Afastei uma lágrima teimosa do meu rosto. A Sra. O’Leary estava ao meu lado, respirando com a língua para fora, como se estivéssemos brincando. Enterramos Peter no mesmo lugar em que ele havia caído. Não desenhamos uma cruz sobre a terra negra; desenhamos um raio, que deve representar bem o seu pai. Escrevemos seu nome, algumas homenagens e desenhamos um tridente e um martelo. Então resolvemos ficar alguns instantes em silêncio, e a cadela infernal acordou, veio trotando até o nosso lado e sentou, esperando que começássemos a brincar.

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– Vamos embora – disse Erich. – Deixem espaço para ele fazer a sua transição.

– Ele está certo – falou Nico. – vamos sair daqui.

Quando chegamos ao pavilhão de julgamentos (que ficava a dez passos de distância), vimos uma alma posicionar-se à frente de três jurados. Era Peter. Ficamos ali para ouvir seu destino.

– Não teve grandes feitos durante sua vida – dizia o juiz que estava na ponta esquerda – mas, em seus últimos momentos de vida, foi herói. Deu sua vida, embora não tenha sido por espontânea vontade, para salvar seus amigos.

– Devemos sentenciá-lo aos Campos de Asfódelos – resmungou o juiz da direita. – Quero ir logo para casa.

– Eu acho – disse o juiz do meio – que ele deveria ir para o Elíseo.

– E eu acho que você é muito molenga para um juiz – disse o da direita. – Cada herói que aparece por aqui você quer mandar para o Elíseo.

– E de cada cem heróis que por aqui passam, é raro você me deixar mandar um para o Elíseo. Deixe de ser tão chato, pelo amor de Hades! – o juiz do meio se zangou.

– Tenho que concordar com ele desta vez. – comentou o juiz da esquerda.

Os três trocaram olhares fulminantes por um tempo.

– Tá – cedeu o juiz da direita. – Façam o que quiserem. Mas a papelada para o Elíseo é maior.

– Você vai para o Elíseo, garoto. Aproveite sua estadia lá. Se quiser, pode tentar renascer qualquer dia desses. – disse o juiz do meio, completando o julgamento.

Uma pequena pilha de folhas apareceu no colo de cada juiz, junto com uma caneta de bronze. Eles começaram a preencher o necessário e assinaram, fazendo as folhas desaparecerem.

Procurei Peter pela sala, e vi que ele já estava longe. Chegou aos portões que os separavam do Elíseo e parou. Virou-se para nós e vi suas órbitas vazias brilharem, como aconteceu com Erich. Então ele abriu os pesados portões e entrou, fechando as grades atrás de si. E essa foi a última vez que eu vi Peter.

– Stef – chamou Haley – Acho que devemos ir antes que Hades chegue.

Como se fosse uma deixa, Hades chegou.

– Muito bem, semideuses! Recuperaram aquele pedaço de papal sagrado. Agora, me entreguem.

– Tá louco? – perguntou Charlie.

– Como? – perguntou Hades.

– Acha mesmo que vamos entregar o pergaminho para você e sair de mãos vazias daqui? Depois de tudo o que passamos? Depois de perdermos Peter?

– Acho – disse o deus.

– Pai, deixa isso pra lá. – pediu Nico.

– Não, Nico. Não vou deixar isso pra lá. Já deixei muitas vezes. – Hades conteve sua raiva. – Me entreguem o pergaminho nesse instante e vou deixá-los partir.

– Quer o pergaminho? Vem pegar, então – eu disse.

O deus riu. Foi a única vez que eu vi Hades rindo.

– Não me desafie, garota. Sabe que eu posso matá-la em um piscar de olhos.

– Não vai conseguir tão fácil. Vai ter que passar por todos nós antes de conseguir o pergaminho – disse Haley.

– Ah, vou conseguir isso bem fácil. Posso matar todos vocês sem sair do lugar. Sabem disso.

– Você quer uma alma? – perguntou Erich. – Leve-me, então. Em troca, deixe-os partir.

– Uma boa oferta – disse Hades, depois de pensar um tempo. – Você será muito útil para mim, Bristow. Eu aceito.

– Não, Erich! – tentei impedir.

