Aquele lugar era de deixar qualquer um com os olhos brilhando. Era o paraíso. Quando cheguei no balcão para comprar o cartão, fui tratada muito bem.

– Boa tarde! Você veio para aproveitar o nosso maravilhoso mundo de diversão?

Me conti para não responder um “não, vim comprar uma canoa”.

– Sim...

– Ótimo! Primeira vez como cliente ou já conhece nossos serviços?

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– Primeira vez – respondi. Que cara alegre.

– Esplêndido! – disse – Você tem sorte! Estamos com uma promoção especial para clientes novos. É uma espécie de test drive, você ganha três cartões com 300 dólares em cada um para experimentar. É grátis!

Eu deveria desconfiar de tanta alegria e tantos presentes, mas não conseguia raciocinar. Mal podia esperar para me divertir em todos aqueles brinquedos. Eram tantas opções...

Encontrei Charlie e Haley em uma sessão de brinquedos radicais e entreguei um cartão a cada um deles.

– Escutem-me antes de saírem correndo! Os cartões estão carregados e vocês podem gastar no que quiserem, desde que não saiam do parque. E não vão carregar mais, acabou, acabou.

Eles assentiram, entregaram-me suas mochilas e saíram correndo. Crianças. Revirei os olhos e dirigi-me a uma parede onde tinham armários. Mas não tinham chaves, teclados ou leitores de cartão. Como Hades faço para abrir essa droga? Até que depois de cinco minutos tentando abrir um armário, dei um tapa na porta, frustrada, e a porta abriu. Impressão digital, como não pensei nisso antes? Coloquei nossas mochilas lá dentro e fechei, memorizando o número “15”, número do armário. Virei-me aos brinquedos. Tudo parecia maior, mais chamativo, mais convidativo. Andei lentamente por entre os brinquedos procurando algum que me agradasse mais. Vi uma plaquinha vermelha com pisca-pisca azul e me aproximei para ver o que era. A placa dizia:

“Venha experimentar o melhor brinquedo do parque! Pule de bungee jumping por apenas 15 dolares!”

Aquilo fez meus olhos brilharem. Repentinamente, saltar de bungee jumping tornou-se meu sonho. Empurrei a portinha que estava ao lado da placa e subi a interminável escada. Quando cheguei ao topo da torre, passei meu cartão para destravar a porta , girei a maçaneta e caí.

Sem capacete. Sem o elástico nos pés. Sem orientação. Sem nada. O chão não estava visível. O medo me dominava. Toda a minha vida passava diante dos meus olhos, embora isso fosse muito clichê. Escutava sussurros, não via a luz, tudo se tornou imensamente escuro. Uma risada maligna ecoou naquele abismo. Como faca raspando em pedra. Então, uma luz começou a brilhar. Uma luz inicialmente branca, pálida e inofensiva. Que depois foi ficando mais forte. Um pouco amarela, dourada. Então mudou para verde. A luminosidade estava ficando desconfortável. Eu queria fechar os olhos, mas não conseguia. Queria gritar de dor, mas não conseguia. Estava paralisada. Sem ação. Aquela era uma aura de poder muito forte. A aura de poder do meu próprio pai. Meu pai estava me matando. Eu nunca havia me encontrado com ele; e agora ele estava prestes a acabar com minha vida.

Uma lágrima escorreu dos meus olhos, percorreu minha bochecha e parou rapidamente em meu queixo, só para depois cair em direção ao interminável abismo.

Senti minha alma se esvaindo de meu corpo, e este afundando em direção ao fundo do poço.