Regret

Capítulo 04


Regret

Kaline Bogard

Capítulo 04

Como sempre acontecia quando dormiam juntos Travis acordou antes do despertador soar. Ajeitou-se na cama, com cuidado, e ficou a admirar enquanto Wes dormia tranquilamente ao seu lado.

Tinha que admitir que se sentira bobo no começo, como aquelas garotinhas virgens apaixonadas. Mas era mais forte do que ele e acabara se rendendo a idéia e se permitindo aquele pequeno ato de espionagem.

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O rosto tranqüilo do loiro ficava tão relaxado e entregue durante o sono, nem de longe lembrava aquele teimoso e controlador com quem investigava os crimes da Roubos e Homicídios.

Além de observar Travis também sentia vontade de tocar. E dessa vez não se conteve(1), estendeu a mão e acariciou os cabelos curtos e loiros, bem de leve. Era honesto o bastante para reconhecer os sintomas: estava apaixonado, perdida e completamente apaixonado pelo parceiro.

Maravilha.

Logo ele, o príncipe da conquista, rei do flerte e senhor da atração... tivera o coração domado por um homem de gênio difícil, controlador, obcecado, desafiador, teimoso, intransigente, queixo-duro etc, etc, etc e mais um bom par de eteceteras.

Talvez fosse a antítese da obra que o conquistara. Pois, ao mesmo tempo, Wes era gentil, generoso, dedicado, concentrado, altruísta, sonhador, um tanto infantil. Ah, sem esquecer de ingênuo e corajoso, claro. Quem mais largaria uma carreira de sucesso, com um bom salário todo mês, para correr atrás de bandidos tentando fazer do mundo um lugar melhor?

A exata pessoa que ressonava calmamente ao seu lado enquanto recebia um cafuné carinhoso. Como não amá-lo?

Amor...

Nesse momento o despertador tocou, trazendo um sorriso aos lábios de Travis que espantou os pensamentos para um dos cantos da mente.

– Ei, Bela Adormecida... – cutucou o ex-advogado logo após desligar o som irritante – Acorda...

– Hummmm já tá na hora...? – Wes terminou a pergunta com um longo bocejo.

– Bem, desertou uma hora mais cedo.

Nesse ponto Mitchell abriu os olhos a contra-gosto.

– Uma hora mais cedo, por que? – perguntou num resmungo mal humorado. A cama estava tão agradável, tinham que aproveitá-la por mais tempo, não por menos.

Antes de responder Travis rolou e ficou por cima do parceiro. Sorriu de um jeito bem sacana.

– Por que você acha que eu te acordei mais cedo, hein?

Wes abriu a boca pra replicar, porém teve os lábios tomados com voracidade e força, numa pequena amostra do motivo pelo qual Travis o acordara antes do tempo...

Aquela hora seria muito bem aproveitada por ambos. Ah, se seria!!

T&W

Algum tempo depois Travis e Wes adentravam a central de polícia. O capitão Sutton que estava passando parou e encarou seus melhores detetives.

– Rapazes, sinto uma nuvem de carma ruim acompanhando vocês. O que aconteceu?

O “carma ruim” era visível nas expressões mais que emburradas dos dois. Quem respondeu foi Travis.

– Esse imbecil jogou meu café fora! – o moreno soou inconformado.

– Ele estava bebendo no meu carro em movimento!

– Mas não precisava jogar pela janela! Além de tudo é burro – a ofensa fez Wes corar de raiva, mas não podia rebater a ofensa – Jogou o café com a janela fechada...

Os outros detetives que estavam acompanhando tudo, por puro acaso, começaram a rir de imaginar a cena, e Mike pensou seriamente se poderia pedir para Emma dobrar as sessões por semana...

– Você podia ter sujado o meu carro – Wes ainda falou em sua defesa.

– E o carro não acabou sujo de qualquer jeito? E eu sem café...

– Por sua culpa!

– Minha culpa? – Travis se apontou – Você que jogou o copo!

– Por que você nunca admite que está errado?

– Eu não estou errado!

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– Parem com isso agora – o Capitão ordenou sem paciência – Ou vou chamá-los para uma meditação com florais no meu gabinete.

No mesmo instante tanto Travis quanto Wes fizeram a melhor poker face de que foram capazes.

– Está resolvido, capitão – o moreno garantiu enquanto empurrava o parceiro em direção as mesas de ambos. Os outros detetives também se dispersaram rapidinho, antes que sobrasse pra eles.

