Acordei bastante suada e cansada. Fui até o banheiro e notei que uma de minhas bochechas estavam arranhadas. Olhei no relógio e vi que eram 02h43min. Tomei um banho e vesti um moletom, já que havia dormido com a roupa que havia saído. Desci as escadas e fui até a cozinha, estava com muita fome. Ainda não estava acreditando em como eu havia dormido tanto. E aquele sonho? E Filipe? Porque ele estava ali? Qual era o significado daquele pesadelo? Requentei o resto da lasanha e tomei um suco de maracujá. Fiz minha higiene bucal e fui até o escritório da minha mãe. Procurei entre a bagunça daquele lugar uma maleta de maquiagem. Ao encontrar, peguei um recipiente com pó de arroz e um mini brilho labial. Subi até meu quarto e tranquei a porta. Peguei meu celular inseparável e um livro que estava em uma caixa atrás das cortinas. Certamente Rita havia colocado aquela caixa ali, já que eu nunca havia encontrado ela antes. Abri e comecei a ler. Não estava com sono e mesmo se estivesse não queria dormir. Não queria entrar naquele mundo de novo. Li até perder a noção do tempo e quando vi já eram 05h29min. Levantei, guardei o livro na mochila e tomei outro banho. Na verdade eu sempre tive fascinação por banhos. Vesti uma roupa quente, pois segundo o locutor da radio que eu estava ouvindo hoje haveria geadas. Voltei ao banheiro e passei o pó de arroz na bochecha e o brilho nos lábios. Filipe com certeza iria se assustar por eu estar mais clara que o normal. Filipe. Esse nome era tão bonito e tão assustador. Anteriormente, inofensivo. Agora, pensar neste nome me faz ter um flashback de tudo que aconteceu. O que iria acontecer quando nós nos encontrarmos? Como eu iria encará-lo sem me lembrar de todos os fatos? Resolvi tentar não pensar nisso então abri a porta e dei de cara com minha mãe.

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- Dormiu muito hein?

- Acho que sim.

- Você levantou de madrugada para comer alguma coisa?

- Sim, comi um pedaço de lasanha e tomei suco.

- Hum. É impressão minha ou seu rosto está mais pálido que o normal?

Sabia que ela iria notar.

- É impressão sua.

- Não sei não...

- Mãe, eu tive um pesadelo ontem e ainda estou um pouco assustada.

- Se não tivesse dormido tanto.

- Ela merecia dormir, querida!- Disse Valen para minha mãe. Valen era uma anjo.

- Obrigada Valen!- Sussurrei ao seu ouvido.

- Não há de que.

Rita olhou de uma forma estranha para Valen, mas aquilo já era normal.

- Tome um café antes de ir pra escola, filha. Não quero que desmaie de novo.

- A sua mãe fica neura se isso acontecer.

- Ok- Respondi rindo. - Isso não vai acontecer!

Pelo menos, espero.

Cheguei a escola um pouco nervosa. Fui rapidamente para a aula de biologia e sabia que ele estaria ali mas tentei ficar calma. Logo, o professor entrou na sala e Filipe entrou atrás dele. Seu semblante não estava bom.

- Bom dia classe!

Eu olhei para ele algumas vezes mas ele não retribuiu o olhar. Eu, que antes estava com medo agora estava preocupada. Ele parecia estar se escondendo. Tentei conversar com ele mas o professor pediu para fazermos um exercício então, fomos cortados. Fiz o exercício sem ao menos me importar com o que estava escrevendo. Precisava muito falar com ele! Me sentia como se fosse morrer se não trocássemos pelo menos um “oi”. O professor conferiu as respostas e o sinal bateu. A próxima aula era de educação física então poderíamos conversar por algum tempo. Todos saíram da sala e eu, como sempre, fiquei por ultimo. Chamei-o para que pudéssemos conversar. - Filipe!

- Sim?

- Poderíamos conversar por alguns minutos?

- Sim, não faço muita questão de ter aulas de Educação Física. - Eu também não. Eu tenho que te contar algumas coisas.

- Eu também. Mas comece primeiro.

- Ok. Ontem, após eu chegar em casa fiquei por alguns minutos esperando a minha mãe chegar para que pudéssemos conversar, porém como ela não chegou eu acabei pegando no sono e quando acordei já eram 2 horas da manhã. O mais inacreditável de tudo isso foi o pesadelo que eu tive. Eu sonhei que estava naquele local onde eu tenho todos os meus sonhos desde que mudei pra cá. Só que o local parecia deserto e eu não havia encontrado Consciência. Até que apareceu em minha frente uma criatura, um ser de beleza extraordinária que me seguiu e me prendeu em seus braços. Após eu gritar várias vezes por socorro, pude sentir alguém se aproximando, e este alguém era você.

Vi que Filipe fez uma cara de espanto mas resolvi continuar. - Você ordenou para o ser que me soltasse porém, ele não obedeceu. Você lhe aplicou um golpe completamente desconhecido fazendo com que o ser me jogasse ao chão. Vi que meu rosto estava ferido e senti muito medo de você, já que você estava irreconhecível. Sua pele estava muito mais corada e você estava extremamente forte. Me afastei de você e sai correndo mas, o fim da linha estava a minha frente. Então não tive escolha senão pular do penhasco.

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- Inacreditável!

- Er.. Sabia que você não iria acreditar.

- Eu acredito! O inacreditável é que eu tive o mesmo sonho mas eu não sabia que você estava ali, só descobri quando ouvi gritos e vi você estava sendo segurada por aquele cara então corri para te salvar.

- Puxa! Mas, porque você estava tão diferente do normal?

- Talvez aquele seja o lado de mim que você não conhece. - Lado?

- É. Talvez seja a hora de você conhecer.

Naquele momento, o professor de Biologia voltou a sala.

- O que vocês dois estão fazendo ai?

- Er... Bem...- Odeio ficar gaguejando.

- Nós estávamos conversando.

- Sozinhos dentro de sala?

- Sim professor, não há mais ninguem aqui além de nós dois e o senhor que por sinal é muito intrometido!

- Ei garoto, me respeite!

Não pude segurar o riso e acabei soltando uma risada cheia de cuspe na cara do professor. Filipe quase rolou de tanto rir.

- Para sala do diretor, AGORA!

Filipe me puxou pelas mãos e saímos correndo até a diretoria. Não preciso dizer que o diretor nos disse um sermão gigantesco. Filipe fingiu prestar atenção e eu me esforçava para não despejar outra risada de cuspe.

- Podem ir agora.

- Demorou hein?- Filipe disse, como sempre, irônico.

- Quer ficar mais um pouco mocinho?

- Não, obrigada. Vamos Mogie?

- Com certeza!

- Até breve diretor.

Notei que o diretor fez uma cara de “oras, não estou nem um pouco surpreso” e fechou a porta. Seguimos para o corredor 12. Os corredores da escola eram numerados do número 10 até o 15. Acho que eles queriam ser diferentes do natural 1,2 e 3 e isso era bom. - Você é corajosa.
- Por quê?

- Soltar uma risada cheia de cuspe na cara do professor é um ato de coragem, muita coragem!

- Hahaha! Você vai me lembrar disso sempre, não é?

- Claro!

Ficamos gargalhando no meio do corredor como loucos e não pude deixar de notar os olhares assustados das pessoas que passavam por ali, mas pela primeira vez eu me senti segura e não me importei com o que estavam falando e pensando. O que importava naquele momento é que eu estava ali, com Filipe.