Pokétrip

Capítulo 1


Máscara da Morte não era o melhor exemplo de bom humor no Santuário, isso já era consenso entre seus colegas. Não era raro ouvir palavrões e berros do italiano dirigidos a servos e soldados de patente inferior. Aliás, mesmo durante o "lazer" seu costumeiro mau humor se manifestava: enquanto assistia ao campeonato italiano na TV – pequeno luxo a que os cavaleiros de ouro passaram a ter acesso desde o retorno à vida e sob a liderança de Saori Kido - , palavras de gosto duvidoso ecoavam livremente pela Quarta Casa.

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O que nem todo mundo sabia é que esse mau humor do canceriano não era nadaem comparação ao estado em que Máscara da Morte acordava todos os dias. O humor matinal de Máscara era realmente medonho, e apenas um farto café da manhã era capaz de melhorá-lo. Os dois servos da Casa de Câncer eram os únicos que conheciam a faceta mais assustadora do cavaleiro mais assustador das Doze Casas; dessa forma, apressavam-se em deixar o café da manhã pronto na cozinha logo cedo, de modo que não precisassem encontrar o dono da casa em seu pior momento.

Naquele dia em especial Máscara da Morte desfrutava de seu péssimo humor de sempre. Havia lavado o rosto com um pouco de água gelada – o que invariavelmente piorava seu estado de espírito – e seguia arrastando os pés em direção à cozinha usando nada além de uma boxer preta. Lá encontraria a mesa posta de sempre...

De fato, o café da manhã estava posto, mas não estava completo. E o culpado disso, vestido em roupa de treino, estava sentado à mesa comendo despreocupadamente como se fosse o próprio dono da casa.

- Oh, bom dia, Máscara da Morte – Saudou Afrodite de Peixes, mordendo uma maçã – Vai se atrasar para o treino, é melhor se apressar...

Peixes abriu um sorriso cintilante, o que fez Máscara da Morte bufar. Além da folga do sueco, que comia suacomida, odiava pessoas bem-humoradas pela manhã. Teve vontade de destruir aquele belo sorriso aos socos.

- Você está comendo meu café da manhã – O italiano rosnou. O mau humor e o resquício de sono o impediam de formular frases mais complexas ou irônicas.

- Puxa, eu não tinha percebido, como sou distraído! – Fez Afrodite, irônico – Bom, é extremamente rude ter uma mesa tão farta e não dividir com os colegas, sabia? Sente-se e coma comigo...

Máscara da Morte cerrou os punhos, um tanto abismado com a ousadia do colega de armas em agir como se fosse o anfitrião em sua própria casa. No entanto, a fome falava mais alto. Sentou-se, carrancudo.

- Não tem comida em Peixes, não?

- Ah, tenho sim... – Afrodite bebericou o suco de laranja fazendo uma ligeira careta – Hum, falta açúcar...

- Preciso desenhar? Se tem comida lá, por que diacho você veio comer aqui?

- Pelo prazer da companhia, ora – Afrodite ergueu uma sobrancelha, nitidamente divertido com o estado do outro – Sobre o que podemos conversar...? Oh, sim! Já consultou seu horóscopo hoje?

Máscara da Morte revirou os olhos. O outro devia ter tirado o dia pra irritá-lo. Além de aparecer em sua casa logo cedo, comer o seu café da manhã, ter a audácia de acordar de bom humor, ainda aparecia com aquela porcaria astrológica novamente. O pisciano parecia realmente querer ceder a própria cabeça para a decoração da Casa de Câncer.

No fundo Máscara sabia que tinha culpa. A maioria de seus colegas simplesmente ignorava os comentários venenosos do infeliz, mas o canceriano simplesmente ficava irritado demais pra isso. E claro, suas reações divertiam Afrodite ainda mais.

A "moda" da vez para o pisciano era aborrecer Máscara sobre o fato de ele ser um canceriano todo "errado". Adorava salientar, mordaz, que talvez tivesse sido aquilo que justificava o fato de ter sido abandonado pela própria armadura durante a luta contra Shiryu de Dragão. Essa infame lembrança era sempre um golpe baixo nos brios do italiano, que depois disso invariavelmente partia pra cima de Afrodite. Para sua frustração, o outro era bem mais ágil.

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E não adiantava nada falar que Afrodite não era um exemplo de pisciano. Primeiro, porque Máscara nem entendia dessas coisas. E depois porque Afrodite jamais tinha sido abandonado pela própria armadura de ouro, até onde sabia.

