Nem Tão Óbvio Assim

Um lado. Outro lado. O todo?


–Mello, você quer alguma coisa?- perguntou por fim, quando já não mais conseguia ignorar aquela situação.

Com o sol já escondido em algum canto do horizonte, até mesmo a luz já arriscava a se despontar.

– O que te faz pensar que você pode me ajudar com alguma coisa, seu idiota prepotente?

Near suspirou. Quando chegara na sala, Mello lá já estava, fato inédito e digno de nota, a despeito deste estar se comportando um tanto quanto estranho desde o dia anterior, faltando às aulas e tudo o mais.

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Normalmente, o loiro só apareceria depois que ele montara algo considerável, em um ótimo ponto para ser destruído. Coincidência ou não, isso não vinha ao caso.

O fato é que, mesmo depois de erguer quase que toda uma cidade- e podia afirmar que no tempo que gastara naquilo vira o sol começar a se por e a lua já despontar na enorme janela- Mello ainda estava imóvel. Jogado em um sofá confortável no canto da sala, rodeado por papéis de chocolates clássicos, olhando para um ponto indefinido, em silêncio.

Mello.

Quieto.

Em silêncio.

Pacificamente.

Comendo chocolates.

Á exceção da última observação, aquilo era muito, muito estranho.

– Mello, eu não posso afirmar com precisão o horário, mas arrisco que já deve ter passado das sete da noite. E, suponho, que tenha vindo logo depois do fim das aulas da tarde, que não foram muito além das cinco. Desde que chegou ainda não fez nada senão comer chocolates. Ainda que esse comportamento específico lhe seja comum, todo o resto é atípico, portanto- finalizou, concluindo mais um arranha-céu multi-colorido- achei que talvez precisasse de algo.

– Bela dedução, para um pirralho irritante- Mello se limitou a responder, a voz saindo meio abafada, coisa justificável levando em conta a posição em que estava sentado. Digo, deitado. Digo.... Ah, bem.- Você fala como se me conhecesse, como se sempre pudesse adivinhar o que eu vou fazer.

– Você tende a ser bem previsível, na verdade- olhou para o outro por cima do ombro, enrolando uma mechinha qualquer.

– Ah, desculpe. Esqueci que eu estava falando com o precioso ‘’número um’’ da Wammy’s House, o mais genial de todos esses imbecis.- Se olhasse para Near naquele instante, talvez percebesse a natural frieza, opaca, que este sempre trazia no rosto acentuar-se – Ainda que estivesse certo, o que te faz sequer supor que justamente você, seu baixinho sem cor, poderia me ajudar? Você acha que tem o que eu quero?

Mello estava dialogando?

Não estava gritando.

Não estava descontrolado.

Não estava deixando suas emoções dirigirem seus passos.

Onde estava a previsível impulsividade, tão quente?

Aquele era o Mello racional, o gênio que todos sabiam que ele era, afinal.

Não era o seu Mello.

– Por que você está justamente aqui, então?

Justamente comigo.

– É proibido, por acaso? Acha que eu estou aqui por algum motivo especial, que envolva você? Apenas cale a boca, se não vai dizer nada que preste.

– Desculpe. Estava apenas evidenciando fatos. Digo, este prédio é enorme, você tem um quarto próprio, e – arriscou- tem o Matt...

– O que é que tem o Matt!?- ele se ajeitou, e agora poderia afirmar que estava sentado, batendo os pés furiosamente no chão.

Ponto.

– Ele é seu amigo, e seu colega de quarto, não? Se tem algo lhe incomodando, o lógico seria que fosse procurar por ele - recitou, despreocupadamente.

Talvez, aliais, com certeza, havia ultrapassado algum limite com aquela curta constatação. Podia apenas imaginar como.

Quer dizer, não dissera nada senão o óbvio, certo?

Certo?

– Você se acha muito esperto, muito bom, não é?- ainda estava sentado, mas encurvara-se um pouco, quase que como uma cobra prestes a saltar na presa.

Near nada respondeu. Simplesmente encarou aqueles olhos azuis, com um ódio profundo já tão familiar...

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Tão diferente dos verdes....

Estavam terrivelmente próximos.

Tanto, que Near não encontrava espaço para colocar suas palavras.

Acabou demorando demais.

– Não vem achando que pode me ignorar agora não- e os olhos negros estavam a centímetros dos azuis. A indiferença tão estranhamente próxima das chamas- você que começou isso, desgraçado!!

– Afinal, você às vezes consegue ser completamente imprevisível....- pensou alto. Um erro.

Mas fato.

– PARA COM ISSO! CALA ESSA MALDITA BOCA! EU NÃO SOU MAIS UM DESSES SEUS JOGUINHOS VAGABUNDOS, QUE VOCÊ FICA TENTANDO ENCAIXAR PARA QUE FAÇA SENTIDO, ENTEDEU!?

Tão perto um do outro...

E Mello estava berrando, com todo o fôlego que a raiva dava aos seus pulmões...

Teria suspirado naquele momento.

Mas, as probabilidades de estar certo...

– Mello, o que aconteceu?- foi o melhor que conseguiu formular, arqueando as sobrancelhas num movimento involuntário.

– Como se você não soubesse...- a raiva agora era contida.

Estava ajoelhado.

Os punhos cerrados.

Ele quase esperava por um soco.

Mais um, apenas.

Estava tão perto.

E mais distante do que nunca?

A tensão chegara num nível tal em que ambos bem sabiam que já não importava o que se diria. Mudaria tudo.

Tudo o quê?

Por que de repente sentia aquilo?

Seria medo?

Medo do quê?

De repente, sentia que haviam lhe tirado todas as respostas para nunca mais devolver...

– Opa, opa. Mello, dessa vez você se superou, eu ouvi teus berros de lá do jardim!

Ao menos, não antes que se mudasse todas as perguntas.

Ali, na porta, estava Matt, olhando com um sorrisinho qualquer para os dois.

A ponta...

E agora, Mello faria uma cara de raiva de cara qualquer.

Passaria reto pelo ruivo, talvez lhe dando um tapa.

E os dois partiriam.

Uma pequena margem de erro, claro.

Ah, o loiro até já se levantara.

– Vai defender ele agora, é?- um tom frio. Extremamente frio.

Tudo bem, uma considerável margem de erro.

– Não. Necessariamente. Eu vim ver o porque de você estar gritando tanto. - um tom casual. Falso?- Você não é exatamente discreto, Mihael.

Mihael...

– Há, olha quem fala. Mail Jeevas, o cara que fica agarrando os outros nas salas de jogos.

Nenhum dos dois olhava pra Near.

E ele ficou grato por isso, quando sentiu seu rosto esquentar absurdamente.

Aquilo... Significava...

Ao menos, queria acreditar...

Que estava certo.