Ulquiorra Feels

Capítulo 16


–Natal?

–É, Natal.

Até se esqueceu de aumentar a TV. Foi até a geladeira e pegou tudo que era necessário para fazer a calda de chocolate para o bolo do mesmo sabor, enquanto seus movimentos eram cuidadosamente analisados.

–Não precisa entender, só fique feliz em comer tudo o que eu fiz.

–Comer o que você fez?

Não parecia lá uma idéia muito agradável para ele, mas ela assentiu.

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–Se for sair...

–Não vou. Pare de sempre perguntar isso.

Seus olhos brilharam ao ver o leite condensado cair dentro da panela. As órbitas verdes do Espada, porém, ficaram presas na jovem; não era uma noite como as outras. Orihime estava mais arrumada, não tanto quando se fosse sair, mas também não estava de pijama e cabelo preso. Estava mais bonita, e ele com certeza percebeu isso.

Sem contar na casa, que não estava escura como sempre e irradiava alegria. Isso tudo era por quê era Natal?

Orihime começou a falar sobre o primeiro capítulo do livro que começou a ler hoje. Comentava como ele era lindo e cativante, e que com certeza iria terminar este. Pensou que seria mais um daqueles romances proibidos que ela tem na prateleira do quarto, mas a medida que ela contava a história, ele percebeu que não.

–Aí a garotinha vai para fora do trem e enterra com a mãe dela o irmãozinho. É tão triste, Ulqui-kun. Depois, o coveiro deixa cair um livro, e ela o rouba. É o primeiro livro que ela pega. Mas ela não sabe ler. Quando ela chega na casa dos pais adotivos...

A história mal contada conseguiu prendê-lo pro algumas horas. Às vezes ela se queimava na panela e fazia cara feia, levando o dedo à boca.

Depois de pouco tempo, a calda já estava em cima do bolo. Pensou em pedir um pedaço, mas a ruiva se precipitou e disse que teriam que esperar um pouco até que esfriasse.

O sofá os aguarda com braços abertos, pronto para testemunhar mais conversa dos dois.

Não demorou muito para Orihime perceber que ele estava mais calado que o normal.

–Aconteceu alguma coisa lá em Las Noches hoje? Você parece tenso.

Pelo incrível que pareça, às nove e meia da noite, a voz da humana já estava arrastada. Ulquiorra penetrava com o olhar verde a mão da jovem apoiada numa almofada em seu colo. Não queria falar, mas precisava.

–Eles sabem que eu venho aqui.

Isso para Orihime era sinônimo de ‘eu vou embora novamente’. Quase se desesperou, e não fez força pra esconder isso.

–Como assim, eles sabem? Eles quem? Grimmjow sabe de mim?

Suas palavras saíram feito uma metralhadora bem na cara do Espada.

–Halibel e os outros Espadas. Eles sabem que eu venho ao Mundo Real, mas não sabem de você. Estão ocultando de Grimmjow.

Orihime juntou as sobrancelhas, escutando-o. Parecia tenso, não sério ou preocupado.

–Se Halibel não interveio e Grimmjow não sabe por quê você está com essa cara?

–Grimmjow não é problema algum, mulher. Tanto faz que ele venha; ele não vai conseguir ferir você enquanto eu estiver aqui.

Os dedos dele buscaram instintivamente seus cabelos e ajeitou-os para trás à medida que Orihime corava.

–Mas agora Halibel sabe que faltei com lealdade a ela.

–Você não fez nada.

–Ela não gosta de arrankars no Mundo Real. É compreensível, se eu estivesse na posição dela, também ordenaria acesso restrito ao seu mundo. É a maneira mais fácil de evitar confronto.

Orihime não conseguia entender. Até onde ela saiba, ou melhor, até onde Ulquiorra contou, Halibel não é como Aizen. ‘Ou vocês me servem e obedecem ou morrem’. E se ela não falou nada nem reclamou, pra que tanta consciência pesada?

–Ela sabe que o seu shinigami pode farejar a minha reiatsu a qualquer minuto...

–Ele não é meu shinigami, Ulquiorra.

–... e colocar a paz em que Hueco Mundo se encontra em perigo. Se ele brigar comigo, os outros virão. E os seus outros amigos também. E acontecerá guerra.

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Meio amedrontada, não conseguiu tirar os olhos dos dele. Estava presa em suas palavras que ainda ecoavam em sua cabeça, afetando cada órgão e correndo por suas veias. Estava mesmo tentando fazê-la ficar com medo dele?

–Se está tentando me fazer mandá-lo embora, é melhor desistir. Só está conseguindo me deixar com medo.

–Não foi minha intenção. Mas é bom que você tema. Você deve ter algum neoronio afetado que a impossibilita de sentir medo de coisas claras.

–Não é por que eu não sinto medo de você que eu tenho algum problema, Ulquiorra.

