-Vai, Raquel! Vais sair daí, ou tenho de te ir buscar? – Reclama Thata.
Aperto as botas de salto. E olho-me ao espelho.
-Eu não saio daqui.
Oiço Thata murmurar uma praga qualquer e depois dá um pontapé na porta.
-Porque não?
-Pareço uma idiota. O azul faz-me mais gorda.
Caroll, Havena e Thata começam a rir sem parar.
Ignoro e olho-me ao espelho.
Depois de acordar, as meninas tinham-me ajudado a tornar a minha roupa toda em roupa azul. Bem, a maioria.
Havena tinha implorado para eu vestir um conjunto que ela tinha visto e amado, e pronto, nem é feio, mas acho que não me fica bem.
Vesti uma camisola de manga comprida azul escura às riscas pretas com um colete branco por cima; uma saia branca, cujo tecido parece tule, umas meias calças pretas e umas botas com um salto exageradamente alto brancas, e tudo porque Havena me pediu.
Caroll abre a porta da casa de banho sorridente.
-Não se bate? – Digo chateada.
-Não. – Ela olha-me de cima abaixo. – Gostei. Aprovado.
-A sério? – Pergunto com as minhas dúvidas.
Ela faz que sim com a cabeça e avança para mim com um gancho. Penteia-me o cabelo e põe-mo a prender a franja.
Saio do meu “covil” e ignoro os comentários que Thata me manda.
-Vamos embora? – Pergunta Thata.
Aceno que sim e despeço-me de Havena e Caroll que ainda se vão arranjar, não podendo tomar o pequeno-almoço connosco.
Desço as escadas com Thata sempre ao meu lado a resmungar sobre o vestido azul ser muito apertado. Passamos a estrada e continuamos a andar até que uma mota pára ao nosso lado. O condutor tira o capacete e vejo uma juba vermelha sair.
-Bom dia, Castiel. – Diz Thata aborrecida.
-Bom dia, Chata.
-É Thata, parvo. – Cometa.
Castiel olha-me de cima a baixo e depois solta um rugido, como se aprovasse.
-Queres boleia?
-Não.
-Sim.
Apesar de adorar Thata, eu não quero mesmo nada receber boleia do Castiel.
-E então, como ficamos? – Pergunta Castiel divertido
Olho para Castiel pronta a dizer que não, mas sinto-me ser elevada no ar. Olho para Thata furiosa. Ela deposita-me no banco de trás e imediatamente vou contra o Castiel.
-Thata, eu disse que…
Mas o Castiel é mais rápido e já arrancou com a moto.
Aperto as minhas pernas ao seu redor (mas porque é que eu vesti uma saia?), e rodeio-o com os braços.
Quando chegamos (a escola não é assim tão longe), apressei-me a sair da mota, mas Castiel sai primeiro e agarra-me na mão puxando-me.
-Castiel! Onde é que me levas?
-Já tomas-te o pequeno-almoço?
-Não.
-Ótimo, comes comigo.
Ele leva-me até à cafetaria e até às mesas de bufê, onde se mete a tirar quantidades enormes de comida para nós dois (sem nunca me largar a mão). Depois arrasta-me até a uma mesa onde vários rapazes comem. Um de cabelos cinzentos e um olho verde e outro amarelo (acho que o nome é Lysandre, aquele do outro dia), um de cabelos loiros e um bronzeado muito grande, um rapaz negro muito bonito, e um de cabelos pretos, Leigh, eu acho.
-Raquel, estes são o Lysandre, o Dake, o Dajan e o Leigh. Malta, esta é a Raquel.
Os rapazes levantam as mãos e cumprimentam-me. Sento-me ao lado do Castiel e começo a comer um bolo até que o Lysandre me interrompe.
-Então, Raquel. A tua amiga, a Thata, está ocupada para o baile?
-Não sei… porquê? OMG, tu queres convidar a Thata para o baile? Não posso…
Lysandre sorri como se eu tivesse dito: “Sim, ela está disponível e desesperada”.
Dake sorri e pergunta ao Lysandre feito malandro:
-Então, Lysandre, vais… - olha para mim -… desflorar alguém?
-Não sei. – Com um encolher de ombros, Lysandre reduz o meu apetite a zero.
Empurro o tabuleiro para o lado e vou-me embora.
Sigo até ao pavilhão onde vou ter a primeira aula. No balneário, visto uma t-shirt e umas calças de fato treino e sigo até á aula.
Aproximo-me do monte de pessoas que estão sentadas no chão à volta de uma mulher de longos cabelos vermelhos, grandes olhos cor de cinza e com a pele em tom creme. Preciso de dizer que é muito bonita?
-Bom dia, alunos. Esta vai ser a vossa primeira aula de Defesa e Ataque Mágico. Convosco, a vossa professora Jolie Scarlet; e para vos demonstrar a arte de Defesa e Ataque Mágico, a minha sobrinha Carolli Scarlet – VanLock.
Caroll aparece com um vestidinho cor-de-rosa atrás de mim e vai ter com a professora, que descobri ser sua tia. Thata e Elaine veem ter comigo, as duas surpreendidas por Caroll ser da família de uma mulher tão bonita.
-Bom dia, pessoal! – Diz Caroll – Hoje vou ensinar-vos um truque simples para se defenderem. Chama-se: Flamingo. Algum voluntário?
A professora eleva a mão no ar e oiço o som do metal a arrastar-se. Uma espada de metal aparece ao lado de Elaine que, corada, avança até Caroll.
-Muito bem, Elaine. Agora, peço-te que vás até ao outro lado do ginásio, e me ataques com toda a tua força.
-Não.
