Que Chegue Até Você.

Parte IXXX – Minha Menina.


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Parte IXXX – Minha Menina.

Era uma tarde qualquer... Ensolarada e tediosa para qualquer uma das garotinhas do Lar das Joaninhas.

Rikka estava sentada num dos sofás, chutando o ar e chupando um pirulito doce que ganhara de presente da professora por acertar a resposta da chamada oral. Estava bocejante, chateada... E sem nenhuma vontade de brincar com as outras crianças. Mas tudo aquilo estava para mudar.

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Konan entrou na sala de brinquedos com um olhar muito sério, que foi notado por todas as órfãs. Ela seguiu em silêncio até a pequena Takagi; agachou-se e murmurou que a notícia de uma visita. A menina não estava interessada... Imaginou ser algum casal interessado em adotá-la, ou Naruto. Por via das dúvidas, acabou seguindo a diretora até a saleta que eles usavam para que pais em potencial pudessem conversar com suas possíveis adoções, e os olhinhos azuis se petrificaram diante da visita.

Hinata estava tensa... Sentada em um dos sofás do lugar, olhando para todos os lados de maneira analítica. Usava uma saia social azul e uma camisa branca de algodão com um cinto preto que demarcava a cintura. Levantou-se imediatamente, assim que a porta se abriu, ansiosa para ver a menina, e sorriu com a certeza de que era, de fato, aquela visita inesperada de alguns meses atrás.

Rikka estava tão chocada que não conseguiu se mover até que Konan a empurrasse com leveza; até que mãe e filha estivessem próximas o suficiente. A diretora agachou até a altura da menor. – Rikka, querida... Essa é a senhorita Hinata Hyuuga. – Explicou com gentileza. – Ela é...

– Mamãe... – A menor murmurou com emoção; tanta que fez os olhos da Hyuuga marejarem. Com um sorriso terno e constrangido, a mãe se agachou, assim como Konan, e ergueu a mão na direção da filha.

– É um prazer-... – Para sua surpresa, foi agarrada pelo pescoço com um abraço forte e possessivo da menor.

– Você não me ignorou! – A pequena exclamou chorosa. Quase trêmula, Hinata abraçou-a com toda a força que pôde, sentindo todo o calor que a sua menina... Sua pequena e adorada menina poderia dar. Tê-la em seus braços era a sensação mais maravilhosa do universo.

A diretora do orfanato, mesmo ressentida com a mãe da menina – pois não sabia da história completa – concluiu que seria melhor deixá-las a sós. Depois de alguns minutos de choro incansável pela parte de ambas, elas se sentaram no sofá de veludo vermelho; Hina não conseguiu, nem por um segundo, cessar as carícias no rosto da filha. Ela era tão linda... – Mas... O que você faz aqui?! – Perguntou com os olhinhos azuis cheios de curiosidade. Hinata riu; sentia cada nervo de seu corpo.

– E- Eu vim vê-la, oras... Preferia que eu não viesse? – Só a ideia a desolou; por sorte, Rikka negou imediatamente.

– Eu estou feliz. – Respondeu com sinceridade e timidez. – Mas... Pensei que nunca mais ia vê-la, depois daquilo... – Hinata beijou a cabeleira azul da pequena.

– Ah, querida... Se você soubesse... – Ela inspirou o perfume de xampu infantil e riu só com o aroma. – Escute... Aquele dia... Aquele dia, você me perguntou o porquê de eu abandoná-la... – Ela negou freneticamente com a cabeça. – Meu amor, acredite quando eu digo que nunca... Jamais poderia abandoná-la. – Sua voz saiu esganiçada pela emoção, e os olhos de Rikka se iluminaram. – Eu só... Só não sabia que você estava aqui... Não sabia que você estava perdida. – E ela riu para conter as lágrimas.

– Mas... As mães tem que assinar aqueles documentos e... – Hina negou.

– Eu não sabia, meu amor... Nunca soube... Enganaram-me do jeito mais cruel que se pode existir, acredite em mim... – Mas a pequena balançou a cabeça, confusa.

