Dilemas

Capítulo 11


Aline estava vermelha no banheiro. Leticia pegou um copo de água e entregou a ela, que tomou rapidamente. Depois lavou o rosto e quando percebeu, Letícia estava encostada olhando pra ela.

- Que foi? - ela não gostou muito do olhar da amiga, porque no momento não tinha nada de divertido ali.

- Ué, estou vendo o jeito que você ficou com o Dennis. Ele nem precisou falar muita coisa pra te deixar assim. - e riu novamente.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Engraçada. Não é isso... Tudo bem, foi algo meio do nada... É que... - ia começar a falar e estacou.

- É que o que? Tem tempo que não recebe elogio não é?

- Mais ou menos. - percebeu que ia falar besteira - E desde quando tem tanta intimidade assim com ele?

- Ué, já que vamos ser cunhados, nada mais justo que já fazermos amizade né? - ela riu do comentário e Aline balançou a cabeça negativamente.

- Não viaja Leticia. - ela a olhou estranho, cruzou os braços e depois percebeu que o tom tinha saído meio enciumado - To falando porque vocês mal se conhecem e você já está se iludindo planejando o futuro com ele. E desculpa, mas eles dois não têm cara de que têm namoradas fixas.

- E daí? Vai que mudo isso? - ela piscou, fazendo Aline rir - Você que tinha que aproveitar a oportunidade que a vida tá te dando, porque convenhamos... Elas passam na sua frente e você dá mole.

- Mas olha pra mim...

- Ah senhor, me poupe! - Leticia saiu batendo a porta do banheiro com força, fazendo um eco no banheiro e alarmando Aline. Ela olhou-se no espelho novamente e tentou arrumar a maquiagem e ao lembrar-se do olhar de Dennis a reunião toda pra ela, ficou imaginando se ele a estava analisando, já que parecia meio óbvio que Tiago tinha contado algo a ele, ou então... Não... Ele fez aquilo apenas para provocar o irmão.

Saiu do banheiro e seguiu pelo corredor e viu Leticia conversando com Tiago ali perto. Os dois riam de algo e pareciam cúmplices e Dennis estava sentado ali perto, analisando a situação.

E era isso mesmo que fazia. Nada contra, mas não entendia o que fez Tiago ficar com tanta raiva de Aline. Ela não parecia ser má pessoa e do tipo que abandona o cara daquele jeito por nada. Leticia já era outro tipo de mulher, mais atirada, mais nova e provavelmente do tipo mimada. Tiago o olhava de esguelha revoltado, mas ele não estava nem ai.

Admitiu uma verdade para o irmão. Tinha se sentido realmente muito atraído por ela, mas não daria em cima sabendo que o irmão gosta dela. Se depois percebesse que o caso deles não passou de uma noite, por que não? Ali eram todos adultos, e saberiam lidar com a situação da forma mais sensata possível. Leticia não sabia de nada mesmo, não iria fazer diferença. E Charles não precisava saber de nada. Ou só quando as coisas já estivessem certas.

Aline apontou pelo corredor e ele levantou-se. Parou-a bem no meio do caminho e lhe deu seu sorriso mais encantador. Ela parou meio atordoada, porque aquele movimento fez com que sentisse aquele perfume gostoso e de homem. Ela sorriu meio sem graça e ele estendeu a mão.

- Eu queria pedir desculpas. Não deveria ter falado daquela maneira com você. Mal nos conhecemos. - ele sorriu e foi educado - Mas está tudo bem?

- Não se preocupa. Está sim tudo bem.

- Mas não minto na parte de você ser interessante. - ela recuou o corpo um pouco e ele sorriu - Desculpa, mas tenho que falar. Você é linda!

- Obrigada. - e Aline sorriu. Sentiu um olhar a queimando e resolveu entrar na brincadeira e ver no que ia dar - Você também é.

- Está me elogiando? - ele sorriu estonteante. Não sabia exatamente o porque dela estar fazendo aquilo, provavelmente para deixar Tiago com ciúmes ou algo do tipo.

