enquanto ela os observava também. Era uma pena Sakura não ter a loja aberta, pensou Hinata. Pelo menos os clientes trariam alguma animação.


Hinata sorriu abertamente e apontou para o letreiro que dizia que a loja estava fechada. A mulher mostrou um distintivo.


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- Ups. - O FBI, pensou. Uma animação ainda maior. Destrancou a porta.


- Senhorita Haruno?


- Não, está lá atrás. - Hinata deteve-se um instante, para medi-los. A mulher era alta e forte, tinha o cabelo curto e preto e olhos escuros e inexpressivos. Usava aquilo que Hinata considerou um traje cinzento muito desinteressante e uns sapatos feios de morrer.


O homem tinha mais potencial, com o cabelo castanho encaracolado e um maxilar quadrado com uma cicatriz pequena e sensual. Tentou sorrir para ele e obteve como resposta um ligeiríssimo sorriso.


- É a primeira vez que conheço um agente do FBI, por isso estou um bocadinho atrapalhada.


- Não se importa de pedir a senhorita Haruno que venha até aqui? - pediu a mulher.


- Claro que não. Dêem-me licença um minuto. Esperem aqui. - Apressou-se a ir até ao escritório e fechou a porta atrás de si. - É o FBI.


Sakura levantou a cabeça bruscamente.


- Aqui?


- Aqui mesmo. Um homem e uma mulher, e não são nada como os da televisão. Ele não é mau de todo, mas ela traz um traje que eu não queria nem para ser enterrada. E também é americana. Quanto a ele, não sei. Não abriu a boca. Cá para mim, ela é que é a manda chuva.


- Por amor de Deus, Hina, o que é que isso me importa? - Sakura pôs-se de pé, mas tinha os joelhos a tremer.


Antes de conseguir acalmar-se, ouviu-se um bater repentino na porta, que se abriu.


- Senhorita?


- Sim.


- Sou a agente especial Tatia Lynn Williams. - A mulher voltou a mostrar o distintivo. - E este é o agente especial Marks. Precisamos falar contigo.


- Encontraram o meu pai?


- Até agora, não. Ele contactou-a?


- Não. Não o vi, nem ouvi nada sobre ele. Ele sabe que eu não o ajudaria.


- Gostaríamos de fazer-lhe algumas perguntas. - Williams lançou a Hinata um olhar desagradável.


Nesse preciso momento, Hinata correu para trás da escrivaninha e pôs o braço sobre o ombro de Sakura.


- Esta é a noiva do meu irmão. Prometi-lhe que não a deixaria ficar sozinha. Não vou quebrar a minha palavra.


Marks pegou no seu bloco notas e folheou algumas páginas.


- E a senhora é...?


- Hinata Hyuuga Uchiha. A Saki está passando por um momento muito difícil. Eu vou ficar com ela.


- Conhece Pain?


- Conheço. E acredito que ele matou a minha irmã, há dezoito anos.


- Não temos qualquer prova disso - disse Williams, sem mostrar qualquer emoção. – Senhorita Haruno, quando foi a última vez que viu a sua mãe?


- Em abril. O meu tio e eu fomos vê-la. Há alguns anos que estou afastada dos meus pais. Não a via desde os meus vinte anos, nem ao meu pai. Até ele ter vindo aqui, à minha loja.


- E nessa altura sabia que ele era um fugitivo.


- Sim.


- No entanto, deu-lhe dinheiro.


- Ele levou o dinheiro - corrigiu Sakura. - Mas eu o teria dado, para mantê-lo longe de mim.


- O seu pai foi fisicamente violento contigo.


- Durante toda a minha vida. - Sakura não aguentou e sentou-se.


- E com a sua mãe?


- Não, nem por isso. Não era preciso. Acho que lhe bateu mais nestes últimos anos, quando eu já não estava lá. Mas isso é apenas especulação.


- Disseram-me que não precisa especular. - Williams fixou os olhos no rosto de Sakura. - Afirma possuir poderes psíquicos.


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- Não afirmo nada.


- Esteve envolvida em vários casos de crianças raptadas, há alguns anos.


- E o que pode ter isso a ver com o assassinato da minha mãe?


- Era amiga de Hope hyuuga Uchiha. - Marks abordou o assunto tranquilamente e sentou-se numa cadeira, enquanto a sua colega permanecia de pé.


