Dois Caminhos, Um Só Destino

Capítulo 9 - Contra a Parede




Gina sentiu sua pele esquentar com o toque de Harry. Estavam ambos sozinhos n’A Toca. Ela já deveria saber que o destino brincaria novamente com ela, afinal, sua sorte tinha o tamanho de um pomo de ouro.

Por mais que tentasse fugir, Harry sempre estava em seu caminho. Nem mais seus próprios pensamentos eram só seus, já que seus neurônios insistiam em lembrá-la da existência dele o tempo todo. E, naquele momento, ela não tinha para onde correr, já que ele segurava seu braço de forma suave, mas suficientemente seguro para que ela não tivesse a chance de se afastar. Na verdade, até existia essa possibilidade; se tratava mais de um desafio para ver se ela realmente seria covarde e fugiria dele de uma forma tão clara.

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Os olhos verdes dele, tão seguros e brilhantes, estavam encarando os seus, e ela apenas rezava para que ele não percebesse o arrepio teimoso que passou em seu corpo naquele momento. Amaldiçoava-se mentalmente por sentir-se daquela maneira perto de Harry Potter.

Ele olhava para ela ansioso, esperando alguma reação. No momento em que segurou seu braço, a ruiva o olhou raivosa, num daqueles típicos olhares que ela lançava antes de lançar algum feitiço estuporante. Claro que socá-lo passou por sua cabeça, mas aqueles olhos e aquele toque gentil lhe tiraram todas as forças. Achou que, se estivessem na guerra, ela seria um alvo fácil demais por deixar seu ponto fraco tão claro.

Passou alguns minutos – o que pareceu horas para eles – até ela finalmente parecer entender as palavras de Harry.

— O que você disse? – Perguntou ela, apesar dela ter escutado muito bem.

—Acho que temos que conversar, Ginevra. – Disse Harry. Os pelos da nuca de Gina se eriçaram ao ouvir ele lhe chamar pelo nome completo que ela odiava.

Se aquilo foi uma tentativa para lhe tirar do sério, ele estava quase lá.

—Não temos nada para conversar. – Ponderou ela, fazendo seu braço sair por entre as mãos dele. Quase sentiu falta da pele quente em contato com a sua. Quase.

Gina viu Harry suspirar e passar uma das mãos pelo cabelo revolto.

—Você sabe que, na verdade, temos sim. Ou não se lembra do que aconteceu naquele jardim?

—Não, não lembro. Na verdade, acho que nada aconteceu. Você lembra de algo? Porque eu não, e olha que a minha memória é ótima. -Disse Gina, cruzando os braços e não disfarçando nem um pouco o tom irônico.

Mas no quesito teimosia, aquela disputa seria acirrada.

—Posso tentar refrescar a sua memória, se você quiser. -Provocou Harry, arqueando as sobrancelhas e lançando a ela um sorriso que fez Gina reconsiderar o feitiço estuporante.

—Desde quando você ficou tão idiota?

—Desde quando você ficou tão esquecida?

—Eu apenas deleto da minha mente o que não tem importância pra mim. Deveria tentar fazer isso algumas vezes, quem sabe você consegue manter essa sua cabecinha longe de caraminholas e de ideias estúpidas.

—Como aquele beijo? - sugeriu Harry, num tom quase inocente e tentando ignorar o fato dela ser linda mesmo quando o odiava e o chamava de idiota.

—Exatamente como aquele beijo.

—Então você se lembra. -Disse Harry, e Gina revirou os olhos.

Vendo que ele insistiria mesmo naquela conversa descabida, ela se afastou um pouco de Harry, e só parou ao constatar que estavam a uma distância segura. No fundo, sabia que conversar era a melhor saída, mas não sabia dizer exatamente o que temia. Não queria estar sozinha ali, e muito menos tão próxima a ele, mas a verdade era que não aguentava mais aquele clima tenso entre os dois. Não queria ninguém fazendo perguntas, muito menos sua mãe. Então era melhor mesmo que algumas coisas ficassem claras entre eles, porque o que quer que tivesse existido entre eles, ficara no passado, certo?

—O que você quer? Veio pedir desculpas pelo o que aconteceu naquele dia?

