Capítulo 18

-Por que não respondeu a carta?- Madeleine perguntou, na segunda feira seguinte, enquanto eu arrumava minhas roupas.

-Minha vó se esqueceu de entregar- menti, sem encara-la. Não acho que sou boa em mentir, mas se Maddie não é o que parece... Bem, eu tenho que tentar ajudar Elena.

-Ah, entendi- ela respondeu, abrindo a sua mala e começando a jogar as coisas em cima da cama- Eu e as meninas íamos te chamar para um café, mas ouvi que teve companhia. Viram você numa cafeteria no centro da Paris bruxa, perto da butique Wolfsburg.

Eu não respondi a ela, e continuei a arrumar minhas coisas. Maddie pareceu levemente irritada quando foi atender a porta. Era Byron, usando ainda uma extravagante blusa rosa que definitivamente nunca seria o uniforme de Beauxbatons. E parecia ter corrido.

-Se não fosse o gel meu cabelo estaria horrível- ele reclamou, entrando um pouco no quarto- Ei, Dominique, posso falar com você?

Acabo de arrumar minhas blusas:

-Hã, claro.

Byron sai andando na frente, em silêncio. Passamos pelos jardins, depois pelo enorme muro de trepadeiras e finalmente paramos no que parece um dos cantos escondidos de Beauxbatons, com um banco de metal branco e alguns arcos. Bem coisa de filme. Sentadas no banco, e com outro banquinho ao lado, estão Elodie e Eloise.

-Chegamos- cantarolou Byron, sentando no banquinho enquanto eu me encaminhava para o banco- Acho que temos que explicar algumas coisas- ele continuou, olhando para Elodie.

-Bem, é. Temos que explicar algumas coisas.- ela começou, se sentando direito e encarando Eloise- Temos um plano. Aaron parou de mandar cartas, mas achamos que continua falando com ela. A foto, Lou.

Eloise tirou uma foto do bolso. Nele, era visível a cabeça loira escura de Madeleine e um garoto com cara de nerd mais bem bonitinho, tipo aqueles nerds dos mesmos filmes trouxas que somos obrigados a assistir. Os dois se abraçavam de um jeito que eu só podia classificar como suspeito.

-Tudo bem, eu gosto de planos.

Eles se entreolharam, desconfiados.

-Fala sério, eu sou hã amiga do neto de um Maroto!

-Maroto?

-Longa história, Byron. Crônicas de Hogwarts- suspirei- Continuem.

Elodie assentiu.

-Fase um: conquiste a confiança dela. Isso não é nada difícil, acredite. E depois... E depois nós pensamos em algum jeito de fazê-la falar. E não, Eloise, nós não vamos dar uma festa e entupi-la de uísque de fogo.

Eu ri, enrolando uma mecha do cabelo involuntariamente.

-Achei que tivessem um plano. Quer dizer, não estou julgando nem nada. Planos são bons, mas não ter planos é bom também. Laissez faire*.

Eles sorriram.

-Sabe, você até é legal- comentou Eloise.

-Nossa, estou tão agradecida. Essa foi boa. - comentei, rindo e Eloise corou.

Elodie revirou os olhos mais para ela do que para mim.

-Ela quis dizer que por aqui achávamos que vocês eram mais, como dizer, metidos? Convencidos? Sei lá. A sua família salvou o mundo!

-Bem, acho que meus pais tiveram alguma participação nisso. Mas não se enganem, Tio Rony é completamente maluco e nem parece que venceu uma guerra. Ele e Tio Harry, obviamente, são completamente doidos. Minha vó vive contando histórias que eles preferiam esquecer. Os heróis da guerra não são muito heroicos quando é a sua família.

-De qualquer forma... Ainda temos a Fase 2- disse Byron, se levando- Não me leve a mal.

-Não me assuste.

-Okay, Dominique, você é veela. Você é linda. MAS com todo o respeito... Precisa de um “up” nesse visual. Sua irmã não gosta de moda?

-Victorie? Ela simplesmente adora moda- resmunguei- Chega a ser chato, de verdade.

Byron respirou fundo:

-Nós podemos fazer uma mudança de visual em você?

Opa, volta a fita. Eu não vejo qual o problema que eles veem em mim.

-Eu não vejo qual o problema em mim.

