- Oi Gretel. - Roys diz, descendo a escada, sem farda. Ele parecia mais confortável sem ela.

-Oi senhor. Como anda?

- Vou muito, obrigado. E já te disse, não sou senhor nenhum. Me chame apenas de Roys. - Sorrio, sem graça, iria ter que me acostumar com isso.

-Claro... Roys.

- Eu tenho o dia de folga hoje. O que quer dizer, que você não precisa ficar tomando conta da Anoy. Eu mesmo farei isso. Pode pegar uma folga se quiser.

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-Ah, vá se divertir. Eu fico com Anoy. Ia ensina-la a bordar hoje. - Iria ser divertido, eu sabia. Bordar sempre foi divertido. Havia até preparado o material na noite anterior.

- Bordar? Acha que Anoy tem paciência para tal?

-Vai aprender a ter. É muito divertido! - Então lembro que estamos falando de Anoy, a pseudodemônio. e paro de sorrir. - Ou talvez não.... - Ele ri.

- Ei, estive pensando em algo mais emocionante. Levar ela para dar um passeio. Mas vou abusar um pouquinho da sua paciência, pedindo um café da manhã. -Como se eu não trabalhasse para ele. Sorri. Ele era educado.

-Sem problemas. Gosta de torradas?

- Aposto que vou adorar as suas. - Iria agradecer, mas uma pequena criatura desceu as escadas com um chapéu nazista na cabeça.

- Heil Hitler. - A menina aprendia rápido, afinal.- Bom dia tio, bom dia tia.

- Oi... - Vou até ela e tiro o chapéu, colocando em cima da mesa. -Dormiu bem?

- Muito. E estou muito empolgada, pois hoje vou ganhar um cavalo. Certo Roys?

- Claro. - Ele ri, como se aquilo fosse normal.

- e quando vou ganhar minha própria pistola?

- Isso vai demorar um pouco mais! - Sirvo as torradas e faço mais algumas para Anoy

- Arrumou a cama, querida?

- Sim. - Ela torce a cara. - Não ficou muito bom, mas fiz o melhor que pude.

-Está ótimo! - sorrio. Havia falado para ela que uma moça tinha que saber as coisas básicas de uma casa e ela, meio a contra gosto, aceitou arrumar a casa. Era um começo.

- Como vão putos? - Strauss, estava até demorando... - Huuuuuuuum.... torradinhas!

-Sempre animado - coro um pouco. - Bom dia....

- Porque você ainda não me viu nu. - ele responde. - Ai é animação maior do mundo.

Coro ainda mais e escondo a cara na geladeira, fingindo que procura um suco. Ele sempre conseguia me envergonhar.

-Ahn... Claro... Deve ser... Ahn.. é... Legal... - Gaguejo. Ele apenas ri.

- Quer uma demonstração ao vivo agora?

- A Gretel terá que ser boa observadora para achar seu pau, Strauss. Como a garota da Polônia. - Roys interve, rindo. - Não ligue para ele Gretel.

- Que garota da Polônia? Não me lembro dessa. - Ele diz, com cara de indignado.

- Você comeu ela, pai? - Anoy diz e lanço um olhar de desaprovação.

- Não, Strauss fala mais do que faz. - Roys.

- Não lembro de garota da polônia nenhuma, mas lembro muito bem de Ashira Devet.

- É diferente. - Roys fala, ficando sério. Strauss parou de brincar e fechou a cara, o que era meio incomum. - Eu... eu vou trabalhar, Thomas Roys.

- Divirta-se. - Só ouvi a porta bater.

-Ele é... Espirituoso, não acha? - Sorrio amarelo - Deve ser um homem divertido.

- Você não precisa ficar tentando agradar todo mundo o tempo todo, ou tentar ver o lado bom de tudo. Deveria ter mandado ele pro inferno. - Roys parecia bem chateado.

-Não tento agradar todo mundo... - É, eu sabia que era mentira. - Só gosto que as pessoas gostem de mim, e não custa nada ser educada.

- É impossível não gostar de você. E é impossível ser educada o tempo todo. - Ele diz, se acalmando enquanto come.

- Quem é Ashira Devet, tio?

- Uma pessoa que eu gostaria de esquecer. E caso pergunte mais alguma coisa, não vai o cavalo. - E Anoy fica repentinamente quieta. Suspiro.

-Anoy querida, suba lá no quarto e pegue minha bolsa, por favor? - Ela sobe as escadas correndo e quando está bem longe, tomo coragem para falar.

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-Roys, como anda a guerra? E quem é Ashira?