– Não entendo. – Confessou.

–... Sabe, não precisa entender. – A mãe beijou-lhe a testa saudosamente, como se precisasse daquilo para sobreviver. – O que tem que saber, minha querida... É que eu vou tê-la de volta, custe o que custar, minha pequena Yume. – A menina fez careta.

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– Mamãe, meu nome é Rikka. – O rosto de Hinata corou um pouco, mas depois ela riu. Beijou a testa da filha mais uma vez e a abraçou, apertando-a como se a vida de ambas dependesse daquilo.

– Rikka ou Yume... Tudo o que me importa é que eu te encontrei, minha menina. – A porta se abriu naquele momento, mas Hina não conseguiu soltar a filha.

Konan entrou com uma postura reta impenetrável. – Desculpe senhorita Hyuuga, mas o tempo de visitas acabou.

– Por favor, senhora, se puder me permitir mais cinco minutos...

– Desculpe, mas são ordens do juiz. O primeiro contato é sempre o mais curto, por isso nem tente discutir Rikka. – A menor fez um beicinho chateado, e Hinata sentiu-se um pouco ofendida com o olhar estreito que lhe era oferecido pela outra mulher.

– Tudo bem, mamãe. Você vai voltar, não é? – A vozinha esperançosa era tudo o que Hina precisava ouvir para se acalmar. Ela segurou o rosto pequeno entre suas mãos e sorrindo, assentiu.

– O mais rápido que eu puder. – Garantiu, fazendo a pequena abraçá-la.

– Eu sabia que, no fundo, você me queria. – Ela murmurou apenas para a mãe ouvir, e ela assentiu.

– Sempre, meu amor... Sempre. – Sussurrou em resposta, antes da pequena se afastar. Despediram-se com acenos tímidos, e Hina não esperou ser guiada para se retirar do local. Pôde sentir, pelos olhares, que Konan a crucificavam pelo suposto abandono à filha, então preferiu não discutir, e sair antes de um bate-boca que poderia dificultar suas visitas.

Depois que a senhorita Hyuuga deixou o local, a diretora pôde enfim se sentir a vontade para expressar o seu incômodo. Ela se trancou no escritório e ligou para o único que poderia dividir suas frustrações. -... Senhor Uzumaki! Não vai adivinhar quem acaba de sair daqui! A mãe de Rikka!

– O quê?! – Naruto praticamente gritou do outro lado da linha.

– Exatamente. Parece que, de fato, ela conseguiu contatar a mãe. A mulher deve ter se sentido arrependida e veio atrás da menina... Claro. Depois de crescida, não é? Não precisa mais trocar fraldas, nem dar de mamar... Francamente, esse tipo de pessoa me enoja! – Naruto estava mais assustado com a ideia de perder a menininha do que com qualquer outra coisa, então não pôde fazer nada além de perguntar.

– Mas... Mas por quê?! O que ela disse?! Por que mudou de ideia tão de repente?! – Konan suspirou.

– Não sei dos detalhes, mas ela deve ter dinheiro... O juiz deixou-a ter contato com a menina antes do que deveria ser o certo.

– Tem dinheiro...?! Então é aí que deveria se afastar mesmo! Se ela tinha condições, deveria ter ficado com a Rikka!

– É, eu penso da mesma forma. – O silêncio se estiou, fazendo a mulher suspirar tristemente. – O que você vai fazer? Você estava ajeitando o seu apartamento para recebê-la, não é? – Naruto demorou um pouco para responder.

– Esse sempre foi o sonho dela, não é? Então, eu apenas... Vou deixá-la. Quem sabe essa mãe não mereça uma segunda chance, no final das contas?

~

Hinata estacionou o carro em um hotel próximo ao orfanato; foi até a recepção e pediu um quarto, que por sorte, era o último vago. Depois de pegar as chaves, seguiu imediatamente para o segundo andar, já que precisava ligar para Sasuke urgentemente.

