There is Beauty in the Dark

19. Veado Estulto


- Droga de vida!

Eu simplesmente não sei que roupa usar no natal. Detalhe: a ceia é daqui a 30 minutos.

O fato é que depois da briga com Remo eu fiquei o resto do dia no meu quarto, pensando, dormindo e me lamentando. O outro dia também. E eu acordei agora, então...

- Isabelle, já está pronta? - meu pai gritou.

- Ah, Merlin! - arregalei os olhos e coloquei a mão na boca.

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- ISABELLE! - ele gritou mais uma vez.

- Ham... É, já vou pai! Falta só colocar o sapato - gritei de volta.

Merda! E agora? O que eu faço? Calma Isabelle, respira.

- Bells, mas que demora é essa?

- Aaah! Saaaai! - corri para fechar a porta.

- Ei, por que não me deixa entrar?

- Porque eu estou só de calcinha e sutiã, James! - falei com raiva. Ele bufou e empurrou a porta, me esmagando contra a parede.

- Não tem nada não, você é a minha irmã. - disse entrando - Não vou olhar para você, você é nojenta!

- Ei! Eu não sou nojenta! Eu sou igual a você! - falei com um tom indignado.

- Que piada engraçada! - ele sorriu cínico - Você não disse que só faltava botar os sapatos?

- Disse? - me fingi de desentendida. Ele revirou os olhos e foi até o meu armário.

Ele começou a jogar as roupas para trás, deixando uma montanha de roupas em cima da cama.

- Mas o que você...

- Pronto! - ele pegou um vestido e me entregou - veste isso aqui e desce porque o papai está quase vindo aqui para te levar a força.

- Ham, certo. - falei achando aquilo tudo muito estranho. - Já pode sair, James.

- Ah, tá - ele disse. Ele estava de costas para mim. Ele se virou com a mão na frente dos olhos e saiu tateando o ar e as paredes procurando a porta. Eu revirei os olhos e o empurrei pelos ombros até o lado de fora do quarto.

- É assim que me agradece? - ouvi ele gritar. Ri fraco e vesti o vestido.

É, nada mal.

Calcei um sapato qualquer. Nada de saltos! Odeio eles. Por que diabos inventaram esses trecos? Não fazem o menor sentido! Por que eu gostaria de ficar mais alta? Ou por que eu usaria uma coisa que só prejudicasse meus joelhos? Sem contar os riscos deles quebrarem e eu torcer a perna!

- ISABELLE!

- JÁ ESTOU INDO, QUE DROGA!

Nem passei maquiagem nem nada e sai correndo do quarto e desci a escada na maior pressa, quase caindo.

- Finalmente! - meu pai disse. Olhei em volta e Sirius estava quase dormindo no sofá, James estava em pé parecendo completamente impaciente com um presente na mão, Loren estava em pé ao lado do sofá, Christian saltitava pelos cantos e Remo estava sentado no outro sofá olhando para as próprias mãos.

- Até que não ficou tão ruim quanto eu pensava - James disse me analisando.

- Cala a boca - falei terminando de descer.

- Ótimo! Agora que estamos todos aqui, vamos logo.

- Espera! Somos 6 e no carmo só tem lugar para 5! - falei franzindo o cenho. - É Christian, parece que alguém vai ter que ficar!

- É carro, Bells. Carro e não Carmo.

- E quem vai ser? - ele parou de saltitar, seu olhar parou em Sirius que estava quase dormindo no sofá. - Que tal o Sério?

- É Sirius, garoto! Sirius! - Sirius disse parecendo cansado e entediado. - e eu não vou ficar.

- O Chris pode ir no meu colo - Loren disse - não é filho?

- Quê? Não! - ele reclamou fazendo careta - Que tal... A Isabelle ir no meu?

Todos viraram para ele fazendo uma cara de "Ham?" Inclusive Remo que estava com uma cara do tipo "garoto abusado".

- Tá doido, garoto? - falei alto chamando atenção de todo mundo - tu acha que é quem? Mais respeito, por favor!