-O problema não é você- apoia Elodie, mexendo as mãos nervosamente- Eu disse que esse seria um assunto complicado. Nós queremos melhor, só isso.

Ela ainda me encarava, sem desviar o olhar. E é por isso que eu não gosto de gente decidida. Eu podia desistir e nunca saber quem estava certa. Podia levantar e negar. Mas também podia aceitar essa tal “transformação”. Talvez fosse para melhor. Talvez eu tivesse que ir para Beauxbatons, onde todos eram tediosa e aparentemente perfeitinhos par aceitar que precisasse mudar, um pouquinho. Precisava parar de tentar fazer o papel da adolescente meio problemática que só usa All-Star.

-Acho que sim- respondi, meneando a cabeça e sem querer mostrar que no fundo achava uma boa ideia- Pode dar certo.

Byron bateu palmas, antes que eu continuasse.

-Mas conheço alguém que vai querer participar. E esse alguém é a minha querida irmã mais velha, que provavelmente vai trazer o namorado. Final de semana que vem... Será interessante.

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Minha tia caminhava pela sala, falando e falando sobre feitiços de beleza. Sim, nos ensinam feitiços de beleza em Beauxbatons, o que faz a maioria dos garotos (menos Byron) revirarem os olhos e comentarem sobre o absurdo incômodo que era ser obrigados a assistir e particas tais feitiços.

Eu olhava distraída pela janela arredondada da sala, enquanto Maddie tagarelava sobre algum garoto qualquer.

-E ele me chamou para sair, e eu disse sim!- ela suspirou, se encostando à cadeira- É ruivo, como a sua família.

Eu apenas assenti, e Maddie continuou:

-Posso arranjar um amigo para você- ela diz, lixando a unha pintada de vermelho.

-Não preciso disso, Maddie. Eu sou a veela.- fui grossa, já cansada dela sempre dizendo ser a melhor em absolutamente tudo. Menos Poções. Até aqui eu só conheço pessoas ruins em Poções.

Ela me fuzilou com olhar, parando de lixar as unhas por um momento.

-Se você diz- disse, com um tom meio debochado- Mas ainda não vi tomar nenhuma atitude, queridinha.

Revirei os olhos, e continuei a bater o lápis na mesa. Calma, tenha calma. Você precisa saber qual é a da Maddie e o que está acontecendo com Aaron em Hogwarts... Hogwarts! Eu tinha minhas informantes em Hogwarts! Nunca foi tão feliz ter amigas fofoqueiras.

Peguei um pergaminho e parei de prestar atenção (ou tentar) no que minha tia dizia. Preciso escrever uma carta.

****

-Que aula chata- resmungou Amélia, enquanto eu saí da sala acompanhada por elas, e trocando um rápido olhar com Elodie.

-É da minha tia que estamos falando.- interrompi- Ela é uma boa professora.

Amélia ficou quieta, mas Maddie bufou.

-O que está acontecendo com você? Por que fica nos respondendo assim?- ela balançou os cabelos loiros escuros, parando de andar e cruzando os braços.

-Qual é, Maddie, isso é só estresse- respondo, continuando meu caminho- Eu tenho Transfiguração agora. Vejo vocês mais tarde.

Antes de ir para a sala, passei no correio da escola para mandar a cartas a Makayla, Molly e Roxanne. Só resta torcer para que elas me ajudem.

****

A resposta chega rápido, e completamente rabiscada. Na quinta de manhã, mas precisamente, um rolo de pergaminho maior e com uma letra mais ou menos desconhecida no remetente.

-O que é isso?- perguntou Maddie, tentando tirar a carta da minha mão. Eu me levanto, deixando fora do alcance dela. Cada vez mais me sinto uma mentirosa, e cada vez mais eu tenho raiva dessa garota aparentemente simpática.

-Preciso ir a biblioteca. - respondo, pegando a mochila e jogando no ombro.

-Biblioteca?

-Exatamente. Precisei de uma ajuda extra em Transfiguração e...

Maddie fez uma careta.

-Ah, pare de falar dessas coisas, é irritante. Estamos quase no fim de semana, não aguento mais deveres de casa.

Eu sorri, e discretamente chamei Byron.

-Oi-ele cumprimentou- Tudo de pé para sábado?

Assinto, balançando o rabo de cavalo.

-Victorie está empolgada, e provavelmente minhas amigas também.

-Contou para elas?

