Skinny Love

Capítulo 31 - Sinto muito.


Inspira. Expira.

Não. Não estava funcionando.

Cheguei ao local que estava escrito em caligrafia elegante e dourada no convite de casamento e estacionei meu carro. Tentei encostar minha cabeça no banco do carro, mas o penteado que Holly havia feito no meu cabelo não me permitia. Então apenas encostei minha testa no volante e repeti incontáveis vezes. Inspira. Expira.

Eu sabia - sentia - que estava levando aquilo tudo a sério demais. Afinal, tudo aquilo havia sido minha escolha. E eu agora estava apenas colhendo os frutos do que eu mesma plantei. Uau.

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Quanto drama.

O fato era: Harry Evans era apenas uma pessoa que um dia havia sido essencial para mim. Mas hoje era apenas isso. Uma pessoa. Não era para acontecer. E o destino deu sinais o suficiente para percebermos isso. E nós percebemos. Mas não posso negar que falar ou pensar sobre isso é como cutucar uma ferida exposta. Dói, machuca e só piora.

Saí do carro e, óbvio que a primeira coisa que fiz foi prender meu salto entre os pedregulhos do estacionamento. Por muito pouco não caí. Mas no último instante uma mão vinda do além agarrou meu braço e me ergueu com a mesma facilidade com que ergueria uma pena. Olhei para cima e me deparei com o novo/velho Matt.

– Você pode até mudar, mas sua falta de coordenação, nunca. - o novo/velho Matt abriu um sorriso que fazia todos os seus dentes aparecerem e me rodeou com seus braços musculosos.

Matt continuava assustadoramente alto (mesmo que eu tenha crescido consideráveis centímetros, a ponto de quase alcançar Harry) e musculoso. Seu rosto angular continuava com as mesmas velhas características, porém mais envelhecidas agora. Haviam alguns vincos entre suas sobrancelhas e em sua testa e eu até conseguia ver três ou quatro fios brancos pela sua cabeça. Mas o que mais me chocou no novo Matt foi a enorme e chamativa aliança prata em sua mão direita.

– Desculpe - sorri quando ele me soltou. - Velhos hábitos custam a passar. - dei mais um sorriso que foi correspondido, porém o meu morreu antes do esperado, quando tive um momentâneo choque de realidade.

Você o verá a qualquer instante.

Era só o que a minha mente conseguia pensar. Recompus minha expressão e voltei a olhar para Matt, mas agora uma mão feminina envolveu seu ombro e de trás de Matt surgiu uma mulher quase tão alta quanto o próprio (mas isso era por causa do salto nauseantemente alto), com um vestido provocativo e luxuriante. A mulher toda em si era um conjunto completo de luxúria. Exalava sensualidade pelos poros até da axila. Tinha um olhar calmo, analítico e, claro, sedutor.

– Obrigada por me esperar. - a morena disse para Matt que a olhou nos olhos e sorriu. Isso fez com que a expressão de durona da mesma se dissolvesse em um sorriso.

– Foi mal. - Matt disse e se virou para mim aparentemente notando a minha presença. - Taylor, eu quero que você conheça minha namorada Prim. Prim, essa é a Taylor. - E de repente, o rosto da mulher que eu agora conhecia como Prim ficou inexpressivo. E depois surpreso. E por fim, feliz.

– Olá, é um prazer finalmente te conhecer. - ela estendeu a mão sorrindo e eu a apertei devolvendo o sorriso, mas o meu era completamente confuso. Só eu estava perdendo alguma coisa ali? Que negócio é esse de a Taylor, e finalmente me conhecer?

– Acho melhor vocês entrarem logo, antes que o casamento comece e vocês percam tudo! E eu juro que só vai acontecer uma vez na minha vida.

– Zack, o que você está fazendo aqui fora?! - gritei surpresa ao ver o noivo do lado de fora do próprio casamento.

– Me certificando de que as pessoas não fiquem como vocês, parados NA FRENTE do clube, e sim lá dentro NOS SEUS LUGARES.

– Jesus, Zack, cara, você quer uma água ou algo assim? - Matt perguntou preocupado.

– POR QUE TODOS FICAM ME PERGUNTANDO ISSO? EU NÃO ESTOU COM SEDE! - prendi uma gargalhada mordendo meus lábios.

Zack estava histérico. E lindo. E histérico. Ele estava suando em bicas, fazendo com que seu terno branco ficasse manchado de suor. O gel que estava em seu cabelo estava prestes a derreter, mas ainda estava lá, deixando seus fios cor de mel perfeitamente alinhados. A cada dois segundos ele ajeitava a gravata como se ela estivesse estrangulando-o.

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– Ok, chega. Zack, vamos lá para dentro. Vou procurar seus pais. - Prim começou a empurrar Zack pelos ombros de volta para o clube. - Depois conversamos melhor, Taylor. - ela disse olhando para mim e me lançou um rápido sorriso antes de sumir entre as pessoas. Me deixando sozinha com Matt de novo. Assobiei baixinho.

– Uau. Uma namorada. - falei em tom brincalhão.

