Slide Away

Capítulo XXIV


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- Minha menininha! – exclamou papai jogando os braços para o alto. Suas orelhas e bochechas estavam tão vermelhas que em algum momento eu me perguntei se elas não estariam queimando – Meu bebezinho!

Em outras circunstâncias, obviamente eu bateria o pé do no chão, cruzaria os braços e protestaria contra a atitude de meu pai por sempre me tratar com uma criança, como se fosse difícil de mais para ele entender que eu cresci. Mas eu mal conseguia encará-lo depois de tudo que ocorrera, então como eu conseguiria contestá-lo?

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- O que você estava pensando, Malfoy? – berrou pai, fechando as mãos em punho – Que a levaria para longe de tudo, que a tiraria de mim? Quem você pensa que é para achar que faria isso com minha filha? Quem você pensa que é para achar que merece estar com minha filha?

- Sua filha não é nenhuma santa, Weasley – protestou o senhor Malfoy se levantando do lado de Scorpius, que fitava papai sem nenhuma emoção em seus olhos ou feições. Uma coisa tinha de ser admitida, Scorpius era corajoso de encarar papai depois de tudo isso e ainda demonstrar extrema frieza diante da situação – Não deixarei você falar dessa maneira com meu filho, não em minha presença. E controle seu tom, ninguém aqui tem qualquer problema de audição para que você se esforce tanto em ser ouvido, e Weasley... – o senhor Malfoy passou o punho pelo rosto –... Você fala cuspindo.

Papai grunhiu, e de repente ele não estava mais vermelho, e sim roxo. Eu apenas agradecia por sua varinha ou qualquer outra se fazer visível nesse momento.

- É claro que tinha de ser seu filho, é claro que ele não nega a raça – rebateu papai. Eu conseguia ver suas mãos tremerem e imaginava quanto tempo papai se seguraria antes de socar Scorpius ou o senhor Malfoy – A vida de alguém poderia estar em risco!

Papai era o rei do exagero, e se alguém ainda tinha qualquer dúvida nesse momento ela desaparecera.

- Parem vocês dois! – exclamou mamãe em tom autoritário – Esses dois adolescentes sabem se portar melhor que vocês.

Papai olhou de Draco Malfoy para mamãe, como se escolhesse qual enfrentaria primeiro, por fim pareceu desistir e se jogou na poltrona de vovô Weasley.

- Então você resolva isso, Hermione – falou ele com uma repentina calma em seu tom.

Mamãe esbugalhou os olhos, surpresa pela responsabilidade ter sida jogada sobre suas costas. Astoria Malfoy andou até o lado do marido e entrelaçou seu braço no de Draco Malfoy, aguardando com expectativa o que mamãe faria a seguir.

- Não tem o que resolver – para a surpresa geral quem falou foi Scorpius, a voz fria e mórbida, como se ele já estivesse encerrando o assunto – Não enquanto vocês não souberem admitir a verdade e lidar com ela.

- Já lidamos com isso – quem respondeu foi Astoria, seus olhos brilhavam e a voz falhava ao se direcionar ao filho – Compreendemos que como pais, nós erramos em esconder as antigas relações que tivemos de vocês... Mas agora vocês dois sabe, todos sabem...

- Por favor, mãe! – exclamou Scorpius levantando – Isso é o de menos, e de todos vocês, você é a quem menos tem de explicar qualquer coisa que seja, talvez apenas o fato de como você consegue se manter calma na presença da mulher que meu pai realmente amou ou explicar como consegue amá-lo depois de tudo que ele lhe fez, quero dizer, você estava grávida de mim quando ele ainda dormiu com ela, não é? – Scorpius apontou para minha mãe.

Então eu percebi que aquele não era Scorpius. Não o meu Scorpius. Talvez o Scorpius Hyperion que ele outrora fora, mas que ele começara a reprimir desde que nos aproximamos, pois querendo ou não nessa relação ele mudou, eu mudei.

- Hyperion – falou Draco Malfoy em tom brando – Não permitirei qualquer desacato vindo de você nessa sala.

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- Mas você mesma a desacatou, a desonrou fazendo o que fez! Tanto minha mãe quanto a mãe de Rose! – acusou Scorpius.

- Scorpius – chamou Astoria com a voz tremula – Não vamos complicar mais as coisas filho, vamos primeiro tentar resolver isso.

- Resolver o que? – perguntou ele frustrado se jogando novamente na cadeira ao lado da mãe.

- Talvez o fato de você ter fugido de seu colégio pela segunda vez e tentando fugir com a garota Weasley – supôs Draco.

- É Rose o nome dela – falou Scorpius – E fugirei novamente no momento em que você me mandar para lá.