- Sim, éramos muito amigas.


- E levou a família dela e as autoridades até ao local onde estava o corpo dela?


- Sim. Tenho a certeza de que têm os relatórios. Não tenho nada a acrescentar-lhes.


- Afirma ter visto o homicídio dela.


Quando Sakura não respondeu, Marks inclinou-se para a frente. - Recentemente, pediu ajuda a Ino, uma advogada de Charleston. Estava interessada numa série de homicídios sexuais. Por quê?


- Porque elas foram todas mortas pela mesma pessoa, a mesma pessoa que assassinou a Hope. Porque todas elas eram a Hope, para ele, com uma idade diferente.


- Você... Sente isto - comentou Williams e estudou o olhar de Sakura.


- Eu sei isto. Não estou à espera que acredite em mim.


- Se sabe isto - continuou Williams -, porque não disse nada?


- Para quê? Para divertir alguém como à senhora? Para ver o que aconteceu ao Jonah Mansfield voltar à tona e ver atirarem-me à cara o papel que tive? A senhora já sabe tudo o que há para saber sobre mim, agente Williams.


Marks tirou um saco de plástico do bolso e atirou-o para cima da escrivaninha. Lá dentro estava um brinco, uma argola simples, de ouro.


- O que pode dizer-nos sobre isto? Sakura manteve as mãos no colo.


- É um brinco.


- Uma das coisas que sabemos é que consegue manter a calma debaixo de fogo. - Williams deu um passo em frente. - Estava suficientemente interessada nos homicídios para recolher informações sobre eles. Não está suficientemente interessada para ver o que consegue ficar sabendo, digamos, a partir disto?


- Já lhe disse tudo o que sei sobre o meu pai. Falo tudo o que puder para vos ajudar a encontrá-lo.


Marks pegou no saco.


- Comece por aqui.


- Era da minha mãe? - Sem pensar, Sakura tirou-lhe o saco da mão, quebrou o selo e depois fechou os dedos sobre o brinco.


Abriu-se, desejando esta última ligação mais do que pensara. Estremeceu uma vez e depois deixou cair o brinco em cima da escrivaninha.


- O par está no seu bolso - disse ela a Williams. - Tirou-os quando vinha a caminho da cidade e pôs este aqui dentro. - Os olhos dela mantiveram-se fixos nos de Williams. - E eu não tenho de me sujeitar a isto.


- Desculpe. - Williams deu um passo em frente para pegar no brinco. - Sei realmente muitas coisas a seu respeito, Senhorita. Fiquei interessada no trabalho que fez em Nova Iorque. Estudei o caso Mansfield. - Voltou a meter o brinco no bolso. - Eles deviam ter-lhe dado ouvidos. - Trocou um olhar tranquilo com o colega. - É isso que tenciono fazer.


- Não posso dizer-lhe mais nada. - Pôs-se de pé. - Hinata, se importa de acompanhar os senhores à porta?


- Claro que não.


Williams tirou um cartão do bolso, deixou-o em cima da escrivaninha e depois seguiu Hinata. Alguns minutos depois, Hinata voltou a entrar, pegou numa Coca-Cola fresca e instalou-se na cadeira que Marks deixara vaga.


- Conseguiu dizer aquilo só por tocares naquele brinco. Soube que era dela só por lhe tocar?


- Tenho trabalho para fazer.


- Ora, deixa disso. - Hinata bebeu um longo trago pela garrafa. - Juro que nunca vi ninguém levar as coisas tão a sério. Devíamos era ir comprar uns bilhetes de lotaria ou ir até às corridas de cavalos. Consegue adivinhar quem ganha nas corridas de cavalos? Não vejo porque não.


- Por amor de Deus!


- Bem, porque não? Porque não pode se divertir com isso? Não tem de ser um peso deprimente. Não, já sei! Melhor do que cavalos. Vamos a Las Vegas, jogar blackjack. Meu Deus, Sakura, vamos levar a banca à falência em todos os casinos.


- Não é coisa para ser usada em benefício próprio.


- Porque não? Ah, claro, já me esquecia. Tu é assim. Gosts da autopiedade. Coitadinha de mim. - Hinata usou um lenço invisível para secar os olhos. - Tenho poderes paranormais, por isso tenho de sofrer.


