Slide Away

Capítulo XIX


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- Aí Merlin – choramingou Dominique enfrente ao espelho, ambas as mãos pousadas ao ventre – Quase da para notar – balbuciou ela se virando de perfil com o camisete de uniforme desabotoado.

- Na verdade, da para notar – rebateu Louis, irmão mais novo de Dominique. Ele estava sentado aos pés de sua cama, com as mãos sobre os joelhos e uma carranca na cara.

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- O que eu faço Rose? – perguntou Dominique com um que de desespero na voz – Céus, me ajudem.

- Conte ao Teddy – respondi – É o que você devia ter feito há muito tempo.

- Não! – exclamaram Louis e Dominique em uníssono.

Um olhou para outro de soslaio por um momento.

- Ele se casa em menos de dois meses, Dominique já estragou a vida dela, ela não é obrigada estragar a de minha irmã – respondeu Louis se referindo a Victoire, ele se levantava da cama e andava até Domi, e embora fosse dois anos mais novo, já era maior do que ela – Não acredito que você está grávida dele...

- Eu sou sua irmã também – interrompeu Domi abotoando sua blusa – Que raios Louis, você parece nem se importar.

- E você se importou quando estava traindo minha irmã? – perguntou ele enfatizando a palavra “minha”.

- Nossa irmã! – exclamou Dominique o corrigindo.

- Não acho que Vic seja sua irmã, afinal irmãos não traem um ao outro!

- E o que você está fazendo comigo nesse exato momento, Louis? Me diga, o que? – perguntou ela com a voz um tom mais alta, falhando no meio da frase. Louis ficou fitando Dominique, em silêncio balançou a cabeça e voltou a se sentar onde estava.

Alguns segundos se arrastarem em silêncio quando nenhum conseguiu pronunciar mais nada. Dominique parecia estar mais frágil do que sempre fora, e eu estava com medo de olhá-la temendo que ela começasse a chorar, Louis parecia prestes a explodir todo o quarto e eu tentava, mas não conseguia entender por que aquilo o abalava tanto. Ele seria a última pessoa a quem Dominique iria querer contar antes de admitir a si mesma que aquilo realmente estava acontecendo, mas o garoto não era nada bobo e antes mesmo de mim, ele conseguira ligar todas as peças e formar o quebra-cabeça.

- Olha... – comecei – Logo já não dará pra esconder Domi, você tem que contar a Teddy agora para tomarem uma providência...

- Eu tentei! – exclamou Domi jogando os braços para cima – Você não me deixou!

- Eu não estava falando dessa providência – respondi.

- Do que estão falando? – perguntou Louis adquirindo uma nova postura.

- Não se mete – ralhou Dominique.

- Ela queria abortar – falei para Louis.

Por um segundo imaginei Louis dizendo algo do tipo: “E você não permitiu? Vamos nos juntar e matar a Rose irmãzinha, e depois eu te ajudo se quiser, e daremos um fim nesse bebe”, mas Louis se levantou abruptamente, todo o sangue desaparecera de suas bochechas e ele parecia estar lívido.

- Você queria o que? – perguntou para irmã com os olhos esbugalhados – Você é louca Domi? Você teria coragem? Não acredito... – ele balançou a cabeça.

Dominique parecia um tanto pasma por ouvir o irmão dizendo isso a ela, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa à porta do dormitório de Louis se abriu.

- Hey – cumprimentou Hugo, desconfortável colocando apenas a cabeça dentro do quarto – Está tudo bem aqui? Ouvi... – ele pareceu parar para pensar um minuto na palavra certa – Vozes – disse por fim.

Talvez meu irmão estivesse com medo de destruirmos o quarto que ele dividia com Louis e viera ver se precisávamos de seu socorro.

- Está tudo bem – respondi sorrindo.

Ele assentiu.

- Rose, mamãe quer falar com você.

Ou talvez ele quisesse me dizer que minha mãe queria falar comigo.

Instantaneamente senti algo formigar dentro de mim. Era para eu ter conversando com minha mãe há alguns dias, através da lareira, mas me perdi falando com Scorpius e desde então venho fugindo de todas as ligações de flu que minha mãe me fazia, ou me recusando a ler todas as cartas que chegavam dela a cada manhã pelo correio coruja.

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- Diga a ela que estou meio ocupada agora Hugo, mais tarde eu falo com ela pela lareira – falei por fim.