-Contei- respondo um pouco nervosa- E elas devem ter contado para o Ja... Para os meus primos, é.

Ele ergueu a sobrancelha.

-Seus primos? É, sei. Ainda vou descobrir o que exatamente tem de estranho aí.- ele afirmou- O que queria dizer?

-Pedi ajuda para elas- apontei para a carta- Para saber o que está acontecendo em Hogwarts com Aaron. Vamos saber mais alguma coisa, e talvez nem precisemos extrair a informação de Maddie...

-Suas amigas vão jogar alguma azaração nele? Vão dar em cima dele?

-Bem, claro que não.

-Então não vão conseguir a informação completa.

-Mas Byron, temos que conseguir. Não aguento mais essa garota.

Ele ri. Então eu tenho uma ideia, mas algo me diz que preciso ler essa carta antes. E geralmente os instintos dos Grifinórios estão certos.

-Já volto- saio correndo até me trancar em um dos cubículos da biblioteca.

Aqui em Beauxbatons a biblioteca tem alguns cubículos (azuis, é claro), para os estudantes que querem ainda mais privacidade. São dez ao todo, e geralmente são usados pelos estudantes mais velhos que estudam para os exames. Tem uma escrivaninha e alguns apoios para livros, além de tinta e pergaminho. E as janelas sempre arredondadas, que trazem uma agradável luz natural. Um bom e seguro lugar para ler a carta e pensar em paz.

“Querida Dominique,

(viu, eu disse que “querida” ia ficar horrível- makayla)

(ela tem razão, rox- lily)

(por que não começa só com “Oi, Domi”?- molly)

Ignore essas ignorantes que não tem mais o que fazer. É CLARO e OBVIO e CLARO assim como os Weasleys amam comida que nós ajudaremos. Amamos uma boa fofoca, e sim você está incluída nisso Molly. Ela definitivamente não é filha do Tio Percy e...

(pare de enrolar. Eu disse que ela ia fica enrolando- makayla)

Então, é, ajudaremos. Isso é empolgante, tipo teoria de conspiração. E ainda não acredito que vai deixar um bando de franceses mudar seu visual, você nem precisa disso, Domi, fala sério. Mas não adianta falar e...

(DOMINIQUE DELACOUR WEASLEY como assim esqueceu seu primo gostosão aqui e não escreveu? Você me paga- Fred)

Era só o que me faltava, ele invadiu e... DEVOLVE!

(Nickiiii! Esqueceu-se da gente foi? Estamos hã todos morrendo de saudade e...)

(James, fala logo que você está morrendo de saudades- Fred)

(Saia daqui, é a minha vez. - James)

SAIAM OS DOIS!

(Como assim mudar de visual? - Fred)

(E quem é Byron? E quem é Aaron? Tá, sabemos quem é Aaron, e ele é um idiota ruim no quadribol que fica nos seguindo e perguntando sobre a batalha de Hogwarts. Mas quem é esse tal de Byron? - James)

(Diz logo que está com ciúmes- Fred)

(Olha, seu... Eu não estou... E ah... Então é. Estamos com saudades, e mande uma carta. Por favor, não se esqueça da nossa hã conversa.- James)

Conversa? Que conversa? Ah, Dominique, você nos paga. E faça o favor de mandar a resposta com t-o-d-o-s os detalhes. Além disso, só para confirmar se esses idiotas a fizeram esquecer, nós vamos tentar ajudar. Bom final de semana, a Makayla manda avisar que está planejando jogar alguma coisa nojenta no estúpido do Brandon, a Molly e eu continuamos alone e estamos com saudades, isso não é exclusividade do James.

(EI! Eu já disse que...- James)

(pare de afirmar ainda mais, cara- Fred)

Beijos,

Roxanne, Molly, Makayla, Lily, Fred e James que te ama.

(EU JÁ DISSE QUE NÃO ESTOU APAIXO...)

(ignore, ele te ama- Fred).”

Não consegui deixar de rir, mesmo com os batimentos teimosamente acelerados. James, James. Por que nem na França ele me deixa em paz?

E ainda preciso de tempo para pensar se vou mesmo ter coragem de pedir isso. Aaron está seguindo Fred e James por algum motivo, e seria um avanço saber. E eu só conheço duas pessoas que conseguem todo tipo de informação. Os próprios Fred e James, que não faram isso de graça.