O insulto foi tão grande que Sakura não conseguiu imaginar por que motivo os lábios dela se contorceram num sorriso ridículo.


- Não estou com pena de mim.


- Mas estaria, se tivesse oportunidade. Eu sou especialista nisso. - Sentou-se na escrivaninha. - Vem comigo até à casa do Naruto. Pode procurar na mente dele, ou seja lá o que for, e descobrir o que ele tem na cabeça sobre mim.


- Nem pensar!


- Oh, vá lá, seja boazinha.


- Não.


- É mesmo malvada.


- É verdade. Agora, vai embora. E põe essa pulseira no lugar de onde a tirou.


- Muito bem. Seja como for, não faz o meu estilo. - Inclinou-se sobre a escrivaninha. - O que estou a pensar neste preciso momento?


Sakura olhou para cima e a boca dela estremeceu.


- É calunioso, mas anatomicamente impossível. - Voltou a concentrar-se no teclado. - Hinata, obrigada.


Hinata abriu a porta.


- De quê?


- Por me aborrecer deliberadamente, para eu não sentir auto piedade.


- Ah, isso. Foi um prazer. Afinal, é fácil.


- Naruto, querido? - Hinata segurou o telefone com o ombro e espreitou por cima do balcão, para ver o escritório da loja onde lhe parecia que Sakura estava metida havia mais de dez dias. - Está ocupado?


- Eu? Claro que não. Acabei de esterilizar um dachshund. Mais um dia no paraíso.


- Ah. - O que é que faz exatamente... não, deixa pra lá, acho que não quero saber. Como está o meu amor?


- Estou bem, e tu?


- Referia-me à Abelha. Ela está bem?


- Sem fôlego. - Soltou um suspiro pesado. - Está a se divertir. Tenho a certeza de que logo vai contar tudo sobre o primeiro dia de trabalho.


- Eu também estou no meu primeiro dia de trabalho. Mais ou menos. - Hinata observou, com uma sensação de satisfação que a surpreendeu, os expositores de vidro que limpara até ficarem brilhando. - A que horas acha que vai ficar desocupado, aí?


- Devo estar pronto às cinco e meia. Em que está pensando?


- Tenho o conversível do Sasuke, e estava pensando que podíamos ir dar uma volta bem grande. Está tão quente! Estou toda transpirada. E só tenho o vestido vermelho em cima do corpo. - Com um sorriso atrevido na cara, enrolou uma madeixa de cabelo em volta do dedo. - Lembra do meu vestido vermelho, não lembra, querido?


Seguiu-se uma pausa muito, muito longa.


- Está tentando matar-me.


Ela riu baixinho e com satisfação.


- Só estou tentando certificar-me, já que ultimamente temos passado muito tempo a conversar, de que uma certa parte da nossa relação não está esquecida.


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- Eu até gosto dessa parte.


- Então, porque não vamos dar a tal volta? Podíamos alugar um quarto num hotel ordinário, à beira da estrada, e brincar de caixeiros viajantes.


- E o que é que tu vende?


Desta vez a gargalhada que ela soltou foi forte e sonante.


- Ora, querido, confia em mim. Vai pagar um bom preço.


- Então compro. Mas temos de regressar ainda esta noite, ou amanhã de manhã cedo. Tenho consultas marcadas.


- Não há problema. - Estava a habituar-se ao fato de ele ter sempre planos agendados. - Naruto?


- Sim?


- Lembra de ter dito que estava apaixonado por mim?


- Parece que me lembro de ter dito qualquer coisa do gênero.


- Bem, acho que também te amo. E sabe uma coisa? Não é uma sensação muito má.


Seguiu-se mais uma longa pausa.


- Acho que consigo sair daqui as cinco e um quarto.


- Eu vou te buscar. - Desligou e dançou à volta do balcão. - Sakura, sai daí. Parece que está na prisão - disse ela, abrindo a porta.


Sakura levantou os olhos da sua lista de inventário.


- Nunca teve um emprego?


- Para que haveria eu de querer ter um emprego? Tenho uma herança.


- Realização pessoal, auto satisfação, o prazer de fazer uma tarefa.


- Está bem, venho trabalhar contigo.


- Há algum teleférico para o inferno?


- Não, a sério, pode ser divertido. Mas falamos nisso depois. Agora, tens de vir comigo. Tenho de ir em casa depressa, buscar umas coisas.


