Regret

Capítulo 10


Regret

Kaline Bogard

Capítulo 10

Depois que se separaram Wesley perdeu o sossego. Tinha fixo na mente a imagem da face preocupada de Travis e a promessa de que precisavam conversar a sério depois. Sobre o que poderia querer falar?

Eles estavam bem, não estavam? O relacionamento continuava quente, o envolvimento era grande. Tinham suas briguinhas? Claro! Bastava olhar a diferença de temperamentos. Personalidades tão distintas não podiam viver em harmonia o tempo todo. Justamente por serem tão contrários não eram perfeitos um para o outro?

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Então porque a preocupação tão subitamente?!

Sua mente fervilhou de dúvidas. Resolveu voltar para a delegacia, onde poderia mergulhar nas investigações e distrair-se. O prédio estava movimentado como sempre. Cumprimentou um ou outro detetive do turno da noite e foi para a própria mesa.

Ao pegar o box com o caso mais recente de “O Dentista” não pode evitar pensar na jovem Emma, a filha adotiva do primeiro casal assassinado. A jovem perdera a família que acabara de ganhar. Só podia imaginar a dor de passar por isso. O contrário de Travis, que vivera algo semelhante no passado...

Então Wes pensou compreender um pouco a situação de Travis. Seu amante sabia na pele como era passar de lar em lar, sem nunca ter a confiança e a segurança de durabilidade. Quanto tempo ficaria na nova casa? Era a dúvida que deveria atormentar toda criança recém adotada.

Mas a dúvida pior deveria ser causada pelo assassinato do casal Monroe, em vias de adotar uma criança. Pobre inocente que sequer tivera a chance de ver seu sonho realizado.

Duas vidas destruídas pelo menos criminoso.

Algo naquela frase incomodou Wes. Exatamente o que?

A coincidência. Sim. Aquilo não chamara atenção a princípio, mas dois casais possuíam um elo em comum: filhos adotivos. Fossem adoções bem sucedidas ou não, estando apenas no inicio do processo.

Seria apenas coincidência?

Talvez sim. Embora naquele caso complexo a menor peculiaridade deveria ser investigada a exaustão. Havia tão poucas pistas a se seguir!

Resolveu procurar algo nesse sentido nos outros casos. Não encontrou nada, nenhuma anotação. Exatamente como o profile dos Monroe. Eles não tiveram tempo de completar a adoção com sucesso, então nenhum filho fora registrado.

Sem muita esperança pegou o fone e discou para o ramal da Informática. O responsável do turno da noite era Emerick, a personificação folclórica do nerd. Wes gostava do rapaz e seu jeito esquisito.

— Emerick? Aqui é o detetive Mitchell (...) Você consegue verificar processos arquivados de adoção no sistema judicial? (...) Sim, as vítimas d’O Dentista (...) Perfeito!

Desligou o telefone e olhou para os cinco boxes. Talvez fosse outro beco sem saída, mas não custava tentar.

Tentar o que? O fio da meada não fora encontrado. Aquela era apenas a intuição apurada do loiro apitando. E ele aprendera que não devia ignorar. Depois de tantos anos ele descobrira que mortes em série e coincidências não existiam na mesma frase.

T&W

Alex abriu a porta de casa e recebeu Travis. Não era exatamente uma surpresa, pois tinham amizade de longa data, ainda que tivessem perdido um pouco o contato depois que ela se divorciara de Wesley.

— Olá — a mulher foi dizendo e abrindo passagem para que o detetive entrasse — Acabei de preparar a mesa. Vamos comer.

— Obrigado! Você está linda como sempre, Alex.

— E você não pode ver um rabo de saia, Travis. Como sempre.

— Me pegou!

Os dois riram enquanto seguiam para a sala de jantar. O cheiro era ótimo, a ex-esposa de Mitchell cozinha muito bem. Claro que o loiro fazia melhor, na opinião apaixonada de Marks.

— Sinta-se a vontade.

Foi a deixa para que ambos se servissem. Salada de folhas verdes com milho, pasta italiana ao molho bolonhesa, pudim de carne e purê de batatas. Tudo regado a um suave vinho tinto.

Travis não se fez de rogado, embora sua intenção ali talvez estragasse os anos de amizade com aquela mulher. Ele era leal com as pessoas próximas e não poderia dar o passo sério que tanto queria sem ter a conversa importante.

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— Alex, você sabe o quanto prezo nossa amizade, não sabe? — ele começou, interrompendo a refeição. Não sentia nervosismo ou ansiedade. Tinha tanta certeza de seu desejo que assumira o controle de suas emoções por completo.

— Sim, eu sei. Tanto quanto eu prezo a sua, Travis.

— Preciso dizer algo. Muito sério e importante. Espero que realmente não me odeie por isso, mas... garota, se eu não fizer isso seria como jogar sujo.

— Está me assustando, Travis — ela também parou de comer.

O detetive sorriu de leve, recostando-se na parede. Agora era a parte difícil.

— Ter esse tipo de conversa não é algo que eu esteja acostumado. Sempre vivi meus relacionamentos de modo leviano, sem vínculos profundos — ele riu — Não me olhe assim! Sei bem da minha fama. Mas acho que isso tem mais a ver com o medo de me envolver a fundo e perder. Isso resume minha infância, sabe?

Alex balançou a cabeça em concordância. Conhecia a história de Travis Marks e o quanto fora difícil pra ele, saltando de casa em casa sem nunca ter um porto seguro em que confiar.

— Mas isso mudou agora — o rapaz sorriu, exibindo aquela fileira de dentes tão perfeitos. Os olhos azuis brilharam — Conheci uma pessoa por quem vale a pena lutar. Alguém com quem eu quero arriscar e nunca deixar de ter ao meu lado.

A mulher ergueu as sobrancelhas, surpresa. Tanto pela confissão quanto pelo teor das palavras. Travis estava ali, na sua casa, dizendo que descobrira o amor. Não compreendeu bem o ponto da visita e tudo o mais. Eram amigos? Sim. Mas não a ponto dele precisar vir ali atrás de sua opinião.

— Não compreendo onde quer chegar — foi sincera, dando em seguida um pequeno gole no vinho — Por que está me dizendo que se apaixonou, Travis?

Travis respirou fundo, muito fundo. Aquela era a parte mais difícil da noite. Não restara dúvidas nenhuma em sua mente ou coração. Daria o passo final para concretizar os seus planos. Quando era criança fora jogado de um lado para o outro sem que conseguisse evitar. O que um garotinho podia fazer?

Mas agora era um homem adulto. Tinha força de vontade e coragem para lutar por quem amava. E justamente por isso que estava ali. Daria um passo importante em sua vida, que envolvia duas pessoas a quem amava e respeitava. Faria tudo da forma correta, com lealdade.

— Porque eu gosto do Wes.

continua...