Hunter levou Paul, Neko, Rina, Dippie e Robbie para longe da escola e para longe da pequena cidade do leste norte-americano onde ela se localizava. Atravessavam a floresta, caminhando a passos largos, pois o monitor-sátiro queria chegar logo ao seu destino. Dippie resumiu para Paul e Robbie o que havia ocorrido na escola, e sobre Gospiggs, mas os dois irmãos estavam impressionados demais para acreditar. Quando Hunter finalmente tirou as calças e exibiu suas pernas de bode, os irmãos pareceram se convencer.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Matt! Seria demais perguntar onde exatamente você está nos levando? – perguntou Neko, fatigada.

— É uma espécie de acampamento. – Hunter não viu mal algum em dizer, pelo menos, essa informação. – É o lugar adequado para pessoas especiais como vocês.

— Especiais? – fez Paul. – Olhe aqui, senhor meio bode. Eu não tenho nenhuma deficiência física ou mental, se é isso a que está se referindo.

Hunter riu.

— De modo algum, Paul! Não falei “especiais” nesse sentido. Quando chegarmos lá, você vai entender.

Apenas Rina usava um casaco, de modo que o restante do grupo começou a sentir frio logo, menos Hunter, cujos pelos de bode pareciam acostumados a quedas bruscas de temperatura. Mas o sátiro tirou da mochila alguns casacos, e jogou-os para o resto do grupo. Logo, Neko, Dippie, Robbie e Paul já estavam bem agasalhados e sentindo menos frio.

— Escutem aqui, pessoal! – exclamou Hunter para os amigos. – Daqui a alguns instantes vamos passar por uma pequena cidade que eu conheço. Talvez possamos passar por uma estalagem e comer algo rapidamente, antes de seguirmos viagem.

— Ufa! – suspirou Robbie, enquanto os demais apressavam o passo, animados com a perspectiva de um lanche.

Eles mal haviam dado dez passos, quando algo passou voando por eles. Um par de asas negras e emplumadas quase arranhou as costas deles com suas garras, sobrevoou o grupo e deu a volta, planando em frente a Hunter e seus amigos.

Era grande, maior que uma águia, mas totalmente negra, exceto pela cabeça. A cabeleira extensa e os olhos negros do rosto pálido de Anuska Darling encaravam o grupo com ferocidade.

— Era só o que faltava – resmungou Hunter, trotando nervosamente com suas pernas de bode. – Ela é uma Fúria.

Anuska sibilou ao ouvir Hunter chamá-la assim.

— Seu sátiro imundo! Vai me dar agora mesmo esses moleques para eu devorar ou vou precisar arrancar o seu couro primeiro?

— O que está acontecendo? – perguntou Paul, confuso e assustado. – Aquela é a nossa professora de Literatura...?

— Ela é bem mais do que uma professora, Paul... Você conhece bem essa matéria. Ela é uma das guardas de Hades, as Fúrias. Não sei dizer qual das três ela é só olhando...

Hunter não pôde concluir a frase, porque nesse exato momento Anuska soltou um grito que poderia ter sido ouvido em todo o estado norte-americano em que eles se encontravam (New Jersey). Todos taparam os ouvidos, pois o grito ensurdecedor provocava dores intensas no ouvido de quem o escutava.

— Agora já sei qual Fúria ela é! – bradou Hunter após Anuska terminar de gritar, e todos tirarem as mãos dos ouvidos.

— Megera, o demônio do grito – completou Paul.

Anuska lambeu os beiços.

— Alunos inteligentes têm sabores melhores! Esse daí vai ser a minha melhor refeição dos últimos vinte anos!

— Ela tem mais de vinte anos? – perguntou Dippie, horrorizada.

Anuska rugiu e quase soltou seu grito sonoro outra vez, e voou na direção do grupo de Hunter, com as presas à mostra, pronta para devorar Paul.

Hunter se agachou para apanhar sua mochila e a flauta, mesmo sabendo que não teria tempo de deter Anuska. Mas mal precisou abrir o zíper.

Quando a Fúria estava a três metros de distância do grupo, um outro vulto negro, só que sem asas, irrompeu da floresta, e brandiu um objeto brilhante e afiado contra Anuska.

A Fúria gritou novamente, só que por dor. Ela voou para o alto, sobrevoando o grupo e grasnando, enquanto o sangue irrompia de sua asa. Suas penas negras já cobriam boa parte do chão – a espada do recém-chegado penetrara muito fundo na pele do monstro. O espadachim sumiu de vista, mas era possível ouvi-lo brandir sua lâmina, entre as árvores, para intimidar Anuska.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

A Fúria cometeu o pequeno erro de descer alguns metros de altura em relação ao solo; no mesmo instante, o guerreiro misterioso, um homem alto, com um casaco com capuz de cor negra e pele caucasoide (branca) saltou sobre o monstro e enterrou sua lâmina no coração de Anuska.

A ex-professora de Neko e seus amigos tentou gritar novamente, mas seu rugido saiu engasgado devido ao golpe de seu atacante. O corpo de Anuska começou a rachar e ela se desintegrou, deixando apenas um amontoado de penas no meio da floresta.

Hunter e seu grupo assistiu àquilo sem reação. Quando o monitor se adiantou para agradecer ao seu salvador anônimo, o guerreiro olhou-os de relance e deixou, por um momento ínfimo, seus olhos castanhos brilhantes à vista em meio à escuridão de sua capa, antes de saltar de volta para a floresta e sumir de vista.

Na mesma hora, Rina e Dippie sentaram no chão, exauridas.

— O que foi aquilo? – indagou Rina. – O cara da espada... Quem ele era?

Hunter não parecia intrigado pelo fato de o sujeito ter ido embora sem se despedir. Pelo contrário, exibia um sorriso de satisfação.

— Matt? Você sabe quem era aquele homem? – perguntou Dippie.

Ele se virou para os amigos, ainda sorrindo.

— Brandindo bronze celestial daquele jeito... Só pode ser uma pessoa.

— Brandindo o quê? – perguntou Neko, mas nessa hora Paul soltou um gemido de horror. Estava pálido de medo.

— Céus...! Ela ia me comer, e no mau sentido mesmo!!! Que pavorosa ela é...! Tire-me daqui, Hunter, eu quero ir pra casa...

— De certa forma, estamos indo para a casa de vocês. – Ele abrandou o sorriso. – Mas vamos logo embora, antes que ela se recomponha.

Nenhum dos garotos parecia satisfeito com a resposta de Hunter, mas seguiram o sátiro logo que ele se pôs a caminhar. Ninguém queria proximidade do monte de penas negras que, aos poucos, começava a se reintegrar.