–Você nunca me explicou isso.

A garota se interrompeu. Franziu a testa e sorriu, estranhando a frase do homem. Nunca? Não era meio óbvio demais?

–Você disse que não sente medo de mim no meio de uma guerra caótica. Justamente eu, quem a tirou de seu mundo e a jogou na cova do inimigo.

Não sabia exatamente o que falar. Ela só não o temeu desde o começo, não via nele um assassino cruel. Aliás, nunca viu em Ulquiorra um homem que gostasse de matar. E pelo o que entende, ele só fazia o que fazia a mando de Aizen. Era uma pena só ela enxergar isso.

–Você não fez tudo aquilo por que quis. E você nunca me machucou enquanto eu estive presa. Você só servia a quem achava que tinha que servir, e eu entendia isso.

–Eu virei um monstro na sua frente e quase matei um de seus companheiros.

–Kurosaki-kun também virou um monstro.

–Eu ia matá-lo. Ainda me compreenderia se eu o fizesse?

Não sabia. Nem importava muito. Não aconteceu, não iria acontecer. Não entendia por quê ele ficava revivendo as coisas do passado, mas parecia importante para ele, e só por isso respondia.

–É tão difícil assim aceitar o fato de que eu gosto de você?

–Mas eu seqüestrei você.

Orihime riu, tocando seus cabelos e encostando o rosto no sofá. Nossa, ele parece realmente transtornado com isso.

–Sei lá, vai ver eu tenho Síndrome de Estocolmo.

Riu mais um pouquinho, o som fazendo algo dentro dele aquecer. Isso acontecia sempre que ela gargalhava ou sorria, e era até meio que agradável. Conseguiria escutar isso o dia todo, sem parar. Era som de alegria, som de algo que ele não compreendia, mas sabia que nela havia tanto que irradiava até furar seu peito.

–Você vai voltar, não vai?

Sua voz mudava tão repentinamente; onde foi parar o tom infantil e brincalhão que mexia com qualquer coisa dentro dele?

–Eu disse há uns dias atrás que sim.

–Mas você pareceu transtornado com isso da Halibel saber.

–Eu posso conversar com ela. Ela não vai opinar muito, no final das contas.

Orihime assentiu brevemente, interrompendo as caricias no cabelo do rapaz e se levantando, rumando a cozinha.

–Acho que já podemos comer o bolo.

...

Parecia que cada noite que passava Ulquiorra não conseguiria ir embora. Orihime sempre o mantinha perto até dormir; ou segurava sua mão, ou dormia encostada nele, ou até mesmo segurava a barra de sua blusa. O fato dela também não querer que ele fosse o reconfortava.

Caminhou pela Garganta disposto a qualquer coisa; esperava Halibel vir tirar satisfação com ele ou até mesmo Grimmjow vindo manipulá-lo. Esperava qualquer coisa.

Passos pareceram vir a sua frente. Eram calmos e rítmicos, e só podiam ser passos de uma mulher. Olhou fixamente até conseguir distinguir o cabelo loiro da escuridão. Parou de andar em uma distancia boa; se ela veio a seu encontro, não queria que ele chegasse a Las Noches.

Preparou-se para qualquer coisa que pudesse vir.

–Halibel-sama.

A própria parou de andar e cruzou os braços de forma rotineira. Esperou, apenas, até que suas palavras o fizessem ajoelhar.

Não aconteceu.

–Voltando da casa dela?

Halibel usou o mesmo tom que se dirige a suas fraccións. Nada de raiva. Nada de tom decepcionado.

Isso o fez assustar-se por alguns segundos

Ulquiorra permaneceu parado e quieto. Não fez um movimento, dando oportunidade para que ela fizesse seu discurso.

–Prefiro que não oculte nada de mim.

Gentilezas assim ele não estava acostumado. Não que Halibel fosse como uma vovó, mas procurava ser compreensível.

–Não vou impedi-lo. Se quiser passar a noite com ela, se quiser passar o dia, não me importo. Contanto que isso não se torne um problema não só seu, como meu.

–Não vai.

Halibel gesticulou assentindo. Mas permaneceu ali, Ulquiorra não sabia se ela o encarava ou não, já que seus olhos pertenciam ao chão. Não viraria problema o qual ela precisaria se intrometer de qualquer jeito; se algo acontecesse, seria Ulquiorra quem assumiria todos os riscos.

–Chie e Tália também não podem se ferir.

–Evidentemente, elas não vão. Não há perigo algum.

Halibel pareceu ter feito uso de seu Sonido. Em um segundo não estava mais a sua frente, e sim do seu lado, sua frase tocando-lhe o rosto e virando-o para si.

–Você sabe que isso não vai durar, certo?

Ulquiorra não percebeu quando franziu a testa.

–Mesmo que você queira, mesmo que ela consiga amá-lo com todo o seu coração... Você sabe, não é?