Harry riu sarcástico e passou novamente uma das mãos pelos cabelos negros. Gina odiava essa mania dele. Nunca vira razão em bagunçar ainda mais aqueles fios. Ele queria o que? Que ela fosse lá terminar de bagunçar ou tentar colocá-los no lugar? Passou anos repreendendo aquela vontade em Hogwarts e aprendera a lidar com ela. Não não esperava que tivesse que conviver com essa estranha vontade novamente.

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—Bom, sim. Quer dizer… Não me arrependo de ter beijado você, Gina. – Respondeu ele, olhando-a, e Gina sentiu o coração dar um solavanco. -E não foi bem algo planejado, simplesmente aconteceu e você sabe.

O fato de estarem completamente sozinhos (apesar de Almofadinhas estar tirando um cochilo de baixo de uma árvore no jardim) perturbava Gina e a Harry também. Imagens dele e de Gina se agarrando no sofá bem na sua frente passava por sua mente, mas sacudiu a cabeça, tentando afastar o pensamento.

—’Tá querendo dizer que a culpa também foi minha?

—Sim, eu ‘tô. -Respondeu ele, sem cerimônia. -Porque eu tive vontade de te beijar desde quando você voltou e passou por aquela maldita porta. Desde aquele dia perto do lago ou quando você insiste em roçar o seu braço no meu quando sentamos na mesa.

Gina definitivamente não esperava toda aquela sinceridade e muito menos a ousadia.

—Insisto? Eu não faço nada pensando em você, Potter. O fissurado era Voldemort, e sem bem me lembro, ele tá bem morto.

—O que eu tô tentando dizer… -Começou Harry, se aproximando alguns passos e parecendo pensar bem em suas palavras. Gina gostou de vê-lo tão incomodado, afinal, ele que insistira naquela conversa. -O que eu tô tentando dizer é que o que aconteceu entre a gente há 6 anos talvez não tenha…

—Você foi embora.

—...ficado para trás. -Completou ele, mas Gina notou que ele havia compreendido bem sua última frase. Queria não ter deixado claro a mágoa que nem sabia que ainda nutria dentro de si, mas achava que aquela simples frase havia estragado tudo.

—Você também foi. -Lembrou ele.

—Fui.

Minutos em silêncio se passaram com os dois se encarando, tentando ler os pensamentos que agora eram claros, mesmo não ditos.

—Me evitar não vai adiantar nada. -Começou ele.

—Eu não estou te evitando. – Respondeu ela, embora desejasse não estar tão na defensiva.

—Então me explica o porquê de você não ter falado comigo direito, e muito menos ter olhado na minha cara durante toda essa semana? – Perguntou ele, parecendo um pouco impaciente por não ter entendido as atitudes da ruiva.

—Por Mérlin, Harry. Você sabe muito bem. Não é como se nada tivesse acontecido entre nós naquele jardim. E sim, eu me lembro muito bem. Mas também queria esquecer, porque não era pra ter acontecido. – Exclamou a ruiva. – Você queria o que? Que depois daquele beijo tudo voltasse ao normal?

—Então você admite que estava fugindo? – Indagou ele, com um sorrisinho nos lábios, e Gina teve vontade de azará-lo.

—Eu não disse isso. -Disse ela, embora ambos soubessem que a resposta certa era “sim”.

—Não podemos fingir, Gina. Não podemos nos tratar como… como se não tivesse acontecido nada entre a gente a 6 anos atrás! – Ele estava visivelmente nervoso.

—Mas não foi isso que aconteceu? – Indagou ela, exasperada. –Foi isso que aconteceu entre nós, Harry. Nada! Depois daquela maldita Guerra, nós nos afastamos. Você foi ser Auror e eu fui jogar Quadribol. Não fizemos nada em relação um ao outro! Simples assim.

Por um momento, Harry ficou parado, estupefato. Ambos se olhando nos olhos. Aquelas palavras atingiram o Autor como um raio, pior do que qualquer maldição imperdoável.

Gina estava um ofegante. Seus olhos estavam vermelhos e tentava segurar as lágrimas que ameaçavam cair diante da lembrança de dias em que saíra mais ferida do que gostaria. Contudo, sentiu-se aliviada por finalmente estar falando aquilo para ele. Parecia que um peso saíra de suas costas. Mas ainda não havia terminado.

