Café, Solidão E Plástico Bolha
Parte I: A primeira vista
Essa é uma história sobre um rapaz que conhece uma garota. A garota em questão, Bella Swan, possui uma ligeira inclinação para o masoquismo e desde a separação de seus pais, Charlie e Renée, além da morte de seu cachorro, Jacob, ela adquiriu a incapacidade de permanecer em um relacionamento por mais de um ano.
O rapaz em contra partida é um lindo exemplar da espécie humana e possui a crença inabalável de que um dia encontrará a sua alma-gêmea, se casarão e viverão felizes para sempre. Tal crença é o resultado das aulas de piano que o rapaz possuía com a sua avó, Elizabeth, e a quantidade de novelas que acompanhava.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Em uma noite relativamente quente de abril, na cidade de Kittery, Maine, ambos se encontram, contrariando as probabilidades, uma vez que, a cidade possuía outros 9451* habitantes muito mais sortudos do que os jovens em questão. Bella com o cenho franzido e os olhos marejados, devido a intensa tristeza em seu peito, estava assentada no acostamento da ponte sobre o rio Piscataqua, tentando pela terceira vez em menos de 3 dias, suicidar-se. O motivo era algo banal e sem significado, e por isso, nem mesmo Bella o sabia.
O rapaz que estava em seu conversível, um volvo prata extremamente reluzente, passeando sobre a ponte, com um meio-sorriso nos lábios e um brilho intenso em suas orbes verdes esmeralda, dirigia a incríveis 30 km, no intuito de postergar o momento em que deveria gentilmente, “dar um tempo” em seu relacionamento com Tânia Denali. Olhava o céu, resplandecente devido ao brilho de uma dúzia de estrelas e admirava a mini-selva de concreto que era sua cidade, cantando She’s got you high. Quando sua voz se desafinou admiravelmente, ele riu de si mesmo e sentiu uma força que o atraia para a direita. Uma força quase...poética. Espantado e ligeiramente confuso, afinal havia assistido novelas o suficiente para saber que naquele momento os autores teriam colocado uma profusão de violinos e um piano tocando uma melodia românica, virou seu olhar para a direita e tornou-se irremediavelmente uma vitima do efeito “ Bella”.
Bella sentiu a mesma força, no entanto, estava tão concentrada em seu reflexo no rio que não dignou-se a seguir seus instintos. Permaneceu, pura e simplesmente, parada. Implorava a sua mente uma saída para o seu problema, tentando em vão lembrar-se até mesmo o porque necessitava de uma saída, pois apesar de tudo ela vivia como vivem todos e isso deveria bastar, não deveria? Ela se alimentava, tentava ter animais de estimação, colecionava plástico bolha- tentando ser diferente- e mantinha uma relação saudável com seus pais, que apesar das diversas brigas estavam naquele exato momento, beijando-se em um restaurante francês, fazendo com que a toalha de mesa se mexesse, sem que ninguém ao menos notasse, mas isso obviamente, não vem ao caso.
O rapaz ainda ao som dos violinos imaginários estacionou o carro, atitude que ocasionou a associação de sua pessoa aos mais variados xingamentos, e saiu deste. Uma brisa noturna passou por ele, levando seus cabelos ao vento e revigorou suas energias, fazendo com que ele tivesse a certeza de que ela era “a garota”. Contrariando seus preceitos, ele acionou o alarme e esperou, até que pudesse atravessar a rua. Houve um momento de pausa dramática e depois enfim Bella virou-se.
O rapaz deslumbrou-se. A garota a sua frente tinha a pele alva, olhos castanhos aveludados e o cabelo...Ah, o cabelo. Um emaranhado de fios sedosos e brilhantes- um efeito dos faróis dos carros- que cobriam parte dos delicados traços da face de Bella.
Confiante, em parte por causa do “efeito Bella”, ele seguiu em sua direção. Seus passos seguiam o ritmo do seu coração, acelerado, rítmico. Sua respiração estava entrecortada, vacilante. A palma das suas mãos suavam e seus olhos ardiam de emoção. Mais alguns passos, alguns batimentos cardíacos, e a certeza irrefutável de que ela era sua alma gêmea. Outros e a duvida mortal: ela me ama?
