Acordei cedo demais e não muito disposta na manhã seguinte. Havia um pequeno galo em minha testa e eu atribuía a isso minha dor de cabeça. Tomei uma aspirina e deitei por mais alguns minutos para esperar o remédio fazer algum efeito. Abri os olhos novamente somente quando ouvi o barulho do chuveiro de Jolie.

Levantei-me e comecei a me arrumar para a escola. Hoje não estava tão frio quanto os dias anteriores, mas não queria arriscar muita coisa. Vesti uma blusa de mangas compridas, um jeans claro e um suéter vermelho que combinava com meu All Star impecavelmente branco.

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- Bom dia! – Sorri, sentando-me à mesa com o resto da família. Tia Judith tinha um sorriso no rosto, quase me dava a sensação de que ela estava feliz. Jolie chegou logo depois que eu.

- Bom dia, meninas. – Tia Judith falou.

- K, nós temos que dar um jeito nas suas roupas. – Jolie disse, me olhando pelo canto do olho.

- O que tem de errado com minhas roupas?

- São comuns demais.

- Mas...

- Vamos lá, sei que você tem senso de moda escondido aí dentro de você!

- Eu não sei me vestir como você, Jo.

- Não quero que se vista como eu, só que valorize mais esse corpinho que Deus te deu. – Ela explicou, insistente.

- A gente vê isso depois. – Pedi, pegando minha xícara e levando à boca imediatamente.

- Onde estão os outros? – Perguntou Jolie, olhando os lugares vazios da mesa.

- Seu pai saiu já tem um tempo. Os meninos têm uma consulta médica, vão chegar um pouco atrasados hoje.

- Entendi. – Disse Jolie.

- Tia? – Chamei. – Eu preciso fazer uma atividade passada pelo professor de história, em dupla.

- Você está só me avisando ou pedindo minha permissão?

- Na verdade, eu não queria ser inconveniente. – Mordi o lábio inferior. – Até porque eu preciso de alguém para me levar à casa de meu colega para fazermos a atividade.

- Ah! Não, querida, desculpe. – Tia Judith me olhou com pesar. – Eu e Jolie vamos sair hoje de tarde e eu esperava que você pudesse ficar com os gêmeos.

- Oh, não! Tudo bem, eu fico com eles. – Sorri. – Podemos fazer a atividade outro dia!

- Por que não fazem aqui em casa? Desculpe, Karen, eu realmente não posso adiar esse compromisso.

- Eu vou ver com ele. Fique tranquila, tia. Não quero atrapalhar também! – Fiquei sem graça por ter pedido aquilo.

- Está tudo bem, termine seu café, sim? – Tia Judith me lançou aquele olhar terno e sorriu. Assenti, pegando um pedaço de pêssego e o colocando em meu prato, iniciando assim meu desjejum.

- O que será que minha mãe quer comigo, hoje? – Jolie quebrou o silêncio do carro, quando já estávamos na rua do colégio.

- Talvez passar algum tempo com você. – Falei, olhando a movimentação da rua.

- Duvido muito. – Ela riu pelo nariz. – A gente não faz esse tipo de coisa desde meus treze anos.

- Quando você e Justin começaram a namorar. – Falei, juntando alguns pontinhos. Jolie me olhou rapidamente e assentiu, enquanto fazia a manobra para estacionar seu carro na costumeira vaga. Saí do carro sem cerimônia, não estava a fim de encarar Justin naquele dia, depois de ter dito a ele sobre os “alertas” que eu vinha recebendo para ficar longe dele.

- Bom dia, meninas? – Gabriel apareceu logo que fui para o lado de Jolie, indo em direção à entrada. Ele se enfiou no meio de nós duas e nos abraço, uma de cada lado. – Como estão as princesas mais lindas da minha vida?

Mais princesa do que você imagina, mas...

- Estou bem, obrigada por perguntar. – Respondi, dando-lhe um beijinho na bochecha; um presentinho por ser fofo.

- Vou ganhar beijo também? – Ele perguntou à Jolie, aproximando sua bochecha do rosto dela.

- Vai ganhar um olho roxo se não me soltar! – Ela ameaçou, mas vi que ela passou o braço pela cintura dele. – Você sumiu, idiota.

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- Você que não queria me ver.

- Da próxima vez não respeite o que eu disser para não fazer. – Jolie suspirou e abriu um sorrisinho. Abri um também, satisfeita ao ver que algumas coisas estavam de volta ao normal.