Após abrir a porta, jogar a bolsa sobre a cama e tirar os sapatos, puxou e procurou o número do advogado na agenda; não demorou muito, já que ela não tinha lá muitos contatos. -... Sasuke? – Ele respondeu no primeiro soar.

– Boa tarde, Hinata. – Sempre educado... – Foi como você esperava? – Ela podia escutar o barulho rápido das teclas do computador do velho amigo.

– Constrangedor. A diretora não pareceu gostar de mim...

– O processo está correndo em sigilo, já que você decidiu assim. – Os olhos perolados se reviraram. – Bem, acho esse é o único jeito que você conhece... – Ouviu-o murmurar, mais para si do que para ela. – Mas não se preocupe com ela. Você quer conquistar sua filha, não a diretora.

– Minha menina foi doce, como eu imaginei que fosse. – Só a lembrança a fez sorrir. – Quando eu vou tê-la, Sasuke?! Eu preciso da minha filha...

– Conseguimos a primeira visita em poucos meses... Se dermos sorte, em um ano você a terá de volta.

– Um ano?! – O tom dela aumentou dois décimos. – Eu não tenho um ano, eu quero estar com a minha filha! – O barulho do teclar cessou, e ela soube que ele estava hesitando sobre algo.

–... Sabe, como seu advogado... Eu tenho que dizer isso. – Começou com cautela. – Sinceramente... Você está processando o hospital como “um erro”, mas não foi um erro. Isso foi corrupção. – Ele afastou a mesa da cadeira e se levantou. – Falando como seu advogado... Se você tem mesmo tanta urgência, só há um meio de conseguir isso. – Ela não respondeu então ele continuou. – Você é vista pela sociedade como “a mãe arrependida por deixar a filha”, é por isso que não vai conseguir a guarda da senhorita Takagi até, no mínimo, um ano... Mas se você fosse vista como a vítima que é... Se todos vissem você como a enganada... Se todos soubessem da sua história...

– Espere. – Ela interrompeu. – Está falando que eu devo recorrer à imprensa?! – Ele franziu a testa.

– Acredite em mim quando eu digo que esse é o caminho mais difícil para um advogado... Mas é a forma mais rápida do Estado agir. Você tem as provas, Hinata... Tem a assinatura falsificada, o atestado de óbito falso, até mesmo o túmulo falso! E eu posso apostar que existe uma transferência antiga para a conta do tal médico.

– Quanto tempo? – Ouviu-o suspirar.

– Difícil dizer. Creio que, no pior dos casos... Seis meses.

– E no melhor? – Estava ansiosa.

– Em cinco semanas é possível anular um documento alterado. – O rosto dela empalideceu. – Mas para isso...

– Eu sei. Tenho que denunciar meu pai. – Ela escondeu o rosto, e o silêncio soou por alguns minutos. -... Faça.

– O quê?

– Faça vazar pra imprensa. Tudo o que eu quero é a minha filha o mais rápido possível. – O Uchiha sorriu de soslaio. Hinata Hyuuga, egoísta... Quem diria, hm?!

– Então você devia ligar para o Naruto. Ele não vai gostar de saber que a filha está viva pelos jornais.

–... Deixo você vazar isso também. Eu deveria continuar em Okinawa?! – A proposital mudança súbita de assunto foi perceptível.

– Sim, continue aí. Eu vou te passar a agenda das visitas do orfanato. Aqui, e em Kyoto... Eu posso resolver isso sozinho. – “Com Naruto também”, ele quis adicionar, mas sabia que ela estava sob muita pressão para ser irritada com mais uma dor de cabeça.

– Obrigada, Sasuke-kun. – Ela sorriu.

– Até mais, cliente. Boa sorte com a diretora. – Ela riu, despediu-se e desligou. O Uchiha suspirou profundamente antes de continuar; encarou o celular como se fosse algum tipo de inimigo, e depois de trocar olhares com a tela do iPhone, mandou uma inocente mensagem para o melhor amigo. “Encontre-me num café, daqui a meia hora.”. A resposta foi um “(y)”, e ele suspirou mais uma vez. Aquilo definitivamente seria cansativo... Muito cansativo.