Mal tinham se sentado e uma oficial aproximou-se com uma pasta na mão.

– Relatório preliminar da legista – foi logo dizendo – Ela pediu que eu entregasse já que...

Calou-se. Travis e Wes moveram-se quase na velocidade da luz e cada um pegou de um lado da pasta.

– Eu leio – o moreno falou.

– Deixe isso comigo – o loiro exigiu.

Em seguida se encararam com irritação.

– Peguei primeiro, Wes.

– Nos seus sonhos!

A pobre moça soltou a pasta e ergueu as duas mãos.

– Está entregue. Se rasgar vocês se entendem com Jonelle – e saiu de fininho.

Os parceiros e amantes ficaram se encarando. Sabiam que um nunca cederia antes do outro. Então Wes ergueu o punho fechado. Travis estreitou o olho esquerdo e aceitou o desafio erguendo igualmente uma mão fechada. Mesmo assim ambos continuaram grudados na pasta com a outra mão, como se a vida deles dependesse disso.

– Jo Ken Po!! – disseram juntos.

Wes manteve a mão fechada. Travis arriscou o sinal de “V” na horizontal.

– Tesoura perde para pedra! – Mitchell comemorou.

– Unf – Travis reclamou soltando o precioso objeto de má vontade. Depois resmungou – No Japão dizem que mulheres sensuais sempre ganham esse jogo...

O ex-advogado franziu as sobrancelhas.

– O que disse? Não entendi.

Mas o parceiro apenas meneou a cabeça sorrindo.

– Nada. Lê isso logo e me passa.

Wes encarou o outro por alguns segundos antes de dar de ombros e voltar-se para a pasta com o resultado da autópsia. Ajeitou-se de forma correta na cadeira e começou a ler avidamente. Parou logo em seguida quando Travis acertou sua cabeça com uma bolinha de papel.

– Travis! Deixa de ser criança!

O mais alto não respondeu. Levantou-se da cadeira rindo muito e foi para a cozinha pegar uma xícara do café horrível da central. Afinal, o seu precioso líquido quente e preto matutino escorria pela janela do carro de Wes.

Parecia piada.

T&W

– Então no fim das contas o relatório não acrescentou nada de novo ao caso? – Dakota perguntou curiosa e tanto Wes quanto Travis perceberam que trazer aquele ponto a sessão não fora uma boa idéia.

– Isso é assunto confidencial, desculpe – o moreno fez um gesto de mão tentando mudar o foco do assunto.

Não sabia qual dos dois começara, mas tudo surgira do café jogado pela janela, literalmente e evoluíra até o caso d’O Dentista.

– O que vocês estão me dizendo, rapazes – Emma falou muito tranqüila como sempre – É da dificuldade que tem de conversar para resolver quando discordam de algo. Vocês simplesmente agem. Como é isso?

– Ele faz de propósito! – Wes grunhiu – Travis sabe como eu gosto de cuidar do meu carro. Então cisma de beber café nele pra me irritar!

O moreno estava com a réplica na ponta da língua, mas a doutora foi mais rápida.

– Isso já aconteceu antes? Travis já derramou café no seu carro?

– Não. Mas... mas...

– Wes, não podemos viver apenas considerando tudo de ruim que pode acontecer com a gente, hipóteses boas servem de contrapeso. Você não precisa privilegiar o negativo em cada decisão.

O loiro não disse nada. Travis deu uma risadinha vitoriosa que durou pouco. Logo a doutora voltava-se para ele.

– Travis, se você sabe que Wes tem essa preocupação toda com o carro por que insiste em tomar café nele?

Marks moveu-se desconfortável.

– Por que as vezes não dá tempo de tomar antes. E eu tomo cuidado para não derrubar, Wes que não percebe.

– Viu? – Emma falou – Vocês podem conversar e expor os argumentos ao invés de atacarem um ao outro.

A afirmação ganhou aplausos dos outros casais. As palmas ainda ressoavam no salão quando o grupo de bailarinos invadiu para treinar. Era hora de acabar a sessão. Os casais se despediram e partiram.

Quando Wes estacionou em frente ao prédio do parceiro, hesitou sem saber se deveria ficar ou não. O moreno acabou com a dúvida deixando tudo muito claro: queria que o ex-advogado fosse dormir em sua casa novamente.

Seria preciso mais que um mísero copo de café jogado pela janela para afastá-los aquela noite. Ou em outra qualquer.

Continua...