“Eis que o dia chega. Está próximo, eu já posso vê-lo.”


Eu digo isso para mim mesma todos os dias. “Eis que tudo acabará. Acabará como chama assoprada por criança. Sem muitas memórias.” Acabará com a mesma rapidez que começou. Maldito momento aquele em que fui me apaixonar.


De que serve esse amor se é secreto? Se é unilateral? Não serei correspondida, já sei. Mas por que continuo fazendo isso? Ora, nunca amei alguém que me amasse. Deve ser algum tipo de castigo. As pessoas que me amam estão lá, só esperando que eu as ame de volta, coisa simples, fácil de fazer. É algum problema comigo? Não consigo devolver desse amor que já existe: para eles, é unilateral também.


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Não basta muito para que eu me apaixone. Um sorriso, uma conversa, um gesto. Às vezes, nem isso. Uma frase, basta, também. Menos que isso, algumas vezes, menos que um simples ato. Uma tara minha: ter cabelos longos, pose de rebelde. Isso também, basta.


Não é amor propriamente dito, porque eu corto antes que cresça. Mas o que é isso? Fica na cabeça o rosto, a voz, mesmo que eu não tenha intimidade. Deve ser paixão, mas paixão ainda é muito profundo para descrever esse sentimento superficial que está presente toda hora. Não pode ser tara, porque seria pouco demais.

A pessoa se torna alvo dos meus pensamentos por duas, três semanas. Pensamentos bonitos, às vezes. Dura pouco, mas irrita. É fácil se apaixonar quando acontece desse jeito. E sua mente nunca estará vazia, seu coração baterá rápido quase todos os dias. Não se tem paz um segundo sequer: alguns ousam entrar até nos meus sonhos.


Aí vem aquelas. “Você sempre muda a pessoa de quem você gosta”

Nem posso afirmar que "gosto de várias, mas amo uma só". Nem isso. Amo ninguém, gosto de todo mundo.


Ninguém deveria ser uma pessoa, pois é nela em quem eu mais gostaria de pensar. Queria ter minha mente vazia, os pés no chão. Não pensar em ninguém antes de dormir. Não sonhar com situações que nunca acontecerão.


Poderia, então, me preocupar com coisas que considero mais importantes: a política, a literatura (maldita, é linda, mas fala demais sobre amor), a história, a arte, a música. Poderia compor, escrever, ponderar sobre questões importantes. Mas todo esse “amor” impede: sento para ler o jornal só para cair em mim depois de dez minutos que passara pensando em alguém.


Serve de nada ocupar a cabeça com isso. Me faz perder tempo, perder informação, que hoje, é tudo. E mais, me deixa triste. Triste por pensar que aquilo não dará certo. Triste por saber que logo terá outra pessoa dominando meu subconsciente: não posso ser fiel à alguém nem mesmo na imaginação?


Estou a esperar esse dia, em que poderei ser de ninguém, ser só minha. Pensarei sobre mim, para variar. O que farei no futuro, para onde deveria viajar e o que devo falar. Chega de depender das outras pessoas para respirar. Eis que chega o dia da libertação. Campanha: que cada um seja de si mesmo.


“Eis que chega esse dia. Está próximo, eu já posso vê-lo.” Assim eu espero.


Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.