Slide Away

Prólogo


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"Há segredos que são perturbadores de mais para que se possa falar, há memórias que devem ser guardadas e trancadas, há acontecimentos que não foram feitos para se lembrar. Porém um fardo sempre pesa mais quando escondido"


Trailer


O relógio despertou mais cedo que o sol aquele dia, pois acordei planejando fazer tudo que deixara de fazer durante as férias de verão. Eu tinha algumas boas horas antes que tivesse de partir para a estação de Kings Cross ao lado do meu irmão, e decidi que esse tempo deveria ser o suficiente para empacotar toda minha infância.

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Adiei aquele momento por bastante tempo, eu sabia disso, mas estava ciente de que não poderia voltar para casa no próximo verão e encontrar meu quarto abarrotado com toda aquela pelúcia que superava até mesmo o número de livros que havia por ali.

Em poucas horas empacotei praticamente tudo que não me seria mais útil, não só as pelúcias, mas também velhos brinquedos que sempre amontoaram meu quarto, mas que por serem “bonitinhos de mais”, dali nunca foram tirados.

A essa altura meus pais já estavam de pé, e meu irmão corria desesperado para fazer sua mala de última hora. O cheiro de panquecas subia para o andar de cima e senti-me tentada a descer, deixar tudo de lado e terminar o serviço no próximo verão, apenas para aproveitar as panquecas de mamãe – não se faziam panquecas como aquelas em Hogwarts.

Contudo me manteve firme, bastava subir todas as caixas para o sótão, e talvez sobrasse tempo para umas panquecas antes de ir rumo à estação. Porém eu estava errada, e mamãe já começara a me apreçar lembrando-me que eu estava sem tempo, e falando com ironia como era bom deixar tudo para última hora. Infelizmente ainda faltavam alguns meses para que eu ficasse de maior, e até lá não poderia fazer magia em casa, portanto o trabalho de subir as caixas devia ser manual.

Meu pai estava ocupado ajudando Hugo a arrumar suas bagagens com ajuda da magia – escondido da mamãe é claro, ela não gostava de usar magia em casa para que nós não perdêssemos os hábitos trouxas – neste caso tive de continuar sozinha, mas felizmente eu carregava a última caixa.

O sótão era o maior cômodo da casa, e lá viviam diversas caixas, desde velhas bugigangas da loja do tio Jorge, até os antigos pertences dos meus pais, e agora, meus antigos pertences.

– Rose! A passagem se fecha as onze! – Mamãe lembrou-me aos berros.

– Eu sei mãe, já estou descendo – Respondi com o fôlego que me restava.

Aliviada, soltei com força a ultima caixa próxima a algumas outras no chão, e como sempre podia contar com minha interminável sorte e nem me preocupar com a hora, as outras caixas amontoadas ali do lado desabaram abertas no chão.

– Oh Merlin... – choraminguei olhando meu relógio de pulso. Eu estava em cima da hora, e não poderia me dar ao luxo de arrumar todas as caixas caídas, que percebi serem da minha mãe, com fotos imóveis dos meus avôs, e velhos cadernos que usara na adolescência.

– Rose – um Rony muito vermelho e ofegante apareceu na porta do sótão – Deixa isso aí, papai termina depois – sussurrou com um grande sorriso, que se refletiu em mim.

– Obrigada pai – respondi sorridente, andando agradecida até ele.

– Mas vai deixar seu diário esparramado ali? – perguntou ele indicando com a cabeça um caderno jogado ao chão. Talvez o grande cadeado e o enorme “secreto” estampado na capa o denunciaram como diário – Nunca se deixa um diário assim Rose, sabe que até você-sabe-quem se deu mal por deixar um diário jogado – alertou-me papai com uma piscadela.

Mesmo depois de vários anos, inúmeros bruxos ainda consideravam o nome do Lorde das Trevas um tabu e se recusavam a pronunciá-lo, papai estava inserido nesse grupo.

Eu estava prestes a abrir a boca e dizer que o diário não era meu, mas as palavras se perderam em minha garganta antes que fossem pronunciadas, e o que saiu no lugar delas foi um audível: “Obrigada”.

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Saímos de casa as pressas, e senti um peso enorme nas minhas costas ao me despedir dos meus pais e entrar no Expresso de Hogwarts. Tinha certeza que esse peso não era do diário que pesava na mochila junto com meus outros livros, e sim da culpa por pegar o diário que eu tinha certeza de ter sido de minha mãe.