Regret

Capítulo 02


Regret

Kaline Bogard

Capítulo 02

Os detetives avançaram pelo prédio do IML e foram direto até a sala de Jonelle, legista que estava a frente do caso e realizava as autopsias.

– Olá, Jonelle.

– Wes, um dos meus detetives favoritos! – a mulher cumprimentou com um sorriso e então olhou para Travis, o sorriso morreu em seus lábios – Ah... o outro...

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– Oi, Jonelle – o moreno acenou de leve. Sabia que a médica não superara a dispensa e ainda guardava rancor.

Ignorando Travis, ela ergueu as sobrancelhas e foi direto ao ponto.

– Casal? – os dois se entreolharam confusos com o que ela queria dizer, até a moça girar os olhos com enfado – Então aqui pelo casal? As novas vítimas d’O Dentista?

– Ah, sim! Apenas não confirmamos que é realmente um casal – Travis respondeu – Você estava aqui nos casos anteriores, não estava?

– Nos três últimos contando com esse. Sempre foi comprovado que se trata de um casal – ela caminhou até uma das mesas cirúrgicas e foi seguida pelos detetives. Então apontou o corpo em que estava trabalhando – Esse é o marido, há marcas de tortura com uma lâmina aqui, aqui e aqui. As unhas das mãos foram arrancadas, assim como os dentes. O estado de decomposição está adiantado, perdemos as digitais.

– Vermes? – Wes perguntou analisando o cadáver.

– Exato. A arcada dentária está irreconhecível, mas amostras do DNA podem indicar alguém, caso esteja no sistema.

– Causa da morte? – foi o mais alto quem perguntou.

– O coração foi perfurado, provavelmente pela mesma lâmina que fez as marcas de tortura, vamos confirmar isso. Há um ferimento no crânio, mas não levou ao óbito.

– Talvez um golpe para desacordar? – Wes perguntou enquanto tirava o caderno de notas e a caneta. Nem Travis nem Jonelle reclamaram quando ele fez o ritual de apertar a base varias vezes, já estavam acostumados.

– É a minha hipótese. Enviei amostras das larvas para o laboratório, mas pelo que conheço do ciclo desses animais arrisco que esse casal está morto há pelo menos 04 meses.

– É bastante tempo... – Travis sussurrou.

– Pra ficar abandonado? Com certeza. Na mulher não há sinais de tortura, nem o golpe na cabeça. Pedi os exames toxicológicos. Se for como nos outros quatro é possível que ela tenha sido envenenada. Os dentes também foram arrancados, mas aconteceu após a morte.

Travis levou a mão ao queixo e massageou de leve.

– Sempre há um certo “cuidado” com a vítima feminina.

– Mas não com a vítima masculina.

– A questão dos dentes... – Travis mantinha os olhos fixos no cadáver em decomposição – Por que tirar da mulher também? Privar-se de arrancá-los antes, mas não depois. Como se ele tivesse certo rancor contra ela também.

– Não ela exatamente, mas uma representação feminina na vida do assassino – Wes parou de escrever e encarou o parceiro – Isso é simbologia pura. O assassino pode estar reproduzindo algo, usando isso para passar uma mensagem.

– Ou pode fazer parte da assinatura dele – Travis mordeu os lábios de forma pensativa.

– Assinaturas são mensagens – Wes olhou atravessado para o moreno.

– Nem sempre, no caso do Degolador de Massachusetts...

– Ah, não me venha com essa, Travis. A assinatura não tinha...

– Ei, ei, ei, moças – Jonelle cortou a discussão firmemente – Vou voltar ao trabalho. Quando terminar lhes envio meu relatório.

E expulsou os dois da sala antes que começassem mais uma discussão.

Wes saiu pisando duro e Travis o seguiu cruzando as mãos atrás da cabeça. Pelo menos Jonelle tinha sido ríspida com ambos. Estavam empatados.

– Vamos almoçar? – Marks perguntou.

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Wes não se deu ao trabalho de responder.

T&W

Acabaram parando em uma barraquinha de cachorro-quente na praça dos arredores da prefeitura, onde estavam os melhores lanches na opinião nada humilde de Travis.

– Capricha no molho, esse é o meu combustível e eu preciso recarregar – o moreno falou para o vendedor, fazendo Wes rolar os olhos.

Então, depois que o loiro cobriu seu lanche com mostarda, se afastaram um pouco para comer e conversar com calma e certa privacidade.

– Precisamos pegar os casos antigos – Travis foi dizendo de boca cheia – Temos muito dever de casa.

– Aposto que o capitão já separou pra gente.

– Cinco pratas? – o moreno desafiou depois de engolir.

– Fechado – Wes sorriu na certeza de que ganharia fácil.

– Sua impressão sobre isso?

Antes de responder Mitchell deu um gole no copo com coca gelada.

– Inconscientemente todo serial killer quer ser apanhado. Ele pontua suas ações e deixa pistas – sabia disso dos vários casos que acompanhara em sua antiga carreira de advogado.

– Como matar sempre casais, torturar o homem e ser “misericordioso” com a mulher?

– Exatamente. O tempo também deve ter algum significado, Travis. Por que um crime a cada ano? Talvez para comemorar ou lamentar algo que tenha acontecido e desencadeado tudo isso.

Nesse momento o moreno estendeu a mão e passou o dedo indicador pelo cantinho dos lábios de Wes. O ato inesperado deixou Mitchell desconcertado.

Com um sorriso sacana Travis levou o próprio dedo a boca e lambeu um tiquinho de mostarda que limpara do rosto do outro detetive.

– Ei, a mostarda fica bem melhor assim! – gracejou.

– Travis! – Wes olhou em volta preocupado – Seu louco!

O moreno riu do jeito do colega e amante. Ele ficava uma graça todo envergonhado, mesmo tentando disfarçar.

– Relaxa, cara. Mantenha o foco no caso. Você é muito avoado...

– E supostamente como eu vou fazer isso com você... – o loiro percebeu o que ia dizer, mas já era tarde. Calou-se dando uma mordida irritada no seu cachorro-quente.

Travis riu divertido e também voltou a comer. Aquela cumplicidade...

Aquela cumplicidade era algo que queria preservar para sempre.

T&W

– Cinco pratas – o loiro estendeu a mão para Travis, comemorando a pequena vitória. Geralmente ele quem tinha que pagar por perder. Era bom mudar as coisas para variar um pouco.

O moreno respirou fundo e enfiou a mão no bolso para tirar a carteira. Os olhos azuis analisavam os grossos arquivos que o capitão Sutton mandara tirar do Arquivo Morto.

Teriam muita lição de casa pela frente...

Continua...