A Luz Das Trevas

Décimo segundo dia


Ele acordou naquele dia mais cedo do que o normal, mais disposto. Aproveitou o tempo de sobra para encher a banheira enorme que possuía no banheiro. Ficou uma hora inteira mergulhado na água morna, renovando-se. Sua cabeça descansada em um dos encostos que a banheira proporcionava e seus olhos fechados, pensando.

Pensando que tinha mais sorte do que merecia. Talvez, se o que ele sentisse não fosse um caminho sem retorno, se ela estivesse também sentindo por ele as coisas confusas e juvenis que ele sentia por ela, talvez, então, ela poderia ficar com ele.

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Ela deixou bem claro que queria o casamento, mas não que queria ficar ali. Talvez tivesse de deixá-la no Olimpo por um tempo, até decidirem o que fazer. O importante era planejar o casamento e executá-lo antes que o Mensageiro de Zeus viesse roubá-la dele.

Deixou seus devaneios de lado e se aprontou para o café da manhã. Iria adiantar seus compromissos para deixar o dia seguinte livre para os preparativos, então teria uma manhã e uma tarde bem ocupada hoje.

XxxxX

Ela dormira tão relaxada que mal notou que passara da hora do café. Suspirou e deu de ombros. Não iria se apressar, estava muito sonolenta. Perséfone apenas colocou um vestido qualquer e foi para a biblioteca.

Quase como se lesse seus pensamentos, Delta apareceu, não muito depois da deusa se acomodar em uma das mesas, com seu café da manhã. Perséfone agradeceu e alternou a leitura com a comida, até se focar totalmente nos livros.

Abandonando suas pesquisas sobre as plantas e suas resistências, Perséfone agora apenas lia sobre decorações e bolos de casamento, vestidos, moldes de festas, tudo que pudesse ajudá-la a transformar o “dia mais feliz da sua vida” em realmente o dia mais feliz de sua vida. Não precisava ser perfeito, uma cerimônia simples, apenas para selarem seus compromissos já seria o suficiente.

Mas ela já imaginava que isso não aconteceria, até porque não era apenas um casamento. Ela iria virar rainha e, por mais que não entendesse muito disso, certamente algum tipo de modificação das cerimônias tradicionais havia de ser feita. Ela teria de conversar melhor com Hades. Ou talvez Nix pudesse ajudá-la esta tarde.

É, pediria ajuda para a deusa da noite. Ela provavelmente já fora em casamentos normais e casamentos de reis, e poderia ajudar Perséfone a encontrar o tipo de cerimônia que ela queria realmente.

A deusa também não podia se esquecer de, além de fazer suas pesquisas, passar em seu campo para ver como ele estava. Claro que nada havia crescido nem morrido entre o dia anterior e o atual, e o jardim possuía um sistema de irrigação próprio, mas isso não quer dizer que ela não podia passear para lá e para cá nele.

Afinal de contas, fora o seu presente de aniversário. O melhor que ela havia ganhado em éons...

XxxxX

Ele estava tão cheio de coisas para fazer que até levara alguns pergaminhos para o almoço. Nunca gostara de trabalhar e fazer qualquer tipo de refeição ao mesmo tempo, mas estava cansado já e se parasse iria perder o foco e a motivação. Se incomodou a deusa, ela não disse nada. Hades gostava disso nela, como ela julgava as pessoas ou expressava qualquer tipo de pensamento negativo muito menos frequentemente que os outros deuses. Ela era meiga e apenas se alterava quando ficava realmente irritada. E disso ele entendia, pois já a havia irritado um bocado de vezes. Suas taças que o digam.

Pela metade do almoço ele terminou suas leituras e, quase instantaneamente, como um balão prestes a explodir, Perséfone começou a falar sobre o que havia aprendido e o que havia pensado. Hades confirmou as suspeitas dela de que a cerimônia teria de ser um pouco diferente, mas ele a assegurou que não seria nada de drástico, e nada que mudasse radicalmente o casamento. Ela perguntou se haveria uma coroação e ele disse que sim, porém hesitou.

