O Amor Em Preto E Branco

Quebrando a rotina


Tinha conseguido convencer meus pais de que eles precisavam sair e esfriar a cabeça e que não deviam se preocupar comigo, eu ficaria bem, muito bem...

Sai meia hora depois da partida deles, fui seguindo o mesmo caminho do dia anterior, a rua estava deserta e fria mais uma vez. Porém, a cada passo que eu dava em direção ao beco, a atmosfera parecia mudar. Meus olhos se iluminaram ao enxergar a fumaça e ouvir certas vozes, um pouco familiares, vindas do beco. Fui apertando o passo, sentia empolgação, hoje sentiria alegria novamente.

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Entrei no beco, balançando os braços para afastar a fumaça. Finalmente consegui vê-los, meus herois (ou vilões).

-Ah! Que bom que veio. -a mulher, cujo nome eu não fazia ideia, sorriu amistosamente- Ontem não viemos porque tivemos que buscar o novo carregamento.

Abri a boca para falar, mas fechei-a e ficamos alguns segundos em silêncio, o que me deixou um pouco desconfortável.

-O que vai querer experimentar hoje?

-Eu não sei... Mas tenho que te perguntar uma coisa. -finalmente decidi- Quem são vocês? Quer dizer, quais são os nomes de você?

-Bom... -ela franziu a testa- Esses são Mark e Jordan, eu sou Serena, e nós fazemos parte de uma gangue: The Legion. Fazemos contrabando de drogas, do México para cá.

Agora eu sabia de bastante coisa, talvez mais do que o necessário. Então, o baixinho era Mark, o magrelo era Jordan e a mulher, com traços africanos, era Serena e eles faziam parte de uma gangue, com nome esquisito, de contrabando de drogas.

-E aí? O que vai querer?

-Hum... Tem daquele pozinho?

Ela pegou um saquinho igual ao outro e me entregou, sorrindo.

-Vinte dólares. -ela estendeu a mão, eu tirei uma nota de vinte do bolso da calça e entreguei.

-Até amanhã!- Serena acenou, trocando olhares com os homens, sempre calados, que a ladeavam.

Sai do beco, fui procurando pela rua algum lugar onde pudesse consumir meu pozinho. Adentrei em uma viela bem estreita e vazia, me sentei no chão, sendo escondida por um latão de lixo.

Sentia-me flutuando novamente, não conseguindo retirar um sorriso bobo do rosto. A atendente do caixa do mercado me encarava com uma expressão desconfiada, entreguei-a o dinheiro e sai com uma garrafa da mesma whisky que meu pai escondia.

Cheguei em casa, nenhuma luz estava acesa, eles ainda não tinham voltado. Entrei, guardei a garrafa na cristaleira e fui dormir. Teria que voltar ao beco na noite seguinte e na noite depois dessa, e na outra noite... todas as noites. Já não tinha mais como evitar, como fugir, estava presa a esse destino, minha sanidade (ou a falta dela, afinal eu não queria ter consciência da realidade) dependia disso. Nada como alguma coisa para quebrar uma rotina e começar outra.