Ulquiorra Feels

Capítulo 4


Ulqui-kun.

Soava estranhamente confortável.

Um pensamento antigo lhe ocorreu novamente.

Mulher, você é uma humana peculiar.

Sentados no mesmo sofá, a ruiva sufocava-o com perguntas – muitas delas sem sentido – desde que acabara de almoçar, não há muito tempo.

Sua curiosidade era inconveniente algumas vezes. Mas ele estava se acostumando com suas perguntas, era só ignorá-la ou dar meias respostas.

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-Mas Halibel é a nova rainha do Hueco Mundo agora?

-Para que você quer saber?

-Só por saber. E os Espadas? Você é que número?

Ulquiorra suspirou, sem desgrudar os olhos da TV. Orihime continuou encarando seu rosto pálido de perto, seus olhos contornando suas lágrimas verdes. Ergueu o dedo indicador e encostou a ponta na marca, volta a fazer perguntas:

-E isso aqui? O que é?

-Você está sendo irritante.

Ulquiorra segurou sua mão e a pousou na perna dela, voltando a ficar imóvel.

-Tudo bem, eu paro.

A mulher se afastou de Ulquiorra e se sentou na outra ponta do sofá, fitando a TV também, cruzando os braços.

Começou a pensar novamente em Ichigo.

Será que ele ainda estava na Soul Society? Era bem provável que esteja lutando contra Hollows nesse exato momento. Estaria com Abarai-kun? Rukia-san?

Balançou a cabeça para afastar o pensamento.

Tinha problemas maiores no momento. Como por exemplo o motivo de Ulquiorra estar aqui. O arrankar fugitivo.

-Esse arrankar que fugiu, qual é o numero dele?

-Você não precisa saber.

-Até quando vai me dar meias-respostas?

Ulquiorra se levantou do sofá, desistindo de assistir TV e rumando o quarto. Orihime o encarou, importunando-o com mais uma pergunta:

-Aonde você vai?

-Vou procurar pelo arankar, mulher.

Respondeu sem paciência, desaparecendo dos limites de visão da humana. Bufou; não conseguira nem ao menos uma resposta concreta para suas perguntas.

Ulquiorra saiu de casa poucos minutos depois. Orihime aproveitou para sair um pouco também e comprar algumas coisas.

Saiu do mercado com algumas poucas sacolas com basicamente apenas besteiras para comer. Andou pelas ruas da Karakura e não viu nenhum conhecido. Era meio estranho não encontrar ninguém da escola aqui nas férias.

Voltou para casa. Guardou as coisas em seus respectivos lugares e saiu da cozinha, ligando a luz da sala. Um vulto passou por si rápido demais para que pudesse ver. Não estava sozinha na casa.

-Ulqui-kun?

Chamou, franzindo a testa, olhando para o corredor onde dava em seus quartos. Escutou uma risada ecoar pelo apartamento.

-Ulqui-kun? Você o chama agora como se ele fosse um humano?

Virou para trás. Não tinha ninguém lá.

Essa voz... Eu conheço essa voz.

-Você é mesmo idiota o bastante para abrigar Ulquiorra debaixo do seu próprio teto, humana?

-O que você está fazendo aqui?

Ele passava de um lado para o outro, fazendo Orihime girar tentando focar sua visão, seguindo o som de sua voz sarcástica. Sentia o medo invadir seu corpo por todos os seus poros.

-Quando você vai começar a chamar por ele, heim? ‘Kurosaki-kun! Kurosaki-kun’!

Os dedos do Espada passaram por uma mexa de seu cabelo. Orihime se virou novamente, passando a mão onde ele havia tocado. Desesperada, não sabia o que fazer.

-Ou será que agora é ‘Ulqui-kun! Ulqui-kun!’?

Perguntou, fazendo uma imitação barata da voz da humana, ainda assim soando terrivelmente assustador.

-Grimmjow.

Orihime se virou para onde vinha a voz. Sentiu seu coração acalmar ao perceber Ulquiorra parado perto da janela, encarando-a.

Não, ele não a encarava. Encarava por sobre seus ombros.

Orihime olhou para trás e foi fitada pelos olhos incrivelmente azuis. Grimmjow lhe estendeu um enorme sorriso, pegando-a pelo pescoço e a suspendendo. Orihime levou suas mãos às mãos dele, tentando fazê-lo soltar enquanto ansiava por ar.

