Fantasia

Capítulo 1


“Foi Snape,” disse Harry, enxugando os olhos com o dorso da mão. “Snape o matou, professora!”

“Snape?”

“Sim. No topo da torre de Astronomia... Era para Draco tê-lo matado, mas Snape o fez!”

“Entendo, Sr. Potter.”

“Por favor, professora, tem que acreditar em mim! Eu vi!”

“Eu sei, Sr. Potter.” Minerva deu um leve tapinha sobre a mão do rapaz, deixando um sorriso sem emoção aparecer em seus lábios. “Eu acredito em você.”

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***

“Doutor? Doutor!”

O homem parou de andar e suspirou. Passar a noite de plantão e ter que lidar com aquela família logo na hora em que poderia ir para casa dormir um pouco não era nada bom. Não que eles fossem pessoas horríveis, mas tinham o hábito de querer saber dos mínimos detalhes de tudo, mesmo não entendendo metade do que ele falava.

“Senhor e Senhora Dursley.” Ele sorriu, cumprimentando o casal enquanto mandava todo o seu cansaço para o fundo de si mesmo. “Como vão?”

“Bem. Como... Como ele está?” perguntou a Sra. Dursley enquanto arrumava o terninho que usava, desamassando-o.

“Pensei que a reunião sobre o caso tivesse sido agora a pouco...”

“Foi, mas queremos ouvir o que você acha,” explicou o Sr. Dursley. Seu rosto estava mais vermelho do que o normal, na certa de ter corrido para alcançá-lo ao vê-lo saindo de seu escritório.

“Afinal, foi você quem começou a cuidar dele.”

O médico suspirou, antes de concordar com a cabeça e indicar a porta de seu escritório. Sem esperar um convite, o Sr. e a Sra. Dursley se sentaram nas cadeiras em frente à sua mesa – eles sabiam que eram bem vindos ali, sempre foram, como qualquer outro paciente ou familiar -, onde esperaram que ele começasse a falar. O homem sentou-se atrás da mesa, mas não sem antes olhar para o relógio na parede – nove horas da manhã, ele estava acordado há mais de 24 horas já –, deixando seus olhos correrem pelo brilhante medalhão dourado emoldurado o qual ele expunha com orgulho na parede atrás de sua mesa.

“Eles disseram que ele não tem apresentado melhoras, doutor,” sussurrou Petúnia.

“Depende do que você quer dizer por melhora,” disse o homem, colocando em cima da mesa uma das pastas que ele carregava e a abrindo. “Fisicamente, ele está melhor. Lembra-se de como ele era pequeno para a idade quando chegou aqui? Bom, por sorte nossa nutricionista, Helga, conseguiu reverter esse quadro. Ele agora está com a altura e o peso certo para um rapaz de dezesseis anos.”

“Sim, mas e...?”

“A mente é outra história, Sr. Dursley. Talvez agora com o físico adequado, a mente melhore um pouco – veja bem, a mente e o corpo são ligados um ao outro, se um fica doente, o outro faz a mesma coisa -, ou talvez não. Não podemos lhe garantir nada, infelizmente...”

“Deus...” sussurrou a Sra. Dursley. “E ele continua com aquela história de fantasiosa dele?”

“Temo que sim, Sra. Dursley.”

“Eu não entendo por que...”

“Na idade do acidente, Harry tinha a perfeita capacidade de entender o que aconteceu, Sra. Dursley. Ele viu os pais morrerem e, apesar de pequeno, já conseguia entender bem o que havia acontecido, mas a mente dele tentou protegê-lo do trauma de ver os pais mortos em um acidente de carro, de se ver sem ninguém da noite para o dia,” explicou o médico. “Ele criou um mundo só dele onde a morte dos pais foi uma coisa mais... Heróica, onde ele se sente bem, onde ele não está sozinho. Enquanto isso, a memória original foi esquecida em algum canto dentro da cabeça dele para que ele ficasse protegido do horror dela.”

“Então para esquecer que os pais morreram em um acidente de carro quando ele tinha dez anos, o menino criou toda uma memória falsa a partir dai?” perguntou o Sr. Dursley, franzindo o cenho.

“Exato. No momento em que a mente dele tentou se fechar para o que estava acontecendo à sua volta, ela criou um mundo próprio. Ali Harry é “O Menino Que Sobreviveu”, um bruxo que, aos onze anos, foi chamado para estudar na “Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts”.”

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“Hogwarts...? Mas esse é o nome deste hospital!”

“Exato. Ou seja, Harry tem uma certa noção de onde está e de quem o rodeia, mas ele adapta tudo isso para esse mundo imaginário dele. O hospital é uma escola de magia; um dos nossos farmacêuticos, Severus Snape, é um professor de Poções para ele; Dobby, um dos zeladores, é o que ele chama de ‘elfo-doméstico’; a Dra. McGonagall é uma professora e o antigo diretor, o Dr. Dumbledore, era o diretor do colégio.”

“E nós?” perguntou Petúnia. “O que nós somos?”