– Ah, nem começa. - Matt se virou e pegou minha mão me puxando no meio da multidão. - Vamos logo antes que Zack volte aqui e nos bote em coleiras e nos arraste até nossos lugares.

***

Creio que chorar é um eufemismo do que eu fiz assim que a noiva - com aquele vestido branco majestoso, aquele véu que saía de seus cabelos cacheados e escorria por todo o vestido como uma cachoeira graciosa - deu seus primeiros passos na nave, ao lado do seu pai - um senhor baixinho e bigodudo, que estava vermelho e com os olhos da mesma coloração do rosto. Se não fosse pela situação toda do casamento, diria que estava drogado.

O pai da noiva a levou até o altar, e com aquele antigo gesto clichê - mas perfeito (sou uma amante sem vergonha de clichês, admito) - colocou a mão dela sobre a de Zack, e depois ficou na ponta dos pés, plantando um beijinho em sua bochecha.
Matt começou a se revirar desconfortavelmente quando comecei a chorar e ficou absolutamente nervoso quando notou que eu não conseguia parar, e que ao invés de diminuir, minha histeria sem motivos aparentes só aumentava. Parecia até... parecia até que eu estava chorando porque não queria que Zack se casasse. Isso! As pessoas que me olhavam deviam estar pensando esse absurdo! E eu simplesmente não podia parar o casamento e falar que na verdade eu estou chorando... eu estou chorando porque... bem, não sei exatamente o motivo de estar chorando. Era um choro de nervoso, ansiedade, tristeza, alegria e orgulho... todos por motivos diferentes, mas inexplicáveis de forma racional.

Para não chegar a um nível em que até o padre parasse de falar e me perguntasse se está tudo bem, pedi licença com a melhor voz que consegui, e para as pessoas que me encaravam estranho, eu murmurava a mesma desculpa: "Sou um fracasso emocional em casamentos. Sempre choro!" E acompanhava com uma risadinha que se desculpava por estar atrapalhando. Saí pela lateral, milagrosamente sem fazer nenhum barulho ou chamar mais atenção para mim que o necessário.

Acho que estava tão mal, que até meu azar decidiu me dar um tempo.

Saí do campo de visão dos convidados andando aos tropeços. Parecia uma bêbada sem nem mesmo ter bebido uma gota de álcool. Mas eu estava bêbada. Bêbada de tristeza, confusão, frustração e raiva. Estava tão cheia desses sentimentos, que sem perceber fiquei bêbada com eles.

Eu estava na fossa

E eu deveria escrever livros de drama.

O casamento de Zack era em um clube elegante de golf. Em um dos campos, havia sido armada uma tenda enorme, cheia de cadeiras de ferro, a nave com tapete vermelho e milhares de milhões de arranjos das mais diferenciadas flores. Nunca havia visto tantos tipos de flores em tanta quantidade quanto naquele lugar. Eram tantas, que eu conseguia sentir o perfume misturado de todas elas, e aquele cheiro me acompanhou mesmo depois que me afastei do local.

Atrás do altar montado, ficava um lago, cuja borda estava cheia de bolas brancas, das quais seriam acesas por velas mais tarde. Uma bola para cada convidado. Segui adiante, passando pela área em que garçons trabalhavam como loucos para deixar tudo deslumbrante para o momento em que os convidados chegassem para a festa. E eu tive uma breve visão do bolo. Cinco andares. Branco com fitas e cristais pretos com dourado. Sorri. Definitivamente esse é o casamento de Zack.

Andei até meus pés começarem a protestar, e então cheguei a um lago, não o mesmo lago onde estava acontecendo o casamento. Um lago menor, mais simples, onde o sol não conseguia alcançar, pois ficava escondido entre montanhas bem distantes. Eu teria escolhido esse lago para me casar. Era mais simples, menos exuberante... sim, definitivamente eu teria escolhido esse lago.

Sentei no chão, molhando meus pés no lago, um pouco incomodada com o vestido lindo que estava sendo sujo por grama e minhas lágrimas idiotas. O que havia de errado comigo? Por que não conseguia ficar completamente feliz por Zack? Por que esses pensamentos egoístas e deprimentes continuavam a me perseguir?

A cerimônia acabou e ouvi o burburinho de pessoas se aproximando das mesas da festa. O sol já estava se pondo. E eu conseguia ver fracamente a lua e algumas poucas estrelas. Eu gostaria de ir parabenizar Zack, conhecer sua mais nova esposa, desejar tudo do bom e melhor para os dois, dizer que amo Zack e que era para ele não esquecer da minha existência com essa nova vida de casado. Talvez até falaria algo engraçado, riríamos, nos abraçaríamos e por fim, eu daria alguma desculpa boba para ir embora. Diria que foi um prazer conhecer sua esposa e iria embora tão rápido quanto cheguei. E o melhor, não o veria.

O sol estava dando seu último suspiro, e comecei a ouvir uma música lenta e melódica começar a tocar da orquestra que estava no casamento e continuei observando o lago refletir os poucos e últimos raios de sol. Minhas lágrimas já haviam secado, mas meu estado estava tão deprimente quanto quando eu havia começado a chorar.