- Vai.


- Para onde eu for, tu também vai. Prometi ao Sasuke. E estamos aqui, a fazer tua vontade há... - Olhou para o relógio e revirou os olhos. - Quase quatro horas.


- Ainda não terminei.


- Pois bem, eu já. E se ficarmos aqui o resto do dia, aquela gente do FBI pode voltar.


- Está bem. - Sakura pousou o lápis. - Mas prometi à minha avó que estaria em casa do meu tio às cinco.


- Perfeito. Deixo-te lá antes de ir buscar o Naruto. Traz umas Coca-Colas, querida. Estou seca. - Hinata saiu para retocar o batom, com a ajuda de um dos espelhos decorativos da loja.


- Desde quando tem reflexo? – perguntou Sakura com voz doce, com as garrafas na mão.


Sem se ofender, Hinata pôs a tampa no batom e meteu-o na bolsa.


- Está atravessada porque estive metida na tua caverna durante todo o dia. Vai agradecer-me quando nos fizermos à estrada e eu acelerar aquela beleza do Sasuke. Apanha um bocado de vento no cabelo, até vai te dar estilo.


- Não há nada de errado com o meu cabelo.


- Nada de nada. Se quiser parecer uma solteirona bibliotecária.


- Isso é um clichê ridículo e um insulto a toda uma profissão.


Hinata deteve-se mais um pouco diante do espelho e ajeitou o seu cabelo louro e macio.


- Tens visto Matilda, da Biblioteca de Progress, ultimamente?


Apesar das suas boas intenções, os lábios de Sakura tremeram.


- Ora, fica calada - sugeriu, metendo a garrafa de Coca-Cola nas mãos dela.


- É disso que gosto em ti. Tem sempre a resposta pronta. - Deu um jeito ao cabelo e preparou-se para sair. - Bem, anda lá.


- Mudou as coisas. - Sakura olhou para as prateleiras, os expositores e notou as pequenas mudanças na distribuição das peças.


Resposta pronta, pensou Hinata, e olho de falcão.


- E então?


- Não está mal.


- Desculpa, estou tão emocionada com o elogio que acho que me sinto tonta.


- Nesse caso, dirijo eu.


- O diabo é que dirige. - A rir,Hinata saiu a dançar. Enquanto a seguia e trancava a loja, Sakura deu conta de que estava se divertindo. Com ela era impossível ficar amuada ou deprimida durante muito tempo. A idéia de uma volta à alta velocidade num conversível era bastante sedutora. Ia concentrar-se nisso, apenas nisso, e preocupar-se com o resto mais tarde.


- Põe o cinto - disse ela, quando Sakura se sentou.


- Ah, está bem. O ar está tão denso que quase podemos mastigá-lo.


Hinata também pôs o cinto de segurança, pegou nos óculos e depois ligou a ignição. Fazendo roncar o motor, lançou a Sakura um sorriso atrevido.


- Agora, um pouco de música para dar ambiente. - Apertou o botão do CD e fez busca até Pete Seeger começar a produzir rock-and-roll. - Ah, clássico. Perfeito. Vamos ver de que energia é feita, Sakura.


Sakura pegou nos óculos de sol e pô-los.


- De fibra.


- Muito bem. - Hinata esperou por uma pausa no trânsito e depois saiu da linha de estacionamento, fazendo uma ruidosa inversão de marcha. Passou o semáforo da praça segundos antes de ficar vermelho.


- Vai arranjar uma multa ainda antes de saír da cidade.


- Ora, acho que o FBI deve estar a manter a polícia local bastante ocupada. Cristo! Não adora este carro?


- Porque não compra um para ti?


- Assim perdia o divertimento que é chatear o Sasuke até à medula para ele me emprestar.


Saiu dos limites da cidade e acelerou.


O vento batia na cara de Sakura, embaraçava-lhe o cabelo e fazia-lhe vibrar o sangue. Uma aventura pensou, enquanto serpenteavam pela estrada. Uma idiotice. Havia muito, muito tempo que não permitia a si própria esta entrega à loucura.


Cheirava a verão e o verão era a infância. O alcatrão quente a derreter sob o sol escaldante, a água a modorrar ao sabor do calor.


- Está ali o Sasuke. - Sakura voltou à terra, semiconsciente, fria e transpirada, com os olhos muito abertos e quase cegos, enquanto virava a cabeça.