Hugo balançou a cabeça.

- Ela está aqui, em Hogwarts, no gabinete da diretora – Hugo me lançou um sorriso de desculpa, como se fosse sua culpa nossa mãe está na escola. Na verdade a maioria das vezes que ela aparecia em Hogwarts era por culpa do Hugo, reuniões pessoais com a diretora sobre seu comportamento, mas desde que James finalizou seus estudos em Hogwarts, Hugo quase não aprontava mais e mamãe já não aparecia com tanta freqüência na escola.

Soltei um suspiro.

- Tudo bem.


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Quando saí do quarto não demorou pra que eu conseguisse ouvir os berros de Dominique e Louis, suspeitava que se ambos continuassem naquele tom logo toda Hogwarts seus arredores iriam descobrir o que Dominique tanto quer esconder do mundo.

Eu queria que os minutos se arrastassem, talvez quando eu chegasse à diretoria mamãe já estivesse cansada de esperar e fosse embora, contei os passos vagarosamente, demorando o máximo que podia para dar cada um, mas quando me dei por mim eu estava com o punho levantado para bater na enorme porta entalhada a madeira que se escondia atrás da gárgula no sétimo andar.

Respirei fundo, uma, duas, três vezes e bati na porta.

Instantaneamente ela se abriu.

A luz do pôr-do-sol semi iluminava a sala de forma tênue, e por um segundo achei que ela estava deserta, mas logo vi a conhecida cabeleira castanha amarrada em um coque próxima da enorme prateleira na ala oeste do gabinete.

Pigarreei.

Mamãe olhou para mim e piscou algumas vezes como se saísse de um transe, por um segundo olhou novamente para a prateleira e vi o chapéu-seletor se mexendo ao canto. Estariam conversando?

- Minerva fez o favor de nos deixar a sós para conversar – contou mamãe se virando para mim novamente – Olá, Rose.

- Oi – respondi incerta, mamãe andou e se sentou em uma das duas poltronas que havia de frente a escrivaninha de Minerva, obrigatoriamente andei e sentei até a outra.

Mamãe soltou um pesado suspiro e balançou a cabeça.

- Você saiu furtivamente da escola para se encontrar com um garoto, com Scorpius Malfoy – mamãe parou e olhou diretamente para mim – Rose desde quando isso é de seu feitio? E nem responde minhas cartas, não me atende... Rose, o que está acontecendo?

A voz de Scorpius se materializou como uma musica em minha mente: “Você os enfrentaria?”

- Eu que lhe pergunto, mãe – Mamãe piscou como se não entendesse – O que está acontecendo? Por que está se juntando novamente com o senhor Malfoy para me separar de Scorpius? Porque simplesmente não aceita que temos um relacionamento?

- Novamente? – salientou mamãe.

- Sim – respondi firme – Eu descobri o seu diário, mãe. No final do verão eu o descobri.

Mamãe pareceu que iria falar algo, mas quando abriu a boca na saiu.

- Eu nunca te julguei mãe, por nada que li lá, até senti um orgulho danado ao ver todas as coisas que você fez e tudo que sacrificou quando jovem, até entendi porque você e o papai nunca quiseram contar detalhes a mim e a Hugo de como foi participar das batalhas... – parei um pouco – E até entendi porque nunca quis contar sobre o que houve entre você e Draco, mas agora... – balancei a cabeça – Agora fico pensando por que você não contou, e se isso tem haver o fato de você odiar a ideia de eu gostar de Scorpius e tenho medo de saber o porquê e começo a te julgar sem querer... – e minha voz travou.

Eu fitava minhas mãos sobre o colo enquanto falava, mas podia sentir os olhos de minha mãe sobre mim, queria olhar em seus olhos e tentar ver o que ela estava sentindo, mas os segundos se estenderam e ela continuou sem falar nada.

- Eu não sabia – disse ela simplesmente. Queria perguntar se não sabia que eu encontrei seu diário, se ela não sabia que eu a julgava, ou se ela não sabia o quanto eu me sentia em relação a isso.

- Foi isso que nos aproximou... Scorpius e eu, quero dizer. Draco também tinha um diário.

Mamãe se mexeu desconfortavelmente na cadeira, e levantei os olhos para ela, ela parecia não saber do diário de Draco.

- E então Scorpius leu a ultima página, e me proibiu de ler mais sobre o seu diário, por semanas queria saber o que ele havia lido, e bom, foi sobre o dia do seu casamento, algo que Draco escreveu sobre ele ter ido e você... – mamãe me interrompeu levantando o indicador.