Jolie contou a Gabe sobre seu castigo e então eles embarcaram numa discussão de como aquela festa havia sido coisa de louco. Eu concordo plenamente, mas não falaria da festa com o mesmo sorriso no rosto que eles tinham. Vi Justin mais adiante, entrando na escola meio apressado, com uma bolsa enorme de treino da NBC.

- Gente, eu preciso ir mais rápido, vejo vocês depois? – Perguntei, acelerando o passo. Eles mal responderam, entretidos demais com alguma piada sobre alguém que havia vomitado em outra pessoa. Dei de ombros e fui mais rápido para a entrada da escola.

Não vi Justin nos corredores. Soltei um suspiro, eu estava correndo atrás de minha própria vertigem, mas precisava marcar com Justin sobre a nossa atividade extra de História Mundial. Fui até meu armário e deixei minha bolsa ali dentro, ficando apenas com o celular no bolso. Abri um sorrisinho quando, devido ao silêncio total que a escola estava por ser muito cedo, consegui ouvir o barulho vindo do ginásio.

Abri a grande porta vinho de ferro e avistei Justin perto da trave com a cesta de basquete. Ele estava vestido com uma calça branca com detalhes vinho e uma regata branca, que destacavam seus músculos. Havia um carrinho cheio de bolas de basquete ao seu lado, ele pegava uma, arremessava, pegava outra, arremessava. Quando ele foi pegar a terceira bola, me viu ali, parada na porta, decidindo se ia até lá ou não.

- Hey. – Abri um sorrisinho para ele, por falta de opções, já que ele já havia notado minha presença.

- Bom dia. – Respondeu e arremessou a bola novamente. Cesta.

- Eu... Bom, eu só vim para saber se a gente podia ir lá para casa depois da aula. – Falei, cruzando os braços na frente do corpo, aproximando-me um pouco. Justin me encarou por dois segundos, como se estivesse em choque pelo que eu havia dito.

- Ah, claro! O trabalho de história. Claro. Pode ser. – Ele riu de algo, segurando a bola marrom com firmeza em mãos. Assenti, sorrindo fraquinho e dei meia volta para sair da quadra.

- Ei! – Chamou. – Tenta!

- Hein? – Virei novamente para ele e segurei a bola de basquete por puro reflexo, parando-a a centímetros de meu rosto. – Você ficou louco?

- Não. – Ele riu fraco. – Bom reflexo. Vem aqui e tenta fazer uma cesta.

- Não pratico esportes. – Joguei a bola de volta para ele.

- Deveria, praticar esportes é saudável, prazeroso e endurece o bumbum. – Justin abriu um sorriso presunçoso. Não pude deixar de rir, achando aquilo simplesmente ridículo. – Qual é, vamos lá, shawty.

Ponderei por um segundo. Justin estendeu a bola para mim, convidativo. Andei dois passos em sua direção, mas dei meia volta e fui para a porta do ginásio.

- Uau, gata! Você não precisa praticar esportes! – Ouvi Justin gritar. Tenho certeza de que se ele pudesse ver a cor de meu rosto naquela hora, descreveria a cor como “muito vermelha”. Continuei andando, focando-me em não me deixar abalar pelo comentário desnecessário de Justin. – Até a aula de biologia!

Acenei por cima do ombro e deixei o ginásio. A escola já estava cheia e eu precisava me apressar se não quisesse chegar atrasada no primeiro tempo.

- Não acredito que vamos dissecar o sapinho! – Falei baixinho, para mim mesma.

- Dá-me um beijo, o encanto será quebrado e eu me tornarei um príncipe. Casaremos e eu te darei todo meu reino e todo meu amor. – Ouvi a voz de Justin um pouco atrás, muito próxima de meu ouvido, fazendo-me levar um susto contido. Virei-me para ele, assustada e confusa com sua declaração. Ele mantinha um sorrisinho besta nos lábios e os olhos em mim. O que Justin queria dizer com aquilo? Minha mede rodava mil vezes e não chegava a lugar nenhum.

Baixei o olhar para suas mãos e vi o celular de Justin aberto em um site de contos.

- Ai, que susto, Justin! – Falei, colocando a mão no peito. Ele estava apenas recitando um trecho de A Princesa e o Sapo para mim, provavelmente porque tínhamos um sapo em questão na aula de biologia.

Eu e Justin acabamos por sermos parceiros de laboratório de biologia. O professor havia pedido alguém que pudesse me ajudar com os experimentos, já que eu nunca havia feito isso, porque tinha aulas em casa e coisa do tipo. Como ninguém se prestou ao serviço – e isso doeu na hora – o professor escolheu alguém. E esse alguém era: Justin!