Assentou-se ao seu lado, silencioso, e esperou que ela desse o primeiro passo. Não percebeu o brilho de tristeza nos olhos dela, não percebeu o fato de que ela estava quase pulando da ponte, na verdade, o único fato que lhe veio a mente foi que ela possuía os olhos mais lindos que ele já havia visto.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Você gosta de plástico bolha?- perguntou Bella, levantando uma de suas mãos e lhe oferecendo o que tinha de melhor, seu passatempo contra a solidão.
Ele sorriu e estendeu a mão, pegando alguns pedaços. Acidentalmente as mãos deles se tocaram. Fagulhas de eletricidade percorreram o corpo de Edward que julgou-as como uma confirmação de suas convicções e o mesmo ocorreu com Bella, que por sua vez julgou-as como mais uma confirmação de sua insanidade.
– Eu coleciono.- respondeu Edward sincero com a voz embargada pela emoção.
Os olhos aveludados fitaram-no surpresos e após anos sem utiliza-lo, um sorriso aflorou dos lábios dela. Era bom, pensou.
– Eu também.
Edward realizou-se. Sentiu uma vontade insana de gritar de felicidade, ou estender a mão e talvez toca-la na face. Reprimiu seus anseios, entretanto.
Começaram a estourar o plástico bolha, um de cada vez. Calmamente. Uma bolha equivalia a um olhar para a sua amada. Uma buzina equivalia a um suspiro. E assim passou-se o tempo, entre plástico, olhares, buzinas e suspiros. Nada lhes incomodava. Nada, a não ser seus pensamentos. Bella pensando em problemas, saídas e solidão. Edward pensando em como ela era bela, no futuro que tinham pela frente e no tempo.
– Aceita me acompanhar em alguma cafeteria?- perguntou ele quebrando o confortável silencio.
Mais 2 bolhas. Mais um suspiro.
– Não sei. Não quero me atrasar.- a voz de Bella tremeu enquanto as palavras saiam por entre os lábios, ocupando todo o ar que os separava.
Edward se entristeceu, todas as suas esperanças pareciam fadadas ao fracasso, porém...
– Eu poderia leva-la ao compromisso.- ofereceu.
Ela gargalhou. Não de felicidade ou zombaria, de modo algum. Gargalhou do absurdo, do inevitável e da morte.
– Meu compromisso é nessa ponte.- suspirou e vendo a expressão questionadora dele, complementou mais branda:- Vou me matar.
As palavras ferem, acho que você tem consciência disso, não é? Pois bem, as palavras tem esse poder e decididas a provarem, elas o fizeram, dilacerando o coração do pobre Romeu.
– Por que?-perguntou ele, passando as mãos por seu peito, verificando se ele estava intacto.
Sim, aparentemente ele estava.
– Não sei. Problemas, solidão, dor e talvez tedio por viver. – Bella foi sincera.
Edward pegou o plástico bolha em suas mãos e o jogou no rio, em uma atitude para exteriorizar a sua raiva. Conhecer a sua alma gêmea, quando ela está se envolvendo em uma perigosa brincadeira com a morte, somente Edward Cullen seria capaz de tal proeza.
– Posso te fazer ter vontade de viver.- propôs, desesperado para mantê-la perto de si, impedindo-a de caminhar ao que ele desconhecia.
Mais uma brisa. Um frio percorreu seus corpos e ambos se olharam diretamente, como se agora vissem verdadeiramente. Verde e castanho, nus e indefesos.
– Por que? Você nem ao menos sabe o meu nome e eu não sei o seu.
Edward ofereceu-lhe uma de suas mãos, torcendo para que ela a aceitasse entre as suas, e disse:
– Sou Edward Anthony Cullen.
Bella sorriu, aceitou a mão de Edward e regozijou-se ao sentir o toque frio e gentil. Com o rosto transfigurado em surpresa misturada a uma felicidade quase desconhecida e a sua companhia constante, a tristeza, ela sussurrou:
– Isabella Marie Swan.
Apertaram-se e em torpor, cantarolaram o nome um do outro mentalmente.
– Agora que nós conhecemos, aceita acompanhar-me?- insistiu Edward, mantendo a mão de Bella cativa na sua.
Ela pensou por alguns segundos e acenou em concordância, não tinha nada a perder, além de sua morte.
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