– Stefanie – disse Erich – nós dois sabemos que eu não vou ser útil pra você lá em cima. Fiz minha parte aqui, mas aqui devo ficar. Devo receber meu segundo julgamento e ser convocado por Hades novamente, mas vou aceitar. É o que eu gosto de fazer, afinal de contas. Eu acho isso melhor do que passar a eternidade no Elíseo. Pelo menos sei que os ajudei a sair daqui, assim como Peter, embora não sendo do jeito que vocês queriam.

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Erich virou-se para Hades.

– Jure pelo Estige que vai deixá-los em paz.

– Juro – respondeu Hades. – Se forem embora rápido, não os farei mal.

E desapareceu, junto com Erich. Eu gostaria de assistir seu julgamento, mas não havia mais tempo para isso.

– Então – chamou Nico – precisam de um guia até lá em cima?

– Seria bom – respondi, distraída.

– Mas estamos meio sem tempo – lembrou Charlie.

– Ah, claro. Vocês podem viajar nas sombras, se quiserem – falou Nico. – Estão com a Sra. O’Leary, e ela vai conseguir transportar vocês três até o acampamento sem problemas. Já viajaram nas sombras alguma vez?

– Sim, e nem me lembre disso – Haley pediu. – Fico enjoada só de lembrar.

– Bom, então é o seguinte – Nico dirigiu-se à mim e Charlie – Agarrem-se à cadela com todas as suas forças. Se caírem, vão ficar perdidos na escuridão. Nenhum pedaço de vocês vai se descolar, embora a sensação seja parecida, então não tentem verificar se seus membros estão no lugar. É o máximo que posso fazer por vocês. Subam na cadela, vou dizer a ela aonde ir.

Assentimos. Mesmo sendo enorme, quase faltou espaço nas costas da Sra. O’Leary para nós três. Haley foi à frente, sentando antes da coleira da cadela infernal, e segurando com força em seus pelos. Eu fui logo atrás, segurando nos elos da coleira, e Charlie por último. Como seus braços eram longos e eu era pequena, ele conseguia passar os braços ao meu redor e segurar a coleira também. Quando estávamos prontos, Nico deu um tapinha na pata da Sra. O’Leary e ela jogou-se em uma parede, num canto que ficava escuro. Então viajamos.

Não tinha nada mais emocionante do que aquilo. Adrenalina corria pelas minhas veias, meus cabelos voavam e um grito de emoção perdeu-se em minha garganta, tamanha era a velocidade. Quando paramos, estávamos no lado de fora do acampamento, bem próximos ao pinheiro de Thalia. Haley colocou a mão sobre a boca e correu para dentro do acampamento. A cadela infernal desabou e começou a roncar, enquanto Charlie sentou-se no chão com a cabeça entre os joelhos, esperando que o enjoo passasse. Meu olhar foi atraído por alguma coisa branca que se movia perto de algumas plantas com espinhos. Ouvi um relincho.

Me ajuda, me ajuda! Socorro! Alguém aí? – outro relincho.

Corri na direção do barulho e encontrei um Pégaso branco, com olhos verdes como os meus. Suas asas estavam enroscadas nos espinhos, e manchadas com seu sangue. Ele relinchou outra vez.

Isso machuca, me tira daqui!

– Tá, fica calmo. Vou cortar isso com a minha espada, não se mexa.

Quando ele se aquietou, joguei meu anel para cima e peguei minha espada. Cortei alguns galhos e os removi com cuidado das asas do pégaso.

– Qual é o seu nome? – perguntei.

Não tenho nome. Sou um Pégaso não domado.

Tirei os últimos espinhos de suas asas.

– O que eu posso passar nesses machucados?

Eu devia saber? Não sou médico.

– Achei que soubesse. Vem, vamos ao acampamento. Quíron vai saber melhor o que fazer com você.

Ele tentou protestar, mas me seguiu assim que eu comecei a andar. Busquei Charlie, que ainda estava meio tonto, e acordei a Sra. O’Leary, que veio atrás de nós com a língua pra fora. Quando passamos pelo pinheiro, vi Percy correr em nossa direção.

– Stef! – ele me abraçou – Eu disse que nada ia acontecer. Já devolveu o pergaminho?

– Na verdade, passei aqui antes, estou indo ao Olimpo agora – respondi.

– Preciso ir junto? – Charlie perguntou.

– Não – dissemos e Percy, ao mesmo tempo.

– Se você está se sentindo mal, fica aqui – respondi.

Percy me olhou.

– Viagem nas sombras?

Assenti. Ele reprimiu um sorriso.