- Claro. As pessoas quando merecem devem ser elogiadas. - ele gargalhou e ela o acompanhou - Pois bem, muito obrigado. Pena que não vamos fazer esse projeto juntos.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Por que? - ela sabia onde ele queria chegar, mas queria que ele mesmo dissesse para deixar Tiago ainda mais enfezado.

- Gostaria de te conhecer melhor.

- Não seja por isso. - Aline puxou um cartão do bolso e lhe entregou - Quando quiser, só me ligar.

Leticia estava estupefata. Será que o chilique no banheiro serviu pra alguma coisa? Ela e Tiago simplesmente pararam de conversar pra prestar atenção naquela situação anormal para os dois. Tiago nunca imaginou que ela fosse aceitar o convite do irmão e de como ele seria tão fura olho e safado de fazer isso na sua frente. Respirou fundo e olhou para Leticia.

- Então, nos vemos amanhã?

- Mas você tinha dito que... - Leticia o olhou confusa.

- Pensando bem... Dá pra cancelar o evento de amanhã. - ela sorriu e apontou para o celular em suas mãos.

- Então só me mandar uma mensagem. Diz onde e que horas que eu te espero.

Assim que ela viu Aline se despedindo de Dennis e indo em direção a ala onde trabalhavam, saiu correndo atrás dela. O dia estava sendo perfeito pelo visto. Tudo dando certo para ela e claro pra amiga. E depois do que viu, elas teriam que sair pra comemorar.

Charles saiu da sala um pouco decepcionado. Diana tentou de todas as maneiras manter tudo no mais profissional possível, coisa que ele estava tentando mudar, mas nada deu certo. Dennis estava discutindo baixo com Tiago, quer dizer, na verdade parecia mais um monólogo, já que Tiago não estava dando ouvidos para o irmão.

- Vamos?

Tiago pegou sua pasta e partiu pra ir embora. Dennis revirava os olhos e Charles o olhou e ele percebeu que ele queria saber o que era. Dennis chacoalhou as mãos para deixar aquilo pra lá e foram todos juntos. No carro, o silêncio mortal se fez. Charles, já irritado com aquilo, olhou para os dois e começou o que poderia se dizer de bronca.

- Mesmo voces dois não querendo me dizer o motivo para a infantilidade, eu mesmo vou avisar o seguinte: Não quero voces dando em cima das meninas ouviram bem? Por mais que Tiago já tenha dormido com a secretária, quero os dois com os brinquedos dentro da calça.

- Isso não tem como ser Charles. - Dennis começou - Ele já colocou pra fora antes de você falar.

- Então é verdade mesmo que você ficou com essa menina não é?

- Eu repito: não sabia que ela era da empresa.

- Mas ela sabia quem você era....

- Sim, sabia.

- E...

- Ah qual é Charles. A garota é legal tá e estou disposto a dar uma chance. - Dennis olhou o irmão de rabo de olho e respirou fundo. Charles massageou as têmporas e olhou para o primo.

- Tudo bem, mas não quero que as coisas atrapalhem os negócios. Não é prudente você sair por ai namorando as mulheres da empresa da Diana, e já aviso logo que vou contar a ela pra não ficar na sombra do assunto. Se virem vocês dois e tirarem foto...

- Vou ter que namorá-la então?

- Como se fosse uma obrigação. - Dennis comentou e Tiago bufou.

- E por que não conta ao Charles que você deu em cima da assessora da Diana?

- Você também? - ele olhou para o bar dentro do carro e pegou uma garrafinha de uísque - Vocês querem me arruinar só pode. Mas já aviso logo, a Aline é uma excelente pessoa e ajuizada, não inventa de magoá-la não, senão quem vai partir pra cima de você sou eu.

Dennis assentiu. Tiago engoliu em seco e Charles pegou seu laptop. Assim que os irmão viram que a situação estava mais complicada do que se imaginava, se entreolharam cúmplices. Os dois estavam ferrados mesmo, que pelo menos se afundassem juntos.

Ao chegarem a empresa, Manoel pediu para almoçar com eles. Charles saiu logo contando da situação amorosa que eles queriam se envolver e Manoel só fez rir. Depois que todos riram, ficou sério e começou o sermão.

- Também acho prudente, vocês deixarem tudo claro com elas desde o início. Se não pretendem levar os relacionamentos adiante, que elas saibam.