—Que diferença faz me beijar agora, se você não fez nada há 6 anos? – Perguntou ela, e Harry notou que ela estava realmente magoada. Hermione tinha razão, afinal.

—Quando voltei do treinamento, você já tinha resolvido ir para Gales. Pensei que quisesse isso...- Falou ele, calmo, mas a verdade é que estava com raiva não dela, mas dele mesmo. Como pôde ser tão lerdo?

—Sim, eu quis. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Mas eu também queria... – Gina achou melhor não completar a frase e começou a andar pela sala, fechando os olhos e respirando fundo, como se buscasse algum fio de sanidade. – Você passou 6 meses fora e não mandou uma carta. Como acha que eu me senti? Estava toda esperançosa depois de meses com medo de que você estivesse morto e desejando que você voltasse pra mim, mas... Você não fez nada, nem mesmo quando me viu partir. E eu soube que você não sentia mais o mesmo. Você me deixou ir sem uma palavra e não foi atrás de mim.

—Eu não sabia que você queria isso...

Gina riu com o nariz.

—Agora não importa mais. Você fez o seu futuro, e eu fiz o meu, Harry.

—Diabos, Gina, como não importa? Se não importasse, aquele beijo no jardim não teria acontecido e você não teria passado a semana toda me evitando.-Falou ele, dando mais alguns passos na direção dela, como se de alguma forma a proximidade fosse resolver tudo entre eles. -Ver você ir foi difícil pra cacete, Gina. Eu não queria aquilo, mas que direito eu tinha de me intrometer? Era uma oportunidade única, eu não ia querer ser uma pedra no seu sapato. Fiquei meses me odiando, pensando que o melhor pra você era que eu me mantivesse longe.

—Talvez esse tenha sido o seu problema. Quem julga o melhor pra mim sou eu, Harry. Com base em que você presumiu isso?

Para uma pergunta complexa, Gina não esperava uma resposta tão simples:

—Fred.

Claro, como ela poderia ter esquecido? Todos aqueles anos fizeram com que o fato de Harry talvez ter se sentido culpado pela morte de tantos amigos ficasse quase esquecido em sua mente. Ele nunca havia admitido aquilo pra ninguém, concluiu ela, ao vê-lo sem graça no meio da sala, mas o conhecia tão bem que depois da guerra havia presumido que talvez ele fosse se sentir daquela forma.

Agora tinha a confirmação.

—Harry…

—Eu sei.

—Você não teve culpa. -Disse ela, mesmo assim.

—Eu sei.

—Eu nunca pensei que a culpa fosse sua, e nem ninguém.

Harry assentiu, embora seu olhar estivesse turvado, denunciando ele estava bem distante dali.

—O que aconteceu entre a gente em Hogwarts, na época, parecia pertencer a vida de outra pessoa, uma que não estivesse condenada a morrer lutando contra um bruxo das artes das trevas. Depois que finalmente me livrei dele, como eu poderia ser tão feliz ao seu lado sabendo que eu já tinha te magoado? Como você me aceitaria de volta, Gina, quando Fred, Remo, Teddy, Sirius e tantos outros morreram numa luta que eu tinha começado? Talvez você ache idiota agora. Bem, me parece idiota hoje, mas logo depois da guerra, isso pesou.

—A luta não era só sua, Harry. -Guinchou ela, o interrompendo. -Ou você acha que pararíamos de lutar caso você tivesse mesmo morrido naquela floresta?

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—Mas a única pessoa condenada à morrer era eu. E ainda sim, saí vivo. Não parecia justo. Teddy, Remo, Fred… -Disse ele, mas não queria se manter num assunto que estava quase cicatrizado após muitas sessões de terapia mágica no St. Mungus. Dando um suspiro, ele chegou mais perto dela, involuntariamente. -Escute, eu não tenho mais esses pensamentos estúpidos. Eu aprendi a lidar com eles, Gina. A única coisa do passado que ainda continua igual é a vontade de querer a gente junto.

Ela quase vacilou com aquela última frase.

—Mas não é tão simples assim, Harry. Muita coisa mudou, inclusive eu. Tem mais pessoas envolvidas nisso também.

—Você quer dizer o tal do David? -Indagou ele, franzindo o cenho com a infeliz lembrança do rapaz.

