Capítulo Três.

- Droga, preciso tingir o cabelo. – ela pensou, enquanto escovava as madeixas ruivas diante do espelho, constatando que a raiz de tom castanho claro começava a aparecer.

Suspirou, tentando não dar importância àquilo e partiu para a franja, a fim de ver-se livre do cabelo que era a parte que mais lhe tomava tempo ao arrumar-se. Não faria nada demais, deixaria solto, alinhando cuidadosamente a franja sobre as sobrancelhas. Procurou uma camiseta preta, justa e longa com o heartgram da banda H.I.M estampado em roxo e uma calça em couro também na cor preta, vestindo-as rapidamente. Calçou um par de botas pretas de salto e sentou-se frente ao espelho para maquiar-se. Por mais que gostasse de fazer aquilo, não estava com muita paciência naquela ocasião específica, e também não tinha muito tempo, pois Julie chegaria à qualquer momento. Mal teve tempo de concluir o pensamento e ouviu as batidas à sua porta. Por certo era a loira.

- Wow, vai arrasar com essa maquiagem tr00 de um olho só. – a loira zombou, Nat havia ido abrir a porta com apenas um dos olhos maquiados, pois ainda não havia terminado de arrumar-se.

- Muito engraçado. – ela respondeu, fingindo uma irritação momentânea ao voltar ao espelho. – Será que todo mundo que vai tocar vai estar nessa festa mesmo?

- Não sei... As bandas brasileiras com certeza sim. As gringas não sei... Tem que ver quais já estão no Rio. – Julie respondeu, olhando-se em uma brecha de espelho deixada pela amiga e remexendo nos fios loiros desfiados. – Por que? Já está pensando com qual vai encarnar a groopie primeiro? – zombou novamente, deixando a mais nova com as bochechas coradas ao rir.

- Ah sim. Tenho uma vocação daquelas pra groopie, você nem sabe. – ela ironizou e riu de si mesma. Nem que tentasse conseguiria fazer um papel daqueles. Nem mesmo bêbada. Definitivamente não era de seu feitio. – Certo, estou pronta. Vamos? – a menor convidou, colocando-se em pé. – Sinto que meus pés irão sofrer essa noite. – comentou, fazendo referência ao salto altíssimo que havia escolhido para a ocasião.

- Beba, meu bem. Beba que passa. – Julie sentenciou, com cara de quem estava dando o melhor conselho da face da terra.

As duas deixaram o quarto com risadas altas enquanto andavam pelo corredor. Nathallie imaginou que apenas veria guitarristas, bateristas e afins na festa, e ainda assim, de longe. No entanto, percebia naquele instante estar errada.

- Derrick! Andreas! – Julie gritou eufórica com seu sotaque carregado e partiu em uma corrida desajeitada sobre os saltos em direção a dois homens que aguardavam o elevador.

- Oi, minha querida! – Derrick adiantava-se para abraçar a loira, cumprimentando-a com seu sotaque igualmente carregado. Ambos eram de Ohio e se conheciam antes mesmo de Derrick juntar-se ao Sepultura.

Nat alcançava o trio em silencio e a passos moderados, enquanto Julie revezava-se entre abraçar Derrick e Andreas. Tinha de confessar, estava se esforçando muito para não bancar a adolescente maluca diante de dois membros de uma de suas bandas preferidas. Acompanhava a carreira do Sepultura desde muito cedo, fora uma das primeiras bandas de metal que ouvira em sua vida. Gostava muito de Max Cavalera, mas diante da coragem e talento de Derrick ao assumir a grande responsabilidade de ser o novo vocalista daquela banda, passou a admirá-lo muito. Já havia ido à diversos shows, mas nunca tivera a oportunidade de estar tão perto.

- Seus putos, há quanto tempo não os vejo! Vamos biritar muito essa noite e colocar o papo em dia, sim? – Julie continuava eufórica, fazendo os dois rirem ao concordarem com ela. Andreas inclusive, já carregava consigo uma longneck de Heineken, a qual erguera na direção dela em sinal de afirmação. – Nat, não preciso apresentá-los à você né? – a loira riu – Gente, essa é a Nathallie, minha amiga e agora colega de equipe. – apresentou-a aos dois.

Nathallie saiu-se melhor do que imaginou. Em sua mente, acabaria bancando a estúpida e falando algo sem noção ao dirigir-se aos dois, mas fora simpática ao cumprimentá-los com beijinhos no rosto, seguidos de “muito prazer” vindo de ambas as partes.

Os quatro entraram no elevador vazio e Julie subitamente sacou o IPhone da bolsa de mão, empunhando-o em direção ao espelho.

- Eu quero uma foto disso, vamos lá, façam cara de gente linda! – Julie pediu, animada.

- Ih, fodeu. – Derrick zombou, fazendo com que todos rissem.

Julie acabou tirando a foto mesmo assim e o resultado foi uma foto espontânea, mas estranhamente bonita e engraçada. Todos saíram com grandes sorrisos nos rostos, como quatro amigos à caminho de uma festa. E era o que eles eram naquela noite. Não havia Derrick Green ou Andreas Kisser, tampouco, Nathallie Bittencourt ou Jullie Portier. Eram apenas quatro amigos querendo nada além de diversão.