- E quem disse que não queremos? - Tiago começou deixando Dennis ainda mais alarmado. Não era essa a intenção dele ao dar em cima de Aline pela segunda vez, e pelo pouco que percebeu, nem dela.

- E já avisei ao Dennis que se magoar a Aline, a conta dele será comigo.

- Eu sempre me ferro não é? - olhou para Tiago que se divertia às custas dele. Pensou por um momento em obrigar o irmão a colocar tudo em pratos limpos, mas deixou pra outro dia, já bastava aquele olhar ameaçador de Charles que ele nunca tinha visto - Eu tenho certeza que ela vai entender o meu lado, até mesmo porque eu sou sincero desde o início.

- Isso é verdade, pelo menos. - Charles concordou e Manoel olhou pra ele.

- Aline por acaso é aquela menina que você falou que se tornaram amigos, Charles?

- Sim, aquela morena de olhos azuis que mostrei nas fotos para o senhor.

- Ah tá. E quem é Leticia, Tiago?

- A secretária. Loira, olhos verdes, cabelos ondulados. Ela foi no apartamento ontem.

- Ela já foi lá? - Manoel e Charles falaram ao mesmo tempo.

- Vou contar como a conheci. - Tiago contou por alto a situação, e mostrou que na verdade quem tinha a conhecido mesmo primeiro tinha sido o irmão, já que ela estava na mesa com eles conversando e com suas amigas. Contou as coisas pela metade e escondeu exatamente o que não tinha necessidade de falar. Dennis olhou pra ele querendo saber porque esconderia aquilo já que até as empregadas já sabiam da situação.

Voltaram para a empresa e Dennis partiu pra sala do irmão.

- Não quero falar com você.

- Deixa de criancice e me escuta. Acho melhor você decidir então o que vai fazer da vida, porque digo logo... Ariana e Marta sabem de tudo. Se der merda, elas contam pro Charles e pro nosso pai, e você sabe muito bem que Ariana sempre conta o que não deve pra ele.

- É só mandar ela ficar quieta.

- Aham. E daí? Como fica o resto?

- Eu vou pedir para que elas não falem nada porque a Aline pediu pra preservar as coisas. Elas não contam nada pro nosso pai, que não conta pro Charles, que pelo jeito íntimo que estava com a Diana também não conta pra elas e o mundo se faz perfeito de novo.

- Sei não. Acho que isso vai dar merda.

- Não vai não. - ele se tocou do que o irmão tinha dito antes - E só estou agindo como criança por que você está querendo me apunhalar pelas costas.

- Não quero não. - puxou o cartão do bolso - Liga pra ela, marca pra se encontrar e resolve logo sua vida. Senão, já sabe.

Tiago ficou um tempo olhando o cartão. Dúvidas assolavam sua cabeça me maneira excruciante. Dennis o deixou sozinho na sala e ele sentou em sua cadeira. Rodopiou um tempo pensando no que fazer.

EM UM RESTAURANTE PRÓXIMO

Aline estava almoçando com Dominique e Leticia. A segunda não entendia o motivo de tamanha urgência para ter abandonado todo o trabalho atrasado, mas foi assim mesmo, sempre foi meio curiosa, então não seria difícil.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Olha, o assunto tem que ser muito bom, porque dispensei o Danilo pra vir aqui.

- Agora é assim? Ta namorando e esquece as amigas? - Leticia se fez de ofendida e Aline riu.

- Ela já tinha marcado de almoçar com ele, por isso o chilique. E na verdade nem é nada tão importante assim.

O garçom chegou e elas fizeram o pedido. Comentaram primeiro da reunião e deram os parabéns para Leticia que tinha conseguido uma oportunidade de ouro. As bebidas chegaram primeiro e elas brindaram a ela.

- Vamos ao que interessa. - Aline continuou olhando o menu tranquilamente e Leticia olhou de rabo de olho para logo em seguida revirar os olhos - Quando a reunião terminou, e você foi embora, os irmãos Palmas vieram falar conosco. - Dominique já olhou Aline de rabo de olho também, que agia tranquilamente - Dennis deu em cima dela descaradamente. - apontou já gargalhando e Dominique arregalou os olhos - Claro que todo mundo na roda ficou assustado e ela se engasgou, não sei porque.