—Tipo a Jean. -Devolveu ela.

—Não tem nada entre eu e a Jean, Gina. Não mais.

—Isso não é completamente verdade e a mamãe te daria um belo puxão de orelha se ouvisse o que você acabou de dizer. Pelo o que ouvi, ela ainda tem esperanças. -Disse ela, não querendo soar tão implicante.

Mas sem sucesso. Harry quase sorriu diante daquela possível pontada de ciúme. Só que ela não era a única ciumenta ali.

—Você ouviu coisas demais. -Resmungou ele, amaldiçoando todos os fofoqueiros de plantão que amavam comentar sobre sua vida privada. -E não é como se David não fosse cheio de dedos pra cima de você. O que esse cara vai vir fazer na Inglaterra?

—Ora, até onde eu sei, é um país livre.

Harry riu ironicamente diante daquela frase.

—Se ele vem, é porque ainda tem esperanças de que vocês voltem a ter o que tinham antes. Mas não posso culpá-lo por também querer você, não é mesmo?

—O quê quer dizer?

—Você sabe muito bem. Não é como se fossemos ser grandes amigos. -Foi a vez dele de cruzar os braços, tendo a plena consciência de que estava sendo idiota dando voz ao ciúme bobo que sentia de David.

—Não vejo problema nenhum com isso, se você quer saber. Por que não chama a sua “ex-atual” para o almoço de domingo? Assim a mesa estaria completa! Prometo recebê-la muito bem. -Ela provoucou.

—”Ex-atual”?? -Perguntou ele, achando na verdade muito engraçada a estranha definição que ela tinha dado à Jean. -Você é mesmo impossível, Gina.

—Eu sei. -Disse ela, arrebitando o nariz e sorrindo desafiadoramente, orgulhosa de si.

Harry teve que reprimir a vontade de puxá-la diretamente para seus braços para beijar aquele nariz e todas as outras partes de Gina Weasley. Mas tinha que ser sério, não queria que a ruiva achasse que era uma espécie de John que costumava brincar com os sentimentos de algumas muitas mulheres.

—Não sinto nada pela Jean. -Disse ele, sério.

—E ela sabe disso?

Ele não poderia achar que Gina facilitaria as coisas, não é mesmo?

—Se não sabe, vai saber. Pretendo deixar tudo claro para ela.

—Que bom. Digo, você que sabe. Mas acho bom você não continuar agindo como um perfeito idiota. -Disse ela, mas Harry ignorou a provocação voltando a colocar as mãos nos bolsos dianteiros de sua calça, até porque sabia que aquela conversa entre ele e Jean já deveria ter acontecido fazia algum tempo.

—Quando esse tal de David chega? -Perguntou Harry, embora soubesse que ela não devia nenhum tipo de explicação a ele.

—Em alguns dias. Por que? -Quis saber ela, mas já não estava tão na defensiva assim.

—Só quero me… preparar. -Respondeu ele, embora nem ele ou ela soubesse o que realmente aquilo significava. Mas o tom de voz dele era calmo e sereno; não soava como uma ameaça, mas mais como um avisp a ele próprio. Harry era adulto, sabia que não conquistaria Gina de volta caso agisse feito um ogro e estuperasse David de graça, embora achasse melhor o sujeito andar na linha e ficar bem longe de Gina. 10 metros talvez fosse uma boa distância, pensou ele.

Quando alguns minutos em silêncio se passaram, Gina achou que seria uma boa hora para retornar com o que quer que tivesse fazendo para se manter longe de Harry. A sinceridade dele naquela conversa com certeza ocuparia sua mente pelo restante do dia e talvez até da semana.

—Bem, eu já vou voltar para o meu quarto. -Avisou ela, mas antes que pudesse se virar, Harry segurou sua mão, tão gentil quanto antes, o que impediu qualquer vontade dela de puxá-la bruscamente de volta para si.

—Gina… Eu sinto muito. -Disse ele, levantando os olhos na direção dos dela. -Me desculpe por ter agido como um idiota e por ter te magoado. Acredite, a última coisa que eu queria era te machucar.

Gina o olhou, incapaz de desviar seus olhos daqueles verdes penetrantes. Podia sentir a sinceridade dele em cada palavra, varrendo qualquer resquícios de raiva que poderia ter dele. Mas o orgulho Weasley ainda existia e livrar-se de toda mágoa que nutria seria assim tão fácil.