- Estamos expandindo. Logo invadiremos a URSS. E Ashira... - Suspira. - Uma judia, que eu larguei em Auscwitz.

-Strauss? Com uma judia?

- Estupro. Ele é mestre. -Aquele... Não consegui achar uma palavra decente para o que achava de Strauss.

-Viado. Alguma notícias dos feridos?

- Viado? - Ele gargalha. Sorrio um pouco, mas mudo de assunto.

-E alguma notícia sobre os feridos? - Pai... Havia sonhado com ele aquela noite, como sempre.

- Os feridos. Bem... São feridos demais para que todos recebam algum tipo de tratamento. Mas as guerras sempre foram assim, e sempre vão continuar a ser.

-Não os judeus. Os soldados, mais importantes, eu... Ouvi falar que tem um médico, que está fazendo pesquisas muito... Interessantes...

- Hum... eu não sei. Estou por fora da parte médica. Tomara que esse tal médico nos ajude alguma forma.

-Ah... - fico um pouco desapontada e abaixo o rosto, tentando esconder meus olhos - Sim, um dia.

- O que foi? - Tento sorrir.

-Não é nada, só lembrei de algo ruim. Vou... vou ajudar Anoy.

- Gretel... Sei que não concorda com o Nazismo, vejo isso em seus olhos. Apesar de ser nazista... eu não sou uma pessoa ruim.... Apenas fiz as escolhas erradas, e sou covarde. - Eu sabia que ele não era uma pessoa ruim... Ele era bom. Demais.

-Roys, você não é um covarde. Só fez as escolhas que garantiram o que você é. Se não tivesse virado um soldado... Talvez Anoy estivesse morta, e eu estivesse trabalhando em um bordel. Só o que quero dizer é... Acredite em si mesmo. - Ele assente, olhando com agradecimento.

- Certo Gretel... Vou tentar fazer isso.

- Aqui está sua bolsa, tia. - Anoy chega correndo. - Deu trabalho de achar. - Ela completa.

-Obrigada, meu bem. - beijo a testa dela - Vou sair, tenho algumas coisas pra fazer na cidade...

---

O prédio ainda era o mesmo. Há anos eu não andava até lá e ele ainda se parecia com o que eu vi quando era criança. Lembro bem, foi a única vez que vi Horst Schumann. Eu sabia bem o que ele fazia, afinal, trabalhou com meu pai. Mas isso havia sido há muito tempo. Antes dele fugir para Auschwitz e abandonar a mim e minha mãe.

A porta estava empoeirada e os tijolos caiam ao pedaços, mas para mim, ainda pareciam iguais. Pude ver a surpresa de Horst ao me ver ali, em uma manhã fria, sozinha.Seu rosto ainda tinha os mesmos traços, magro, poucos cabelos que começavam a ficar grisalhos, maças do rosto sobressaindo e sobrancelhas escuras. E embora parecesse mais cansado, eu pude reconhecê-lo.

-Horst? Tem um minuto?

Ele assentiu sem emitir nenhuma palavra e me deixou entrar, que perigo uma garota fraca e alemã poderia oferecer? O consultório de Schumann cheirava á naftalina e os móveis estavam sujos e velhos. A tinta da parede descascava e uma mala jazia no chão de madeira.

-Em que posso lhe ajudar? - Ele estava um pouco desconfiado, mas me ofereceu uma xícara de café e se sentou na poltrona.

-O senhor trabalhou com meu pai. Josef.- Sinto um calafrio percorrer meu corpo quando ele arruma a coluna e coça o queixo, me observando.

-Josef teve apenas uma filha. Ela está morta há anos.

-Não... Eu estou bem aqui. Na sua frente. - Cruzo as pernas e bebo um gole do café. Estava amargo demais, mas não me importei. Meus olhos estavam presos nos daquele homem.

-A pequena Gretel... Você esteve bem durante esses anos?

-O melhor que se pode ficar quando seu pai larga você e sua mãe morre. Falando nele, sabe por onde anda?

-Continua em Auschwitz, na equipe de Eduard Wirths. Parece que seu deu bem por lá. E eu também vou me dar. Embarco no trem dessa noite.

-Vai se juntar a ele? E se perdermos a guerra e caçarem vocês?

-Como chefe da SS, Wirths fica com toda a responsabilidade por qualquer um dos nossos supostos crimes. Aqueles judeus nojentos deviam agradecer por poder ajudar no avanço da medicina. É a única coisa para que aqueles bastardos servem. - Senti meu rosto ficar vermelho e respirei fundo.

-Pode mandar um recado para ele?

-Não. Você está morta, senhorita Gretel.