- Eu ia falar na mesma hora e quando ele falou reagi daquela maneira.

- O que ele disse?

- Nós dois fizemos uma brincadeira e ele disse que já estava de olho em outra pessoa e foi bem taxativo quando olhou pra ela com aquele desejo latente.

- Exagerada. - Aline revirou os olhos e sorriu. De fato, ela não estava tão errada assim.

- Mentira! - Dominique gargalhou - Que pena que saí cara, se soubesse que aconteceria isso teria deixado os outros lá se matando com as planilhas.

- Isso porque você não sabe nem da metade. - Leticia continuou contando pra ela do que estava acontecendo quando elas voltaram e como começaram a conversa - Ele é bem decidido sabe? Chegou junto mesmo e ela no início parecia meio receosa, mas depois saiu da cartola!

- Brincadeira hein! - ela reclamava ao mesmo tempo que ficava alegre - Perdi isso cara! Continua. - Aline continuou olhando de lado para elas e fingindo que não era com ela.

- Pois então. Ele a elogiou e acho que meu chilique no banheiro deu certo, porque ativou a Aline que deveria existir há tempos e ela o elogiou também. - Leticia continuou contando e Dominique arregalava os olhos - Mas a cartada final foi quando ele mandou que era uma pena deles dois não poderem trabalhar juntos e ela perguntou porque.

- Hum. - Dominique tomou um pouco de suco, porque já estava ficando com calor e empolgada com a história.

- Ele falou que era porque não poderia conhecê-la melhor e ela: "Não seja por isso." E ENTREGOU O CARTÃO DELA PRA ELE. - Dominique engoliu rápido o suco e teve um treco. Estava morrendo e Leticia preocupada levantou os braços dela no meio do restaurante, bateu nas suas costas e tentou ajudar. Aline pegou um guardanapo e tentou abanar a amiga que estava tentando se livrar do sufoco pra falar alguma coisa.

- Está tudo bem? - o garçom chegou preocupado e mesmo morrendo Dominique assentiu com a cabeça, o cabelo todo desgrenhado - Não parece. - ele se manteve calmo, mas queria rir no fundo.

- Tá... - Dominique começou a falar, respirou fundo e viu que estava melhor - Tudo bem. Já passou.

As três ficaram um tempo caladas olhando-se entre si, e depois explodiram em uma gargalhada gostosa. Aline foi aplaudida pelas duas e logo em seguida, Leticia levantou para ir ao banheiro. Quando vi que não estava mais em suas vistas, Dominique olhou raivosa pra ela.

- Ficou maluca? Agora vai sair atirando pro lado do irmão dele também?

- Só fiz isso pra provocar Nique.

- E você acha que o irmão dele está pensando o que de você agindo desse jeito?

- Bom, não sei, mas quando ele me ligar eu vou descobrir. - ela sorriu deixando Dominique estupefata.

- Onde está a Aline?

- Olha... Teve algum motivo sim para ele dar em cima de mim e eu quero saber qual. Posso ter meus problemas, mas uma coisa que não sou é idiota, e vou descobrir sim porque ele agiu daquele jeito e na frente do irmão. Ele conhece a Letícia, ela foi no apartamento deles... Provavelmente ele sabe tudo sobre mim... Só a maneira do Dennis me olhar na reunião foi o suficiente pra constatar isso.

- Ok, mas você está brincando com fogo.

- E eles dois também.

Leticia voltou e elas continuaram o almoço. Ela manteve suas ilusões com relação ao relacionamento entre os quatro, enquanto Dominique revirava os olhos e falava que ela era sonhadora demais. Enquanto terminavam o almoço e pagavam suas contas, o celular de Aline tocou. Ela viu o número desconhecido e atendeu mesmo assim.

- Pois não. - ela atendeu displicente.

- Aline? - a voz confusa do outro lado parecia conhecida, mas mesmo assim ela não se atinou.

- Sim, quem fala?

- Tiago. - ele foi direto, ficar enrolado ali não daria muito certo. Ela estacou e conseguiu ligar a voz a pessoa - Ainda está ai? - ele estranhou o silêncio.

