Carpatos
Sonhos Perdidos
Foi mais que difícil superar aquele dia. Lucinda veio com várias interrogações sobre o meu comportamento.
– Seus olhos estão inchados, me conte o que aconteceu de uma vez, pirralha. – Ela bloqueou minha passagem quando eu ia levar os pedidos para fora da cozinha.
Engoli em seco, eu era uma péssima mentirosa... Olhei para o chão e soltei uma meia verdade. – Um cara, Lucinda.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Fui evasiva, eu sei.
Ela respirou pesadamente e me olhou impaciente sem mover nenhum passo para me dar passagem.
– Da pra ser menos evasiva, garota? Eu quero te ajudar, mas você não está cooperando.
– Esse cara é o meu ex namorado, ele tem me ameaçado. – Quando vi já tinha soltado outra meia verdade, quase verdade (confuso).
Ela travou o maxilar e cruzou os braços sobre o peito. Ela só fazia isso quando duvidava de mim... E era esse sentimento que brotava em seus olhos cor de chocolate nesse momento.
– Aquele velho alto era o seu ex, pirralha? Sabia que isso é pedofilia?! – Ela berrou.
Eu não estava acreditando que ela pensava que o médico (vampiro) era o meu ex...Mas talvez fosse melhor que ela acreditasse nessa mentira.
– Sim...E- Ele é-é o meu ex.
Muito convincente, Rúbia...Parabéns.
– E-e por que vo-você gaguejou? – Ela tirou sarro dando um sorriso sarcástico. – Você acha mesmo que eu tenho cara de otária? – perguntou apontado um dedo pra si,
– Lucinda, os clientes vão começar a reclamar pela demora dos pedidos. – disse tentando desviar dela, mas a mesma tirou a bandeja das minhas mãos e colocou sobre a mesa.
– Você não vai sair daqui até me dizer a verdade... Isso pode durar o dia todo se você quiser. Não vou me importar com esses clientes de merda.
Cara, ela era insuportável quando queria.
– Lucinda, não seja radical por favor. – pedi segurando em seus ombros tentando afastá-la, mas Lucinda não se moveu nenhum milímetro.
Ela nada disse só me encarou esperando... Esperando até que eu dissesse a verdade.
– Ah, tudo bem. Você venceu! Aquele homem que estava me fazendo ter um ataque horas atrás, não era o meu ex. - Passei os dedos sobre meus cabelos desgrenhados.
– Isso é óbvio, idiota. – Ela deu um sorrisinho cínico.
Respirei fundo. – Aquele homem é como eu posso dizer... Um mensageiro... Ele estava lá para me manter informada sobre o Carpato que me ameaçava. – olhei para o chão. Aquele assunto me deixava envergonhada, humilhada e com muita raiva.
– Mas parece que esse mensageiro não deu notícias nada boas, certo? – Ela perguntou, sua voz estava séria novamente.
– Exatamente. – Eu estava quase chorando, mas me permiti ser mais forte. Eu não poderia desabar novamente.
–Ah pequena... Se eu soubesse quem é esse tal Carpato... – Ela não terminou a frase, mas já deixou bem claro suas intenções .
– Você tem um grande problema em me chamar pelo meu nome. – brinquei.
– Ah cala a boca, pirralha. – Ela sorriu e me abraçou com força exagerada.
De repente um hino de xingamentos surgiu no bar.
“Cadê meu pedido?!!”
“Elas estão fabricando as comidas, só pode ser!!”
“Mas que porr@!#$%!!!”
– Melhor eu ir. – Me afastei dela e peguei a bandeja, quando estava prestes a sair da cozinha, Lucinda me parou novamente.
– Se quiser podemos fugir daqui. – Ela disse.
Virei-me assustada. – Não... Você não pode fazer isso.
Ela riu e se aproximou. – Sabia que eu adoro quando pirralhas como você me desafiam?
Aquela mulher definitivamente era louca.
– Lucinda, pare com isso. – disse já com a paciência esgotada.
– Ah, tudo bem! – Ela bateu as mãos contra o quadril em sinal de rendição. – Vai lá trabalhar, então... Como se esse fosse o melhor trabalho de sua vida. – Ela nem era irônica.
Dei um sorriso cínico e me virei para ir embora da cozinha carregando uma pilha de pedidos.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Caralh@#$% pensei que esse troço jamais iria chegar! – Um velho cheio de dentes cariados e os braços fechados por tatuagens de dragão berrou quando eu o servia.
– Mas esse troço chegou, então cale logo essa boca podre e coma!! – Lucinda disse logo atrás de mim com sua costumeira gentileza.
O velho fez cara de tacho e a ignorou.
– Rúbia, nossa conversa ainda não acabou. – Ela disse segurando meu ombro para olhá-la recebendo um olhar ameaçador.
Não disse nada, só me afastei para continuar entregando os pedidos aos “reclamões de plantão”.
[...]
Já eram 22:00 e eu estava suada...De tanto mexer naquele forno de alta potência. Eu nem precisava cheirar minha camisa pra perceber que aquele odor desagradável era o meu.
Precisava de um banho.
Depois de banhada e vestida me desloquei até a varanda. Aquela noite estava cheia de estrelas e como uma idiota eu me via as apreciando. Eu adorava observá-las, aquilo me passava esperança de que um dia eu teria uma vida normal.