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Embora pedisse que o encontro acontecesse em meia hora, em vinte minutos Sasuke já estava na cafeteria próxima dos escritórios de ambos. Vez ou outra eles passavam a tarde ali, bebendo café ou para beber algumas cervejas enlatadas.


Já estava tomando sua terceira xícara de cappuccino quando viu o loiro entrar pela porta de vidro. Ele acenou e deu um sorriso desanimado para o melhor amigo, que ergueu a xícara como cumprimento.

O Uzumaki seguiu até a cadeira vaga; ajeitou o paletó nas costas dela e se sentou. – Me trás uma cerveja! – Ele pediu erguendo a mão, a atendente assentiu. Não demorou muito até que ela chegasse e servisse a latinha em um copo de vidro.

– Não é costume seu beber de dia. – O moreno observou, mas o outro deu os ombros. Deu um gole na geladinha e bufou.

– Acabei de ter uma grande decepção... Você se lembra da garotinha que eu queria adotar? – Sasuke franziu as sobrancelhas.

– Duvido que você lembre depois do que eu tenho a contar. – Murmurou baixo, e viu as sobrancelhas do loiro se estreitarem. – Você soube que o Hyuuga enfartou?

– O que é que eu tenho com isso?! – Naruto riu. – Você está parecendo a Ino, Sasuke. Falando da vida dos outros desse jeito... – O Uchiha bufou.

– O fato de ele ter desmaiado realmente não tem nada a ver com você, mas o motivo sim. – O rosto do outro empalideceu, e ele se levantou.

– O que aconteceu com a Hinata?! – Ele perguntou imediatamente, sentindo as entranhas se revirarem em seu estômago só de se lembrar do último encontro com a amada. – Ela não tentou nada de louco, não é? – Sasuke riu.

Ainda não, mas vai tentar. – Debochou ao se lembrar da decisão quase precipitada de recorrer à sempre apelativa imprensa.

– Teme! Você está me assustando! – O noivo de Sakura riu de novo, mas fez menção para que ele tornasse a se sentar.

– Não é uma notícia ruim, então se sente. – Hesitante, ele obedeceu. – Enfim... Ele enfartou porque a Hinata veio confrontá-lo. – Os olhos azuis se arregalaram. – E ela fez isso porque descobriu que seu velho ex- sogro entregou sua filha para a adoção. – Naruto não respondeu. – Sua filha está viva, Naruto. – Visto que ele não teria uma reação tão cedo, o advogado prosseguiu. – Hina decidiu recorrer à imprensa para que os processos corram mais rápidos. Isso vai ser barulhento... Então concluímos que seria melhor avisar você antes de descobrir sozinho. – O Uzumaki ergueu a taça e bebeu todo o conteúdo em um só gole, transtornado.

Sasuke se levantou; pôs o dinheiro da conta sobre a mesa e deu duas batidas no ombro do melhor amigo. – Francamente, eu acho que isso tudo está tornando essa garota mais forte... Mas se você vai ou não se envolver, isso é decisão sua. Não me ouviu quando eu disse para não se meter com ela, mesmo... – Riu com a lembrança. – De qualquer forma, fique ligado nas noticias. – E foi isso que ele fez.

Apenas uma semana se passou, o suficiente para os processos contra o hospital e os Hyuuga fossem de “erro técnico” para “proposital”. Sasuke, como havia planejado desde o começo, fez um belo escândalo deixando vazar informações confidenciais sobre o que a imprensa intitulava de “Caso Hyuuga”.

Hinata foi à quantas entrevistas achou necessária; deu muitas declarações e diversas vezes contou seu testemunho sobre os piores dias da sua vida. O Dr. Kabuto Yakushi foi demitido do hospital assim que as notícias chegaram aos ouvidos da senhora Tsunade Senjuu, e teve sua licença retirada quando a farsa foi comprovada. A saúde de Hiashi piorou, e Hanabi e Neji se tornaram os encarregados de seguir em frente com os negócios que, graças ao escândalo, estavam em péssimo estado, e no coração da mais jovem das irmãs Hyuuga, um rancor surpreendente cresceu pela mais velha, mesmo que ela tivesse motivos para tudo aquilo.