- Não, Rose – pediu mamãe quase de forma inteligível – Não conte essa parte.

- Mas estava escrito que...

- Eu sei o que estava escrito – falou ela me interrompendo novamente.

- Eu não entendo – respondi.

Mamãe se virou até ficar de frente a mim.

- Não é algo que eu me orgulhe, filha – contou ela – É como se... – ela parecia estar procurando as palavras certas – Quando se é jovem, você faz tudo o que acha que deve fazer sem medir as consequências, e no momento em que me aproximei de Draco foi um momento em que nada faria diferença, porque quando se está em guerra às pessoas se esquecem de pequenas coisas, para ligar para outras mais importantes. Seu pai, ele estava namorando outra garota, seu tio Harry estava namorando sua tia Gina e preocupado de mais com a guerra, e eu era apenas uma nascida trouxa preocupada com a segurança da família, dos amigos... E em meio a isso tudo surgiu à carência, essa era uma das pequenas coisas que se desprezam na guerra, mas afinal quem ligaria se você estava carente enquanto dezenas morriam todos os dias? Mas era porque as pessoas que ligavam para mim, Ron e Harry, já não ligavam e Draco começou a se importar e me deixei levar... Foi um erro, me arrependi tanto que pago por esse erro até hoje.

Eu queria perguntar o que ela queria dizer com sua ultima frase, mas o que saiu foi:

- Já não havia guerra quando você foi se casar.

Mamãe assentiu.

- Draco não esqueceu depois que tudo passou, e queria me fazer mudar de ideia no dia de meu casamento. Mas ele não me amava filha, estava apenas revoltado com si mesmo por ter perdido tudo na guerra, e até por ter perdido um pequeno romance pro seu pai, por que eles sempre se desgostaram. Acho que por fim ele conseguiu entender que não me amava, apenas não queria perder a posse de algo que achava que tinha. Mas não me entreguei a ele no dia do meu casamento, não da forma como pensa – explicou ela.

- E você o amava?

- Eu me importava com ele, o que é diferente, filha... Eu sempre amei Ronald, desde que o conhecera, eu queria Draco em determinado momento de minha vida para ver se conseguia tapar o buraco que seu pai havia deixado em mim, mas eu apenas consegui fazer com que o buraco ficasse mais fundo.

- E o papai, ele sabe disso?

Mamãe me olhou com pesar e assentiu.

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- Ele me perdoou por fim, e eu o amo mais por isso, mas... – ela balançou a cabeça – Mas ainda assim não quero que você fique se encontrando com Scorpius Malfoy.

Por um momento parecia que mamãe havia esquecido o que acabara de me contar e voltara do inicio de onde desviamos o assunto.

- Mas depois do que você acabou de dizer... Mãe isso não faz sentido!

- E porque não?

- Porque eu pensava que você não nos queria juntos, porque achava que eu e Scorpius éramos... – a palavra que se seguia em minha mente se engasgou em minha cabeça –... irmãos – sussurrei ela.

Mamãe arregalou os olhos como se isso nunca houvesse passado por sua cabeça.

- Acho que posso entender porque você pensou isso – admitiu ela cheia de culpa.

- Então você simplesmente não quer que eu fique com a pessoa que eu amo por rixas antigas? Porque você se enganou com o pai dele? – me levantei abruptamente da poltrona.

- Você não entende filha – mamãe se levantou e esticou a mão para colocá-la no meu ombro, mas me desvencilhei dela abruptamente.

- Estou pronta para entender, fale – rebati.

- Rose, não é simples assim...

- É sim! Porque você quer complicar?

- Eu não quero! Filha, eu só quero o melhor para você, e o melhor...

- É ficar longe de Scorpius porque ele é um Malfoy?

Mamãe olhava para mim, como se esperasse que eu entendesse algo que ela não podia dizer, mas eu não via nada em seus olhos, nada que me fizesse entender.

- Então vai ser assim – falei por fim dando as costas a ela e indo até a porta do gabinete.

- Rose... – chamou ela, não me virei – Me desculpe – pude a ouvir pedindo quando a porta se fechou.

Por um segundo imaginei ter ouvido a voz do chapéu-seletor, mas não queria saber, apenas queria ir para o mais longe o possivel de minha mãe naquele momento.