- Repita isso, Hyperion – ordenou Draco mais sério, se possível.

- Isso tudo começou no momento em que você resolveu me tirar de Hogwarts. Comece resolvendo por aí.

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- Isso foi para o bem de vocês dois – quem falou foi mamãe, para surpresa geral. Ela mesma parecia surpresa por ter falado.

- Isso foi o oposto de qualquer coisa boa que vocês poderiam querer fazer para nós – sussurrei.

- Não... Não tem perdão o que fizemos... – balbuciou mamãe. A declaração me pegou de surpresa.

- Mudá-lo de escola? – perguntei de forma quase inteligível, mas minha mente gritava “o que vocês fizeram?”. Eu conseguia sentir as unhas perfurarem a palma da mão, tamanha era força com as quais eu a pressionava.

- Desculpe – pediu mamãe – Nós fizemos por que...

- Não acreditamos na possibilidade de vocês se envolverem – completou o senhor Malfoy com uma frieza incrível, como se aquilo não significasse tanto para ele, apenas um de seus vários negócios mal resolvidos com qualquer cliente. Era possível ver de onde Scorpius herdara tal habilidade em se manter tão neutro em qualquer situação.

- Nós fizemos isso por que foi a única maneira que encontramos de nossos conjugues nos perdoassem – falou mamãe como se não houvesse sido interrompida pelo senhor Malfoy.

- O perdão deles custou tão caro – murmurou Scorpius fitando o pai – O que vai custar para que nós perdoemos vocês?

- Espera aí... – dei alguns passos incertos à frente e demarquei bem cada rosto em meu campo de visão – Então você também sabe do que eles estão falando? Todos vocês sabem do que se trata e ninguém pode simplesmente me falar o que diabo vocês estão escondendo?

- Rose – falou papai soltando um pesado suspiro – Sua mãe e Draco se envolveram... – papai parou por um minuto e pressionou as pálpebras como se isso fosse um assunto difícil de mais para ele tratar.

­ - Desculpe pai, mas eu acho que isso está claro para todos – falei sentindo minhas mãos começarem a tremer, sentindo minha mente pedindo para que parasse, avisando que seria melhor não continuar.

- Eu tinha que ter certeza... Certeza de que ela não o amava, certeza de que eu poderia confiar, perdoar e... – papai balançou a cabeça –... e sua mãe estava disposta a provar isso de qualquer maneira.

- Assim como Draco – murmurou Astoria colocando a mão de forma protetora no ombro do filho.

- Fizemos um pacto de sangue – falou mamãe por fim – Um pacto onde juramos sobre o voto perpétuo que nunca mais nos envolveríamos e que estávamos realmente arrependidos de ter feito isso alguma vez. Um pacto onde tiramos nosso sangue e sobre qualquer feitiço muito antigo juramos que nunca deixaríamos qualquer sangue nosso se envolver novamente.

Todos me olhavam. Mamãe e papai, Draco e Astoria, Scorpius... Esperavam minha reação, tentei absorver o que acabara de ouvir, mas a informação recebida não conseguia ser decodificada por meu cérebro, como se ainda faltasse alguma senha de acesso para que eu pudesse entender o conteúdo.

Balancei a cabeça.

­- Eu não entendo – falei frustrada – Por que isso impede que eu e Scorpius tenhamos algo?

- Rose... – Scorpius se levantou e andou até mim, pegou minhas mãos fechadas em punho e abriu-as com as suas e fitou-as – Somos sangue do sangue dos nossos pais. No pacto juraram não se envolver nem deixar qualquer fruto do sangue deles se envolver, isso quer dizer... – ele parou um minuto, e depois num pigarro ele terminou – ...Quer dizer nós.

Scorpius levantou seus olhos acinzentados para mim, e pela primeira vez desde que entramos naquele escritório eu pude ver o garoto da noite passada que desejava mais do que tudo fugir ao meu lado. Agora ele apenas parecia muito chateado por isso não ter dado certo.

- Pode se quebrar um pacto – sussurrei olhando Scorpius, esquecendo que nossos pais nos observavam.

- Se você for tão inteligente quanto sua mãe, vai saber me dizer o que a quebra de qualquer pacto de sangue sobre a magia envolve como conseqüência – falou Draco Malfoy a minhas costas.

Então todas as peças do quebra cabeça se encaixaram em meu cérebro.

Fechei meus olhos desejando que tudo desaparecesse, e na escuridão em que me submeti pude ouvir minha citando o quarto parágrafo da página quinhentos e trinta dois do livro de feitiços, número seis:

- “Um pacto de sangue é jurado sobre a garantia da vida dos envolvidos. Quebre-o e os indivíduos pagarão com a própria vida.”