- Ali. - Hinata fez um gesto na direcção do campo onde dois homens estavam numa zona de algodão verde. Buzinou alegremente, acenou e riu. - A esta hora está a amaldiçoar-nos, a encher os ouvidos do Piney sobre a irmã louca e irresponsável que tem. Não te preocupe - acrescentou com complacência. - Vai achar que estou a tentar te corromper.


- Eu estou bem.


Hinata observou-a mais demorada e atentamente.


- Claro que está. Mas também está pálida. Porque é que não... Oh, merda!


O coelho atravessou a estrada como uma seta, um flash castanho de confusão. Instintivamente, Hinata acionou os freios e o carro guinou, chiou e voltou a encontrar o equilíbrio sob a firmeza das mãos dela.


- Não posso pensar na idéia de atropelar o que quer que seja. Embora Deus saiba que eles aparecem assim, de repente. Até parece que estão à espera que venha um carro e... - Interrompeu-se quando voltou a olhar para Sakura. A gargalhada soltou-se antes de ela pigarrear para tentar controlá-la, enquanto abrandava. - Ui!


Sem dizer nada, Sakura olhou para baixo. Quase toda a Coca-Cola que estava na garrafa encontrava-se derramada na sua camisa. Com dois dedos, afastou-a da pele e olhou fixamente para Hinata.


- Ora, não queria que eu atropelasse o coelhinho, não é?


- Faz-me um favor e leva-me a casa, para eu mudar de roupa, está bem?


Com os dedos bem firmes no volante, Hinata entrou pelo caminho que ia dar a casa de Sakura, cuspindo pó e gravilha quando freiou. A rir, mas cautelosa, Hinata saltou do carro.


- Vou pôr a camisa em água fria enquanto tu te limpas. É uma pena deixá-la estragar, ainda que seja perfeitamente banal.


- Clássica.


- Acredita no que quiser. - Satisfeita com a diversão, Hinata subiu os degraus. - Demora o tempo que quiser a pôr-te em ordem - disse ela, quando Sakura abriu a porta. - Precisa mais do que eu.


- Acho que não é preciso muito para ficar com ar de quem está pronta a saltar para a cama mais próxima.


Sorrindo, Hinata seguiu-a até ao quarto e depois, muito à vontade, abriu o armário de Sakura e espreitou.


- Hei, algumas destas coisas não estão mal.


- Tira os teus dedos das minhas roupas.


- Esta cor fica bemem mim. - Tirou uma blusa de seda, de um azul-escuro e luminoso, e depois virou-se para o espelho. – Realça meus olhos.


De sutiã, Sakura arrancou-lhe a blusa das mãos e atirou-lhe a que estava molhada.


- Vai fazer alguma coisa de útil.


Hinara revirou os olhos, mas encaminhou-se para o banheiro, para passar água na blusa no lavatório.


- Se não vai usá-la nos próximos dias, podia emprestar-me. Estava pensando que o Naruto e eu podíamos passar o serão em casa, amanhã. E se as coisas correrem como é suposto, nem sequer vou tê-la muito tempo vestida.


- Então, o que estiver vestindo também não é importante.


- Uma afirmação dessas só prova que precisa de mim. - Hinata meteu a camisa na água. - Aquilo que uma mulher veste está diretamente relacionado com o que pretende de um homem.


Sakura procurou no armário uma camisa branca, franziu o sobrolho e olhou para a blusa de seda. Bem, porque não?


Sakura abotoou a blusa e aproximou-se do espelho para escovar o cabelo. Precisava de domá-lo e apanhá-lo atrás, disse a si própria. Ia consolar a avó, fazer o que pudesse para manter unido o que restava da sua família. Não era altura para frivolidades nem para egoísmos. Embora, como Deus sabia, estivesse a precisar mesmo daquilo e não esqueceria que Hinata lhe proporcionara.


Levantando os braços, começou a prender o cabelo num rolinho. O movimento repetitivo, o zumbido do ventilador de teto embalaram-na até ficar com os olhos meio fechados, a sorrir sonhadoramente diante do espelho.


Viu o coelho atravessar a estrada como uma seta. Um flash castanho de pânico. A fugir. A fugir do cheiro do homem.


Vinha aí alguém. Alguém estava a espiar.