- Por que está me ligando? - ela levantou e as meninas a olharam preocupada.

- Eu preciso conversar com você. - foi o suficiente pra ela ficar mais perdida do que antes. Engoliu em seco e continuou andando até a entrada do restaurante.

- Não acredito que tenhamos nada a conversar. - olhou para trás e viu as duas ainda pagando o resto da conta no cartão de crédito.

- Muito pelo contrário, existem muitos assuntos pendentes entre nós. - ele falou com uma voz rouca e sedutora. Aquela voz maldita que a tinha arrastado para uma noite sórdida de amor naquele hotel.

- Tudo bem. Onde?

- Tem um restaurante ali perto da praça General Osório, onde você mora.

- Claro que não perto da minha casa. - ela respirou fundo - Que tal em Copa. Mon Chique, pode ser?

- Está me convidando pra jantar? - ele sorriu e ela já nervosa com aquela ligação sobrenatural, viu as amigas chegando junto.

- Só esteja lá às 20:30h. - e desligou o telefone na cara dele. Tiago achou aquilo um absurdo e ligou novamente pra ela só de birra. Ela viu a ligação e desligou o telefone para não ser mais incomodada.

- O que aconteceu que você saiu igual fugitiva? - Leticia ficou de frente pra ela preocupada e vendo sua feição atordoada.

- O Caio que me ligou. - falou a primeira coisa que veio a sua mente - Nem sei como ele descobriu o meu telefone.

- Achei que depois do problema em São Paulo você tinha superado. - Dominique a olhou desconfiada.

- E superei. - olhei para o telefone desligado e o coloquei no meu bolso - Mas não imaginei que ele fosse seguir com o plano de me procurar. Nem sei como conseguiu o meu celular novo. - bufei.

- Depois a gente descobre. Esquece esse cretino. - Leticia a puxou e elas voltaram para o trabalho.

De noite, elas já estavam em casa e Leticia tinha ido para a faculdade. Com toda a correria do trabalho, Aline não teve tempo de contar a verdade para Dominique que já estava de pijamas, enrolada no cobertor e vendo TV.

- Mas onde você vai assim toda gostosona? - ela exclamou assim que Aline parou na sua frente.

- Vou encontrar com Tiago.

- COMO É QUE É? - ela levantou e quase caiu com o pé enrolado no cobertor - De onde você tirou isso?

- Ele que me ligou na hora do almoço. Marcamos de nos encontrar oito e meia e já são oito e quinze. Tenho que correr.

- Mas calma ai, ele te ligou? Como ele sabe seu telefone? - Dominique estava perdida.

- Provavelmente, Dennis pegou o meu cartão e deu pra ele não é?

- Pode ser. - ela se atinou e riu - Boa cartada hein... Dizer que foi o Caio. Ficou toda medrosinha. - e começou a rir.

- Não tem nada engraçado. Se Leticia perguntar, inventa que fui sair com qualquer pessoa, sei lá, com um amigo da faculdade...

- Eu não vou ficar mentindo não. - Aline praticamente implorou com os olhos manhosos e ela bufou - E vê se resolve logo isso com ele. Pelo amor de Deus!

- Tudo bem.

Dominique ficou sozinha por um tempo no apartamento e logo depois recebeu uma mensagem de Leticia dizendo que tinha uma trabalho para entregar no outro dia e iria dormir na casa da amigada faculdade. Iria cedo para casa para se arrumar para o trabalho. Largou o celular longe e foi pegar um vinho na cozinha quando a campainha tocou. Estranhou, porque Danilo tinha dito que ia sair com um amigo que estava de férias no Rio e Aline não tinha nem vinte minutos tinha saído de casa. Só faltava estar na porta arrependida, mas mesmo assim ela tinha chave. A campainha tocou de novo e ela foi em direção olhando a roupa de dormir em seu corpo.

- Ótimo, agora tenho que atender os outros assim. - sussurrou que quase não conseguiu se ouvir. Virou a chave e abriu a porta. - Pois sim.

- Boa noite. - tomou um susto ao ver o ex namorado parado na porta. O cheiro dele entrou junto com o vento frio de inverno e aquele perfume tão conhecido deixou-a meio perdida. Ele continuou olhando-a divertido - Vai me deixar esperando aqui na porta?

