Decline

V — Corte de cabelo.


O dia estava bonito, de fato. Mas minha animação estava caída, eu não havia pensado em nada que pudesse fazer com Ambre... Talvez eu não devesse fazer nada mesmo. Poderia me prejudicar, sujando minhas mãos com aquela filhinha de papai.

Ao mesmo tempo eu queria estraçalhar aquela cara de cachorro, mas ao mesmo tempo eu só queria sumir e não enfrentar aquilo. É duro... É relativamente duro, você entrar em um colégio e já ser vítima de bullying por uma pessoa que nem conhece.

É duro você saber que ela quer passar por cima de você apenas por ter uma condição financeira superior.

Peguei um biscoito e saí de casa comendo ele.

Quando cheguei, ainda atraía olhares, mas muito menos do que antes. Foi algo passageiro, e eu mal contei para minha mãe. Na verdade, ela não poderia cessar a raiva que eu sentia por Ambre... Então deixei quieto.

Pensando no capeta... ele aparece.

— Diga-me uma coisa, novata — falou ela, colocando as mãos na cintura. — Gosta de ser humilhada?

— Eu só estou sendo superior a você, Ambre. E se acha que eu vou desistir de estudar aqui por causa de suas brincadeiras infantis... — apontei meu indicador na cara dela: — Está muito enganada.

— Você anda dizendo muito o que pensa... — ela sorriu falsamente. — Vamos ver se consigo te colocar nos trilhos.

Eu dei uma risada forçada e a encarei. Era óbvio que a minha vontade era de jogá-la no inferno. Mas não podia... Logo no quarto dia de aula. Isso seria a decepção de minha mãe.

Por fim, Ambre puxou uma pasta de creme dental de sua bolsa. Analisou-a e a girou bem na minha frente. Meu coração acelerou, rapidamente, busquei minha tesoura na mochila. Peguei ela com facilidade.

— Não tente nada, Ambre Hertz!

Ela riu.

— Está me ameaçando com uma tesoura, novata?

Ela não esperou eu responder. Até porque eu não tinha definitivamente nada para responder. Em um ato rápido, Ambre tirou a tampa da pasta e mirou para atirar em mim, mas levei minha mochila na minha frente, consequentemente, sujando-a.

— Tá com medinho?

Sim eu estava, mas não respondi.

Quando tirei a mochila da minha frente, fui para cima de Ambre. Pegando-lhe a pasta de creme dental e levando minha tesoura ao seu cabelo. Cortei uma grande madeixa loira e, logo em seguida, passei a pasta em seu cabelo.

Muitas pessoas estavam aí para presenciar a cena. Muitas pessoas estavam aí para escutar o grito irritante de Ambre ajoelhada no chão. Muitas pessoas estavam aí para escutar a minha risada gostosa de vitória.

Ambre estava com a mão direita no chão, cabisbaixa. Escutei alguns soluços vindos dela. Fiz questão de me aproximar e colocar meu All Star sujo em sua mão:

— Vê se para de encher minha paciência, Hertz. Porque se você quiser guerra, é guerra que terá.

— Você vai me pagar! — ela levantou a cabeça, gritando. — Vai me pagar muito caro, vadia!

Sorri maldosamente e tirei meu pé de cima de sua mão. Ela chacoalhou e assoprou a delicada mão que tinha. Massageou-a e se levantou, de cabeça erguida. Ambre não desiste.

E, antes de ela sair, deu-me um tapa no rosto. Senti cócegas.

* * *

— Detenção por uma semana, adicionando uma hora a mais no colégio. Trabalho comunitário todas as tardes por durante uma semana. Suspensão de três dias — declarou a diretora. — Isso vale para as duas.

Olhei para Ambre, que estava quieta, passando a mão sob a parte mais curta do cabelo. Sorri com o meu trabalho, embora fosse muito errado ter feito isso. Minha mãe iria me matar, mas pelo menos eu não fui expulsa do colégio.

Ficamos quietas até a diretora terminar com o seu discurso. E o que me deixava mais envergonhada ainda, era a presença de Nathaniel. Talvez ele não soubesse definir com quem estava mais decepcionado. Comigo por ter deixado a raiva me dominar, ou por Ambre, sua irmã que está ultrapassando dos limites.

Mas de acordo com Castiel, Ambre não havia nem começado direito com as brincadeirinhas. Eu não quero nem ver o que me aguarda depois deste dia... Tudo bem, eu, de certa forma, aticei Ambre. Aticei para que ela continuasse com as brincadeirinhas de mau gosto.

— Estão dispensadas.

Esperei que ela saísse antes para que eu pudesse ir. A primeira aula havia começado há pouco tempo, mas não fui comparecer, porque tinha certeza que o professor não me deixaria entrar.

Sendo assim, fui matar aula no pátio.

Sentei-me no banco e coloquei meus fones de ouvido. Deixei que o celular escolhesse alguma música aleatória, terminei por escutar Violet. Era uma música bacana, gostava muito dela.

Fiquei observando o local, até encontrar uma cabeleira ruiva sentada embaixo de uma árvore. Cogitei a possibilidade de ir até lá, mas não posso. Castiel detesta minha presença, e detesta que o incomodem... Então... Vou ficar aqui.

Restavam-se quinze segundos para o segundo sinal. Castiel se levantou e começou a caminhar em direção ao interior da escola. Até me ver...

— Cabulando aula?

— Sim e não... — respondi. — Pensei que não valeria a pena voltar para a sala, já que eu estava levando um sermão da professora, enquanto o Faraize dava aula de história.

— Sermão?

— É... Eu cortei uma parte do cabelo de Ambre. Não foi nada grande, claro. E depois joguei creme dental nela.

Ele me encarou por um tempo, mordendo o lábio para não rir. Quando disse que ele poderia rir, Castiel simplesmente estourou. Colocou a mão na barriga, fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás.

Eu, particularmente, não acho tão engraçado. Mas como ele odeia Ambre, e ela vive atrás dele... Deve ser cômico.

Trinta segundos depois, o ruivo estava limpando as lágrimas.

— Cara — ele falou, fungando: — Eu queria ter visto. Sinceramente.

— Onde estava?

— Se isso aconteceu antes da aula, eu estava por aí... Fumando.

Ergui as sobrancelhas e sorri.

O segundo sinal soara. Tirei meus fones e guardei na minha mochila. Caminhei em passos largos até a sala de aula, sem antes acenar para Castiel, que ficou lá.

Se eu continuar nesse ritmo... Eu posso conseguir uma amizade com ele. Descobrir o porquê de ser tão revoltado e seguir minha vida.

Esse colégio é realmente estranho.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.