Capítulo IV

Verde

-

Eu me sinto tão sortudo quando eu olho,

Naqueles olhos verdes.

É o sol que os fazem tão verdes,

Os mais bonitos olhos que eu já vi.

Green Eyes, Hüsker Dü.

-

E o dia seguinte chegou.

Jun muito mal conseguiu dormir.

Saber que havia alguém que havia prestado atenção nas suas palavras e que essas palavras o haviam salvado, havia mexido com ela.

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Não existe um ditado que diz que quando se salva a vida de alguém, essa vida passa a lhe pertencer?

Jun balançou a cabeça. Isso não tinha nada a ver com ela.

Ela estava feliz que Kakashi havia sido tocado pelas suas palavras, apenas isso.

Mordeu a ponta da caneta, contrariada.

Não era apenas isso.

Desde o primeiro dia em que ela fora naquele grupo de ajuda, ela havia reparado em Kakashi. Havia reparado nos olhos mortos de Kakashi.

Várias vezes ela havia procurado pelos olhos dele. E foram raras as vezes que encontrara.

E agora...

Agora os olhos dele não estavam mais mortos. E ela havia causado isso. Havia sido ela a devolver a vontade de viver a ele. Havia sido ela quem fizera retornar o brilho dos olhos de Kakashi. E isso era algo que ela não podia ignorar.

Suspirou e atraiu a atenção de Karin para si.

- O que foi? – Ela perguntou mudamente, para não chamar a atenção do professor de matemática.

- Nada... – Jun respondeu de volta e voltou a morder a caneta. Ela tinha que tomar uma decisão. O problema era que raios de decisão ela ia tomar.

***

Jun não prestou a mínima atenção nas suas aulas subsequentes. Tudo o que ela conseguia pensar era na resposta que ela daria a Kakashi. Se é que ela ia conseguir, realmente, dar uma resposta a ele.

A jovem saiu pelos portões da escola e logo percebeu Kakashi sentando do outro lado da rua.

- Você realmente vai...? – Karin a segurou pelo braço.

- Aa. – Concordou. – Eu vou falar com ele.

- Ok... – A ruiva suspirou. – Faça como você quiser, mas depois, quando aparecer morta, não diga que eu não lhe avisei! – E irritada lhe deu as costas, seguindo para um grupo de meninas.

- Aparecer morta... – Jun murmurou. – Essa é a última coisa com que eu me preocupo! – E murmurando isso, ela atravessou a rua.

- Ah... – Kakashi murmurou, quando a viu chegar. – Eu comprei alguns donuts... Garotas costumam gostar de coisas doces, mas eu não sei se você gosta, por que garotas também costumam se preocupar com o peso e...

- Eu gosto. – Jun disse segurando o riso. Kakashi estava tão, ou até mesmo mais, nervoso do que ela. – Eu realmente gosto, principalmente daquele que tem cobertura de chocolate.

E Jun se sentou, pegando o donut citado.

- Ufa... – Respirou aliviado. – Eu fiquei sem saber o que fazer, então...

- Tudo bem. – Jun ainda segurava o riso. Não queria deixar Kakashi desconcertado. – E você, não vai comer?

- Eu? – Kakashi apontou para o próprio peito. – Eu não gosto de doces.

- Não?

- Não.

- Que estranho! – Dessa vez ela deixou o riso sair. – Nunca havia conhecido uma pessoa que não gosta de doces! Nem de chocolate você gosta?

- Só do amargo. – Kakashi deu de ombros. – Nunca gostei de doces. Eles me dão enjoo.

- Hum... – Jun disse, quando ficou sem assunto. – Eu acho que...

- Você quer alguma coisa para beber? – Kakashi se pôs de pé. Agora que Jun ia dar a sua resposta, ele ficou assustado. Não queria escutá-la dizer que ele nunca mais poderia a ver. Queria pelo menos procastinar isso por mais um pouco. – Chocolate quente?

- Ah... – Jun percebeu o que Kakashi queria fazer. – Não, eu prefiro chá.

- Chá? – Kakashi enrugou a testa, se esquecendo momentaneamente do motivo que o havia levado a oferer a bebida. – Você gosta de chá? Mas garotas geralmente gostam de...

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- Mas eu não sou qualquer garota! – Jun respondeu com uma risada. – Eu gosto de chá. E gosto de rock e detesto rosa!

- Ok então... – Um sorriso de lado surgiu nos lábios de Kakashi. – Vou buscar o seu chá, senhorita eu-não-sou-como-todas-as-garotas.

E com isso ele se foi.

Jun ficou sozinha, e ao ficar sozinha, deixou que seus pensamentos rolassem.

Ela havia pensado durante toda noite, durante toda a manhã e durante toda a tarde daquele dia e as suas ideias ainda eram nebulosas. Talvez, o melhor para eles dois fosse que ela dissesse para ele nunca mais vir lhe ver. Mas ela não sabia se era isso que ela queria.

Pegou mais um donut e se pôs a devorá-lo. Pensava melhor quando comia. Pelo menos ela podia pensar e comer ao mesmo tempo.

O açúcar do donut a ajudou, pois quando Kakashi voltou, ela já havia tomado a sua decição. Ela daria um fim naquilo, mesmo que não quissesse.

- Arigatou... – Jun murmurou quando Kakashi depositou o copo a sua frente.

- Por que você não gosta de rosa? – Kakashi perguntou de repente, surpreendendo a menina.