– Rúbia!!! – alguém gritou meu nome lá de baixo.
Aquela voz.
Engoli em seco... Era ele.
Olhei para baixo e vi se seria possível pular da janela sem me esborrachar toda.
O desespero correu entre minhas veias e tranquei rapidamente a porta do quarto. Empurrei o armário quase morrendo de esforço e o prensei contra a porta.
Um fio de suor deslizou sobre a minha têmpora e corri tentando achar alguma arma...
Eu era uma idiota... Ele era um vampiro... Nada podia machucá-lo. A não ser...
Peguei uma faca onde eu sempre deixava embaixo da cama. Eu já sabia o que fazer.
– A deixe em paz!! – Lucinda gritou.
As vozes já estavam mais próximas até que um barulho abrupto surgiu. Alguém tinha caído violentamente no chão.
Meus olhos começaram a lacrimejar.
Lucinda. Ele a matou.
Ele era um monstro.
–Rúbia... Minha pequena Rúbia. – A voz dele estava docemente ameaçadora. - Abra a porta.
Engoli em seco e nada disse, só esperei.
– Consigo sentir seu perfume daqui. – Ele caçoou. – Abra a porta.
Silêncio.
–Quer mesmo que eu use a violência, Rubi? – Ele disse muito suavemente.
Segurei a faca sobre o pulso e fiz o primeiro corte. Aquilo era horrível de se ver.
O sangue gotejava incessantemente.
Eu sabia que Nathan tinha sentido o cheiro de meu sangue, por que assim que fiz o primeiro corte ele começou a destroçar a porta.
O armário que eu tinha posto tinha funcionado, mas por pouco tempo... Ele só serviu pra retardar os ataques de Nathan.
Fiz um segundo corte no outro pulso, meus olhos ardiam... A dor era horrível.
De repente uma brecha na porta se abriu e olhei amedrontada para seus olhos azuis ensandecidos de ódio.
Tirei a camisa rapidamente e mirei a faca contra o meu estomago.
Eu teria coragem?
Eu teria coragem? Perguntei novamente.
Nathan adentrou dando um enorme empurrão na porta, fazendo o armário cair violentamente, assim como a porta.
Ele me olhou, mas naqueles olhos magníficos não me encaravam mais com ódio e sim com horror.
– Não faça isso. – Ele se aproximou lentamente.
– Se aproxime mais e eu farei. – Disse com a voz falhada pelo choro. Sim, eu estava chorando.
Nathan arqueou uma sobrancelha em tom de desafio. – Sou mais rápido que você.
– Então tente algo para ver o que acontece. – Ameacei como uma cobra.
Ele sorriu.
De repente algo que estava atrás de mim jogou-me contra o chão e a próxima coisa que presenciei foram dois braços me puxando delicadamente.
Não! Não!
Bati em seu peito com meus pulsos jorrando sangue e Nathan os prendeu colocando sobre minha cabeça, ele não queria que meu sangue bombeasse rápido... Seu plano era manter-me viva, como se eu quisesse ficar viva.
– Agora você é minha novamente. – sussurrou segurando meu queixo com força exagerada.
– Rúbia, querida. – Uma voz masculina estava próxima de meus ouvidos e virei meu rosto, quando o aperto da mão de Nathan se suavizou.
Aquilo só podia ser piada.
Era o médico. Ele era comparsa de Nathan sem ao menos eu perceber. Todo esse tempo havia passado e nada de eu desconfiar dos seus reais planos.
Ele sorriu e se aproximou. – O que pretende fazer com ela, garoto?
– Não é da sua conta, agora você pode vazar daqui. – Nathan disse rudemente.
– Se você diz. – Ele foi até a janela e se virou para me encarar com zombaria – Boa sorte, você vai precisar.
Engoli em seco e senti aqueles dedos me puxando de volta para encarar aqueles olhos contidos de ódio e paixão.
– Deite-se vou procurar alguma coisa que preste nesse lugar para tentar amenizar a loucura que você tentou fazer. – Ele disse se afastando e virou abruptamente. – Não seja idiota de fugir novamente.
Engoli em seco e me sentei na cama. Meus olhos ardiam, meus pulsos sangravam e minha vida estava definitivamente acabada.
– Rúbia. – Alguém sussurrou. Era uma voz sofrida.
Corri até a porta arrebentada e encontrei uma Lucinda estirada no chão jorrando sangue por sua boca.
– Lucinda! – gritei e sentei ao seu lado. – Meus olhos que antes ardiam agora mal puderam se abrir com as minhas lágrimas desesperadas.
– Não chore pirralha. – Ela sorriu, mas tossiu sangue novamente.
– Porque Lucinda, por quê? – perguntei acariciando seus cabelos castanhos.
– Não quero que se renda a esse monstro, você é nova...Precisa...Lu...Luta...r.
Seus olhos estavam se fechando e antes que eu me desse conta Lucinda deixou dessa pra melhor.
Comecei a chorar violentamente.
– O que eu disse sobre não fugir novamente, Rúbia?
– Monstro!! Odeio você!!- gritei.
– Diga novamente se tiver coragem. – sussurrou com seus lábios bem próximos da minha orelha.
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