Ele engoliu a seco. Não entendia o que ela quis dizer. O que poderia impedi-los?

Ulquiorra balançou a cabeça levemente, afastando o pensamento. Oras, não era isso que acontecia. Não iria ficar tanto tempo assim com ela, Halibel estava enganada.

Halibel limpou os ombros do Espada como se lá tivesse poeira.

–Volte. Não quero vê-lo em Hueco Mundo dentro de um tempo. É uma ordem, meu Espada.

Halibel se foi aos poucos, caminhando com calma e sem pressa. Ulquiorra a viu ir embora, mas não teve coragem de fazer o mesmo. Foi ordenado a voltar. Não sabia se seria correto atrapalhar o sono de Orihime.

Aos poucos, ele se virou e voltou pela Garganta.

‘Encontrei Halibel e ela apóia nosso relacionamento perigoso, por isso voltei’.

Não, era muito direto.

Permitiu-se tirar os olhos do chão e avistou já a janela da moça.

Oh, havia uma luz acesa.

Isso facilita, de fato.

O negócio era que o que Halibel dissera o deixara diferente. Nervoso? Talvez. Algo que fazia uma mistura em sua cabeça e que afetava aquele órgão que pulsa vida, o qual ele não tem.

Entrou na casa. Mais precisamente, no quarto, onde a luz estava acesa. Orihime estava sentada na cama, enrolada em edredons. Não tinha mais aquele vestido bonito e o cabelo solto e ondulado; este estava preso em um coque bagunçado, e vestia um pijama que ele já a vira usando. O brilho ainda era o mesmo. Penetrava o corpo do Espada e lhe arrancava qualquer pensamento são.

Ela lia um livro.

Ergueu a cabeça e as sobrancelhas.

–Opa, não vi você aí.

Fechou o livro sem se dar o trabalho de marcar a pagina, colocando-o de lado, sorrindo.

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–Voltou por quê?

–Me impediram de seguir meu rumo.

Franziu a testa. Só lhe ocorreu as piores hipóteses.

–O que? Grimmjow? Halibel o expulsou?

–Não. Não importa.

Enfiou as mãos nos bolsos, desconfortável. Olhou pro chão. Orihime estranhou toda aquela historia de não importa, mas não comentou nada. Achou engraçado, ele parecia perturbado de um jeito diferente. Olhou de um lado para o outro, sem saber o que falar. Apertou a coberta entre as mãos.

–Vai ficar até de manhã?

–Não sei.

–Como não sabe?

–Não tenho um horário estabelecido para retornar.

–Vai morar comigo?

–Não faça perguntas estúpidas, mulher.

–Ué.

Orihime riu, tinha perguntado de propósito. Jogou o corpo para trás, impactando contra o colchão, bufando e olhando para o teto. Ulquiorra a olhou de relance, intrigado com seu movimento.

–Está com sono?

–Estou.

–Quer que eu...

–Se eu quisesse, eu pediria, Ulqui-kun. Pare de pensar que está atrapalhando.

Isso o calou. Assentiu com a cabeça já que não via nenhuma outra coisa pra falar/fazer. Orihime deu dois tapinhas do lado vazio na cama, convidando-o para se sentar. Ulquiorra de inicio pensou em recusar, mas as palavras da Espada novamente lhe vieram a tona. Assentiu em pensamento e foi até ela, deitando de seu lado, virado para ela.

Orihime mantinha-se levemente corada, mas não afastou seu rosto quando ele deitou sua cabeça sobre o mesmo travesseiro. Orihime acariciou seu rosto com os olhos, sentindo quase febril de tanta vergonha. Porém não conseguiu evitar de continuar a reparar seu rosto.

–Eu seria capaz de fazer qualquer coisa para fazer você ficar.

Sussurrou, como um segredo que ninguém poderia escutar além dele. De fato era uma confissão de muito peso, e ela só conseguiu soprá-la em baixo tom. Não importava mais se iria corar. Ele deveria estar acostumado.

–Luz do dia não é mais tão bem vinda.

Sorriu com a própria afirmação, fitando suas órbitas esverdeadas. Ah, como seus olhos eram lindos.

Ulquiorra pensou muito antes de realizar seu movimento. Olhe, pensou muito mesmo. Mediu conseqüências, tanto para ela, tanto para ele.

Levou sua mão até a cintura da humana, deslizando-a até o final de suas costas, comprimindo sua mão ali e trazendo-a para si. Orihime apenas se assustou; não demonstrou reação física alguma a não ser encaixar sua cabeça abaixo de seu queixo, encolhendo-se.

Seus dedos começaram a dançar contra seus cabelos. Orihime chegou a perna um pouco para frente, encostando na dele, e o abraçou. Respirou contra seu peito, apoiando a testa ali.

Mais confortável que nunca.