Edward e Bella. Bella e Edward. Era sonoro, quase magico. Esse era o pensamento predominante na mente de Edward, enquanto os dois andavam na direção do volvo. Taciturno, pela sua falta de decoro, tentou concentrar-se no que poderia fazer para surpreende-la e diverti-la, mostrando assim como a vida poderia ser...Interessante? Surpreendente? Talvez mágica como o elo entre eles?

Sinceramente, a quem ele queria enganar? Não conseguia concentrar-se por mais de 10 segundos perto da sua Bella, não sabia descrever algo tão amplo como a vida e o pior de tudo: não sabia como poderia convence-la. Exasperado, sempre exasperado, e fascinado continuou a segui-la na direção do carro, sorrindo levemente por vê-la descalça, em luta para permanecer sobre os próprios pés.

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– Cuidado com seus pés. - preveniu ele, dividindo-se entre preocupado e divertido.

Bella virou-se e o encarou. O rosto corando em fúria e os olhos envoltos em tristeza retiraram o sorriso dele, fazendo-o ficar a deriva de tudo que o cercava, esperando apenas a aprovação dela.

– Cuide das palavras que proferir, Cullen, - falou ela furiosa. – enquanto eu cuido dos meus pés e senso de coordenação.

Edward temendo ser retaliado novamente e sentindo-se visivelmente culpado calou-se e apressou-se ainda mais.

Os violinos, a ponte e os sapatos haviam sido esquecidos, agora restavam apenas os dois, ele tentando mostrar a melhor parte de si e ela reconsiderando sua atitude de partir com ele, afinal ele era somente um desconhecido. Um desconhecido disposto a salva-la. Talvez por esse único e solitário detalhe, ela pudesse confiar e continuar a segui-lo, mas...Confusa ela desistiu. Não queria pensar em nada. Deixaria que tudo acontecesse, negando a racionalidade e o bom-senso participação naquela espécie de encontro. Sim, encontro. Bella Swan, a arisca vendedora, estava em um encontro, sem se importar se o braço de Edward tocava o seu repentinamente, se a musica She’s got you high era-lhe familiar ou se o cão que atravessou a rua era semelhante a Jacob. Jacob e Rosalie... Droga, havia alimentado a pobrezinha, antes de sair de casa?

– Se eu decidir realmente me matar, você fica com a Rosalie?- perguntou Bella, lembrando-se tardiamente que não havia pensado nela ao sair. E se ela estivesse morrendo de fome? E se houvesse fugido?

Bella mesmo na véspera de seu suicídio sempre seria Bella, afinal. Lembrava-se de todos, inclusive do vizinho que sempre lhe atormentava devido ao estrondoso som de sua picape, mas não pensava por menos de dois segundos na dor e aflição que sentiria sem poder respirar, vendo sua vida se esvair, pedindo beijos á morte.

– Quem é Rosalie?- rebateu Edward imaginando-a em um hospital dando á luz.

Balançou a cabeça, indignado, e prestou mais atenção ao transito.

– Meu hamster. Ela é uma graça, mas devo preveni-lo que morde e não é o mais afável dos animais.- uma Bella em melhor humor respondeu, sorrindo.

Edward riu sentindo-se genuinamente melhor com a resposta. Passou entre dois carros e olhou-a, por alguns segundos. Tanto para saber dela em tão pouco tempo. “É por isso que não devemos nos envolver com pessoas masoquistas e solitárias, nunca sabemos se há alguma chance de reencontro.” Pensou.

– Por que seu hamster se chama Rosalie?- perguntou escondendo seus reais pensamentos.

– Por que... Ora não sei. - ela respondeu sentindo-se corar.- Eu vi o nome, gostei e dei a ela. Você por acaso sabe o por que de se chamar Edward?

Ele riu. Deviam estar discutindo sobre o por que dela não cometer suicídio, mas ao invés disso falavam sobre um hamster e nomes. Nunca se sentiu tão feliz com a existência de bichos de estimação.

