And More Confusion

Capítulo 19 - Deixando o acampamento


And more confusion
Kaline Bogard


Parte 19

Deixando o acampamento



O barulho era baixinho e soava distante na mente adormecida de Sam, mas foi o suficiente para que o rapaz acordasse.


Abriu os olhos e mirou o irmão mais velho que, atualmente por sua culpa, estava na forma de um garotinho de quatro anos. Garotinho que todas as noites dava um jeito de ir deitar-se ao lado do irmão. Principalmente por que a família Winchester estava envolvida em negócios bem peculiares: caçavam monstros, fantasmas, salvavam pessoas.


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Dean voltara a ser criança, sim. Apesar disso, mantinha vivas algumas lembranças do tempo de adulto, das caçadas. E sua forma infantil tinha medo dessas memórias, do que as criaturas de filmes de terror podiam fazer para alguém tão indefeso.


Por isso o loirinho saltava pra cama de Sam, pois ali se sentia seguro e protegido.


Seria por causa desses medos que ele chorava baixinho naquele momento?


– Dean...? – Sam perguntou gentil – O que foi? Sinto muito por seu braço... está doendo?


O menino fungou, esfregando os olhos com as costas das mãos pequeninas.


– Num faz mau disso – respondeu entre soluços – É que... agora o Dean... num vai mais... no parquinho...


Samuel lembrou-se do que a música parecia prometer às crianças, sobre lugares encantados e outras maravilhas. Suspirou antes de afastar o irmão com cuidado para que ambos se sentassem de forma mais cômoda.


– Prometo que te levo a um parquinho bem legal pra compensar.


Dean parou de chorar e cravou os olhos marejados no caçula.


– Promete mesmo? Super palavra de honra?


Samuel levantou a mão como se fosse prestar um juramento.


– Super palavra de honra – isso foi suficiente para o menino de sardas, que sorriu feliz – Agora vou fazer um curativo no seu braço, está bem?


O garoto olhou para o lenço parecendo confuso.


– Dean num lembra onde corto. Mais nem tá doeno.


– Foi preciso – Samuel explicou enquanto se esticava para pegar a mochila e alguma coisa de primeiros socorros – Assim nós derrotamos o monstro ontem e salvamos seu amigo James.


– Era um monstro? – o loirinho assistia fascinado enquanto o adulto desenrolava o lenço com cuidado para não causar um novo sangramento no corte. Não se tratava de um ferimento profundo e o sangue coagulara há algum tempo, graças a perícia de Bobby.


– Um monstro grande e feio – Sam descobriu que a pomada cicatrizante acabara e não tinha nada equivalente, por isso teve que se contentar em apenas cobrir com gaze e firmar com uma tirinha de fita esparadrapo – Que foi derrotado graças a você. Pronto, campeão.


Dean olhou para o bracinho tendo no rosto a expressão de quem não acha grande coisa.


– Agora a gente vai pra onde?


– Pro Colorado – o rapaz levantou-se – Tem um parquinho ótimo no caminho.


– OBA! – a criança levantou os braços de modo empolgado – E figurinha?


– Muitas figurinhas, sardento.


– Ei!


Sam riu e saiu da barraca. Ainda era muito cedo, o sol nem ao menos surgira no horizonte, porém Bobby já se levantara e tinha começado a desmontar a barraca de lona.


– Bom dia, Bobby.


– Bom dia, garoto. Como está o Dean?


Ao ouvir o próprio nome uma cabecinha de cabelos loiros apontou pela entrada da barraca exibindo um sorrisão enorme que esticava as bochechas salpicadas de sardas.


– Tio Bobby! O Sammy vai me leva eu pro parquinho no Colorado! E o Dean matou um monstro asssiiiiimmmm oh!


Singer respondeu ao sorriso. Pareceu que um peso enorme saíra dos seus ombros ao ver que o menininho estava bem.


– Incrível. Que tal ajudar a gente a desmontar a barraca, hein exterminador de monstros? – falou de brincadeira e com um carinho que não chegou a surpreender Sam. O rapaz sabia que o loirinho parecia ter esse poder sobre os dois: de despertar sentimentos super-protetores.


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– Claro!