- Mas...

- Gente, já são quase oito horas, vamos logo! - disse papai olhando impaciente pro relógio.

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Assentimos e esperamos Sirius desencalhar do sofá indo depois em direção ao Carmo, carlo, carro! É isso, carro!

[•••]

- James seu veado, eu já disse que eu que vou levar o presente da mamãe! - eu gritei pulando e tentando inutilmente pegar o presente das mãos dele.

É injusto, ele está com os braços levantados e ele é mais alto que eu. Estávamos parados na frente do carro que estava estacionado a alguns metros da "loja" que levava ao St. Mungos.

- Tenta pegar primeiro! - falou rindo enquanto eu pulava como um coelho desesperado por comida.

- Eu não consigo! - falei pulando mais uma vez com os braços esticados. O idiota só conseguia rir o que me deixou furiosa - Pai! Pede para ele parar!

- James, pare de fazer sua irmã de idiota - falou meu pai tentando não rir. Ótimo: todos contra Isabelle! Sirius ria com sua típica risada canina. Remo olhava para os lados com a mão no bolso e Christian e Loren estavam encostados no carmo, carro. Todos haviam parado para prestar atenção na briga.

- Veado, idiota, nojento! Eu que tenho que entregar essa bosta de presente, porque ela me ama mais!

- Isso é o que você acha!

- Argh! - quase rosnei de ódio. Botei a mão na testa e fiquei pensando: como posso pegar esse presente sem ficar pagando uma de idiota?

Usa essa mente para alguma coisa.

Calada consciência!

Claro! Como não pensei nisso antes?

- Accio presente! - falei quando peguei minha varinha. Eu sou uma bruxa, dã! Porque me esforçar fisicamente?

- Ei! - James desfez seu sorriso e se aproximou de mim e agarrou o presente. - Solta!

- Não! - falei puxando para o meu lado, ele era muito forte. Ele puxou para o dele e eu puxei novamente para o meu.

- Parem com isso! - ouvi a voz do meu pai - vocês já tem 17 anos! Parem de se comportar como se...

- SOLTA, SEU VEADO!

- É CERVO, EU JÁ DISSE.

Ele puxou de novo e eu puxei novamente. Quando ele foi puxar de novo, eu soltei e ele caiu de bunda no chão. Eu comecei a rir. E ele estava estatelado no chão com a maior cara de bunda.

- Sua idiota.

Sirius já não se aguentava mais e estava limpando as lágrimas de tanto rir.

- Agora já pode me dar o presente, Pontas.

- Haha engraçadinha. - ele fingiu rir e se levantou. - me dá!

- Mas você caiu com ele...

- Gente, olha! - disse Christian apontando para frente.

Lá estava ele: uma embalagem vermelha com um laço verde. No meio da rua. Eu e James nos entreolhamos e saímos correndo ao mesmo tempo.

- Bells, para! - James gritou.

- Haha muito engraçado! - falei quase pegado o presente.

Mas não dei tempo de pegar o presente. Senti duas mãos no meu ombro e meu corpo sendo puxado para trás.

Um segundo depois, lá estava ele: todo esmagado, estirado no asfalto.

- Não acredito! - falei pausadamente olhando para trás. - SEU IDIOTA É TUDO CULPA SUA!

Pulei em cima dele e comecei a socá-lo.

- Ai! Ai!

- Parem com isso! - meu pai gritou e nós dois paralisamos na hora.

- Pai! A culpa é toda dele! - apontei para James - ele deixou o presente da mamãe ser esmagado!

- Minha? Eu te salvo e é assim que você me agradece?

Virei de costas para ele com os braços cruzados e vi meu pai com a cara fechada, completamente impaciente.

- Quando vocês vão deixar de agir como crianças? Entrem no hospital. - ele apontou.

[•••]

- É tudo culpa sua!

- Minha? Você estava me humilhando!

- Você humilhou sua irmã, James? - mamãe perguntou com um ar severo.

- Bem, eu... Talvez um pouquinho...

