Caminhamos pelo Eden Park enquanto Megan me contava o que queria, em meio aos balões coloridos no céu, as babás com suas crianças, meninos correndo de bicicleta, vendedores de pipocas e todas essas coisas melosas. Tive que controlar a vontade de fumar ali mesmo, não é o lugar apropriado, que exemplo eu estaria dando as crianças? Sentamos num banco de madeira comendo pipoca.

Jon virou jornalista, escreve as notícias do mundo político em uma coluna só sua e faz e apresenta reportagens especiais na televisão. Seu emprego é em Nova York e foi transferido da faculdade de Mullingar para a cidade em que ele atualmente mora, está liberado pra fazer estágios e assim melhorar o seu aprendizado na área em que está cursando.

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Um dos advogados de Nova York da Anelim se envolveu num certo tipo de esquema de corrupção que está sendo comentado em toda NYC: seu cliente, um dos sete homens mais perigosos da cidade foi preso e o contratou pra o defender, o problema é que ele tem muito dinheiro e disse ao advogado que se desse uma pequena fortuna ao juiz do caso pra que ele possa deixá-lo em liberdade, iria ser bem remunerado.

Jon soube disso através de seu chefe, que é amigo de um dos promotores do tribunal. Ele está querendo fazer uma matéria sobre isso, tal coisa que se for publicada afetará drasticamente o escritório da minha irmã. Então, ela simplesmente negociou com o jornal: irá enviar um de seus advogados a Nova York pra dar uma entrevista ao telejornal e juntamente com o jornalista tentar convencer ao juiz envolvido a gravar outra entrevista explicando-se. Isso dará audiência, vai defender a Anelim garantindo a expectativa de ótima qualidade entre os cidadãos e expor a versão do juiz pra que todos tirem suas próprias conclusões. Ou seja, todos saem ganhando.

E adivinha a quem ela escolheu a ir a Nova York?

Sophie: eu não vou! É suicídio.

Megan: mas me responda, eu pedi a um dos meus funcionários puxar todo o histórico do rapaz: onde nasceu, o que fazia, relacionamentos...

Sophie: seus advogados agora são agentes da CIA? Me economize Megan, eu não vou e ponto, eu não tive nada demais com ele e isso basta. Não adianta pedir a mim pra ir a Nova York só pra tentar juntar-nos.

Megan: Não é isso! – falou, dramaticamente ofendida – estamos sem advogados no momento.

Sophie: eu ainda não sou advogada! Falta alguns meses pra a formatura ainda.

Megan: dois meses apenas, pra ser mais específica 60 dias.

Sophie: e daí? Chama Kath. Ela é uma ótima funcionária. – falei dando de ombros.

Megan: ela não tem o tempo livre que você tem.

Sophie: tá me chamando de desocupada?

Megan: olha, entenda como você quiser. Eu preciso da sua resposta ainda amanhã cedo porque Jon vai estar esperando em Nova York depois de amanhã.

Sophie: como você vai conseguir um voo até amanhã?

Megan: já ouviu falar em táxi aéreo?

Sophie: não... – que legal, um táxi. Só que aéreo.

Megan: me liga qualquer coisa, Xavier e eu temos que sair daqui a pouco.

Sophie: ele já voltou?

Megan: mas vai voltar de novo. Tá tentando resolver outros assuntos dos escritórios de Manhattan e de Seattle. Dívidas, e mais dívidas.

Sophie: boa sorte.

Megan: conto com você minha irmã, por favor, ajude-nos. – Ela encostou a testa na minha e sussurrou isso pra mim. Me deu um beijo e depois foi-se.

Esperei ela sair com o carro e então enlouquecer. Como assim? Do tipo, há quase nove meses ele me traio, eu desenvolvi um ódio terrível por ele e então descubro que sempre estive apaixonada por ele. Sabe lá se ele tem uma namorada e me colocam numa prova de fogo dessa? É coisa demais pra mim, emoção demais, eu vou explodir. Peguei um cigarro na bolsa e fui pra debaixo de uma árvore, não sentei, pois estou de vestido e não fica nada bem uma moça sentada de vestido, pelo menos pra mim que não leva jeito pra isso. Fiquei andando pra lá e pra cá e resmungando comigo mesma. Meus deuses! Como isso foi acontecer? Aceito a proposta e o vejo novamente? Recuso e fico martelando a minha cabeça até a morte? E se ela mandar outra pessoa? E se essa pessoa for uma mulher? E se eles se envolverem?! Não. Tenho que fazer alguma coisa. Ligar pra ele? Eu ia dizer o que? “ Oi Jon! Eu mandei você se fuder da última vez que nos falamos mas eu ainda estou apaixonada! E quer uma novidade? Nós vamos nos reencontrar! Não é lindo?” Cacete, eu não sei o que fazer?

