Daisuki

Blue Star


“Era toda branca, de teto em duas águas avermelhadas. Tinha duas janelas frontais, uma de cada um dos lados da porta, de madeira escura, com uma maçaneta circular. À sua frente erguia-se um singelo e abandonado jardim de capim e um velho coqueiro caduco. Uma estrela azul se mostrava no portão externo, emoldurada por um baixo muro de tijolos aparentes. Aquela era Blue Star.”

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Ao ver aquela casa pitoresca, percebi o quão minhas expectativas de tranquilas férias poderiam estar acabadas. Era bonitinha, de fato, mas, não sei meio abandonada de certa forma. Talvez fosse apenas impressão minha.

– Miku! – gritei para minha filha. – Vem logo!

Ela vinha carregada com suas malas e as minhas, havia pedido apenas para ela trazê-las e, em recompensa, quase tudo no porta-malas se espatifou no chão.

– Já estou indo! – respondeu ela, resmungona.

O carro de Megurine Luka chegara nesse exato momento. Com uma balize não muito perfeita, ela estacionara o carro atrás do meu, na frente da dita casa. A motorista saiu do carro logo depois, esticando ambas as pernas e os braços.

– Cansada, Megurine-san? – perguntei, tentando puxar assunto.

– Um pouco... – disse ela após um suspiro. – Não achei que a estrada iria ser de terra.

– Logo, logo você se acostuma...

Ela parecia vir em minha direção – eu estava em frente ao portão externo da casa –, entretanto, virou-se para a porta de passageiros de seu carro. Abriu com força e gritou em grande intensidade:

– Acorda, Gakupo!!!

Se me estranhei com aquilo? Não. Depois que a Miku contou-me que eles eram um casal, todas aquelas atitudes começaram a fazer sentido. De acordo com ela, a Megurine-san conseguia ser bem impaciente.

– Acordei, acordei... – respondeu o namorado, esfregando os olhos enquanto ainda bocejava.

Ele saiu do carro se esticando. Era um jovem meio estranho, devo admitir. Pelos relatos de Miku, ele era carrancudo e rancoroso, o “chato” da turma.

– Shion-kun, essa foi para você também... – balbuciou ele, enquanto abria a porta traseira atrás a seu lugar. O de cabelos azuis estava dormindo encostado na porta, quase caiu com tudo no asfalto.

– Tá louco?! – exclamou ele, assustado com o ato.

O Kamui-kun deu uma pequena risada antes de responder:

– Você não é o que está mais animado para essa viagem? De que adianta ficar dormindo? Anda! Mexe esse traseiro! – a voz soava alegre e animada. Eu, como macaca velha, conseguia reconhecer uma disfarçada daquelas facilmente, mas o outro não pareceu perceber.

– Tá bom então. – disse Shion-kun, descendo do carro.

– Fukasa?

– Quê? – respondi, assustada. Minha filha havia se materializado ao meu lado com três malas grandes, pretas azuladas.

– Você viu os Kagamine?

Pensei um pouco e olhei ao redor antes de responder:

– Ah, é verdade, eles falaram que iam dar uma volta pelo quarteirão antes de entrar na casa. – depois de uma pequena pausa, acrescentei: - Devemos esperá-los para falar com Meiko?

– Hm... – minha filha também ponderou antes de responder. – Acho que não teremos muita escolha, do jeito que aqueles três estão – ela apontou para o casal e o Shion-kun. – dá tempo dos gêmeos voltarem antes mesmo de tocarmos a campainha.

– Está seguro então, Len? – disse, assim que nos afastamos da mãe da Miku.

– Aham. – respondeu ele, mais sorridente que o normal.

Andávamos por ruas de ladrilhos mal colocados, tendo o objetivo de dar uma volta bem lenta no quarteirão, para podermos conversar sobre o que fazer com relação ao Shion-kun, principalmente.

– Não gosto desse jeito bobo alegre que você está agora... Pode ser perigoso...

– Por quê? – ele olhou-me nos olhos e, por um segundo, tinha o poder de manter ou desaparecer com o sorriso em seu rosto... Tá, não foi tão exagerado, mas mereço minha licença poética ás vezes!

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– Só estou dizendo para ter cuidado em não ser passado para trás. – respondi. – Aproveite esse cenário típico de filmes românticos e inicie um verdadeiro romance.

Ele pareceu-me confuso.

– O que você quis dizer com “verdadeiro”?

– Pô, Len! – fiquei indignada. – Pelo menos uns beijos, né?! É aqui que esse lenga-lenga entre vocês acaba! Hora de partir para cima, querido!

– Ahhh, entendi... Mas não precisa gritar, né?