– Você não pode ir sem fazer o pedido. - fecho meus olhos e rio.

– Achei que não fosse adepto à superstições. - minha voz vacila duas vezes, mas se ele percebe, não fala nada. Apenas senta-se ao meu lado e me oferece uma daquelas esferas brancas que estavam no lago onde ocorria o casamento.

O céu estava completamente azul e somente as estrelas e a lua nos iluminava. Peguei a esfera da sua mão e o isqueiro que ele havia tirado do bolso de seu smoking. Acendo minha esfera e entrego o isqueiro à Harry, que acende a sua. Vamos até a ponta do lago e cada um faz o seu pedido silenciosamente.

O que eu peço? Tenho o trabalho que sempre quis, melhores amigos excelentes, um apartamento novo em folha me aguardando assim que sair daqui... então pedi por algo que vem há muito tempo faltando em minha vida. Algo um tanto quanto aleatório, mas essencial. Pedi por sorte. No que quer que fosse. Queria apenas uma vez ter sorte e que as coisas não fossem estragadas repentinamente por acontecimentos aleatórios da vida.

– E então... como vai o namorado? - de repente a voz de Harry não aparentava ser a mesma.

– Ah... - aquele era um assunto tão estranho para discutir com ele... - nós terminamos. - disse simplesmente. Ele esperou por mais, mas continuei calada apenas olhando minha esfera deslizar pelo lago, cada vez mais longe da esfera de Harry.

– Mas... o que aconteceu? Eu achei que no ano novo...

– Você estivesse facilitando? - perguntei rindo sem humor - Eu também, mas aparentemente, não era com Will que eu deveria ficar. - percebi o que havia acabado de dizer e o sentido ali implícito. - Digo, essa pessoa ainda vai vir. - tentei consertar, mas não acho que tenha dado muito certo.

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– Sinto muito. Eu realmente achei que tivesse facilitado as coisas para o seu lado.

– Como assim Harry? - perguntei repentinamente ficando com raiva. - Eu sou assim tāo insuportável a ponto de você querer tanto que eu fosse embora?

– Eu não disse isso... além do mais, eu tornei sua escolha mais fácil. Mas foi você quem escolheu.

– Eu posso ter ido embora da primeira vez, mas foi você quem me mandou embora da segunda. - disse me levantando.

– Como se eu pedir para você ficar fosse te impedir de ir, não, Taylor? Eu não faria isso, até mesmo porque, foi exatamente por isso que você não se despediu de mim há três anos.

– Eu já disse que não foi uma atitude madura, ok?! - eu estava a ponto de começar a gritar, mas me lembrei de onde estava, e isso me conteve. Não ia estragar o dia de Zack só porque o meu estava sendo uma merda. - Mas também não foi maduro da sua parte me deixar ir, se queria que eu ficasse.

– Ok, nenhum de nós dois foi maduro. Mas no que isso afeta o presente? O que isso vai fazer mudar? - ficamos em silêncio nos encarando. Eu ainda estava com raiva, mas queria (embora não admitisse) rodear meus braços ao redor do corpo de Harry e enterrar minha cabeça em seu peito. Dizer que estava cansada de brigas, de sempre ter algo nos impedindo. Gostaria de pedir para que ele me levasse embora...

– Harry! - e aquela voz fez toda as minhas vontades caírem por terra. Olhamos para cima, onde Alex estava. Ele me olhou uma última vez e então se virou para ela.

– Aqui. - ele disse encarando o nada.

– Ah, finalmente te achei! - A silhueta de Alex tomou forma e então consegui vê-la. - Estou cansada... me lev... - ela parou abruptamente ao notar minha presença. - Oh! Taylor! Não a vi no casamento! - ela se aproximou e me cumprimentou.

Encarei Harry, que devolveu o olhar. O que a minha mãe falou está certo. Sobre a pessoa abrir mão de algo que gosta para ganhar algo melhor ainda. Mas como se trata da minha vida, teria que abrir mão de duas coisas (nesse caso, pessoas) para receber algo bom no futuro.

– Bem, - eu disse louca para sair dali - acho que podemos ser maduros agora. - Harry assentiu.

– Alex, vá para o carro que eu já a encontro. - Alex assentiu e me encarou com um sorriso.

– Foi ótimo vê-la novamente, Taylor. - sorri de volta, mesmo sem vontade.

– Igualmente. - a menina se distanciou, subindo o morro que nos separava do casamento, deixando apenas eu e Harry sozinhos novamente.

Ele se aproximou e pegou meu rosto com as mãos, me encarou por alguns segundos e deu um beijo breve no topo da minha cabeça. Consegui sentir seu cheiro. Honestamente, quando eu fosse para o meu apartamento, teria que comprar algum tipo de spray para tirar aquele cheiro de lá. Seria tortura ficar lá dentro e a cada respiração lembrar o perfume de Harry.

– Sinto muito, por tudo, Taylor. - foi o que ele disse antes de dar as costas e fazer o mesmo caminho que Alex havia feito.