- Por que eu não gosto...? – Jun repetiu, pensando. – Não sei. – Deu de ombros. – Não gosto dessas coisas muito femininas... Eu gosto de vestidos, sim! – Se corrigiu rapidamente. Não queria que ele pensasse que ela era algum tipo de maria-joão. – Só não gosto de muitos laços e babados e... Coisas rosas. Se for para dizer uma cor feminina que eu gosto, seria tons pasteis. Eles são menos prejudiciais aos olhos, do que esses tons de rosa berrante.

- Entendo. – Kakashi sorriu. Jun era um pouco diferente do que ele pensava. Mas ele a preferia assim, do jeito que ela era. – Você também não gosta dessas músicas romanticas? Já que você não gosta de rosa, então...

- Ah, isso depende muito! Como você sabe, eu toco piano, então eu amo música clássica. – Kakashi assentiu. – Mas eu também amo rock e para te falar a verdade... Muitas vezes eu não presto atenção na letra da música. – Riu-se. – Normalmente eu apenas presto atenção no instrumental dela. Então não sei lhe dizer se eu gosto ou não de música romantica.

- Isso é estranho. – Kakashi disse sériamente, arrancando risos de Jun.

- Eu sei! Mas eu não posso fazer nada. Esse é o jeito que eu sou.

- E você não precisa mudar. Você está ótima do jeito que está. – Disse e a viu corar um pouco.

- Uh, ah... Obrigada... Eu acho... – Murmurou envergonhada. – Mas... – Ela queria mudar o rumo da conversa. – Do que você gosta?

- Do que eu gosto? Essa é uma pergunta muito abrangente... – Deu de ombros. – Relacionado ao quê?

- Uh... Cor! Que cor você gosta?

- Verde. – Disse sem exitar.

- Verde? – Jun piscou os olhos pela resposta imediata de Kakashi. – Eu também gosto de verde! Qual tom de verde? Porque há muitos e...

- O dos seus olhos. – A resposta foi imediata novamente. Kakashi não estava pensando muito quando havia respondido aquela pergunta, e agora se amaldiçoava por ver Jun ficar tensa. – Eu não quis dizer...

- Ah, não... – Mas ela não sabia o que falar. Kakashi havia sido tão rápido e incisivo com a respota que ela ficara sem reação.

- É só que... – Kakashi queria concertar o clima que ele havia estragado. – O verde dos seus olhos é realmente muito bonito. E é uma tonalidade rara também. Apenas 1% da população mundial o tem, então... – Ele queria dizer algo coerente, mas o seu cérebro não estava ajudando. – E os seus olhos sempre estão tão brilhantes e vivos... Acho que é por que verde é a cor da esperança. O verde dos seus olhos me lembra do que você disse naquele dia e... – Se calou antes que continuasse a falar besteira.

- E? – Jun o incentivou. Queria saber mais. – E o quê, Kakashi?

- E... – Suspirou. – Me fez ter o desejo de ter olhos tão vivos e brilhantes como os seus. Também quero ter essa ‘luz’ que você tem. – Se era para falar, iria falar de uma vez por todas. – Mas mesmo que eu consiga isso, os seus... Os seus olhos não tem comparação. Talvez por que eles lhe pertençam.

- Uh... – Jun ficou mais uma vez sem palavras. Parecia que Kakashi tinha esse efeito nela.

- Bem, eu dei essa volta toda apenas para dizer que minha cor preferida é verde. – Tentou fazer graça da situação. – Talvez eu devesse ter dito que gosto de vermelho.

- Vermelho? – Jun sorriu. – É uma das minhas cores preferidas.

- Sério? – Kakashi se surpreendeu com o chute certeiro.

- Aham... – O clima estranho se dissipou. – E música? Você gosta de que tipo de música? Você sabe tocar algum instrumento?

- Infelizmente não. E música clássica me dá sono, antes que você pergunte.

- Lhe dá sono?! - Jun perguntou indignada. – Como assim lhe dá sono?

- Me dando, talvez? – Ele soergueu uma das sobrancelhas, se divertindo com a indignação dela.

- Mas...! Como assim você pode sentir sono? Você deve ter escutado alguma canção de ninar. Só pode!

- Talvez... – Deu de ombros novamente. – Mas continua me dando sono.

- Ah! Mas eu não posso deixar isso passar e... – Ela percebeu o pequeno sorriso que Kakashi tentava esconder. – Isso é uma pegadinha, não é? – Perguntou, desconfiada.

- Sim! – Kakashi permitiu-se rir. – É mentira. – E riu mais ainda vendo a expressão indignada de Jun se transformar em uma de vergonha. – Eu não resisti. Sabia que você era uma pianista clássica e precisava implicar com isso!

- Estou percebendo... – Soltou num murmúrio. – E... – Começou, mas foi interrompida pelo celular que se pôs a tocar. – Só um segundo... – Jun pescou o celular e checou a mensagem que havia acabado de chegar. Muito mal leu a mensagem, se pôs de pé. – Eu preciso ir.

- Precisa? – Kakashi piscou os olhos. – Mas e...

- Me encontre aqui amanhã novamente! – Jun pediu. Ela realmente precisava ir. Havia se esquecido que tinha um compromisso com o irmão e já estava atrasada. – Amanhã eu lhe darei a resposta. Tudo bem?

- Tudo bem. – Kakashi concordou com um suspiro. Afinal, o único interessado ali era ele. Ele poderia muito bem dizer que pararia de vir, mas Kakashi não podia. Se Jun estava procrastinando, ele também o faria. – Nos vemos amanhã, Jun. – Disse o nome dela, pela primeira vez.

- Matta ashita.

E ela se foi.

Continua...