- Um pouquinho? - exclamei irritada - você me fez pular como uma retardada, depois ficou rindo da minha cara enquanto eu servia de palhaça para o seu púbico.

- Me poupe, era só o Sirius, ele nem pode ser considerado como uma pessoa! - James disse revirando os olhos.

- Ei! - Sirius gritou de algum canto do quarto.

- Não importa! Só sei que a culpa da mamãe ter ficado sem presentes é toda sua, James!

- Gente, ja chega...

- Eu te salvo e é assim que voce me trata depois? - James falou indignado. - próxima vez eu te deixo morrer!

- Eu não preciso da sua ajuda mesmo! Você não passa de um idiota, veado...

Começamos a falar juntos, xingando um ao outro em quanto meu pai bufava, Remo ficava parado feito um idiota, Sirius ria sendo um idiota (não é novidade para ninguém), Christian estava no canto falando algo para a mãe.

- GHEGA! - meu pai gritou e nós nos calamos - eu ja estou cheio das briguinhas de vocês. Hoje é Natal, vocês não estão em casa, estão em um hospital, então será que dá para as duas crianças pararem de brigar? Obrigado.

Olhei de canto para James, com os braços cruzados e virei de costas empinando o nariz. Não estava afim de falar com ele, tenho parte do sangue Black e estou com orgulho ferido, então me entenda.

- Ah, tanto faz. - James disse se virando e falando com Sirius.

- Vejam a sua mãe, ela estava ansiosa para hoje, e olhem o que vocês fizeram com ela! - papai continuou.

- Charlus, querido, eles não...

- Dory, não defenda eles dois!

Eles devem ter continuado uma discussão sobre como eu e James éramos dois imaturos sem noção, mas não quis escutar e me afastei.

James... Por que tão idiota?

- Vocês, voltem aqui. - papai nos chamou aproximadamente um minuto depois que saí.

Suspirei irritada e me virei nos calcanhares, lançando-o um olhar nada amigável.

- Que é?

- Vocês vão pedir desculpas um para o outro. Aqui. Na minha frente.

- O quê? - James perguntou incrédulo.

- Sem chance - me virei de novo.

- Isabelle Dórea Potter, venha aqui, nesse exato minuto.

Ok, meu pai não costuma perder a paciência frequentemente. Ele é um homem descontraído, apesar de ter mais de 60 anos. Deve ser sério.

Fui relutante até onde ele apontava, de braços cruzados. James estava de frente para mim na mesma posição.

- Andem. - papai parecia impaciente.

Olhei para o rosto de James, ele estava com as sobrancelhas unidas e com o queixo rígido. Tive que me segurar muito para não perder a minha postura, porque ele estava incrivelmente engraçado assim.

Bem, não precisei, porque ele perdeu a dele primeiro. A minha cara devia estar do mesmo jeito, e ele começou a rir tanto que precisou se apoiar nos joelhos.

Ao vê-lo rindo, comecei a rir também, e Sirius também, porque ele é retardado. De repente, todos nós estávamos rindo, até a minha prima Loren, um pouco sem entender.

- Seu idiota - soquei o ombro dele.

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- Ah, vamos, você fica cômica com essa cara fechada.

- Você não estava diferente, engraçadinho.

Depois de rirmos mais um pouco, muitas idiotices de Natal e biscoitos, me sentei num pequeno sofá no canto do quarto.

Mamãe não tinha mesmo deixado de decorar. Um pinheiro - provavelmente encolhido por algum curandeiro - jazia no canto da sala, enfeitado com as mais bonitas bolas de Natal e diversas outras coisas. As paredes estavam encantadas para que parecesse que estava nevando. Tocava uma música natalina irritante na rádio.

Olhei para o outro lado do sofá: Remo estava absorto na leitura de um livro, nem pareceu notar que eu havia sentado ali. Meu coração apertou. Por que eu tinha causado aquela estúpida briga?