- Desculpa. - abriu caminho para que ele entrasse. Não entendeu nada quando ele colocou um saco de restaurante de comida chinesa e foi olhando para os lados. Fechou a porta e o encarou.

- Leticia esta aí?

- Não. Ela vai dormir na casa de uma amiga.

- Que droga. - ele reclamou e jogou o boné na mesa - Vim na melhor das intenções. E ela não atendeu minhas ligações hoje.

- Por isso a comida chinesa? - ela olhava desejosa por aquela comida. Uma de suas favoritas. Olhou pra ele que estava com cara de cachorro sem dono.

- Meu apartamento é grande e eu moro sozinho. Sabe como é né?

- Não sei não, mas poderia ter ligado para cá, eu teria avisado que ela não estava.

- Quis fazer uma surpresa. - ela percebeu que ele realmente falava a verdade. Uma coisa que ela sabia distinguir muito bem era quando Bruno estava mentindo. E essa não era uma delas - Bom, mas já que estou aqui, que tal comermos? Já jantou? Não podemos desperdiçar comida assim não é?

Ela o olhou confusa. Mas o que diabos ele queria? Que os dois comessem um de frente para o outro como se fosse a coisa mais natural do mundo?

- Não acho uma boa idéia. - ela disse em resposta. A animação dele foi pro espaço e ela abriu a porta do apartamento.

- Ah qual é Dominique, não estou aqui para conversar sobre o passado e eu sei que você esta namorando. Só comer, uma vez, não quero ficar sozinho.

- Você arruma alguém Bruno. - ela bufou e apontou a saída.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Tudo bem então, vou pro quarto da minha irmã e como a comida sozinho.

- Mas é muita folga! - ela reclamou e ele riu.

- O quarto é dela e você não pode falar nada. - pegou o boné, a comida que estava em cima da mesa e partiu - Se mudar de ideia, sabe onde me encontrar. - ele piscou e foi andando em direção ao quarto dela.

Dominique fechou a porta do apartamento bruscamente e praticamente arrancou os cabelos da cabeça em frustração. Ele era muito folgado fazendo isso com ela. Voltou para o sofá, se enrolou de novo e continuou vendo TV. O telefone tocou e o pegou sem prestar atenção.

- Hum... A comida está boa. - ele disse quase gargalhando pela extensão no quarto de Leticia. Ela desligou e praticamente varou o telefone longe. Respirou fundo várias vezes, até se ver vencida pelo seu estômago roncando, levantou e foi em direção ao quarto.

"Só espero que não me arrependa depois.", ela pensou antes de entrar naquele quarto.

MON CHIQUE

Tiago já estava impaciente e começando a achar que tinha tomado um bolo. O casaco estava encostado em sua cadeira e estava esperando por ela há quase meia hora. Respirou fundo e quando fez menção de se levantar, ela apareceu pela entrada do restaurante. Os homens no bar olharam para ela lascivamente ela apenas se limitou a sorrir. Ele a olhou atentamente e percebeu que ela tinha se arrumado toda e estava realmente muito sensual com aquele vestido, mesmo sendo de um tipo de tecido pesado. A lingerie dava certos ares de dúvida, porque ele podia perceber o relevo de seu sutiã, mas de forma bem discreta. A maquiagem era mesmo que um pouco discreta, marcante o suficiente para deixar aqueles olhos azuis ainda mais lindos. Engoliu em seco, ela provavelmente estava vestida daquele jeito só pra provocar. E ele olhando pra si mesmo e achando que estava com a roupa simples demais para uma mulher como aquela sentar perto dele.

Aline sabia que estava atrasada. A principio queria se atrasar apenas alguns minutos, mas o taxista e ela tiveram quase uma batida no meio do caminho. O cara praticamente segurou o taxista, não fosse ela sair do carro e tentar resolver o problema. Só de sentir o perfume dela perto dele, o cara se acalmou. E logo depois quando ela soltou seu sorriso meigo, o cara disse que não tinha problemas e que não iria atrapalhar a noite dela, que pelo visto, parecia que ia ser muito boa.