Apesar da empolgação Dean mais atrapalhou do que ajudou a desmanchar as lonas sob as quais tinham passado a noite. No fim das contas foi sentar-se na grama, dando-se por vencido, e esperou que os adultos cuidassem de tudo desmontando e conferindo equipamentos emprestados.


Finalmente os três seguiram para o prédio da Administração para devolver os utensílios e assinar o recibo de entrega.


Na recepção estava apenas a moça de cabelos curtos e loiros. Assim que os notou entrando ela levantou-se da mesa e veio atendê-los. Sam notou que a mulher tinha olhos verdes e algumas sardas sobre o nariz.


– Bom dia – ela foi dizendo como se repetisse um texto ensaiado – Meu nome é Elisa, mas podem me chamar de Lisa. Sarah foi a River City acompanhar o garotinho do acidente de ontem e seus pais. Nosso parque presta toda a assistência necessária.


– Ah, claro – Bobby cortou o papo furado – Precisamos ir embora mais cedo...


A expressão da loira tingiu-se de decepção, mas ela disfarçou rapidamente. Dois casais tinham ido embora no dia anterior mesmo, graças ao acidente que envolveu uma criança. Isso era ruim para os negócios e, infelizmente, comum sempre que um quase afogamento acontecia. Se o acidente fosse fatal o parque podia ficar por semanas sem receber visitas.


– Aqui está o recibo de entrega – Lisa entregou o canhoto depois de conferir se todos os equipamentos estavam de acordo – Nossa máquina de cartão está desconectada. Teremos que fazer o reembolso do seu dinheiro em espécie. Se importa?


Sam e Bobby se entreolharam. Não se importavam nem um pouco, pelo contrário.


– Tudo bem – o Winchester disse.


– Realmente sentimos muito – Lisa afirmou separando o dinheiro do restante da estadia que os visitantes tinham pagado antecipado e entregava para Samuel – Espero que não guardem lembranças ruins daqui e que nos visitem mais vezes.


Sam forçou um sorriso. As poucas horas no parque – menos de vinte e quatro – não entrariam no pódio de memórias mais agradáveis. Tinham perdido tempo, corrido um risco desnecessário e prendido um Nix longe da água, de modo que ele acordaria furioso qualquer dia desses, quando seu corpo conseguisse expulsar a estaca que o mantinha paralisado e sair da cova na qual fora jogado e enterrado. Por esse motivo tão somente, ele teria que voltar ali, junto com Dean e finalizar o trabalho do jeito certo.


– Nós voltaremos – Sam garantiu para Lisa que sorriu.


– E traga esse garotinho lindo – debruçou-se sobre o balcão para observar Dean melhor – Serão muito bem vindos!


– Obrigado! – Dean sorriu de volta.


– Meu filho teria a sua idade, se ele estivesse vivo – Lisa disse pensativa. Os olhos verdes subitamente tristes – Era uma criança linda, assim como você, rapazinho.


O loirinho não soube o que dizer. Sam se perguntou se o menino teria se afogado no parque por culpa do Nix, talvez. Ou então por qualquer uma das criaturas sobrenaturais que viviam nas sombras a espreita de vítimas infantis, completamente indefesas e vulneráveis.


– Sentimos muito por sua perda – o moreno meneou a cabeça. Não podia começar a pensar assim. Sabia que nunca salvaria a todos e talvez nem fosse o caso.


Lisa endireitou-se espantando a tristeza e puxou dois cartões com endereço e telefone do parque. Entregou um para Sam e outro para Bobby que aceitou em silêncio.


– Destino, eu acho – a loira sorriu – Sejam sempre bem vindos aqui.


Os caçadores pegaram a deixa e aceram em despedida. Deram meia volta e foram saindo da recepção. Ao chegar a porta Dean deu uma olhadinha para trás e acenou de volta quando Lisa lhe deu um adeus com a mão. Ele tinha gostado da moça. Ela lhe lembrava sua mãe. Os cabelos loiros, o jeito de fitá-lo, cheio de doçura...


Claro que não era a sua mãe, que sempre usava os cabelos loiros mais compridos. Além disso, evidentemente, os olhos de Mary não mudavam de cor. Pois, naquele exato momento, enquanto acenava em despedida, Lisa o encarava com profundos e brilhantes olhos dourados.


Continua...