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Inspire... Respire...

Não, eu não posso fazer isso. Ele deve me odiar até o último fio de cabelo. Como isso foi acontecer? ERA PRA ESTARMOS SE-PA-RA-DOS, sem mais nem menos, eu vim pra Ohio, tenho que seguir a minha vida e ele a dele. Mas será que foi um sinal dos céus? Um sinal de Iemanjá? Eu não posso arriscar, se eu for vou botar tudo a perder. Mas também... se eu for eu vou aparecer na TV! Não, esse não é o objetivo. Sophie, foco. Seja profissional Sophie Stelee, foco. Se eu for, vou apresentar o meu trabalho... vou me exibir na televisão... quem sabe as oportunidades em grandes escritórios se apresentem? Tenho que pensar nisso também. Talvez eu devesse aceitar, não pra reencontrar Jon e sim pelas chances que virão pela frente após eu me envolver nesse caso. Até que nesse ponto de vista não parece má ideia... Olho o relógio, agora são quase quatro da tarde aqui em Ohio, resolvo ligar pra Kath.

Kath: alô?

Sophie: oi Kath!

Kath: o Soph, algum problema? – falou num tom de preocupação. Desde que eu comecei a fumar e a beber sempre que eu ligo pra ela, pensa que aconteceu alguma coisa.

Sophie: não. Quer dizer... tem sim. Você poderia vir aqui no Eden Park? Eu preciso conversar com alguém.

Kath: tá eu... só trocar de roupa e te encontro aí em meia hora tá certo?

Sophie: tá certo. Beijos.

Kath: Beijos.

Fui a um quiosque ali perto e comecei a beber cerveja. Sentada, sentindo a brisa de verão no rosto, me lembrei dos dias de cavalgada com Esmeralda. Talvez eu tenha mudado, da doce e inocente menina do interior pra a rebelde menina da cidade. Mas a minha essência como pessoa não mudou. Ainda continuo sonhadora, tentando fazer algo de melhor pra ajudar meus pais na Irlanda, tentando me superar cada vez mais, procurando fazer o melhor pra mim sem pisar em cima dos outros... ainda continuo apaixonada. Agora eu vejo que minha maior burrada foi ter me entregado aos meus hormônios e ter me relacionado com Sean, ele só queria se aproveitar de mim e dar o fora depois. Tanto é que não me ligou até hoje, não sei se ele ainda está aqui em Ohio ou se já viajou, não temos mais contato um com o outro. Melhor assim, não iria pegar bem eu trocando o nome dele por Jon na hora H. Minutos depois, Kath chega e se senta ao meu lado.

Kath: traz mais uma garrafa de cerveja aqui.

Sophie: oi. – disse, meio amuada.

Kath: me conta, o que aconteceu. – eu contei toda a história que Megan me contou e o que ela queria que eu fizesse. – E você vai não é?

Sophie: eu não sei.

Kath: olha, eu sou totalmente contra o que ele fez com você quando tu ligou pra ele. Mas, se é o que você quer...

Sophie: eu não sei se é isso o que eu quero.

Kath: puta que pario, você dispensou o gatão, lindo, maravilhoso, musculoso, puto de muito gostoso do Sean por causa de Jon e você ainda acha que não gosta dele? Faça-me um favor.

Sophie: não é bem assim. Ele foi quem não me ligou, e eu não vou ficar me dando ai feito qualquer uma, eu tenho algo que se chama amor próprio sabe?

Kath: eu sei, eu sei. Mas... – deu um gole na garrafa de cerveja – tenta entender poxa.

Sophie: eu não consigo, por isso que eu te chamei aqui. Por que você é minha melhor amiga e me entende melhor do que eu mesma.

Kath: se eu fosse você eu ia. Sabe, tirar tudo a limpo entre vocês dois, tentar outra vez e vê no que dá. Se a experiência não for boa, você volta e segue a sua vida como se nada tivesse acontecido.

Sophie: mas e se der errado? Se eu me machucar ainda mais? Eu acho que eu não vou suportar mais outro tapa.

Kath: olha – ela segurou minha mão com suas duas mão e me olhou no olhos, até parecia que ele consegue ver a minha alma. – vai pra Nova York, você vai conhecer os seus limites, vai revê-lo e botar a prova os seus sentimentos. Se eles forem verdadeiros, você vai perceber e vai lutar por ele, porque não se deixa um amor desses escapar. Agora, se não for verdadeiro, faça o que tens de fazer em NYC e depois você volta como se nada aconteceu. Você tem que aprender a ser forte Sophie, não tem que ficar dependendo de ninguém ou de algo pra seguir com a sua vida, ir atrás de seus objetivos e conquistar as coisas com o seu suor, através de suas batalhas interiores. Se esforce pelo que você quer, concentre-se no seu objetivo, que eu tenho certeza que vais conseguir.