- Desculpa chegar tarde. Tive um problema com quase um acidente. - ela chegou perto da mesa onde Tiago já estava sentado, e ele levantou para que ela se sentasse. O garçom puxou a cadeira e assim que ela foi sentando, ele fez o mesmo.

- Como assim quase acidente? - ele não entendeu e ela riu contando mais ou menos a situação - Também, vestida assim com certeza qualquer um faria sua vontade.

- Acha mesmo? - ela perguntou inocente, mas ao mesmo tempo sensual. Tiago já não sabia mais o motivo que o trouxe ali. Ela sorriu encantadoramente e ele apenas retribuiu com aquele seu sorriso de 32 dentes.

- Não tenho dúvidas. - e ficaram naquele embate de olhares por um tempo. Aline sabia que estava deixando-o louco e sentindo um pouco do calor que emanava daquele olhar, afastou um pouco as mangas do vestido. O garçom logo voltou com a cartela de pedidos e resolveram o que iam comer - Acredito que como fui convidado, você tenha opções boas para o jantar.

- Sim, aqui tem um ótimo rodízio de carnes, mas acho que vou pedir a la carte mesmo. - ela olhou para o garçom e depois pra mim - Salmão grelhado ao morro de alcaparras pode ser?

- Claro. - Tiago sabia que o jantar ali não sairia do mais barato, mas do jeito que ela pedia decidida, parecia que ela estava realmente acreditando que ia pagar a conta sozinha. Por mais que fosse uma tentação só pra saber onde aquilo ia dar, ele era no mínimo cavalheiro e não faria aquilo nunca.

- E para beber? - Tiago o chamou com as mãos.

- Um vinho gamay. Estou vendo aqui na cartela que você tem o Latour Broully.

- Duas taças? - o garçom sorriu satisfeito.

- Não, a garrafa. - ele sorriu também e assim que Aline viu o preço do vinho arregalou os olhos. Entregou o cardápio junto de Tiago e assim que ficaram tecnicamente sozinhos ele riu - Fica tranquila, eu pago o jantar, mesmo você tendo me convidado. - ele piscou e ela bufou. Ele achou mesmo que ela pagaria o jantar sozinha?

∞-------∞

N/A: Primeiro, até onde me lembro o Mon Chique não trabalha com menu a la carte nos dias de semana, também só fui lá pra comer no rodízio, mas para os fins das história vai servir, foi o primeiro restaurante que veio na minha cabeça mesmo. E sim, o restaurante possui uma cartela de vinhos diferenciada e tanto a carne como o peixe são maravilhosos. Vi na internet que esse tipo de vinho "gamay" combina com salmão, mas não necessariamente com esse tipo de prato, mas também não estou muito preocupada com isso. O preço da garrafa em média de distribuição é R$ 119,90. Para venda assim em restaurantes com certeza custa muito mais. Mas de qualquer forma, dos vinhos que sempre aparecem na minha cartela, e dos que dei nome, é o mais barato.

∞-------∞

Olharam-se por um momento até que perceberam que só ficaram nisso durante uns bons vinte minutos.

- Pois bem, sobre o que gostaria de conversar comigo? - Aline começou para quebrar o clima. O garçom chegou com o vinho e os serviu da primeira taça, deixando a garrafa em cima da mesa.

- Acho que primeiro deveríamos brindar. - ele pegou a taça e a incentivou com o olhar para pegar a sua - Nos reencontramos e acredito que isso seja bom. - tocou a taça dela que o olhava confusa e vacilante.

- Ou ruim. - e tomou o gole do vinho.

- Por que seria ruim? Acredito que viemos aqui para ter um acerto de contas.

- Mas do que necessariamente teríamos que nos acertar? Porque eu fiquei perdida depois que você me falou sobre ter me procurado e logo em seguida ter dito que eu não valia o esforço. - ela o olhou intrigada. Agora seria a chance de descobrir o que se passava naquela cabeça dele.

