POV Narradora

O jovem de 16 anos levanta-se bem cedo pela manhã. Arruma sua própria cama, da forma como a mãe o ensinara, fez sua higiene matinal e vestiu para a escola. Ajeitou seus cabelos negros da forma de sempre e arrumou os seus materiais na mochila. Saiu de seu quarto indo rumo a cozinha.

A casa que ele morava com os pais era simples e residia num bairro pobre do subúrbio. Havia apenas 4 cômodos. Dois quartos, um banheiro e um outro cômodo que era a sala e a cozinha conjugadas.

Já na “cozinha”, ele sentou-se na pequena mesa que ali havia e sua mãe Tânia o serviu atenciosa. Ele agradeceu sorrindo amável. Segundos depois, seu pai João apareceu na sala, já vestido com seu uniforme de trabalho.

- Bom dia, família. – Seu João disse animado.

- Bom dia querido. – Tânia respondeu.

- Bom dia pai. – Nicolas respondeu num tom quase tão animado quanto o do pai.

O chefe da família sentou-se a mesa e provou um pouco do café, este já servido por sua atenciosa esposa.

- Hum. – disse numa pausa entre um gole de café e outro. – Um café delicioso, como sempre. Obrigada querida. – João disse satisfeito, dando um selinho casto nos lábios da mulher.

- Está muito bom mesmo, mãe. – Nicolas disse sorridente. – Alias... Tudo está. O café da manhã hoje está maravilhoso.

- Own... Obrigada, homens da minha vida. – Tânia agradeceu abraçando de lado e beijando a testa do filho e do marido. – E o trabalho, querido? – ela perguntou após sentar-se e servir-se também.

- A todo o vapor. Estamos trabalhando como nunca. – respondeu.

- E a escola, Nicolas? – ela perguntou logo em seguida da resposta do marido.

- Normal. Como todos os anos. – respondeu em descaso. Os pais sabiam mais do que ninguém o que o filho passava na escola. Era maltratado todos os dias por muitos alunos, principalmente os populares.

- Espero que esse ano seja diferente, filho. Sua mãe e eu estamos cansados de ver você chegar em casa todo machucado. Isso nos machuca também. Só que aqui ó... – seu pai, João disse, colocando a mão no peito.

- Falar não adianta nada. Querer não é poder. Falar não vai os fazer pararem de me bater, pai. – Nicolas disse dando um ultimo gole no café. – Espero mesmo que eles mudem comigo esse ano. – disse arqueando a sobrancelha, pensando. Ele tinha seus segredos. – Acho que já vou para a escola. – disse no fim de alguns segundos. Despediu-se dos pais e saiu.

Caminhou rumo à escola. Parou na frente do portão e respirou fundo. “Hora de enfrentar as feras.” Pensou. Continuou caminhando, passando pelos corredores. Andava distraidamente e sentiu seu corpo sendo empurrado contra a parede.

- E aí ameba. Quando você vai resolver sair do tubo de ensaio? – disse o garoto de porte armário, rindo grotescamente. – É serio amebinha. Você ainda não tem uma namorada e eu estou achando que você não gosta da fruta. – terminou rindo ainda mais.

- HAHAHA... Muito engraçado Theodoro. Devia trabalhar num circo. E você... Resolveu ter mais cérebro do que músculos? – Nicolas respondeu totalmente irônico.

- O que você disse, seu projeto de nerd? – Theodoro disse cerrando os pulsos, pronto para socar Nicolas.

- Theo, deixa-o. Depois nós damos um jeito nele. Esse nerd ainda vai nos pagar. – disse Luca, amigo de Theodoro.

- É, você tem razão. – disse virando para ele. Voltou para Nicolas. – Você deu sorte. – disse saindo acompanhado do amigo Luca, que sorria sádico para Nicolas.

Nicolas suspirou aliviado e continuou seu caminho até a sala de aula. Entrou e sentou-se ao lado do melhor amigo, Diego. Na hora do intervalo, os dois ficaram na sala jogando xadrez.

- Ahrá... Xeque-mate. – Nicolas disse num tom de comemoração. – Viu... O seu rei na a6 está sendo atacado pela minha torre na a1 e o meu rei na c6 está dominando as suas casas de fuga. Ou seja, o seu rei não pode livrar-se do xeque, o que significa: Xeque-mate. – disse ainda comemorando.

- Ah... Eu nunca vou aprender a jogar xadrez e nunca vou ganhar. Ainda mais, ganhar de você. Você é muito fera. – Diego disse com uma voz decepcionada.

- Ah, meu amigo. Xadrez é um jogo de estrategistas. Você só não conseguiu montar uma boa estratégia. Tem que treinar mais.

- Hum. – deu de ombros. – E você hein? Precisa se vingar do Theodoro. Eu vi a discussão de vocês no corredor.

- Não sei. Não tenho coragem de enfrentar aquele brutamonte. Ele é bem mais forte do que eu. E, além disso... O que eu poderia fazer?

- Sei lá... Segue ele. Dá um jeito de descobrir algum segredo, algum podre dele. – pausou. – Sou seu amigo e eu conheço o seu poder, porque você já me contou.

Nicolas deu de ombros, indeciso. Após o intervalo, continuou a assistir as aulas e logo ao final delas, resolver seguir a ideia do amigo. Nicolas já havia pensado nisso, mas não tinha coragem. Então resolver engolir o medo e fazê-lo.

Reparou a hora de Theo saiu e começou a segui-lo. Até parar perto de aonde julgou ser a casa dele. Encostou-se a parede pintada, concentrou-se e camuflou-se a cor dela. Ainda encostado à parede, caminhou de lado até chegar perto do portão, onde Theo estava parado. Ele entrou, mas deixou a porta aberta. Nicolas continuou se arrastando e espreitou a cabeça o mínimo possível, mas o suficiente para que ele pudesse ver. E viu o pai de Theo brigando com ele, dando tapas na cabeça dele. Nicolas ficou espantado. “Ele apanha do pai” Pensou “Às vezes é por isso que ele é assim. Agressivo.” O pai dele entrou em casa e Theo olhou para trás e viu Nicolas.

- Ah, seu nerd. O que você está fazendo aqui? Veio rir de mim? – Theo disse indo até Nicolas com passos pesados. O agarrou pela gola da blusa e transferiu alguns socos na cara dele. Logo após o jogou no chão e entrou em casa, sem se preocupar com Nicolas no chão e machucado.

Nicolas se levantou e foi pra casa. Ao chegar, a mãe e o pai assustaram-se com o estado do filho. Nicolas também reparou uma visita. A mãe cuidou dos ferimentos enquanto Nicolas olhava, com uma sobrancelha arqueada, para o careca a sua frente.

- Desculpe por isso professor, mas meu filho chega da escola assim quase todos os dias. – Dona Tânia disse.

- Entendo. – pausou. – Dos jovens que visitei, você é o único que os pais tem alguma suspeita de que você é um mutante. – disse para Nicolas.

- Eu não queria aceitar, nem acreditar, mas eu imaginava mesmo que meu filho fosse um mutante. Ele mudou muito nos últimos meses. – Tânia disse, guardando as coisas de primeiros socorros de volta para a maleta. – Filho, ele, – disse apontando para o professor. – seu pai e eu estivemos conversando enquanto você estava fora e concordamos em deixá-lo levar para a escola dele.

- Não se preocupe. Ficará bem. Você será treinado e conviverá com jovens como você. – disse Professor X.

- Tudo bem. Eu vou. – Nicolas disse e se foi acompanhado pelo professor.