– Sei como é, também fiquei assim na primeira viagem.

– Acho que eu sou a única que gostou de viajar nas sombras – comentei.

Percy mostrou a língua. Nesse momento ele se deu conta da presença do Pégaso e da Sra. O’Leary. Abriu um sorriso e jogou-se em cima da cadela.

– Garota, quanto tempo! Stef, como você...

– Ela estava sob algum encanto ou algo desse tipo, guardando o pergaminho de Apolo no Mundo Inferior.

Contei os detalhes a ele, que prestava atenção em tudo. Charlie de vez em quando acrescentava alguma coisa que eu esquecia, até relatarmos tudo. Deixamos Peter de fora da história.

– Mas... esse tipo de encantamento só pode ser desfeito matando quem está sob efeito... ou sacrificando alguém. Quem... Haley? – perguntou ele.

– Temos que queimar uma mortalha para o filho de Zeus – disse Charlie. – Peter nos ajudou muito na missão.

Percy assentiu.

– Vou falar com Quíron sobre isso. Vamos à Casa Grande, aí já resolvemos o problema de todo mundo. A mortalha, seu mal estar – apontou para Charlie – e as asas do seu Pégaso.

No caminho, alguns campistas passaram voando por nós em seus Pégasos, provavelmente na aula de equitação. Acenei para Blackjack e senti o Pégaso-sem-nome suspirar atrás de mim.

– O que foi? – perguntei.

– O que foi o que? – perguntou Charlie.

Nada. É que... deve ser legal isso.

Voar com os campistas? – perguntei.

É. Na verdade, ter um dono, sabe? Não contar com a sorte pra conseguir comida. Você tem noção de quanto é difícil conseguir açúcar? – ele parecia indignado.

– Mas você parece saudável – Percy comentou.

Mais um filho do mar? – ele bufou – É, um caminhão que carregava legumes tombou esses dias. Aproximei-me e comi alguns enquanto o pessoal estava distraído. Na verdade, comi muito. Mesmo que eu não goste.

Se quiser, eu posso ficar com você – arrisquei.

Você faria isso? – ele pareceu surpreso.

– Claro que sim. Deve ser legal ter um Pégaso – falei.

E qual seria o meu nome? Por favor, se você me chamar de Branca de Neve eu saio voando daqui e você nunca mais vai me ver.

Tá bom, Snow – disse.

Snow?

Não gostou?

Gostei. Snow está ótimo.

Sorri. Chegamos à Casa Grande e falamos com Quíron. Ele passou uma pasta prateada nos cortes de Snow, deu um remédio para Charlie e providenciou que a mortalha fosse feita. A cerimônia seria feita no final da tarde, quando eu voltasse do Olimpo. Ele sugeriu que eu dormisse por uma ou duas horas no chalé e partisse com Snow. Mas o Pégaso me confidenciou que se eu lhe desse um pedaço pequeno de ambrosia, ele estaria pronto para partir.

Fui até o chalé, tomei banho e troquei de roupa. Peguei um pedacinho de ambrosia e estava saindo quando meu irmão chegou.

– Eu sabia que você não ia dormir – disse Percy.

– É que eu não vou conseguir descansar antes de entregar esse pergaminho. Vou dar um pedaço de ambrosia pro Snow e estamos partindo.

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– Quer companhia? Estou sozinho, e Blackjack está cansado de ficar aqui. Ele não deixa ninguém além de mim montar, e confesso que tenho faltado às aulas de equitação – ele disse.

– Tudo bem. Os estábulos ficam muito longe? – perguntei.

– Não, mas não precisa se preocupar. Ele fica de guarda do lado de fora durante o dia. Só pra encher o saco mesmo.

Ei! – Blackjack reclamou.

– Coitado, Percy! Ele merece atenção também.

Concordo plenamente. Gostei dela, chefe.

Ele riu. Pegou um relógio na mesinha ao lado da fonte e ajeitou no pulso.

– Vamos? – chamou ele.

Assenti. Caminhamos até o pinheiro de Thalia, onde os Pégasos nos esperavam. Dei ambrosia para Snow, e Blackjack ganhou um cubinho de açúcar. Montamos e os Pégasos começaram a voar, quase me derrubando. Consegui me ajeitar e partimos em direção ao Olimpo.

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N.A.: leiam as notas iniciais E as notas finais. por favor. e comentem, se tiverem conta. isso me deixa feliz :3