O salmão não demorou muito a chegar. Como era o prato da noite, provavelmente estava saindo mais rápido para as mesas, já que deixar chegar ao ponto demorava um pouco. Os dois olharam para o prato e Tiago não delongou muito a começar a comer. Aline imaginava que comer poderia tirar seus pensamentos nada morais sobre ele. Sim, em meio a toda aquela confusão de conversa, frases inacabadas e conclusões vagas, ela sentia um desejo ardente por ele. Mesmo sendo imaturo, egoísta, egocêntrico e totalmente galinha, ela queria abandonar toda a convenção moralista e atacá-lo ali mesmo, só porque ele não tirava aquele sorriso que deixava qualquer mulher derretida da cara.

Ele, por sua vez, não sabia por onde começar. Comeu primeiro imaginando como se daria aquela conversa. Por mais que sentisse um desejo absurdo por ela, não deixava de imaginar que ela retribuiu ao irmão dele bem na sua frente. Em meio ao jantar, ele parou de comer e a olhou.

- Por que deu em cima do meu irmão? - ela o olhou em seguida e respirou fundo, já esperava por aquela pergunta.

- Porque alguma coisa me dizia que tinha algo por trás dele vir logo em cima de mim. Em cima de mim! - e ele não entendeu nada do que ela quis dizer com aquilo - Enfim, eu queria te provocar.

- E acha que conseguiu?

- Não sei, imagino que sim, senão você não teria me ligado. - "Touché", ele pensou. Mas não daria esse gostinho pra ela, não depois do que fez.

- Bom, então vamos direto ao assunto. Por que você sumiu do hotel naquele dia, porque mentiu o seu nome? - Aline não imaginou que ele viria logo com aquela pergunta, o analisou bem e imaginou se deveria dizer a verdade a ele. Limitou-se apenas a pensar como qualquer funcionária normal da MP.

- Porque não achei prudente. Diana e Charles estavam quase fechando negócio com o Stolt e eu não ia sair por ai desfilando com você.

- Como? - ele riu - Acha mesmo que sairíamos de mãos dadas? - e novamente ao ver os olhos arregalados dela, se arrependeu do que disse.

- Não foi isso que falei, mas sim seria estranho acordar no outro dia e tomar café com você na frente da minha chefe e do seu primo sim.

- E não poderia ter me dito isso? Esperado eu acordar para pedir que esquecêssemos o que aconteceu?

- Mas quem disse que eu queria esquecer? - e ele parou para prestar atenção nela, Aline logo se arrependeu de ter dito aquilo - Digo... Assim.. Voc... Eu... - e começou a ficar nervosa.

- Aline, poderia pelo menos ter me dito o seu nome de verdade não é? - ele parecia revoltado - Eu teria entendido se tivesse me pedido silencio.

- Como fez com seu irmão? Por que do jeito que ele me olhou na reunião, ele bem sabia quem eu era.

- Eu tinha que contar minhas frustrações para alguém você não acha? Foi muito normal te encontrar no outro dia no apartamento fazendo café da manhã. - ela riu do jeito atrapalhado e crianção dele de reclamar.

- Ok, eu poderia ter falado a verdade, e sim fui estúpida ao esquecer que nos encontraríamos mais cedo ou mais tarde. Só não imaginei que você fosse se importar tanto com algo que aconteceu apenas uma noite.

- Então é isso? - ele a olhou magoado e aquela ela não entendeu - Acha mesmo que foi algo de uma noite?

- E não foi? - ela falou meio comedida, mas tentando se explicar melhor já que aquele olhar a confundiu - A única coisa que se ouve no nosso meio é que você é o tipo de cara que não fica com uma mulher muito tempo. Tem várias de uma noite só... Nos conhecemos em São Paulo e ficamos juntos, bêbados e depois de uma festa que o hotel proporcionou aos hospedes. Sinceramente, nunca que eu iria imaginar que você me procuraria no outro dia no hotel.

- Achou mais alguma coisa? - ele limpava a boca e como a garrafa de vinho já estava na metade, ele encheu mais um pouco a taça dos dois.

- Quer mesmo que eu fale? - ela olhou para ele que já virava a taça quase que toda em um gole longo. Ela percebeu que teria que ter muito mais tato pra terminar seu raciocínio - Achei que você fosse acordar de manhã, pedir pra que eu fingisse que nada aconteceu e me tratar na frente de todo mundo como se nada tivesse acontecido.

E aquilo foi o fim pra ele naquela noite.