Não havia pensado nisso, que eles não teriam tempo para coroá-la. Sabia exatamente o que fazer.

–Ah, isso... não podemos coroá-la no mesmo dia do casamento, então façamos assim. Você vai para o Olimpo e se por algum motivo incrível você ainda quiser voltar, na sua volta nós te coroamos e fica tudo... bem.

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Perséfone assentiu, satisfeita com o plano. Assim, teria tempo de discutir em casa sobre virar ou não uma rainha, por mais que ela já estivesse decidida. Era sempre bom ouvir uma segunda ou terceira opinião, de preferência de alguém não enviesado. Mas para isso ela também teria de viver em um mundo perfeito ou contar sua história para uma mortal, mas isso já havia se provado uma péssima ideia pois apenas assusta o mortal e a deixava sem resposta alguma.

O resto do almoço eles passaram falando do trabalho dele, ele explicou que ele tentaria adiantar tudo hoje para ficar livre para ela amanhã. Ela mencionou depois que poderia acabar indo para o seu jardim mais para o fim da tarde, fazendo Hades começar a recalcular seus afazeres..

Depois da sobremesa – ainda o bolo de aniversário dela – os dois seguiram para dar começo às suas tardes. Hades se enterrou em pergaminhos e almas chorosas enquanto a deusa se enterrava em dúvidas.

Vestido branco?

Flores de decoração?

E o buquê?

Eu posso escolher os convidados?

Posso convidar minha mãe?

Como vai ser o jantar depois?

Onde vai ser a cerimônia?

Vão haver festividades?..”

Uma pigarreio de Nix a tirou de seus devaneios. Com a deusa ali, pelo menos ela poderia dar voz às suas dúvidas e talvez conseguir algumas respostas.

XxxxX

Ao terminar seu último julgamento do dia, Hades parou para dar um pouco de atenção para Cérbero: o de sempre, conjurar alguns pedaços grandes de carne para o cachorro correr atrás, cuidando para que todas as cabeças recebessem pedaços iguais, e jogar sua bolinha de ossos de uma sombra para a outra enquanto conversava com Caronte para fazer o tempo passar. Trocavam informações sobre os excêntricos do dia que passaram pelo barqueiro e pelas mãos dos juízes.

–Senhor, sem querer ser intrometido, - Caronte disse no final, quando Hades até já havia começado a andar até o castelo. - mas o que faremos sobre o mensageiro?

Hades sorriu para si mesmo antes de virar e o responder.

–Está tudo sobre controle, Caronte. Ele virá no dia do casamento, então terá de esperar você sair da cerimônia para buscá-lo, no fim do dia. O deixaremos um bilhete explicando o horário que ela irá embora, se ele ficar esperando, e o daremos as boas vindas para a festa se ele prometer se comportar. Eu tenho tudo sobre controle.

–Como o senhor queira. - Foi tudo que o barqueiro disse, sua voz não muito cheia de certeza.

Hades não se importou e apenas seguiu seu rumo até a sacada do castelo. Ele tinha um encontro para comparecer.

XxxxX

Queria apenas descansar em seu quarto depois de horas e horas folhando as páginas dos seus livros e anotando todas as opções de detalhes para o casamento que ela encontrava, passando todas antes por Nix, que dizia quais tinha certeza que não eram um boa ideia e quais a jovem deveria consultar a opinião de Hades.

Mas não iria para o quarto ainda. A tarde não havia terminado e nem estava perto da janta ainda, então decidiu dar um pulo em seu jardim, como planejara antes, parando apenas para pegar seus preparativos..