- Fique calma, estressadinha! – Ele riu, guardando o celular no bolso detrás da calça. – Eu abro o bicho, pode ficar tranquila.

Ele pegou o bisturi de minha mão e o pressionou sobre a barriga do bichinho, mas, antes que a perfurasse, segurei a mão de Justin.

- Não! Não fura ele! – Pedi, observando a coisinha verde que jazia em nossa bancada. A sala, entretanto, não parecia se incomodar em estripar os pobres defuntos. Seth e Luke eram uma dupla bastante barulhenta. Vi algo voando para fora enquanto Seth cortava o bichinho e senti meu estômago embrulhar.

- Por que não? Você não é ativista ambiental ou algo do tipo, né? – Ele riu de mim. Mas eu não respondi, estava vidrada no que Seth e Luke faziam. Luke levantou o bichinho pela perna e algumas de suas vísceras caíram pela barriga. – Karen? Karen? – Justin me chamava.

- Ela está passando bem? – Ouvi a voz do professor mais perto de nós. Virei-me lentamente para ele, ainda enjoada.

- Acho que ela vai vomitar. – Justin disse, segurando-me pelo ombro. – Karen, solta a minha mão.

Abri os dedos e vi as marquinhas deles na mão de Justin. Pedi desculpa baixinho e respirei fundo.

- Tire-a daqui! – O professor pediu. Justin assentiu e me segurou pela cintura, levando-me para a porta. – Seth e Luke! – Ele gritou. Paramos por alguns segundos para olhar o que se passava. O professor levantou o bichinho de novo pela perna e balançou na frente dos meninos. – Vocês acham que é brincadeira? Essa aula é séria! Não é para ficar abrindo o bicho desse jeito! – E balançou o sapinho, deixando cair mais alguma coisa e algo que eu identifiquei como sendo o coração do animal, depois o professor jogou o sapo na lata de lixo, com cara de bravo.

Senti meu corpo amolecer ao ouvir o baque do corpo ao se chocar contra o fundo da lata de lixo. Minhas pernas fraquejaram e por causa de Justin, eu não caí. Saímos do laboratório, sendo recebidos por uma lufada de vento gelada diretamente na cara. Respirei fundo.

- K? Karen, tá tudo bem? – Justin me sentou em um banquinho no pátio e se ajoelhou na minha frente.

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- Uhum. – Murmurei, abaixando a cabeça nas mãos. – Só to um pouquinho mal, nada demais.

- Você parece péssima. Mal estou eu que consegui tropeçar numa bola de basquete que brotou do chão e só não caí de cara no chão porque bati de cara numa porta de vidro.

Não consegui me conter e tive que rir daquilo.

- Quando foi isso? – Perguntei, tentando focar minha atenção em outra coisa que não fosse o mal-estar.

- Hoje, no vestiário, depois do treino.

- Seu desastrado. – Falei. Justin concordou e riu.

- Já estamos no último tempo, vai querer voltar para a sala ou esperar sua prima aqui?

- Por favor, não me leve de volta para aquele açougue!

- Você é fraca para esse tipo de coisa?

- Acho que sim, né. – Fiz um bico, levantando a cabeça para olhar para Justin quando ele sentou ao meu lado.

- Tudo bem, vamos ficar aqui. – E tirou o celular do bolso, junto com os fones de ouvido. – Quer? – Estendeu um dos lados para mim. Dei de ombros e aceitei o fone, colocando-o no ouvido em seguida.

- Gosto dessa. – Tomei a liberdade de escolher a música enquanto ele passeava pela playlist. Toquei a faixa com o nome de Lighters, do Eminem.

- Boa escolha. – Ele sorriu. – Eu consigo cantar o rap do Eminem nessa música.

- Duvido. – Ri pelo nariz.

Justin começou a acompanhar o Eminem no começo da música e até que ele estava indo bem, mas depois começou a enrolar tudo e eu não entendia nada, por causa do meu ouvido europeu nada aguçado para sotaque americano. Ele ficou vermelho de repente, e sorria, tentando não rir e balançava a cabeça no ritmo da música, e sorria mais um pouco.

- Meu Deus, Justin, sua cabeça vai explodir! – Falei, rindo da expressão que ele fez quando finalmente desistiu e puxou o ar de uma vez só.

- Ok, deixa para lá. – Ele riu e trocou de música. Era uma que eu não conhecia, mas deixei que ele escolhesse dessa vez.

