O Diário

Velório, uísque e lembranças.


Estranhos estavam espalhados pela casa de meu sogro. Pessoas que nunca haviam me visto davam seus pêsames, diziam o quanto sentiam muito.

Será que realmente sentiam? Por acaso conheciam a minha Brenda?

Eu ouvia os murmura “Pobre homem, perdeu a esposa tão cedo”.

Não! Eu não havia perdido a minha esposa. Eu havia perdido a minha amiga. A minha amante. A minha alma gêmea. A minha namorada... Havia perdido a minha Brenda.

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Para sempre...

Não viveríamos na casa de praia que ela tanto desejava. Não conseguíamos ter os dois filhos, Isabella e Bruno como ela planejam. Nem o infeliz cachorro que tanto queria... E eu também não teria o que tanto desejei. Fazer a minha Brenda feliz, dar tudo que ela desejou.

Era trágico não vivemos tudo que queríamos viver juntos. Mais trágico ainda eu respirando e ela morta, deveria ser ao contraria... Era para ser ao contrario.

Sentei-me no sofá e engoli a bebida que estava em minha mão. Uísque quente, meu único companheiro do dia.

Logo uma jovem sentou-se ao meu lado. Era baixa e loira e usava um vestido preto liso, ela cruzou as pernas e posou a mão em minhas mãos.

- Sinto muito por sua esposa... – Gaguejou.

- Todos sentem... – Disse me levantando e indo a caminho do open bar. – Um uísque, por favor.

Perdi ao homem que estava pegando Uísque.

- Você é o marido?

- Sou... E você quem é? – Disse em um tom grosseiro.

- Fernando Lima.

- Ah, o ex? – Disse com um sorriso sarcástico – Que a magoou pra caralho?

- Eu sinto muito por ela te morrido desse jeito, eu sinto muito por tudo...

- Sei, sei... Todos sentimos – Disse com desdém pegando o copo de Uísque e indo para a sacada.

Olhei para a gloriosa vista que meus sogros tinham para a praia. Nunca descobri como Brenda conseguiu se acostumar com a minha vida... Com a vida de “pobre”. Com os pais dela, ela sempre teve tudo sem fazer muito esforço. Comigo era sempre aos poucos e lentamente. Ela deveria ter casado com aquele médico como o pai dela planejava, ela o merecia. Porém, Brenda sempre gostou de consertar um caso perdido como eu.

Vir-me-ei e olhei para os estranhos e avistei meu sogro me fitando furiosamente. Desde que Brenda morreu – há cinco dias – meu sogro e eu ficamos em pé de guerra. Sempre discutíamos, mas Brenda me fazia aguentar-ló. Mas desta vez, Brenda não poderia fazer nada.

Ele havia me jurado de morte desde que descobriu a causa da morte de sua filha, que eu cansei o acidente. Mas quando o médico revelou o histórico hospitalar ele ficou menos furioso comigo, mas ainda sim me odiava. Sempre me odiou.

*****

- Por que estamos aqui? – Meu sogro perguntou irritado – Termos um velório para organizar.

- Eu sei, Sr. Dias. Mas o que tenho que falar é importante...

- Bem, então diga... – Minha sogra disse o tanto quanto gentil.

-... Bem, a sua filha... E esposa, ela era uma paciente minha. Nós fazíamos sessão de quimioterapia.

- Quimioterapia? – Perguntei confuso.

- Sim, Sr. Brito a sua esposa tinha câncer. Ela escondeu isso de você?

- Parece que escondeu de todos nós... – Meu sogro murmurou colocando as mãos na cabeça.

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- Mas Ian, como não percebeu isso? Você vivia com ela.

- Meu Deus! Ela mentiu para mim o tempo todo... É claro que eu percebia que ela estava mais fraca e vomitando... Eu implorava para ela me deixar levar-lá ao médico, mas ela sempre recusava. Às vezes eu dizia que ela poderia está grávida e comprava Testes de Gravidez, mas sempre dava negativo e às vezes ela dormia em casa de amigas e ficava uma semana inteira dizendo que a amiga estava doente... Mas na verdade era ela.

- Brenda descobriu o câncer tarde demais... O câncer já havia se espalhado pelo estomago, e tentamos o possível e o impossível, porém nada funcionou. Ela preferiu desistir de tudo e aproveitar o pouco tempo que restava...

Pousei minhas mãos na cabeça. Era informação demais.

- Quanto tempo ainda restava para ela?