XxxxX

Quando passara pelo portal, ela já o esperava. Estava sentada no meio da parte mais verde dos campos, em cima de uma toalha xadrez preta e branca. Ele sorriu à visão que tinha. Ela não o notara, estava ocupada tirando um pedaço de bolo de chocolate de dentro de uma cesta grande. Se aproximou lentamente, a dando tempo de ajeitar o que queria.

–Um piquenique? - Ele disse, olhando nos olhos dela, sorridente.

–Uhum, achei que fosse gostar. - Ela sorriu de volta e abriu lugar para ele sentar ao seu lado. Ele não a respondeu, apenas sorriu ainda mais e a beijou a bochecha. Não conseguia mais evitar, havia adorado a sensação de seus lábios na pele dela, e ela não parecia se importar. Começaram com alguns pedaços de pão com geleia e suco, em silêncio, e depois se distraíram conversando e comeram espaçadamente.

–Eu sempre quis saber como foi a sua infância... - Hades ergueu uma sobrancelha e ela continuou antes que ele a interrompesse. - Quero dizer, não a sua somente, a de Poseidon, de minha mãe... ela nunca me contou tudo, sempre fica magoada por eu perguntar e não me responde.

–Ora, entendo sua mãe. É um assunto delicado, fora bem perturbador. Mas eu lhe respondo suas dúvidas, sim.

–Obrigada! Eu entendo que deve ter sido horrível, mas eu sou curiosa... queria saber se vocês estavam conscientes, se estavam em suas formas normais, como era lá dentro... - Hades sorriu da curiosidade da pequena. Esperou ela terminar suas dúvidas para começar a explicá-la.

–É estranho, na verdade, mas eu estava sim consciente o tempo todo. Sou o mais velho, então fui o primeiro a ser engolido. Nós não sabíamos o que fazer e durante os primeiros duzentos anos pouco nos importamos com nossas condições, até que começamos a entender que não sairíamos dali e começamos a entrar em desespero. Na verdade, Poseidon e Deméter entraram em desespero. Héstia ficou calada por boa parte do tempo e eu e Hera nos reunimos para decidir como escaparíamos. Nenhum plano prosperou, tivemos de esperar seu pai nos libertar. Quanto ao crescer lá dentro, fora estranho.

–Mas como vocês viveram no estômago dele?

–É difícil de explicar. Na maioria dos momentos nós éramos apenas nossa essência. Não tínhamos formato definido. Apenas perto do fim, quando sentimos que algo estava errado com Cronos, é que começamos a construirmos corpos de carne e osso.

–Como vocês se comunicavam? Eu nunca libertei minha essência, não sei como é.

–É complicado de explicar, você entenderia se já tivesse sentido... é como se você fosse apenas a sua consciência. Isso. Nós éramos cinco consciências sofrendo juntas.

–Doía? - Perséfone se aproximou mais de Hades, sentando de frente para ele, e tomou-lhe as mãos nas suas. Ele sorriu com a preocupação.

–Não, não doía. Nada doeu, na verdade. Era incômodo, mas não doloroso. E entendiante também. Eu nem sei quanto tempo se passou, só sei que mais um pouco nós teríamos todos enlouquecido.

–Por isso que minha mãe chora. - A deusa comentou baixo, para si, sem perceber que havia tido em voz alta. Hades acariciou suas mãos e teve pena de Deméter pela primeira vez em muitos éons.

–Cada um reagiu de um jeito. No começo éramos todos quietos, retraídos. Héstia continuou, eu melhorei um pouco, Poseidon encontrou a bebida, Deméter encontrou as ervas medicinais e Hera encontrou determinação.

Um silêncio se estendeu depois que a voz de Hades morreu. Perséfone se ajeitou para sentar do lado dele novamente e encostou sua cabeça no ombro do deus.

–Eu sinto muito. - Hades sorriu novamente.

–Não precisa sentir. Foi há muito tempo.

–Mas vocês não superaram.