—Eu acredito, Harry. -Disse ela, depois de algum tempo. -Éramos muito novos, não é mesmo?

—Acho que sim. -Respondeu ele, caindo no erro de desviar os olhos dos dela para focar nos lábios que tanto desejava beijar novamente. Mas queria fazer tudo certo dessa vez. -Mas embora tudo tenha mudado, eu ainda sinto o mesmo, Gina.

—Harry…

—Passamos anos sem nenhum tipo de contato porque fui covarde o suficiente para deixar você ir embora sem ter dito isso anos atrás, então não posso cometer a mesma burrada novamente. Mas agora… Agora você sabe, Gina. Sabe que tudo o que eu quero é uma oportunidade de… fazer diferente dessa vez.

Harry queria dizer muito mais, mas como poderia expressar a confusão de seus sentimentos? Tudo o que sabia era que queria ficar junto com ela, tocá-la, beijá-la, rir com ela e poder concretizar todos os seus desejos em relação à Gina Weasley. Mas não poderia ter se quisesse tudo aquilo sozinho. E agora que sabia o quanto ela ficara magoada com ele, sabia que não podia esperar nada dela ou fazer outra burrada como sucumbir ao desejo de tocar seus lábios nos dela. Teria de ser paciente e torcer para que Mérlin estivesse do lado dele. Por isso, deu um leve aperto na mão dela antes de soltá-la.

E, como ela não tinha respostas para aquilo, subiu as escadas, desejando que ele não fosse capaz de ouvir as batidas descompensadas de seu coração.

XXXXX

Ele achou uma ótima ideia passar n’A Toca naquele fim de tarde, depois do trabalho. O sol já havia sumido no horizonte quando adentrou na sala dos Weasley com o mesmo sorriso encantador de sempre, que se aumentou ainda mais ao ver o motivo de estar ali sentada no sofá.

O dia no Departamento de Aurores fora bastante exaustivo, mas John não se importou. A imagem de Viviane usando a camisola de lacinhos ainda povoava sua mente. Não podia negar que se sentia extremamente atraído por ela. A beleza da jogadora de Quadribol lhe afetava, e se sentia tentado a provocá-la toda vez que ela lhe ignorava.

Quando ele a havia prensado contra a parede a alguns dias atrás, o loiro se surpreendeu. Ele esperava que ela lhe empurrasse ao invés de corresponder o beijo, e ainda querer mais, o que o deixou horas imaginando onde aquilo os levaria se Rony não os tivesse interrompido. Mentalmente, azarou mil vezes o amigo por aquilo.

John foi recebido com um grande abraço de Victoire, que brincava junto com a irmã, Dominique, no tapete, enquanto Viviane folheava uma revista trouxa.

— Como vão, crianças? – Saudou o loiro, bagunçando os cabelos de Dominique.

Viviane não tirou os olhos da revista, mas ele pode notar que ela prendeu por alguns segundos a respiração. Ele caminhou até ela, e sentou-se ao seu lado, fazendo questão de encostar seu joelho esquerdo no dela.

— Sentiu saudades, Pintinha? – Jonh tocou levemente o queixo da morena, fazendo-a o olhar.

— O que? Saudades de você? – Viviane bufouz, antes de voltar sua atenção novamente para a revista.

Ela usava calça jeans, o que o deixou um pouco magoado por não poder olhar para a pele de suas pernas.

Viviane estava um pouco cansada. Havia passado a manhã fora, junto a Rony, Hermione e Molly, ajudando-os com os preparativos do casamento. Não se importou em deixar Gina sozinha, pois sabia que era daquilo que a amiga realmente precisava. Nem mesmo havia visto ela depois que chegara. Somente Harry. Esse ela encontrou sentado no sofá com a cabeça apoiada nas mãos quando chegou, parecendo muito pensativo. Tinha acontecido alguma coisa, Viviane tinha certeza, mas procurou não saber do ocorrido logo naquele momento. Se havia realmente acontecido o que ela imaginava, Gina precisava pensar.

Agora tinha um loiro, com uma aparência extremamente atraente e um olhar safado para se ocupar.