– Minha mãe o escolheu, por que amava Jane Eyre. Simples assim.

Bella retirou mais uma vez os cabelos dos olhos, ela o fazia com certa frequência, e murmurou:

– Mas e Anthony?

– Minha avó nutria uma paixão platônica por um personagem de novela que se chamava Anthony.

Bella atordoada pela sinceridade a qual não estava acostumada, assentiu mais uma vez. Não sabia como agir com a sinceridade dele, não gostava de lidar com algo pessoal daqueles que a cercavam.

– Por que você se chama Isabella Marie?- perguntou ele após um curto silêncio, olhando para o painel do volvo. Em breve teriam que parar para abastecer.

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– Minha mãe ao invés de Charlotte Brote lia Emily Brote**, por isso Isabella. E Marie é uma homenagem a minha avó paterna que morreu antes do meu nascimento.

Edward pensou na estranheza da família a qual Bella provinha. Dar o nome de uma sofredora a filha?

– Por que Isabella e não Catherine, ou Nelly, ou Ellen?

Bella pensou em dizer a ele que estava cansada de suas indagações, do modo como ele parecia ansioso antes de suas respostas e dos olhares que lhe dirigia, quando ela queria estar só, longe da estranha sensação de frio na barriga que ele estava causando em seu corpo. Porém não conseguiu.

– Minha mãe dizia que Catherine era muito interesseira e Nelly/Ellen muito intrometida. Em contrapartida, Isabella foi corajosa em seguir o que ela queria e forte para abandonar o objeto de amor pelo qual ela lutou.- Bella deu de ombros, a história do próprio nome nunca havia lhe interessado e Renée sempre inventava uma nova, logo não era realmente verdadeira e não merecia mérito.- Quantos anos tem?

Em um piscar de olhos, Bella mudava de assunto. Suspirou, tantas surpresas.

– 28. E você?

– 29. - Bella fez uma careta.- Casado?

A respiração de Edward vacilou. Pensou em contar sobre Tânia, sobre sua ida ao Alaska e o noivado com Carmem, porém ele tecnicamente não era casado e portanto a omissão seria algo perdoável.

– Não.

Bella suspirou, desviou seu olhar do dele, com o pressentimento de que algo era omitido, e passou a analisar a estrada. Deveria ter permanecido na ponte.

– Vai ficar com a Rosalie?- insistiu, lembrando-se tardiamente o porque de toda aquela conversa despropositada.

– Claro. - ele respondeu, satisfeito por estar concretamente fazendo algo por ela. Depois se lembrou das mordidas e tentou entender o porque dela permanecer com um bicho como aquele. Tarde demais percebeu que o bicho poderia lhe pertencer. Estremeceu. Ao menos, mais um motivo para mantê-la viva. – Tem mais algum bicho?

– Eu tinha o Jacob, meu cachorro, mas ele foi atropelado e morreu. - Bella sentiu os olhos marejando e seu olhar recaiu no ônibus a sua frente. Precisava manter-se afastada de suas próprias emoções por alguns segundos ou isso acarretaria um suicídio no carro do desconhecido.

– Jacob?- perguntou ele, sem notar a tristeza de sua amada. Pressentiu que não gostaria da resposta, aliás, pressentiu que a abominaria.

– Meu ex-marido se chamava Jacob, por isso, quando resolvemos adotar o cachorro demos o mesmo nome.

Ela falava calmamente, como se ter ex-maridos com o nome de seu antigo animal de estimação fosse o mais normal dos atos. Algo rotineiro.

Fúria. Tudo coloriu-se em um tom de vermelho, Edward apertou com força o volante a sua frente e se calou. Receosa de haver falado algo improprio e desconfortável pelo silêncio repentino, ela finalmente o olhou. As veias pareciam saltar do rosto branco dele e ele parecia angustiado, irado... machucado? Bella não o entendia.