Será que piscianos eram realmente venenosos, desagradáveis, irritantes, vaidosos, escorregadios e metidos quanto o homem à sua frente?

- Como eu ia dizendo... – O sorriso de Afrodite deu lugar a uma expressão grave – Você deveria ter cuidado hoje. Vênus e a Lua estão em Câncer, mas formando um aspecto muito tenso com Saturno e Plutão.

Máscara ergueu uma sobrancelha. O mais irritante no sueco é que ele era ótimo pra fingir expressões. Nunca sabia quando ele estava pregando uma peça ou falando sério; e, mesmo que fosse verdade, não dava pra saber se Afrodite realmente se importava. Provavelmente não.

- Ah – Fez o italiano – Deixe-me adivinhar: devo ficar enfurnado na minha casa, debaixo do cobertor, até os malditos planetas se mexerem, certo?

Uma expressão estranha, vagamente irritada, passou pelo belo rosto de Afrodite, mas foi prontamente substituída por outra desdenhosa.

- Idiota, acha que esse tipo de aspecto é mencionado em revistas de moda? Estou aqui a mando do próprio Grande Mestre!

- Até pros seus padrões essa foi uma piada muito idiota, Afrodite.

Afrodite suspirou e brincou com um cacho de seus próprios cabelos, displicente.

- Como disse o Shion, mesmo? "Os astros estão anunciando mudanças e Máscara da Morte está bem no foco. Se ele não cuidar da própria inteligência emocional e começar a se doar mais, será forçado a isso". Nem precisava estar aqui te avisando, mas fazer o quê? Meu coração é grande...

Máscara bufou, explodindo:

- Coração é o cac*** que eu te conheço, Afrodite! Você nunca ia se dar o trabalho de bancar o garoto de recados do velhote remoçado se minha casa não estivesse no seu caminho! E ainda come o meu café da manhã!

- Como pode dizer uma coisa dessas? – Afrodite se levantou, decididamente afrontado – Sou seu amigo, seu idiota, seu único amigo nesse buraco!

- E quem precisa de um amigo irritante como você? – Máscara praticamente cuspiu – Quem precisa de amigo? Quem precisa dessa porra toda de, como é mesmo? "Inteligência emocional"? Frescura essa merda! Manda o Grande Mestre "se doar" pro amigo de infância dele!

- Máscara, ele...

- CHEGA, PÔ! Cansei dessa palhaçada de horóscopo, coração mole, fazer os outros felizes e mimimi! Tô pouco me lixando se não sou canceriano como os outros, mas manda esses idiotas frouxos virem me tomar a armadura de Câncer, pra ver onde as cabeças deles irão parar! Não preciso de nenhum babaca do meu lado pra cuidar, proteger e blablablá! Sou canceriano MACHO!

- Você está exagerando, Máscara – Afrodite tomou um tom sério – Agora que conseguimos mais tempo sobre a Terra precisaremos nos adaptar à disciplina de Atena, queiramos ou não! E isso envolve, sim, zelar um pelo outro, e é o que estou fazendo por você, seu imbecil!

- Não era eu o "cara que protegia" no seu horóscopo lixo? – Zombou Máscara da Morte – Mas eu tô pouco me lixando! Quer saber do que mais? O que me deixa feliz é ver os outros se ferrando! É isso!

Máscara da Morte deu as costas ao pisciano e ergueu os braços para o teto, quase ensandecido:

- É isso aí! Que tudo o mais vá pro inferno! Astrologia, regras de deuses e o caral** a quatro! Quero é ver todo mundo MAL! Quero VER algum imbecil me obrigar a ser legal com esses babacas!

Afrodite sequer se moveu – estava mais do que habituado às explosões vulcânicas do outro. No entanto, o suspiro de impaciência ficou preso, os olhos claros se arregalando. Era impressão dele ou Máscara da Morte estava encolhendo?

- M-Máscara?

Máscara da Morte, os olhos cerrados de fúria, estranhou a voz vacilante do sempre empertigado cavaleiro de Peixes. Virou-se para ele, curioso, mas por algum motivo suas pernas tiveram dificuldade em executar aquele simples movimento. Abriu os olhos e se percebeu que Afrodite parecia ter crescido vários metros em poucos segundos.

Reparando melhor no cenário, na verdade parecia que o mundotodo havia crescido naqueles segundos. Ou então...

Máscara tinha certeza absoluta de que seu cérebro havia construído a frase "Que po**a é essa?". Mas, para seu completo choque, o som que ouviu sair de sua boca foi um incompreensível...

- To-ge-prrrrrrri!

Continua...