— De quem mais seria? – Perguntou ele, sínico. Ignorou a careta que ela fez e voltou a falar de modo que só ela pudesse lhe ouvir. – Precisava vir aqui. Você não saiu da minha cabeça um minuto se quer nesses últimos dias, Pintinha...

Viviane suspirou, e fechou a revista, olhando-o raivosa.

—Quantas vezes precisarei pedir para você não me chamar de “Pintinha”? Isso é ridículo! – Exclamou ela, mas a chegada de Fleur carregando Louis nos braços não deixou que ele respondesse.

— Ele dormiu, querida? – Perguntou Molly, vindo da cozinha.

— Não, Sra. Weasley. – Respondeu Fleur, sentando no outro sofá no outro canto da sala.

Por um momento, Viviane esquece que John estava ali. Sua atenção estava totalmente voltada para Fleur com Louis em seus braços. O jeito como a metade veela olhava para seu filho era tão... intenso. A maneira carinhosa da qual ela o segurava, como se fosse capaz de protegê-lo de tudo e de todos. Naquele momento, diante daquela cena, Viviane sentiu inveja de Fleur.

Era ridículo, ela sabia, mas sempre que via alguma mãe segurando seu bebê no colo, Viviane se sentia daquela forma. Era como se estivesse diante de seu mais profundo desejo de anos atrás. Às vezes ela se perguntava por que a vida tinha sido tão cruel com ela. Passara por tantas coisas, se arrependera de tantos atos e chorou por tantos motivos dos quais a marcaram. Viviane seria capaz de relatar todas as noites que passara em claro, sem fechar os olhos uma única vez, revivendo a cena em sua mente de quando ela achava ser o pior dia de sua vida.

Nunca superou o que acontecera. Por mais que houvesse tido momentos alegres depois do ocorrido, ela não se considerava uma pessoa feliz e muito menos achava que um dia iria ser. De tantas formas a vida fora capaz de tirar-lhe a esperança de que um dia pudesse voltar a ser feliz. Ela sabia disfarçar muito bem, pensou. Guardara seu passado consigo mesma, nem mesmo Gina sabia do ocorrido. Queria esquecer tudo de ruim do qual passara, mas era impossível. Aquelas cenas, da qual ela se lembrava perfeitamente, estavam guardadas com ela, marcadas em sua mente. Não havia lembranças felizes para substituí-las.

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Jogar Quadribol lhe ajudou, mas não o bastante.

Incapaz de desviar seus olhos de Fleur com Louis, Viviane teve uma súbita vontade de chorar. Era sempre assim. Ela achava que estava conseguindo seguir em frente, mas de repente as lembranças voltavam, e junto com ela, as lágrimas. Foi capaz de se segurar, mas sua testa estava franzida e suas mãos geladas. Sua postura mudara de tal forma que John, que ainda estava sentado ao seu lado, percebeu.

—Hey... Você está bem? – Perguntou ele, segurando uma de suas mãos e vendo o quanto ela estava gelada.

Somente quando ouviu a voz de John foi que Viviane pareceu sair do transe. O olhou nos olhos e depois fitou suas mãos unidas.

—E-estou. – A resposta veio em um sussurro, mas ele fora capaz de ouvir. John sentiu quase no mesmo momento, ela afastar sua mão da dele e levantar do sofá. Lhe lançou um meio sorriso e saiu andando em direção ao jardim d’A Toca. John não hesitou e foi atrás dela.

—Você mente muito mal. – Disse John, enquanto andava atrás de Viviane, onde essa parecia querer conhecer os arredores d’A Toca naquele momento.

—Quero ficar sozinha. – Disse ela, e o loiro quase esbarrou nela quando essa parou de andar e virou-se para si.

—Sei que não quer. – Não era verdade. A conhecia não fazia nem um mês, não sabia traduzi-la tão facilmente. Mas ele resolveu arriscar. Podia ser “imaturo”, como a maioria das mulheres gostavam de o rotular, mas soube reconhecer a súbita mudança de humor de Viviane. – Você ficou estranha de repente. Aconteceu alguma coisa?

Viviane suspirou. Ele nunca desistia! Passou os olhos pelo local onde estavam. Dava para ver somente um pedaço do telhado d’A Toca, ninguém conseguiria os ver devido as árvores que o cercavam.