Nós olhamos um para a cara do outro e começamos a rir, assim, do nada. Eu me lembrava do Justin com o rosto vermelho e isso me fazia querer rir, mas não sabia porque ele estava rindo.

- Karen? – Jolie estava à nossa frente, nos olhando como se fôssemos traficantes de drogas no meio de um parque infantil. Levantei-me rapidamente, e fui invadida pela tontura. Justin fez o mesmo movimento que eu e me segurou com firmeza. – O que ela tem?

- Sapofobia. – Disse Justin, inventando aquela palavra na hora. Não pude deixar de rir, mas não estava em condições para fazer isso de um modo normal então apenas sorri. – Ela passou mal na aula de biologia e o professor pediu para leva-la para fora.

- Você deveria ter levado ela para a enfermaria e não para o meio do pátio! – Jolie ralhou. Olhei em volta e vi que os alunos já se dirigiam à saída, ansiosos para chegar a casa.

- Bom, Karen, sua prima já está aí, você está a salvo, em boas mãos. A gente se vê depois. – Justin me soltou devagarinho. – Tchau, Jolie.

Ela não respondeu, então ele foi embora. Jolie me encarou por uns cinco segundos, eu acho.

- Vamos para casa. – Ela disse, por fim, sem sermão nem nada.

Assenti e pedi a ela que voltássemos ao laboratório para que eu pudesse pegar minha bolsa.

- Estamos saindo! – Ouvi Tia Judith gritar, antes de ouvir a porta da frente ser fechada. Rolei na cama de novo, olhando o teto. O transporte dos meninos passaria dali a cinco minutos, eu precisava estar atenta ao horário que o porteiro me ligaria para que eu fosse busca-los na portaria, já que era regra do prédio não deixar crianças transitando sozinhas.

Ouvi o telefone da sala tocar e fui até lá, meio sem graça de atender algo que nem era meu.

- Alô?

- É da casa dos McGee?

- É sim.

- Aqui é da escola do Jack e do Josh. Estamos ligando para avisar que o transporte hoje está cancelado, então os senhores pais ou responsáveis devem vir buscar os meninos. Com quem eu falo?

- Karen, prima deles. – Respondi, sentindo aquele sentimento de “e agora?” crescer dentro de mim.

- Pode passar o recado aos seus tios, sim?

- Sim. – Afirmei e ela desligou. – Droga!

Eu precisava pensar e precisava pensar com calma. Precisava pegar os meninos na escola, mas não sabia como chegar lá. Não sabia nem o endereço, praticamente. Tinha uma lista de números grudados na geladeira com todos os telefones disponíveis para emergências, mas nenhum endereço ou alguém que pudesse ajudar numa situação como aquela.

Ouvi a campainha tocar e soltei um suspiro de alívio.

- Tia, o transporte dos meninos... – Diminuí a voz quando vi Justin na porta, me olhando com uma cara de interrogação. – Justin!

- Oi. – Ele sorriu de lado.

- Você pode me ajudar! É isso! Obrigada, meu Deus! – Agradeci. – Você sabe onde os meninos estudam? Os gêmeos?

- Sei, sei sim. Fica perto do restaurante... – Ele pigarrou. – Sei onde fica.

- Ótimo! Espera aí! – Falei e corri para meu quarto. Peguei um casaco e o vesti rapidamente. Peguei meu celular e as chaves de casa e voltei para a porta. Empurrei Justin para fora do apartamento e tranquei a porta. – Vamos.

- Aonde a gente vai? – Justin me seguiu até o elevador.

- Buscar os meninos. – Falei, simples assim. Logo em seguida arregalei os olhos. – Não! Desculpa, Justin! Eu nem perguntei se você podia me ajudar! Desculpa!

Ele riu da minha expressão.

- Está tudo bem. Mas porque a gente tem que ir lá, eles não vêm no transporte?

- Hoje não tem transporte. – Expliquei.

- Ah. – Disse ele.

Saímos do elevador e logo em seguida do prédio. O carro de Justin estava estacionado na esquina do quarteirão e chamava mais atenção que muita BMW que havia ali.

- Então, pegamos o menino, voltamos, fazemos o trabalho e corre para o abraço? – Justin enumerou as tarefas nos dedos enquanto dirigia para o colégio dos gêmeos.

- Isso mesmo. – Falei, sorrindo.

- Mas a gente não vai conseguir terminar o trabalho hoje.

- Vamos sim, tenha fé.

Ele riu pelo nariz e dobrou à direita num semáforo. Logo mais adiante eu pude ver algumas crianças andando com seus pais em direção aos carros e aos prédios que havia em volta da escola. Justin estacionou o carro e nós descemos.