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-Veio salvar a princesinha, Ulquiorra?

Desviou seus olhos para o Quarto Espada. Ulquiorra o fitou com indiferença.

-É desnecessário envolver outros nisso.

-Foi você que a envolveu a partir do momento que veio para a casa dela, ‘Ulqui-kun’.

Orihime bateu os pés, lutando contra Grimmjow, ignorando a voz em sua cabeça que lhe dizia que tudo que fizesse seria inútil. E o ar ficava cada vez mais intragável a cada minuto.

-Como ela é fraquinha, nem tem graça.

Grimmjow tacou Orihime longe, fazendo-a bater a cabeça contra a parede. Fechou os olhos com a dor, acreditando por ser um milagre não ter quebrado algo ou desmaiado com o impacto da batida.

Quando abriu os olhos, nenhum dos dois estavam mais ali.

Tentou estabilizar a respiração, a adrenalina de poder ter se machucado mais seriamente ou ate morrer ainda pulsava em suas veias. Levantou cambaleante, pressionando a mão na cabeça, indo até a cozinha e pegando gelo na geladeira, colocando-os envoltos de uma toalha e pousando-o na área dolorida. Sentia uma dor de cabeça terrível; mas não desviava o pensamento do que poderia estar acontecendo lá fora, em qualquer lugar.

Foi até a sala e encarou pela janela da sala o nada, procurando pelos dois Espadas.

Orihime poderia sim ter perdido sua cabeça; dois Espadas estavam em Karakura, ameaçando todos, e ela ainda estava de complô com um, dando-lhe um quarto e lhe assegurando de que não contaria nada para Ichigo e os outros.

E se as coisas desandarem? Ulquiorra estava aqui a mando de Halibel para assegurar Karakura de qualquer dano causado por Grimmjow, mas era evidente de que uma hora ou outra eles vão destruir algo enquanto brigam.

Sem contar que o tal Espada era Grimmjow.

Atravessou a casa e foi parar no banheiro, jogando água gelada em seu rosto, respirando profunda e pausadamente.

Teria problemas se os dois não fossem embora antes de Ichigo chegar. Imagine: Ulquiorra atrás de Grimmjow e Ichigo atrás dos dois. Sem contar que lhe caberia uma parte da culpa; Orihime não avisara ninguém, e, como disse antes, estava ate ajudando Ulquiorra.

Pegou uma toalha e resolveu tomar banho.

Nem depois de seu longo banho, Ulquiorra havia chegado. Começara a ficar ansiosa. E se algo tivesse acontecido? Nunca iria nem saber!

Seria difícil pregar os olhos está noite, como sempre.

Deitou na cama, pousando a cabeça no travesseiro e fitando o teto. Virava de um lado para o outro na cama, cobria a cabeça com o travesseiro, se cobria e descobria, fazia de tudo, menos dormir. As horas no relógio da cabeceira iam passando conforme se remexia na cama; uma, duas, três da manhã. Nada de Ulquiorra.

Sua cama cedeu a outro peso do lado oposto de onde estava virada.

-Mulher.

A ruiva se sentou e fitou o escuro, percebendo não muito bem Ulquiorra ali sentado. Tateou até achar a cordinha do abajur, acendendo-o e podendo assim ver melhor seu rosto.

Não tinha machucado aparente nenhum.

-Pensei que tivesse acontecido algo.

-Por quê?

-Porque você não voltava, oras.

Coçou os olhos, fitando-o. Ulquiorra permaneceu quieto.

-Não tem porquê se preocupar comigo. Deveria se preocupar com você.

Ela assentiu com a cabeça, olhando para baixo.

É claro que ela se preocupava, oras. Ela pensou novamente no sentimento preso ao seu coração, crescendo por Ulquiorra todos os dias. Ainda não sabia defini-lo, ainda não sabia o que era exatamente.

Mas era algo que a fazia se preocupar.

Sentiu sua mão em seus cabelos, no topo de sua cabeça.

-Você se machucou?

-Bati a cabeça quando ele me jogou.

Trincou os dentes, recebendo o toque suave de Ulquiorra em sua cabeça. Ele abaixou a mão.

-Eu sei que eu prometi ficar mais atenta, mas quando eu cheguei ele já estava aqui em casa e eu não...

-Não me deve explicações.

Ulquiorra levantou-se da cama, rumando a porta.