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–E não vamos superar. Somos imortais e vivemos muitas vidas por isso, mas existem coisas que acontecem para nos marcar eternamente. Faz bem. Se não fosse por isso, por esses momentos, nós deuses seríamos todos iguais, perdidos em instintos no fim de alguns séculos.

Silêncio novamente. Ambos ergueram os olhos quando os primeiros raios alaranjados do pôr do sol brilharam no horizonte. Perséfone sorriu. Sentia falta do sol. Talvez conseguisse que Apolo lhe presenteasse com um sol artificial para trazer mais vida ao Submundo.

Perséfone desviou o olhar para Hades e o encontrou fitando-a. Seus olhos se encontraram, ambas as faces iluminadas pela já fraca luz solar. Os olhos dela brilhavam em um tom de mel, radiante, faiscante. Os dele pareciam mais negros, dois buracos onde Perséfone poderia se perder.

E se perdeu. Ficou tão absorta que só percebeu que haviam se aproximado quando pôde sentir as pontas de seus narizes se encostando. Ela fechou os olhos e respirou fundo, inalando o perfume de Hades, que também fechou os olhos. Quando seus lábios finalmente se encontraram, fora suave. Ela conseguia ouvir o coração do deus batendo – ou seria o dela?

Foi ela quem pressionou mais o beijo, intensificando-o lentamente. Ele passou uma mão por trás dos cabelos dela e segurou sua nuca, fazendo-a dançar ao seu ritmo, parando apenas quando ficaram sem ar.

Não abriram os olhos imediatamente, nenhum deles. Pareciam dois adolescentes mortais dando o primeiro beijo de suas vidas. Ela era jovem, era compreensível, mas ele tinha anos de experiência e, mesmo assim, sentia-se como se houvesse descoberto o que era um beijo ali, naquele momento. Para ele, sentia como se tudo o que ele tivesse passado, todas as mulheres com quem se encontrara, mortais, deusas, ninfas, fossem um borrão. Como se o único sentimento que algum dia ocupou seu coração fosse aquele. Aquele beijo. O tremor das mãos, a tontura na cabeça, o pulso acelerado, a respiração desigual.

Hades baixou a mão que levara instintivamente aos lábios e abriu os olhos, encontrando Perséfone ainda com os seus fechados, as bochechas vermelhas, o lábio mordido. Queria beijá-la novamente. Temera por alguns segundos, em sua rápida reflexão, que ela não o quisesse. Que tivesse entendido os sinais errado, que nem ela havia entendido o que estava fazendo. Ele estava bem errado. Ela parecia confusa mas não arrependida. Sentira as mesmas coisas que o deus e tentava entendê-las, entender a si própria. Suspirou e abriu os olhos.

Ele desviou o olhar rapidamente para não assustá-la. Encontrou os resquícios do sol no céu. Já havia se escondido completamente e dava lugar a um crescente azul enegrecido. Voltou a fitar a deusa, agora já mais calma, menos enrubescida. Ela sorriu para ele e deu uma leve risada, fazendo-o acompanhá-la.

Começaram, em silêncio, a guardar as coisas na cesta que Hades trouxera. Quando terminaram, foram para a cabana deixar as coisas. Perséfone se sentou na cama e Hades se encostou na parede.

–Então... - Ele começou. - Tudo certo para a cerimônia? Não precisas planejar tudo. A decoração, por exemplo, já tenho encomendada.

–Ah, sim. Posso ver antes?

–Claro! - Hades se sentou ao lado dela e conjurou um livro dourado. Entregou-o a Perséfone. Ele continha quase todos os detalhes, da entrada deles até as festividades finais. Algumas páginas permaneciam em branco. - Você pode fazer alterações no que já está aí. Seu vestido e acessórios eu não verei antes do dia, então você não precisa colocá-los aí antes. O que faltar também é seu, e se quiser apenas acrescentar algo, sinta-se a vontade. Quero que nada te desagrade.

Perséfone apenas sorriu, fechou o livro e colocou uma das mãos de Hades no meio das suas.

