Ela saiu. Conseguiu descer e, com os braços encolhidos e as mãos no centro do tronco, como se tentasse acalmar seu coração, caminhou entre a multidão, e apesar de prosseguir e cada vez estar mais perto do quadro do menino, notava que começavam a olhar para ela, e logo todos havia parado de andar e olhavam na sua direção. Olhavam para ela. A multidão parada ia abrindo caminho para ela sem se quer desviar ou piscar os olhos. Ela, inúmeras vezes, teve vontade de desistir e voltar para o seu quadro, mas dizia para si mesma que faltava pouco, que já havia percorrido metade do caminho e por isso não valia a pena desistir. Mas sabia que isso não era o que de fato a motivava. Ela só queria vê-lo, só queria estar perto dele. Sabia que não devia querer isso, sabia que esse sentimento poderia acabar a machucando muito e acabava tendo medo, mas não sentia vontade de desistir. Ela começou a correr, correr o mais rápido que podia. E aos poucos se lembrou do único dia em que havia passado sem ele, e o medo de que isso acontecesse novamente fez com que seu coração fosse tomado por solidão, mas sabia que não era só esse sentimento, sabia que havia algo a mais, mas não sabia dizer que sentimento era nem o descrever, só sabia que o sentia. Logo seus olhos começaram a ficar molhados, e gotas de água caiam de seus olhos e escorregavam por suas bochechas até caírem no chão e formarem pequenas marcas.

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Quando ela voltou a prestar atenção no caminho em que estava correndo ela notou que já havia saído do centro de toda aquela multidão e que já estava dentro do quadro do menino que gostava de perturbá-la todo dia. O menino que era queria que a perturbasse todo dia.

O menino havia passado todo aquele tempo sem vê-la, mesmo sabendo que deveria ir para o quadro dela, que deveria estar com ela, mas sempre ficava muito triste nesse dia. Não sabia o porquê dessa tristeza sempre o perturbar nesse dia, somente nesse dia. Mas não queria que ela o visse triste. Ele estava de pé encostado numa linda árvore. Uma linda cerejeira, a qual sujava o chão com inúmeras pétalas que sempre caiam. Ele logo ouviu o barulho de passos, e quando se virou ficou chocado, paralisado. Uma linda menina corria em sua direção, mas se fosse só isso talvez não tivesse tanto impacto quanto teve. A menina que sempre ficava sozinha, que dizia não precisar conversar ou está com os outros, e que dizia que não conseguia sair do seu quadro e não tentaria sair do seu quadro estava correndo em sua direção. Ele sabia que ela havia feito tudo que nunca vez e nunca quisera fazer para encontra-lo. Ele estava parado, e quando a menina o alcançou, ela pulou. Pulou para abraça-lo. Ele percebeu que ela estava chorando. Eles acabaram caindo no chão. A menina o abraçava e ele estava muito feliz com isso. Ele estava feliz no dia que sempre ficava triste. Logo ele retribuiu o abraça dela. Ele não sabia por que ela chorava, ele perguntou, mas ela não respondeu. Depois de um tempo o choro dela diminuiu.