Capítulo 1 - Visita a Igreja

Olhos tão dóceis, e coração tão impuro. Assim era Mary, uma garotinha comum aos olhos de quem não conhecia sua verdadeira essência. Cabelos negros até os ombros e uma franja tradicional jogada sobre a testa, que muita das vezes escondia durante a noite e a pouca luz do ambiente do quarto de seus pais, sob uma sombra que tomava conta de seus olhos, o mal que era expresso nas curvas de suas sobrancelhas e nas poucas rugas que se formavam em sua testa.

Mary tinha apenas 10 anos. Era amável, carinhosa e muito simpática. Poucos sabiam do demônio que ela carregava dentro de seu corpo de criança.

Nada normal, os batimentos cardíacos aceleraram quando sua Mãe disse que a levaria numa igreja para tentar resolver seus problemas.

Sua mãe tinha lhe prometido que não doeria nada. Seria apenas uma visita formal para que o padre da localidade lhe abençoasse.

Não doeria se ela fosse uma criança normal. Não doeria se Deus não a tivesse perdido para o mal.

Suas mãos suavam frio. Era como se o reino dos céus tivesse descido para a Terra. Como se o mundo tivesse se calado enquanto o sapato de salto alto de sua mãe soava um som de suspense ao encontrar com o piso de madeira da Igreja, que no momento aguçava seus nervos.

A pequena filha das trevas já se sentia esgotada, suava frio desde que entrou na pequena igreja de sua cidadezinha. Ela se distraia, ou pelo menos tentava, observando em sua volta as imagens retratadas em pinturas pelo teto, Esculturas grandes, e também médias que retratavam corpos de anjos, Santos...

E uma que mais queimava seus olhos em lágrimas que não desciam. Era a imagem de Jesus Cristo. Foi ver aquela escultura que a fez falar em voz alta, como um sopro que vem de dentro para fora sem que possamos pensar muito antes:

(Ela disse algo tão cruel que eu mesmo não seria capaz de citar aqui por respeito a Cristo).

Não era sua voz, não era a delicada voz de uma menininha linda de olhos dóceis.

Era uma voz tenebrosa de um ser que se escondia por trás da pequena aparência de um anjo, de uma garotinha de olhos completamente negros como a visão do céu numa noite sem lua.