–Tenho certeza que vai ser perfeito. - Fixou seu olhar no do deus novamente. Ele retribuiu seu sorriso.

–Meus músculos vão começar a doer de tanto sorrir para você. - Ele deixou-se dizer. Se iam mesmo se casar e se queria mesmo que ela gostasse dele, não havia porquê não começar dizendo-lhe o que pensava. Ela balançou a cabeça e riu.

–Devo me sentir culpada? - Ela continuou sorrindo. Desse jeito ele realmente iria ter dores musculares.

–Não mesmo. - Ela se inclinou e encostou suas testas. Não queria abusar da sorte, beijando-a toda hora, mas ela não parecia pensar do mesmo jeito. Cobriu a pequena distância entre suas bocas rapidamente e liberou a mão de Hades para colocar as suas sobre os ombros dele. O deus usou uma das mãos para se apoiar na cama e a outra mexendo nos cabelos dela. Se beijaram por poucos segundos e se afastaram novamente. - Vamos?

–Vamos.

Hades se levantou e deu-lhe a mão para que se levantasse também. Entrelaçaram seus dedos e foram de mãos dadas até o portal. Não tinham motivos para se evitar ou se esconder. Se tudo desse certo, passariam uma boa parte de sua eternidade juntos, então por quê não começar alguns dias antes?

XxxxX

Se viram novamente apenas no jantar. Ela fora para o seu quarto se trocar e se enfiar em sua cama pensando na combustão de sentimentos que a atingia, e ele fora para se escritório beber uma taça de vinho e olhar fixamente pela janela, também pensando em sua própria onda de sentimentos.

Nix e Caronte os acompanharam durante a janta. Tirando alguns olhares roubados e algum enrubescimento da face de Perséfone, tudo ocorreu como sempre. Ela ainda comia a sua própria comida enquanto os outros deuses comiam a comida produzida no mundo inferior. Ela tinha de perguntar a Hades em algum momento onde é que esses alimentos eram produzidos. Não lembrava de ter visto nenhum tipo de plantação em sua visita e nem criações de animais ou locais para caçar.

Ao fim, Nix acompanhou Perséfone até o seu quarto, onde conversaram durante algumas horas sobre as escolhas do livro que Hades a dera. Fizeram poucas modificações. Tudo era lindo. Perséfone decidiu que deixaria para amanhã a escolha do vestido. Tinha algumas opções, mas precisaria experimentá-los, e eles só chegariam de manhã. Não conseguia ter a percepção completa deles apenas por desenho, então havia pedido durante a janta que Caronte os encaminhassem para costureiras.

Estava tão animada com o casamento que custou a dormir, pensando em todos os detalhes e imaginando mil vezes como seria. Quando Hades disse que queria que tudo fosse perfeito, ela quase o interrompeu. Não precisava ser perfeito, só tinha de ser, como ele mesmo havia dito mais cedo, marcante. Ela podia ser nova ainda, mas tinha certeza de que ele já era algo que a marcaria para sempre e definiria sua vida daquele momento em diante. Mesmo que não pudessem se casar, que fossem interrompidos. Ele já havia cravado seu espaço em sua vida.

Hades não teve o mesmo problema. Dormiu rapidamente, exausto do dia e da garrafa de vinho que o acompanhou desde o pré-janta até a hora de deitar. Se deixou pensar nela por um momento. Relembrar o gosto de seus lábios, o seu cheiro, a maciez de seu cabelo, a doçura de sua pele. Poderia passar o dia inteiro fitando-a e não se cansaria.

Suspirou. Passou os últimos anos acreditando que estava velho demais para esses sentimentos, tanto que quase desistiu de ir atrás dela. Porém, nunca envelhecera para isso pois nunca havia se sentido assim. Era um jovem nesse quesito, e amadureceria junto com ela. Estava realmente apaixonado. Dormiu sorrindo.