– Relaxa, estamos na rua atrás da casa da Meiko. – depois de responder, completei: - Olha, mas não vai comer bola, hein? Essa é a sua chance de conquistar aquele cara! Usa esse corpinho de uke comedido que você tem e manda ver! – terminei, com ele soltando um pequeno risinho.

– Tá bom, Rin... Tá bom...

Ele dissera aquilo sorrindo. Completamente tranquilo e despreocupado. É com essa atitude que eu via um futuro casal yaoi para eu stalkear no fim do mês... hehe.

O dia era de céu azul-claro com pingos fofos de nuvens enfeitando aqui e acolá. A praia estava praticamente vazia, com o barulho dos quiosques mal chegando aos meus ouvidos. Uma carinhosa brisa fazia-me sentir capaz de flutuar.

Dei um longo suspiro e fitei a longa faixa de águas cristalinas que se misturavam ao horizonte vespertino.

– É lindo, não?

Dei um pequeno pulo para o lado, não esperava que ela tivesse vindo para a praia também.

– Meiko-san? Você não ia ficar na Blue Star? – perguntei.

– Ia, mas começou a ficar muito chato... – respondeu, completando depois – Já cansei de ficar olhando o ventilador girar.

– Nós acabamos de chegar e você já está neste marasmo? Se for assim, não aguenta o mês inteiro...

– Acho que aguento sim. – disse sorridente. – Logo, meus amigos vão chegar e não teremos mais paz nenhuma... – riu levemente. – Confie em mim.

Não estava entendendo aquela história. Meiko-san convidara antigos amigos da faculdade e colegial, que não via ou falava há pelo menos um ano? E me incluíra junto ainda por cima? Trabalhávamos juntos, sim, entretanto, ela mal conversava comigo. Quem conversaria com o faz-tudo/puxa-saco/estagiário do diretor da peça?

– Por que os convidou? – perguntei, querendo satisfazer minhas dúvidas.

Antes de me dar uma resposta, ela perdeu seu olhar no oceano.

– Não sei. Talvez porque sinta saudade daqueles tempos...

Seu rosto se mostrava levemente abatido. Senti que uma lágrima poderia escorrer daqueles olhos a qualquer momento... Eu que ficasse com minhas dúvidas, não seria bom tocar naquele assunto.

– Vamos! – disse, me virando para a rua. – Como você disse, logo, logo, eles vão chegar. Temos que recepcioná-los!

Ela fitou a imensidão azulada por mais um momento, e me acompanhou.

– Meiko-saaaan!!! – gritei, batendo palmas à frente do portão.

Fazia poucos minutos que todos haviam retirado suas malas do carro – os Kagamine já haviam chegado – e ninguém respondia aos nossos gritos.

– Ela deve ter saído, Shion-kun. – disse Luka.

– Não dissemos que já estávamos chegando no último telefonema? – retruquei.

– Você sabe como Meiko-san é – bufou Gakupo. – capaz de ter ido a praia só para nos deixar preocupados.

– Hã, até parece... – disse, ela podia ser meio doidinha, mas Meiko-san era uma ótima pessoa. Nunca faria isso com a gente.

– Sério? – retrucou ele. – Que tal uma aposta? Se ela foi á praia eu ganho, caso contrário, a vitória é sua.

– E qual seria o prêmio? – retruquei, sem pensar.

– O vencedor pode escolher a cama que o perdedor vai usar.

Pedido estranho... Mas, tudo bem, já estávamos na praia mesmo, era bom já entrar no clima de besteiras sem sentido... E ia ser divertido o fazer ter que dormir beeem longe da Luka-san. Como sou mal... Só que não.

– Fechado. – disse, para depois fecharmos o acordo com um aperto de mãos.

– Esses dois... – exclamou Luka, decepcionada.

– Não vai dar certo... – completou Kagamine-san.

– Mas, cadê essa mulher que não chega? – reclamou a mãe de Miku.

– Gente!!! – gritou alguém, à esquerda da casa.

Meiko-san surgira correndo pelo meio da rua em nossa direção. Às suas costas estava a praia – ficava há umas duas quadras da casa. Demorou menos de um minuto para ela nos alcançar.

– Desculpa a demora gente... – disse ela arfando. – Eu fui à praia rapidinho e perdi a noção do tempo...

– Hehe... – “disse” Gakupo ao fundo, sem que eu desse muita importância. Meiko-san estava de volta, poderíamos reviver os velhos momentos, fazer loucuras na praia, tornar essa viagem inesquecível!

– Meiko-saaan!! Espera aí! – exclamou outra pessoa, ao fundo.

Um vulto ao longe logo se aproximou correndo, parando ao lado de Meiko-san. Era um homem e estava muito mais cansado que ela.

– Quase me esqueci! – exclamou Meiko, batendo na própria testa. – Esse é meu amigo, Mikoto Kimura.

Só digo uma coisa: já não gostei dele.