- Karen! – Josh apareceu correndo assim que pisei dentro da escola. Ele tinha uma mochila vermelha e amarela nas costas. Jack veio também e me deu um breve oi, do modo dele. – Justin!

- Toquem aí, baixinhos! – Justin bateu nas mãos dos gêmeos e bagunçou o cabelo de Jack.

- Você estava viajando? – Josh quis saber.

- Não. – Justin franziu o cenho.

- Você sumiu. – Jack explicou a pergunta do irmão.

- Ah. – Justin riu pelo nariz e coçou a nuca.

- Bom, vamos indo? – Perguntei, segurando as mãozinhas deles. – Temos muita coisa para fazer hoje.

Seguimos de volta para casa, os meninos quase quebrando o carro de Justin, dançando nos bancos com a música alta. E Justin não estava atrás não, foi só sentir a energia dos meninos que ele começou a ficar alegre.

- Ok, a mãe de vocês me disse que vocês têm que fazer dever, tomar banho e ir dormir. – Ditei as normas, quando chegamos a casa. Os meninos reclamaram um pouco, mas no final cederam às pressões da vida escolar tão rápido quanto cederam à maciez de suas caminhas.

- Acho que podemos começar. – Sentei-me ao lado de Justin no sofá da sala de TV, onde ele assistia NBA. – Perdemos o quê? Uma hora?

- Por aí. – Justin sorriu.

- Você trouxe as coisas?

- Claro.

- Então vamos começar. – Sentei-me no chão, perto da mesinha de centro e Justin fez o mesmo, colocando os papéis ali, dividindo as tarefas. Eram vinte questões sobre o conteúdo que estávamos vendo. Algo como... Inglaterra. História geral da Europa. Ficaram dez questões para mim e dez para ele.

- Quem era Henrique... Oitavo? – Ele teve dificuldade de dizer o número romano.

- Rei da Inglaterra, fundou a Igreja Anglicana.

- Ok.

- E quem era esse... Watts?

- Ele melhorou a máquina de fiar, alavancando a Revolução Industrial na Inglaterra.

- Ok.

- E...

- Justin, por que você não tenta fazer sozinho?

- Não é justo! – Ele fez bico. – Você mora lá, sabe disso tudo!

- Não tem nada a ver...

- Sabe como tudo funciona!

- Vamos terminar isso, ok?

- Ok.

Voltei a fazer meus exercícios. Justin parecia bem determinado a terminar aquilo. Já passava das seis e Jolie e tia Judith não voltaram ainda.

- Você tem namorado?

- Hein? Na Dinamarca? Não. – Franzi o cenho, confusa com minha própria resposta.

- Hm... – Ele largou a caneta depois de alguns segundos e sorriu para a folha. – E muitos pretendentes?

- Não. – Eu acho. Na verdade, eu sempre tive medo de acabar como muita gente da realeza da Dinamarca: casamento arranjado.

- Estou impressionado.

- E você? Pretendentes?

- Você me desculpe a franqueza, mas pretendentes não me faltam.

- Mas uma em especial tem que existir.

- Talvez... Um dia quem sabe. – Ele deu de ombros. – Já terminei o meu. E você?

- Só mais essa questão.

- Nós somos dois gênios. – Ele abriu um sorriso orgulhoso.

- Gênio você seria se não ficasse me enchendo na aula o tempo todo. Aí não teríamos que fazer isso.

- Foi você que se enfiou nessa comigo, Karen.

- Eu sou muito legal mesmo.

Justin riu pelo nariz e concordou, o que me fez sentir um pouco mais aquecida por dentro. Ele me achava legal, então.

- Você vai à festa depois do jogo? – Justin quis saber, chegando um pouco mais perto, recostando-se no sofá.

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- Vou sim. Estou convencendo Jolie de que é uma boa.

- Jolie não perde uma festa por nada.

- Não sei não, ela não me parece bem.

E de repente eu me lembrei da cicatriz de Jolie. Eu fiquei ereta automaticamente e tensa, muito tensa. Abri a boca para elaborar alguma despedida para Justin ir embora, mas nada saiu de minha boca.

- Eu estou vendo certo? Justin? – Ouvimos a voz da minha tia vinda da porta. Viramos para trás no mesmo instante e vimos Jolie e tia Judith nos olhando. A diferença era que a expressão de Jolie era indecifrável e tia Judith, que nos sorria, parecia feliz por ver Justin. Eu havia sido, literalmente, salva pelo gongo.