—Olha... –Ela ia mandar ele ir embora, mas mudou de ideia. John não era tão ruim assim, afinal, ele fora atrás dela. Viviane sabia que o motivo passava bem longe de ser preocupação, mas ora... ela poderia unir o útil ao agradável! Ainda estava jogando e, ela tinha que admitir, John Bennett beijava muito bem! Tão bem que a faria esquecer-se de seus problemas naquele momento.

—Pintinha, se você estiver doe...

—Cala a boca! –Disse ela, antes de puxá-lo pela colarinho da blusa e o beijar.

Daquela vez, não houve torturas. Ambos foram direto ao ponto. Suas línguas se enroscaram quase no mesmo momento em que suas bocas se uniram, e nenhum dos dois reclamou.

John a apertou em seus braços, colando mais seus corpos. Ela, por sua vez, o beijava tão ferozmente que tinha certeza que levaria minutos para recuperar o ar quando se soltassem. Mas no momento, não ligou. Tudo que Viviane queria era não pensar, e John a estava ajudando perfeitamente bem.

Ele começou a andar com ela em seus braços, sem quebrar o contato entre seus lábios, até chegar perto de uma árvore e prensar Viviane contra esta. Seus corpos ficaram ainda mais colados, que foi impossível John se segurar e não soltar um gemido de satisfação. Ela adorava a sensação de posse que ele exercia sobre si, como se ela fosse dele e de mais ninguém. Mas Viviane sabia que não era assim. Quem ligava? Nenhum dos dois pensava nos atos ou sentimentos. Se estivessem colados o suficiente para ouvir a batida do coração um do outro, tudo estaria perfeito.

John desceu uma de suas mãos do pescoço da jogadora de Quadribol, dessa vez sem pena em apertar um de seus seios rapidamente quando sua mão passou por ali. Chegou na curva de sua cintura e a levantou, fazendo com que Viviane abrisse suas pernas para que ele se aconchegasse melhor ali.

Quando o ar faltou, ela sentiu John explorar seu pescoço, enquanto ela arranhava sua nuca em resposta do quanto estava gostando do “carinho”. Seus pensamentos estavam certos, afinal. Beijar John Bennett era a melhor distração do mundo.

—Lembre-me de sempre vir atrás de você, não importa o lugar ou a hora... –Sussurrou John antes de voltar a colar seus lábios nos dela.

XXXX

Ela gostava de ficar apoiada na janela, sentindo o vento trazer o delicioso cheiro do gramado vindo do jardim. Lembrava-se de que fazia sempre aquilo quando pequena, sempre olhando para o céu, esperando uma coruja trazer uma carta de um de seus irmãos que estavam em Hogwarts.

Apesar de ter 6 irmãos, as vezes ela se sentia só. Não por todos serem homens, mas por ela ser a caçula. Fora a última a ir para Hogwarts da família, e lembrava-se o quanto ficara feliz ao receber a carta da escola de magia e bruxaria. Tudo era mais simples quando se era criança, ela pensou. Quando se tem menos de 12 anos, não tem trabalho para se preocupar, namorado e nem confusões interiores.

Sentindo a brisa batendo em seu rosto, Gina não estava pensando. Na verdade, pensar foi o que ela menos procurou fazer nas últimas horas. Não quis nem se arriscar, pois ela sabia exatamente onde os seus pensamentos iriam parar. Então, procurou se distrair, olhando para a vista de sua janela e lembrando-se de sua época quando pequena.

Ela não mudara tanto, afinal. Continuava ruiva, suas sardas ainda eram bem visíveis e sua teimosia ainda permanecia tão “grande” como antigamente. Ela sabia muito bem que possuía um orgulho maior do que o normal, mas não se envergonhava disso. A única coisa da qual ela esperava ter mudado era seus sentimentos.

Gina suspirou ao ver que sua tentativa de se distrair com lembranças dera errado. Tudo chegava a Harry Potter.

Lembrar de sua época quando criança a fez perceber o quanto era tola naquela idade. Era completamente apaixonada por um menino da qual ela conhecia somente pelas histórias que ouvia sua mãe contar. Talvez fosse porque ele salvou o mundo bruxo, um mundo da qual ela fazia parte.