Voltamo-nos todos para trás para ver um rapaz de cabelos verdes avançar até Elaine. Ele arranca-lhe a arma das mãos e enquanto vai até ao outro do ginásio, vai gritando:
-Não posso permitir que uma menina tão bonita seja golpeada por uma vampira de mer…
-Silêncio! – A voz da professora Jolie faz o meu coração parar. Com a cara vermelha e cheia de raiva, aponta para o rapaz – Não é permitida essa linguagem aqui dentro. Agora, ataca!
Caroll baixa-se no chão a atar o sapato enquanto o rapaz avança para ela furioso. Com a arma elevada no ar e a menos de três metros de Caroll, o rapaz grita e no preciso momento em que a arma vai para tocar na Caroll, esta eleva a pé que bate no queixo do rapaz, que voa uns bons quinze metros.
O cheiro de sangue enche a sala e Elaine corre para ao pé de mim verde, e esconde a cara nos meus cabelos. Faço-lhe uma festa enquanto a professora avança até ao rapaz e o levanta no ar.
-Angel – Um rapaz de cabelos castanhos e olhos pretos levanta-se a avança até eles – leva o teu colega até à enfermaria.
Depois de Angel sair e levar com ele o rapaz, a professora manda Caroll sair e ordena que faça-mos pares e que treine-mos o truque que aprendera-mos.
Faço par com Elaine, que com melhor cara, dá-me três pontapés na cara. Eu, que ao início não tencionava magoá-la, acabo por a golpear duas vezes.
Observo então já mais para o fim da aula, os restantes pares. Vejo Thata que fez par com o rapaz do pequeno-almoço, Dajan, com um sorriso nos lábios (isso e um bilhete a sair-lhe do soutien).
Depois de a aula acabar, vamos almoçar e segui-mos para História da Magia, onde fico a saber que o rapaz de cabelos verdes se chama Jade e que é como Leigh um “intruso”, um aluno que não é bem aluno mas que têm algumas aulas connosco. Passa-mos a aula toda do professora Faraize a tentar apanhar uma carrada de sapos que acabaram por fugir, e depois vou até ao ginásio, para o castigo.
Quando chego vejo logo mais alunos de castigo. O rapaz da aula da professora Jolie, o Jade, Castiel (já se esperava, não é), a rapariga loira, a Ambre, acho eu; um rapaz de cabelos pretos voltado de costas para mim e outros alunos que dormitam pelas bancadas.
-Boa tarde, senhorita Amoris. – Nathaniel (que eu ainda não tinha visto) avança para mim e beija-me a mão. Sorrio embaraçada e disfarço.
-Então, o que era suposto fazer-mos aqui? – Castiel sorri.
-Nada, ali o ricaço faz o trabalho todo.
Olho para onde Castiel aponta e vejo que é o rapaz de cabelos pretos. Ele movimenta as mãos no ar e pendura várias fitas no tecto.
-O baile vai ser AQUI?
-Bingo. – Castiel sorri feito malandro e eu ignoro.
Aproximo-me do rapaz de cabelos pretos e começo a pendurar fitas com ele. Para além de ser uma bruxa, não é simpático deixar os outros fazerem o trabalho sujo por nós.
-Obrigada. – Ele diz quando acabamos de colocar as fitas, pôr mesas no lugar, meter luzes de cores e encher balões.
-De nada. – Olho para ele e de repente parece que o meu mundo vai desabar. CREDODEUSPAIDOCÉU, mas ele é igual ao… - Alexy?
Ele olha para mim confuso, e de repente, parece que também o mundo dele vai desabar.
-Não… - Diz gaguejando – eu sou o Ar… Raphael.
-Raquel.
Aperto-lhe a mão.
-Desculpa a confusão, Raphael.
-Numa boa.
Depois de Nathaniel dizer que estamos dispensados (felizmente ele não tentou nada para cima de mim - Yupi), vou para casa mas Raphael me apanha no caminho.
-Raquel!
-Oh, oi Raphael.
-Posso te fazer uma pergunta?
Aceno que sim.
-Ontem pareceu-me ver uma criatura maligna sair do teu quarto.
Paro de andar e olho para ele desconfiada.
-O que é que queres dizer com isso?
Ele encolhe os ombros.
-Tu sabes, uma criatura feita de sombras… já viste alguma?
Encolho os ombros.
-Talvez.
-E gostavas de saber o que é?
Recomeço a andar desconfiada.
-Qual é o preço a pagar?
-Preço?
Reviro os olhos.
-Preço, tu sabes. O preço pela sabedoria. Droga, dinheiro, o meu corpo…
-Uou! Uou! Uou! Que tipo de rapaz é qua achas que eu sou?
Abro a porta do prédio.
Depois de ponderar um bocado, faço-lhe sinal para entrar. Fecho a porta atrás de nós e cruzo os braços, á espera que ele desembuche.
-Isso é um quero saber? – Reviro os olhos. Bolas, ele é muito mais parecido com o Alexy do que pensa – Ok, espera um pouco.
Ele põe a mochila no chão e começa á procura de alguma coisa. Quando as minhas unhas da mão direita começam a ficar pequenas demais para roer, ele retira um livro castanho com ar de se estar a desfazer.
-O que é isso? – Pergunto quando ele me entrega o livro.
-É um livro antigo que está na minha família à várias gerações. Sabes do que é que fala?
Entrego-lhe o livro.
-Não posso aceitar.
Ele enruga a testa.
-Não to estou a dar, nem nada disso… considera-o emprestado. Quando acabares de ler, depois dás-mo. – Ele acena e começa a andar para trás – Até amanhã! – Diz quando atravessa a parede, como se esta não fosse nada mais que uma cortina de fumo.
Fumo…

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!