- Duas semanas. Talvez mais, talvez menos.

**

Depois que o médico revelou aqui, eu relembrei tudo que Brenda dizia. E tantas dicas que ela havia me dado. Avisando-me que partiria em breve, querendo me deixar a pá das coisas que queria.

**

Estávamos Brenda e eu deitados juntinhos no sofá assistindo Uma Prova de Amor. Ela estava se afogando em lágrimas e eu tentando não chorar. Já estava no final do filme e a garota com câncer já havia morrido.

- Como deseja que seja seu velório? – Brenda perguntou secando as lágrimas.

- Por quê? Pretende me matar? – Brinquei.

Ela riu.

- Farei que nem aquelas mulheres da televisão... – Brincou – Mas agora é serio... Como quer que seja seu velório?

- Ah... Algo animado... Com open bar, já que não tenho muitos amigos, preciso de algo que chame a atenção do povo e faça-os virem para cuspirem em meu caixão – Nós rimos juntos – E com um belo comediante contando piadinhas sobre mim e sobre a morte... Por favor, chame o Danilo Gentilli e não aqueles caras idiota da Rede Globo – Nós rimos novamente. – Acho que é isso... Nada muito poético.

- É, seria um velório... Legal.

Então ficamos em silencio por um tempo.

- Não vai pergunta para mim? – Ela disse se sentando e fazendo bico.

- Te pergunta o que? – Perguntei inocentemente.

- Sobre como vai ser o meu velório?

- Querida, com certeza morrerei antes de você – Disse sentando e passando as mãos em seus cabelos.

Brenda bufou.

- Está bem! Como quer o velório?

Ela abriu um sorriso, indireto a coluna e olhou para mim como fosse conta algo excitante. Nunca havia visto daquele jeito, só quando contava às coisas que planejava para o nosso casamento.

- Então, com certeza os meus pais se meteram no meu velório, deixem-os fazerem o que querem; algo chato e com pessoas chatas... – Antes que eu pudesse falar “ah, então é isso” ela voltou a falar -... Ah, eu quero ser cremada... E prometa que ficará com os meus restos mortais. Promete?

- Hm, prometo. – Disse desconfiado.

- Agora vou falar a parte legal... Eu sempre quis viajar pelo mundo e tal, mas nunca tive tempo... Eu quero que você viaje pelos lugares que eu quero ir e jogue meus restos mortais. E tem que ser você! – Ela disse apontando o dedo para mim – Não importa que esteja deprimido com a minha morte... Eu quero que levante e faça o que mandei, senão puxarei seu pé à noite – Ameaçou toda risonha.

- Suas condições de velórios são bem mais poéticas do que as minhas, mas ainda acho o meu mais legal – Disse erguendo as sobrancelhas.

- Há... Então fará isso? Você promete?

- Hmmm... Se eu não fizer você puxara meu pé?

- Isso mesmo!

- Então eu faço – Disse rindo – Eu prometo.

Ela abriu um enorme sorriso, satisfeita.

- Então, qual são os lugares?

- Tudo em sua hora querido, ou o que? Já que me mata – Brincou.

Eu ri.

-Farei que nem aquelas mulheres da televisão – A imitei. Ela riu.

- Enfim, deixarei os lugares para ti... Deixarei tudo – Murmurou.

Dei de ombros e beijei o seu pescoço.

- Chega de falar de morte... Termos coisas melhores a fez – Disse maliciosamente.

**

- Dia difícil? – Disse uma voz rouca perto de mim, o que me fez acordar do transe.

- Mês difícil – Respondi tomando um gole do Uísque – O que faz aqui? Pensei que estava na Alemanha.

- É estava. Mas recebi um telefonema do Jorge – meu sogro – dizendo que Brenda havia falecido e vim dar meus pêsames.

- Podia dar pelo telefone – Meu tom foi arrogante.

- Jura? Está com ciúmes? – Perguntou surpreso.

- Não ciúmes, só cansado de ver ex’s de minha falecida esposa. E você, é o único ex que se meteu no meu caminho então, é o mais odiado.

- Na verdade você que se meteu em meu caminho... Mas enfim, não estamos aqui para discutir.

Ficamos algum tempo em silencio observando a paisagem.

E uma pergunta enlouquecia minha cabeça, não consegui me contralar e perguntei:

- Você a amava? Quando você sabe... Quando ela te deixou pra ficar comigo?

- Eu ainda a amo – Disse tomando a bebida em sua mão e saindo da varanda.

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