Em cerca de dois meses, tudo foi resolvido e Rikka Takagi tornou-se Rikka Yume Hyuuga. Por um motivo que até ele desconhecia, Naruto não se envolveu.

Era uma manhã de domingo, e como era de costume, o Uzumaki entrou na sala de jogos do Lar das Joaninhas, sendo recebido por uma cambada de abraços das pequenas garotinhas que tanto o adoravam. A sua favorita, entretanto... Não estava ali.

Depois de conversar muito com as garotas, ele foi até o quarto feminino para vê-la por uma última vez, já que segundo Konan, não demoraria muito até que deixasse o lugar. Aquilo era triste, realmente triste... Mas era o que ela queria, então ele se sentia na obrigação de apoiá-la, como um pai faria com sua filha. Como ele faria com sua filha.

Rikka estava arrumando a mala, assim como ele havia imaginado. Eram duas malas médias cor-de-rosa novas que, ele imaginava, deviam ser presentes da mãe. Sentou-se na cama dela e foi recebido com um sorriso doce e alegre. – Você veio se despedir! – Ela exclamou, e ele fez uma careta.

– Eu vim te desejar boa sorte. – Não gostava da ideia de “despedida”. – E como você se sente? Animada? – Forçou seu melhor sorriso.

– Sim, muito! – Ela assentiu rápida e feliz. – Amanhã a mamãe disse que eu oficialmente vou virar a filha dela. – A pequena sentou-se ao seu lado, e abraçou sua cintura. – Eu quero muito que vocês se conheçam! – Ele ergueu uma das sobrancelhas.

– Não sei se quero conhecê-la tanto assim... Ela vai te tirar de mim, afinal. – Rikka riu, e negou com a cabeça.

– Ela é muito bonita. Eu aposto que você vai se apaixonar por ela, assim que a ver. – E os olhinhos azuis pequenos se iluminaram com uma ideia repentina. Ela pulou da cama e abriu a mala já feita; depois de vasculhar muito, esticou um porta-retratos de gesso enfeitado para o mais velho.

– Veja! Você não é casado, não é?! A mamãe também não! Eu gostaria que vocês se apaixonassem. – Rindo da ideia, Naruto puxou o porta-retratos. Quando o virou, entretanto, teve que se conter para não soltá-lo. Na imagem, sua Hinata sorria... Sorria como antes... Não, sorria como nunca havia sorrido antes. Mesmo por foto, ele pôde notar que os olhos grandes e perolados estavam preocupados, enquanto limpava o shoyo do rosto da pequena garotinha que Naruto sempre adorou. – Você já se apaixonou pela mamãe?! – Ela perguntou ansiosa, e os olhos azuis do pai lentamente se ergueram até o rosto da pequena.

–... Ela é a sua mãe...? – Ele perguntou debilmente, enquanto juntava aos poucos as diversas peças do quebra-cabeça. Sim... Rikka tinha exatamente a mesma idade de sua filha. Também tinha os mesmos cabelos, e o formato dos olhos de Hinata. O rosto, entretanto... Parecia-se muito com o de Kushina – ou seja, muito com o dele.

A mãe dela morava em Kyoto, e Hinata morava em Kyoto. Ela achara a mãe no mesmo período em que Hina encontrara sua filha, e francamente, apenas uma criança com o teimoso e idiota sangue Uzumaki teria coragem para fugir de trem-bala até uma cidade desconhecida... Tudo, tudo fazia sentido, agora. Como ele podia ser tão idiota a ponto de não notar inicialmente?! A ponto de ouvir Sasuke e não se envolver, deixando que a amada resolvesse tudo sozinha para que amadurecesse?!