Fechou os olhos novamente, com raiva de si mesma por lembrar-se dele. Tudo o que ele lhe dissera há algumas horas atrás, ecoava em seus ouvidos, e o beijo que trocaram ainda estava vívido em sua mente.

Gina voltou a olhar pela janela, mas nem quando viu Viviane saindo d’A Toca, sendo seguida por John a fez esquecer das palavras Harry.

Foi pensando em Harry, olhando para um pequeno morro onde jogavam Quadribol, que ela viu alguém aparatando perto do cercado do jardim. Franziu a testa e estreitou mais os olhos para ver se tinha certeza de quem era, mas Gina nunca deixaria de o reconhecer.

Arregalou os olhos e deu as costas à janela. Abriu a porta de seu quarto e caminhou pelo corredor para logo depois descer as escadas, nem se importando se pisava forte no degrau que rangia. Quando Gina chegou na sala, se deparou com Harry abrindo a porta para a “visita”, enquanto Victoire e Dominique brincavam no tapete e Fleur balançava Louis nos braços, sentada no sofá.

Lançou um sorriso a cunhada e as crianças. Não tinha visto quando eles haviam chegado, já que estava trancada no quarto desde o término da conversa com Harry.

O herói do mundo bruxo enrugou a testa quando abriu a porta e deu de cara com um completo desconhecido. Mas Gina o conhecia completamente.

— David?

Harry olhou para a ruiva quando a escutou dizer aquilo, e novamente para o cara parado em sua frente.

Gina não se moveu. Apenas olhou para Harry, que lhe lançou um olhar da qual ela não soube interpretar.

Atrás do Chefe dos Aurores, David a olhava sorrindo.

XXXXXX

John não ficou nem um pouco satisfeito em ter que se separar de sua “pintinha”. Estava tudo indo muito bem, com os lábios dela encostados nos seus e seus corpos colados, quando seu celular tocou, e ele teve a infelicidade de parar o beijo e atender. Mas, apesar da raiva, Allef não ligara por engano. Precisavam dele no Ministério, e John não podia deixá-los na mão.

Foi querendo ficar, que o loiro aparatou, deixando Viviane sozinha novamente, mas ele prometeu voltar.

Andando em passos largos, John chegou no Departamento dos Aurores o mais rápido possível. A voz do amigo de trabalho não era muito agradável ao telefone.

— Eu acho bom ser importante, Allef, por que se não, saiba que você vai perder a metade do seu salário. – Disse John, brincando é claro, entrando sério na sala do amigo. – O que foi dessa vez?

— Isso. – Allef levantou uma carta nas mãos, e John soube na hora do que se tratava. – Nossos amiguinhos pegaram pesado dessa vez.

—Quem trouxe essa carta, dessa vez?

—Jean. Ela disse que encontrou isso na mesa dela.

John franziu o cenho e pegou a carta das mãos do amigo, abrindo-a sem nenhum cuidado.

— Belo batom, Bennet. – Comentou o amigo, enquanto John lia o conteúdo da misteriosa carta. O batom de Viviane manchou os arredores de seus lábios, mas o loiro pareceu não se preocupar a medida que lia cada linha do pergaminhos que tinha em mãos.

— Onde está Jean? – Perguntou o loiro, revisando mais uma vez a carta.

— O horário dela já terminou. Provavelmente deve estar em casa uma hora dessas. – Respondeu o Auror.

— Pois chame-a. – Ordenou John, seguro. Não tentou conter sua raiva, porem, procurou se controlar para não rasgar o papel que ainda segurava. – Isso já passou dos limites.

— O que vamos fazer? – Indagou Allef, escrevendo em um pequeno pedaço de pergaminho o curto bilhete para Jean.

Era incrível como seu dia podia mudar de uma hora para a outra. A alguns minutos, John estava aos beijos com a mulher mais linda e sensual que ele jurava ter conhecido na vida. Agora, havia apenas uma carta em sua mão, a qual fora mandada por um louco que o estava tirando a paciência desde que Harry e Rony tiraram férias.

John suspirou, limpando o suor de sua testa.

— Interromper férias dos meus queridos amigos. – Respondeu o loiro, largando a carta junto com as outras que haviam recebido em dias anteriores. – Vamos chamar o Harry.