Sim, fazia pouco tempo que eu e ele não estávamos nos falando, mas mesmo antes de termos aquilo, ele era meu melhor amigo, e os sorrisos e abraços dele eram mais constantes do que tudo. O som da sua risada ficava como um eco na minha cabeça, e eu podia até sentir o toque caloroso dele na minha mão. A ausência disso me fazia sentir um lixo, porque eu sabia que a culpa era minha.

Ora, pare com essas coisas de mulherzinha, Isabelle.

- Bells - Sirius falou se sentando entre nós dois - Aluado. Como vão?

- Não enche, Sirius. - falei apoiando a mão no queixo.

- O que aconteceu? - ele parecia confuso.

- Aqui não, seu idiota.

- Ok, ok - ele falou se rendendo. - Eu hein, hoje é Natal. Vocês deviam estar mais felizes.

E então se levantou e foi conjurar bolas de neve para jogar na nuca de Christian.

Pensei ter sentido o olhar dele em mim algumas vezes, mas ao olha-lo eu apenas via seus olhos vidrados no livro, como se nada mais importasse nesse mundo.

Como se você não importasse, não é? Aquela vozinha cruel insistia em apontar os piores lados de todas as situações da minha vida.

E se eu o perdesse para sempre?

O que eu disse deve te-lo afetado muito, porque eu toquei num ponto que ele evita completamente. No fundo, no fundo, eu sabia que ele não tinha medo algum, era só o que eu usava como âncora no meio daquele mar de dúvidas que o envolvia. E se ele nunca mais for o mesmo comigo? Acho que não suportaria nem uma semana sem o seu jeito acolhedor e único, imagine uma vida inteira?

Argh, eu sou tão idiota.

[•••]

- Isso aqui estava uma delicia. Onde está a Twinkle para agradecermos a ela nessas horas? - James falou alisando o estômago.

- Podem agradecê-la quando chegarem em casa, queridos - mamãe falou quando todos tinham terminado de cear - Já passa de meia noite, e é muito perigoso para vocês ficar fora de casa a essa hora em tempos como esses.

Não sei se era impressão minha, mas ela parecia um pouco mais magra e mais velha do que quando entramos aqui. Tentei afastar esses pensamentos da cabeça sacudindo-a.

- Sim, claro, Dory. - meu pai falou levantando-se rápido e recolhendo todos os pratos, talheres e copos com um aceno de varinha. Não tínhamos ceado na mesa grande da sala de jantar dessa vez, e sim espalhados pelo quarto da mamãe.

Saímos do hospital e fomos para casa, Christian já dormia. Graças a Merlin chegamos em casa a salvo, e eu segui para o meu quarto sem olhar para ninguém.

Meus olhos estavam ardendo, e eu odiava chorar na frente de quem quer que seja. Tranquei a porta do meu quarto com um feitiço e me joguei na cama, abafando o choro com o travesseiro.

Era incrível o quão eu podia ser estúpida. Estraguei a minha relação com o meu melhor amigo porque sou incrivelmente idiota.

Tenho chorado muito desde o incidente de ontem. Não podia evitar, ele me fazia falta, uma falta absurda. Estar longe dele mas saber que ele também sentia a minha falta não tinha nada de errado, mas apenas em saber que ele não se importava...

Não, Isabelle. Ele se importa. Só está com raiva, e com razão.

Sabe que é mentira, a maldita voz ousou me provocar.

Demorei muito tempo para dormir. Talvez eu nem tenha dormido, afinal escutei quando uma coruja - ou pelo menos eu supus que era uma coruja - entrou desajeitada pela janela da sala.

Desci correndo até lá, ainda com o vestido que havia usado no Natal. Não consegui chegar a tempo, vi meu pai com a carta na mão lendo-a com a testa franzida.

Não parecia dizer muita coisa, mas meu pai parecia morto de preocupação. Ele me mandou chamar James, e foi o que eu fiz. Quando voltei puxando o garoto sonolento, ele estava com uma capa e colocando o chapéu para sair.

- Pai? Pra onde vamos? De quem era aquela carta? - perguntei aflita.

- Filha, era do St. Mungus. Sua mãe acaba de piorar.