“Vocês são os tios dele, os quais ele chama de ‘trouxas’ por não serem bruxos ou algo assim.”

“E o senhor?” Dessa vez fora Vernon quem perguntara.

“Bom.” O homem riu, sacudindo a cabeça levemente e fazendo alguns fios escuros de seu cabelo se desprenderem do penteado. Ele já estava começando a parecer um desesperado por uma cama. “Aparentemente, para Harry, eu sou algum tipo de Darth Vader do mundo imaginário dele, um ‘Lorde das Trevas’. Ele me chama de Lord Voldemort.”

“Voldemort?”

“Vôo da morte ou fuga da morte.” O homem deu de ombros. “Acredito que o fato de eu já ter trabalhado com a MET no departamento de homicídios talvez tenha chegado aos ouvidos do seu sobrinho e ele me associou com a morte ou algo parecido. Para ele, eu – ou Voldemort – matei os pais dele e eu sou a personificação de todo o mal que existe no mundo dele.”

“Por que o garoto usaria você como base para esse... Esse personagem?” perguntou o Sr. Dursley, estreitando os olhos, ao que o médico apenas riu baixinho.

“Eu acredito que Harry vê, em mim, características próprias das quais ele não gosta. Isso faz com que ele as amplifique em sua cabeça, fazendo do meu eu - imaginário uma criatura composta de tudo o que ele não gosta em si mesmo. Além disso, ele projeta todos os seus sentimentos ruins em mim. Ele acredita que eu estou sendo hostil com ele, quando, na verdade, ele está projetando a própria hostilidade em mim enquanto eu ajo normalmente. Então ele está, ao mesmo tempo, reprimindo o mundo real a sua volta, fantasiando com esse mundo fantástico dele e projetando os seus sentimentos em mim.”

“Entendo. Da última vez que viemos, ele falou sobre os amigos que tinha antes de tudo isso...” murmurou a mulher.

“Ron e Hermione, acredito. Ele sempre fala deles.” O médico suspirou, deixando os dedos brincarem com a pedra escura do anel que usava no dedo.

“Então ele se lembra deles!”

“De certa forma, sim. Apesar de que Ron Weasley, para ele, é um menino de uma família completamente bruxa, ao passo que Hermione Granger é uma ‘nascida trouxa’ que é considerada a bruxa mais inteligente da idade dela.”

O casal ficou em silêncio e o homem podia ver o quão decepcionados eles estavam. Foi apenas depois de alguns minutos de um silêncio relativamente constrangedor que Petúnia desviou o olhar de suas próprias mãos e começou a olhar em volta, como se tentasse encontrar outro assunto sobre o qual falar.

“Oh.” A mulher franziu a testa, encarando uma foto emoldurada na parede do escritório. “É uma coisa um tanto peculiar ter fotos de... Cobras... Nas paredes.”

“Elas são um passatempo meu,” disse o médico, sorrindo. “O nome dela é Nagini.”

“Você tem uma cobra de estimação?” perguntou o Sr. Dursley.

“É, ela é uma Boa constrictor. Bem dócil.”

“Petúnia, acho que deveríamos ir,” disse Vernon, se levantando e sendo seguido pela esposa. “Tenho que estar na firma logo.”

“Claro. Muito obrigada, doutor, e peço desculpas por estarmos tomando o seu tempo,” disse a Sra. Dursley, estendendo-lhe a mão.

“Não foi por nada. Harry é um dos pacientes dos quais eu mais tomo conta, falar sobre ele nunca é uma perda de tempo.” O homem os acompanhou até a porta, vendo a mulher dando-lhe um leve sorriso.

“Nós realmente não temos o quanto agradecer por tudo o que o senhor já fez desde que Harry chegou aqui.”

“Esse é o meu trabalho, Sra. Dursley.”

“Ora, sabemos muito bem que o seu real trabalho era para a MET,” disse Vernon. “Um amigo meu estava lendo um dos seus livros estes dias, disse que, realmente, quem escreveu aquilo gostava e entendia do seu trabalho.”

“Psiquiatria forense é um campo muito interessante, Sr. Dursley, mas isso aqui.” Ele gesticulou para a sala. “É o que eu prefiro.”

“Passar tanto tempo estudando e vir parar em um lugar tão triste... É um esforço e tanto,” disse Petúnia. “Há alguma razão para ter escolhido isso?”

“Minha família tem... Um certo histórico de transtornos mentais,” explicou o psiquiatra, sorrindo de maneira sem graça ao ver os olhos do casal se arregalarem. “Meu bisavô sofria com depressão e meu pai... Meu pai era um caso parecido com o de Harry em alguns aspectos, agregado à uma síndrome do pânico meio forte. Isso sem contar a família da minha mãe. Acabei descobrindo que estar em contato com esse tipo de coisa o tempo todo impede que eu... Acabe como um paciente.”

“Oh... Eu não tinha idéia. Bom, novamente, muito obrigada, Dr. Riddle, por tudo.”

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.