– Ex-marido?- perguntou ele, mais controlado, mas nem por isso menos intenso.

– Nós conhecemos no jardim de infância. Namoramos por 10 anos antes do casamento.

Bella não sabia o porque de ser tão honesta com ele ou o porque de estar dando-lhe informações adicionais, entretanto, aquela era a ultima conversa de sua vida. Se realizasse seu anseio e se lembrasse da sua vida no pós-vida poderia se orgulhar do momento. O último e talvez único ato de coragem de Bella Swan. Soava bem.

– Se eram tão perfeitos juntos, por que se separaram?- perguntou ele, acido, concentrado na estrada, procurando um modo de entrar no posto.

– Eu não gosto que desrespeitem meu espaço pessoal, o que inclui obviamente o espaço onde vivo.- Bella suspirou. Enfim, as malditas lágrimas escorreram pela sua face e o carro estava estacionado no posto. Aliviada, ela percebeu que logo tudo isso acabaria. Sem tristeza, cansaço, Edward... Sentiu-se mal por ele, mas não podia fazer nada. Aquela era a decisão dela. Somente dela e mais ninguém.

Edward virou-se para ela e primeiramente notou as lágrimas que deslizavam sem controle. Sal e água. Tristeza, pura e simplesmente. Estendeu uma das suas mãos e limpou-as com a ponta dos dedos. Suave, sempre suave. 1 hora e 45 minutos. Tudo que lhe restava e ele ainda a levava ás lágrimas.

– Não chore. Desculpe-me, por ser um idiota insensível.- pediu desesperado.- Desculpe-me. Esqueça que isso ocorreu, tudo bem? Ainda temos tempo.

Bella notou que o pedido de desculpas e a última afirmação não eram exatamente para ela. Eram para ele, para aliviar a consciência. Provavelmente, ele nem ao menos se importava com os sentimentos dela. Talvez tudo se resumisse a vida que ele claramente queria manter.

– Tudo bem.- respondeu Bella vazia, sem emoção, uma misera marionete sem vida. Ela já estava morta? Seria aquela conversa, o estranho e o volvo em que estava, uma mera ilusão de sua mente?

– Droga.- xingou Edward, percebendo o que havia feito. Bem não havia volta, mas...

A outra mão de Edward segurou firmemente a face de Bella e ele olhou intenso para os lábios rosados a sua frente. Sabia que estava em um posto, com diversos olhares curiosos sobre eles, mas não havia tempo, nunca haveria se ele não provasse á ela o seu ponto de vista.

– N-n-ã-o, E-e-dward, n-n-ã-o.- pediu, sentindo-se estremecer, gaguejando.

Tremula continuou presa ali e não sentiu o habitual nojo ou o desconforto. Pensava apenas em verde e esmeraldas. Verde e esmeraldas.

– Você me parece alguém que despreza clichês, logo o nosso primeiro beijo deve ser dado em um local, digamos, diferente?- sussurrou ele.

Aproximou-se lentamente da boca dela, caindo na imensidão castanha dos olhos á sua frente. Lento, tudo era lento, mas doce. Genuinamente doce, como deviam ser os lábios a sua frente.

– Edward...- Bella começou o protesto, enquanto a racionalidade gritava em sua mente: “ Ele é um completo desconhecido”.

– Tudo bem, então em um lugar com uma plateia peculiar. - ele se aproximou ainda mais, parando a alguns centímetros dos lábios de Bella. Suas respirações se mesclavam, seus olhos mergulhavam na imensidão da mente dos dois, como se lessem mutuamente. Dois livros abertos.

Bella após algumas respirações e de sentir o hálito de menta dele, não analisou muito bem as palavras, entretanto sentiu olhares sobre si. Tentou virar a cabeça e saber a quem eles pertenciam. Ou ao menos, fingiu tentar. Mas seja qual for a reação que ela tentava esboçar tudo foi esquecido, quando lábios frios e suaves pousaram nos seus.