Capítulo 8.

Chuva

Strange how hard it rains now, rows and rows of big dark clouds when I'm holding on underneath this shroud.

Sasuke estava a caminho da cozinha quando parou de repente e voltou alguns passos até a sala, girando 180 graus para a direita e piscando algumas vezes enquanto sua mente decidia se as três pessoas sentadas em seu sofá estavam mesmo ali ou se aquilo era um pesadelo. Quando, pela mais simples e pura infelicidade, todos deram conta da sua presença e sorriram e acenaram, percebeu que aquela era na verdade a mais cruel das realidades.

"-Qual a senha do canal adulto?" – Jiraya foi o primeiro a presenteá-lo com uma fala inútil.

"-E aí, como saiu o plano?"

"-Que plano, Kakashi?" – Naruto arqueou uma sobrancelha enquanto olhava lentamente de um para o outro. – "Teme, você perdeu ontem! Eles me levaram comer tanto ramen que acabei dormindo na casa do Kakashi mesmo. Desculpe ter te deixado sozinho... Ficou preocupado?"

"-Vocês só podem estar brincando..." – Sasuke levou as mãos à cabeça e decidiu que terminar seu trajeto até a cozinha seria a melhor coisa a se fazer. Quem sabe até terminar de passar seu café todos os três já não tivessem sumido dali?

Milagres aconteciam, não...?

...Não.

"-Então meu querido, conte-nos como foi. Ela é do tipo agressiva?" – Jiraya foi novamente o primeiro a chegar na cozinha e a falar, pegando uma maçã do cesto de frutas sem se importar em pedir e mordendo-a prontamente.

"-..." – paz. Era tudo o que ele pedia e precisava naquela manhã, e no entanto o que recebia? Tormento.

"-Ela quem?" – Naruto piscou algumas vezes, sentando-se na mesa..

"-Suponho que vocês" – Sasuke apontou para Kakashi e Jiraya. – "Não contaram para ele?"

"-Supõe certo." - Então os dois idiotas não tinham contado para ele sobre a médica? Ah, claro... A parte possessiva de Naruto jamais deixaria que Sasuke ou qualquer outro colocassem as mãos na sua adorada amiga

"-Não me contaram o que?"

"-Que o Uchiha ali dormiu com sua médica ontem." – Jiraya deu de ombros, dando uma última mordida na maçã antes de deixá-la de lado de maneira descuidada.

"-Eu não-"

"-QUÊ?" – como esperado, demorou alguns segundos até Naruto absorver, interpretar e compreender a informação que havia acabado de receber. – "Como vocês puderam fazer uma coisa dessas, eu juro que vou matar vocês!"

"-Ah, se acalma aí." – Kakashi sinalizou para o loiro, espreguiçando-se enquanto com o canto dos olhos prestava atenção em Sasuke. – "Deixe ele contar primeiro e depois você faz o que quiser com ele."

"-Com ele? E quanto a vocês dois, traidores?"

"-Não fale assim de nós, se a sacrificamos saiba que foi para o bem do grupo." – Jiraya colocou as mãos nos ombros do garoto, suspirando de maneira pesarosa como se fosse capaz de sentir remorso por algo.

"-...Calem a boca."

"-Sasuke, você se aproveitou da Sakura!"

ooooo

Já tinha acordado naquela casa antes. Mais especificamente, naquela cama...

...O problema era que agora a coisa toda havia tomado um significado todo diferente, e não soube exatamente se o sentimento que a invadiu dessa vez foi raiva – de si mesma ou dele – ou a mais pura e simples vergonha.

Talvez fosse um misto de ambos, considerando a situação em que se encontrava na noite anterior. A grande pergunta agora era como, porque e sob que circunstâncias havia ido parar ali. Será que...?

Não, Sasuke não era o tipo de cara que... Ou era?

Levantou-se com cuidado, sentindo a cabeça latejar a cada passo que dava em direção à porta. Esperava honestamente que as coisas não pudessem ficar piores do que já estavam... Mas podiam. E ela percebeu que realmente estavam quando alcançou a porta da cozinha após passar pela sala vazia. Haviam outras pessoas ali além de Sasuke, apesar da única voz dela conseguir identificar além da dele ser a de Naruto.

O que fazer agora, ir embora sem avisar? Cavar um buraco? Se atirar pela janela? Algo a dizia para ir embora – e rápido – mas a curiosidade aflorou assim que ouviu seu nome ser citado.

"-Sasuke, você se aproveitou da Sakura!" – arqueou uma sobrancelha. Se aproveitou?

"-..." - ele parecia irritado com algo.

"-Se nos contar logo como foi acho que podemos ir embora..."

"-Como foi o que? Vocês acham mesmo que eu ia levar uma garota estúpida pra minha cama só porque três idiotas..."

"-Dois!" – protestou Naruto.

"-Cale a boca, dobe! Eu jamais faria qualquer coisa com aquela ridícula que vocês insistem em empurrar pra mim. Eu não tenho nada a ver com ela, aliás, eu não quero ter nada a ver com ela."

Sakura não soube dizer exatamente quais foram as palavras que a machucaram mais... E nem qual foi a força ou a vontade que a fez se mover de onde estava e finalmente entrar naquela cozinha.

Um silêncio incômodo pairou ali no exato instante em que a figura da garota de cabelos cor-de-rosa surgiu na porta. Ela não disse absolutamente uma palavra, apenas caminhou alguns passos e parou em frente à Sasuke, os olhos verdes marejados.

"-Sak-" – a voz dele foi cortada por um estrondoso tapa. E talvez ele realmente o tivesse merecido... Mas ainda assim, nunca em sua vida havia tomado um tapa daqueles de mulher alguma.

Naruto olhou atentamente dela para Sasuke e depois para a porta por onde ela havia acabado de passar, não pensando duas vezes antes de seguí-la sem dizer absolutamente nada para o resto dos amigos.

Jiraya riu baixinho, meneando a cabeça negativamente.

"-Foi merecido." – comentou, dando as costas para o Uchiha e fazendo o mesmo que Naruto.

O garoto de olhos escuros continuava estático onde estava, piscando vez ou outra enquanto provavelmente tentava entender o que havia acabado de acontecer ali.

"-Às vezes me pergunto se Naruto é mesmo o idiota do grupo." – Kakashi desencostou-se da mesa onde estava apoiado. – "...Sabe, na verdade tenho certeza de que esse cargo é todo seu, Sasuke. Por mais que estivéssemos brincando... Se sabia que ela estava aqui, coisa que você com certeza sabia..." – fez uma pequena pausa – "-Não se faz isso com uma mulher. Nunca." – completou, também saindo dali e o deixando completamente sozinho.

Sozinho e atordoado, perdindo em um milhão de pensamentos que pensou que jamais teria na vida.