Eu fiquei um tempo olhando pra ela, tentando refletir em tudo o que ela disse e era isso o que eu queria fazer mas, não compreendia o porquê eu queria fazer aquilo. Mas agora eu sei, eu tenho que ir a Nova York. O mais rápido possível.

Conversamos por um tempo e logo em seguida Iv – que agora é motorista de Kath já que eu comprei meu carro.– veio nos buscar. Conversamos um pouco, ela me contou que vai passar as férias da faculdade na casa de Xavier e que iria voltar pra comemorar seu aniversário comigo e com o resto do pessoal. Falando sobre isso, uma pergunta veio na minha cabeça: como é que eu vou pra Nova York se eu ainda não estou de férias da faculdade? Pego o celular e ligo pra Megan.

Megan: oi irmã.

Sophie: como é que eu vou se eu ainda não estou de férias?

Megan: hã? você vai pra onde?

Sophie: puff – bufei – Eu pensei bem sobre isso, e... eu vou fazer o que você me pedio.

Megan: aaaaaaaaaaaaaaaah – ela passou um minuto gritando no meu ouvido. – sério? Você vai fazer isso por mim?

Sophie: vou Megan, vou. – disse, impaciente. – agora me diz, como eu vou se não estou de férias?

Megan: eu resolvo isso amanhã, adianto as suas férias mas em compensação você volta mais cedo pra poder fazer as provas atrasadas.

Sophie: eu vou passar quantos dias lá?

Megan: quanto tempo precisar até conseguir tudo o que o jornal precisa e dar a entrevista pra a televisão. – sua estava entregando a sua euforia disfarçada -

Sophie: tá, tá certo então.

Megan: amanhã você passa aqui e pega algumas instruções que o seu voo sai de seis da manhã do outro dia.

Sophie: Ok. Te vejo amanhã.

Megan: eu não sei o quanto te agradecer!

Sophie: você pode me pagar um milhão de euros depois.

Megan: nem morta.

Sophie: não seja por isso.

Megan: engraçada. Mas sério mesmo Soph, muito obrigada. Eu te amo.

Sophie: também te amo Megan. Tchau.

Desliguei o telefone. Ela é chata às vezes, mimada, exige demais das pessoas devido a sua competência, irritante mas é a minha irmã e nós duas nos amamos. Só eu sei o quanto ela sofreu quando eu caí em “depressão” pelo fato de estar separada de Jon e comecei a fumar, beber, chegar tarde em casa bêbada e todas essas coisas rebeldes. Eu a amo. Amo minha família, faria qualquer coisa por eles.

Em casa, me caiu a real: eu vou ver Jon em menos de dois dias. EM MENOS DE DOIS DIAS. Eu esperei por isso todos esses meses e dois dias antes eu fico assim, sem saber o que fazer. Tenho que me arrumar. Peguei-me com um sorriso bobo no rosto enquanto separava algumas roupas pra fazer a mala. Eu vou reencontrá-lo. Não é um máximo? De repente me senti eufórica que comecei a cantar. Como eu cogitei a ideia de não querer vê-lo novamente? Sou uma idiota mesmo. Peguei algumas roupas e liguei para a cabelereira da minha irmã, pedi a ela pra vir aqui em casa pela tarde pra retocar as cores do meu cabelo colorido. Amanhã de 6 da tarde ela vai está batendo na porta aqui de casa. Também separei dinheiro pra amanhã juntamente com Kath ir ao shopping comprar algumas roupas novas e sapatos, um dia sem comparecer a Anelim não iria matar ninguém, mas eu já estou liberada por esses dias, Kath não.

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Duas malas prontas, falta só pegar a mala de mão que tá embaixo da cama. Me joguei no chão e me estiquei pra pegar a pequena mala roxa detalhada com flores douradas. Eu não a uso desde a minha viajem a Ohio. Quando a abro, uma surpresa: o balão agora murcho que Jon me deu no aeroporto ainda está lá. Peguei-o com toda delicadeza possível e segurei em minhas mãos. Memórias invadiram minha cabeça e lágrima escorreram sem que eu percebesse.

Talvez Kath esteja certa.

Talvez meu amor tenha sido guardado dentro de uma mala, tenha ficado amassado, sensível e desgastado. Mas não deixou de existir, assim como o balão.