Os olhos dele estavam fixos no rosto da filha. A garota que ele sempre amou... A garota sempre esteve ao seu lado... A menininha que o fascinou à primeira vista. Ele a amava... Amava-a muito, com toda a sua alma, sempre foi assim. E agora podia entender o porquê. Entendia o porque de alguma força divina colocá-la em seu caminho justamente quando ele mais se sentia sozinho, o porque de tanto amor e carinho... Porque, por algum milagre – e nenhuma outra palavra descreveria aquilo tão bem -, ele estava destinado a ficar ao lado da pequena. A apoiá-la, a amá-la.

Quis abraçá-la com todas as suas forças; quis pegá-la nos ombros e correr por toda Okinawa, gritando “Ela é minha filha!”, mas não conseguiu. Na verdade, não conseguia pensar em nada realmente concreto. Por não querer assustá-la, ele se levantou lentamente, pousando a foto na cama dela sem olhá-la uma segunda vez. O sorriso de Rikka... De sua menina cresceu. – Você já se apaixonou por ela? – Ela quis saber com a vozinha animada. Naruto riria, gargalharia pela ironia do destino, se não estivesse tão chocado com aquilo tudo. Por estar chocado, ele respirou lentamente; virou-se e depois de um acenar lento, se retirou do quarto.

Ele precisava de uma bebida urgentemente.

~

Em um lindo dia de primavera, enfim foi permitido que mãe e filha vivessem juntas. Hinata estacionou ao lado do Lar, sorrindo ao ver, pela janela lateral, a filha ser agarrada pelas antigas coleguinhas, que pareciam sinceramente tocadas por sua ida.

Ela desceu do carro com um sorriso, e com a ajuda da arrependida Konan – que repensara a todos os seus julgamentos para com a mulher depois de conhecer de fato a sua história – colocou as duas malas não muito grandes na porta traseira do carro. Esperou até que as despedidas fossem feitas, e depois de um último longo abraço em Konan, a garotinha entrou no carro; sentou-se num banquinho especial muito constrangedor em sua opinião, mas ela não podia reclamar de nada.

Depois de um aceno amigável para todos no Lar, Hinata ligou o carro com um prazer imenso. – Para onde vamos, mamãe? – Era delicioso ser chamada daquele jeito.

– Para Konoha, querida. Precisamos assinar alguns papeis, e eu preciso pagar o nosso advogado.

– Depois disso, nós vamos para a sua casa? – A curiosidade era palpável, e aquilo fez a mais velha rir.

– Sim, querida. Creio que sim. Você está curiosa para ver o seu quarto? – A pequena assentiu animadamente. Hinata parou no sinal e puxou um tablet que descansava no banco passageiro; ligou, colocou numa das pastas e entregou a filha. – Aí está. Tem algumas fotos do que eu comprei para pôr lá. – Curiosa, a menina passou as imagens e divertiu-se, tanto com o aparelho quanto ao imaginar como os móveis lindos estariam colocados.

– Eu sempre quis ter um quarto só pra mim. – Ela comentou, depois fez uma careta. – Mas também queria dormir com a mamãe...

– Você pode ter o seu quarto e dormir comigo. Não tem nenhum problema. – Hina respondeu com um sorriso.

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– Não, não. – Rikka negou. – Mamãe, logo você vai ter um namorado, então eu tenho que dormir no meu quartinho. – As sobrancelhas escuras da Hyuuga se estreitaram, só ao imaginar.

– Querida, eu não pretendo ter um namorado tão cedo... – Pensou que aquilo fosse tranquilizá-la, mas ao invés disso, pelo espelho, viu a filha formar um biquinho nos lábios.

– Eu queria que a mamãe casasse com meu bem feitor... – Hinata riu, imaginando um homem velho gordo que dava presentes às crianças carentes no natal.

– Desculpe querida, mas sem namorados por enquanto. – No lugar do beicinho, Rikka sorriu feliz.

– Tudo bem, mamãe. Melhor pra mim, já que vai ser só minha.

Ouvir aquilo era realmente maravilhoso. Saber que ela queria ser sua filha tanto quanto ela queria ser a sua mãe... Era mais que um alívio, era a sensação mais maravilhosa que ela já sentira desde sempre.

Finalmente... Ela tinha a sua menina ao seu lado. – Minha menina...